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  1.  # 1

    Olá,
    Descobri uma vez por acaso este forum e desde então fiquei assíduo. É do melhor e mais útil que conheço em Portugal e poderia mesmo dizer que é um bom indicador de como a nova cidadania que todos queremos estimular, se pode exercer.
    Estou a reabilitar uma casa abntiga, há já algum tempo. Depois explicarei melhor. Tenho aprendido muito sobre obras, sobre Portugal e os portugueses, sobre a crise, sobre os novos valores ou a usência deles. Continuo ainda, contudo, muito "verde" para saber gerir as subtilezas do sector.Esta obra mudou a minha vida durante este tempo em que tem durado.- E não foi sempre para melhor. Enquanto a mesma continua, sinto-me na obrigação cívica e moral de partilhar com este fórum a experiência arduamente adquirida. Tudo valeu a pena, incluindo os muitos erros e disparates, mas seria bom que ao partilhá-los evitasse que os outros os cometam. Aviso desde já que haverá muitos posts e que a história poderá ser um pouco longa. Tentarei não torná-la aborrecida. O meu sonho e objectivo é acabar aquela obra quanto antes, mas ainda tenho assunto no mínimo para mais um ano. Se ao longo deste tempo merecer dos foristas apoio, dicas, ajuda, tudo será mais do que bem vindo.
  2.  # 2

    É, também achei uma boa ideia
    :o)

    https://forumdacasa.com/discussion/9115/1/ha-coisas-que-valem-a-pena-recuperar-casas-e-centros-historicos/
    Estas pessoas agradeceram este comentário: oskar
  3.  # 3

    Escolher e comprar a casa

    No final dos anos 90 pensei em comprar uma casa antiga. Gostava dos centros históricos, de ter uma casa com bonitas cantarias, traça e, maravilha das maravilhas, um quintal (hoje dizem "jardim"...). Encontrei uma que reunia tudo isto, poderia ser desocupada sem problemas de maior, estava relativamente bem conservada e era espaçosa (vários andares apesar de ser "casa", anterior aos "prédios" de rendimento, que apareceram mais tarde, ou seja, não estava dividida em fracções).
    A decoração e a continua habitação da casa levaram-me a pensar que "com uma lavadela de cara" poderia ir para lá viver.
    Na altura não equacionei como devia:
    - Os acessos: rua estreita, movimentada, passeios muito estritos.
    - que o mais importante numa casa acaba por ser o que não se vê, ou seja, as infra estruturas. Mesmo em bom estado, estão quase sempre obsoletas, tanto a nível de materiais como de outras especificações técnicas. E que mexer nas infra estruturas é a caixinha de pandora que conduz a mexer quase em tudo.
    -Que há casas que é para conservar, não para demolir. Isto é especialmente verdade nos centros históricos das nossas cidades. Só que conservar traz uma série de dificuldades que à partida não se equacionam (que fazer com uma série de salas "sociais" dificilmente convertíveis em quartos como hoje os concebemos e mais ainda praticamente sem casas de banho?)....

    Lições que retiro hoje:
    Viver no centro histórico de uma das nossas cidades é um privilégio indesmentível, mas tem custos na fase de reabilitação. Muitos deles derivam da própria dificuldade nos acessos ditado por ruas estreitas. Há que pensar bem nas dificuldades reais: tirar os entulhos, descarregar materiais, qualquer operação por mais breve que seja que signifique ocupação da via pública. Tudo se faz mas há que gerir essa realidade e prever que ela funciona como pretexto para inflacionar os custos (".... há duas horas que ando à procura de estacionamento para descarregar", ou "já é o segundo espelho da camioneta que vai à vida"....). Às vezes é verdade.
    -reabilitar o existente é muito mais complicado (e caro) do que manter a fachada, demolir o resto e fazer de novo.... É também muito mais bonito mas requer meios (atenção, dinheiro, pesquisa, acompanhamento) que levam a que a obra requer sempre uma atenção que a tornam quase de "administração directa" por mais que contrate profissionais (empreiteiro, arquitecto.... na hora da chatice está muitas vezes sozinho).

    -Uma dificuldade destas obras de reabilitação do existente prende-se com os já célebres "trabalhos a mais" pois é praticamente impossível prever tudo no plano de execução e o empreiteiro tudo fará para jogar com as omissões do arquitecto e este com outro pretexto qualquer (normalmente os "a definir em obra" ou a "confirmar em obra"...)
    -outra característica é que tem que se rodear de gente com uma sensibilidade especial para este tipo de intervenções. Quando o empreiteiro lhe diz que tem que nivelar as paredes para colocar o revestimento e o arquitecto acha que as paredes de um metro de espessura têm ainda o encanto de estar tortas....o dono da obra fica sem saber para que lado cair ..... até ver a lástima em que fica a pastilha assente em paredes desniveladas, etc....). É importante pois traçar a fronteira entre a sensibilidade "de artista" e as exigências técnicas da obra, para já não falar dos custos associados a cada opção: por exemplo, reabilita as janelas ou substitui por pvc? Substitui um tecto de maceira, não recuperável, por madeira maciça ou corre-a a MDF e pinta?....
    - E aqueles tectos de "saia e camisa", lindos e com uma grossura de tinta velha estalada, e algumas tábuas podres à mistura, decapa, recupera e pinta, ou , pura e simplesmente corre a pladur?

    Em conclusão sobre este ponto, direi: Não tenham pressa em começar a reabilitação até estar tudo a mais definido possível. Durmam sobre o assunto as noites que forem precisas e ponham o arquitecto a fazer o mesmo. Duvidem das respostas rápidas e sobretudo de argumentos do tipo "o que interessa agora é haver um projecto para ir para a Câmara para licenciar, e isso convém ser rápido pois vai demorar... Depois logo se vê, e o que houver de diferenças vai para telas finais....".
    -Não façam isso, nunca, sob nenhum pretexto. Se engatarem o projecto de arquitectura do início, engatam ipsis verbis as especialidades e respectivos traçados. As consequências são gravosos sempre.~, durante toda a obra, pois permitem (e incitam) a uma discricionariedade de consequências imprevis´veis, desde logo com reflexos no agravamento de custos pela dificuldade de orçamentação (e a sensação de que a Obra está um pouco em roda livre do ponto de vista de documentos, sensação essa que os nossos intuitivos empreiteiros captam no ar e traduzem em sobre-custos e outras discricionaridades.
    Um bom projecto de arquitectura, incluindo execução, tudo bem definido e bem mastigado, dá uma autoridade ao DO e aos profissionais de boa fé que compensa largamente o tempo que podem demorar.
    E hoje fico por aqui.
    Mas há mais, reservem a vossa paciência
    Estas pessoas agradeceram este comentário: FD, Pedro Barradas, Paulo Correia, Fernando Gabriel, marco1, CMartin, Luis K. W., 1255
  4.  # 4

    Já agora, será que pode informar em que centro histórico está a fazer esta intervenção?
  5.  # 5

    na Capital
  6.  # 6

    bom relato!
  7.  # 7

    muito bom.

    Não alterava uma virgula
    •  
      FD
    • 7 maio 2010

     # 8

    E é para continuar?... :)

    (FD raising the dead)
  8.  # 9

    Numa casa antiga, dependendo das possibilidades monetárias de cada um, por vezes o melhor é deixar alguns pontos bons e de destaque, partir tudo o resto e refazer legalmente e correctamente.
    Uma casa antiga será sempre um caco e a precisar de mais obrinhas, sem uma intervenção profunda. Se não for uma operação consciente e consolidada, será como um poço, um buraco sem fundo, porque num orçamento para remendos falta sempre alguma coisa.

    Sou um acérrimo defensor de REABILITAÇÃO e RECONSTRUÇÃO, porque de apartamentos e gaiolas caras e sem qualidade, penso que o pais deveria estar farto, para mais quando há tanta coisa ao abandono.
  9.  # 10

    oskar,

    Anseio por cenas dos próximos episódios!
  10.  # 11

    Muito bom, oskar.
    Aguardo ansiosamente, as cenas dos próximos capítulos;)
  11.  # 12

    Mais algumas pequenas coisas.
    Mexam no exterior ao mesmo tempo do interior e vice-versa.
    Façam os trabalhos com rapidez (mas não à pressa).
    Muitas vezes fica muito mais barato alagar e fazer igual do que recuperar.

    Agora a minha opinião pessoal, se tiverem dinheiro.
    Limpem o edifício. contratem um desenhador/eng/arq que faça registo da fachadas, materiais e de aspectos que achem que devem ficar para o futuro. Decidam o que quer manter. Encontrem quem faça aspectos específicos ex. sancas/carpintarias e obriguem que faça um modelo noutro local para verem se tem capacidade e testar novas técnicas e materiais. Façam o projecto e licenciem a obra. Deitem o prédio abaixo na integra, aproveitem por ex. as cantarias. Façam igual ao que estava na antiguidade, mas com novos materiais e técnicas.
    Fica muito melhor em todos os aspectos e não perdem o edifício não perde 'alma'.

    Sem querer entrar em polémicas, muitos dizem que cidades europeias é que são exemplos de reabilitação urbana, lá é que sabem trabalhar, etc não se lembram é que existiu a 2ª guerra mundial em que as cidades ficaram completamente devastadas, e os povos reconstruiram mantendo a traça original.
  12.  # 13

    Estou com remorsos na consciência por não ter dado ainda sequência ao relato prometido. Mas não tem havido ocasião com tanta coisa pelo meio.
    Mas haverá mais se entretanto não for encerrado este thread e espero que não...
    Obgdo pela compreensão e paciência
    • AnaT
    • 3 outubro 2010

     # 14

    Aguardamos ansiosamente.

    E com fotos, que o pessoal gosta de fotos.

    :)
  13.  # 15

    Muito do q o Oscar disse é válido tb para qq projecto, nomeadamente a questão do deixer as coisas para as telas finais. Isso é música para os ouvidos dos empreiteiros...
 
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