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      FD
    • 8 dezembro 2006

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    O IC19 é um cancro para o ramo imobiliário." Há quase 20 anos a viver deste negócio, Carlos Neves nunca viu o panorama tão negro. "Só do ano passado para este, as vendas sofreram uma descida na ordem dos 40%, não é brincadeira", desabafa com o DN o gerente da imobiliária Sintra Neves, para quem "o malfadado trânsito do IC19 não é propriamente convidativo para vir morar para esta zona, mesmo que as casas aqui sejam bastante mais baratas do que em Lisboa".

    Mas, em sua opinião, os responsáveis por este cenário são também a proliferação das mediadoras locais e os leilões de casas. "Em Sintra, praticamente todas as instituições bancárias fazem leilões dos apartamentos que têm. Há pelo menos um leilão por mês onde, geralmente, se conseguem boas aquisições a preços mais baixos", explica Carlos Neves, adiantando que os seus clientes são sobretudo casais jovens com poucos recursos económicos e que geralmente "nem têm dinheiro para pagar a entrada da casa".

    Também a Universal K, empresa de mediação mobiliária, tem, hoje em dia, como principais clientes jovens recém-casados com parcos rendimentos. "Sem sombra de dúvida que a nossa maior clientela está entre os casais novos que vêem em Sintra uma boa oportunidade para se instalarem em início de vida", diz o proprietário da empresa, Carlos Caneiras. De acordo com este especialista do ramo, a quem o IC19 tem "ajudado" a estragar o negócio, são pessoas das classes económicas baixas, "que ganham entre 500 e 600 euros", que procuram casa na Linha de Sintra.

    A explicação é, segundo diz, muito simples: "Aqui é fácil comprar um T2 [uma casa com dois quartos] por 75 ou 80 mil euros, preços que, nem de longe nem de perto, são praticados nos arredores de Lisboa". Carlos Caneiras diz que nem em Sacavém (já fora da cidade, portanto) se consegue comprar uma casa por estes valores. "Nem pensar. Aí é muito mais caro", sublinha sem rodeios, adiantando que os T2 são os apartamentos que, neste momento, "têm mais saída nesta zona".

    A concorrência subscreve a sua opinião e reforça o retrato do mercado. Segundo Carlos Neves, "o que se vende mais são de facto os T2. Nos dias que correm, com 75 mil euros é possível comprar uma casa com 15 ou 20 anos restaurada. Com 80 ou 85 mil já se consegue uma casa com cinco ou dez anos". A sua vasta experiência no mercado permite-lhe assegurar que, "por estes preços, em Lisboa só é possível comprar um T2 a cair de podre". "Mais barato do que aqui, só mesmo na Margem Sul", sublinha Carlos Neves.

    Em paralelo com esta realidade, há uma outra incomportável para muitas bolsas e, perante a qual, morar em Lisboa se torna muito mais acessível. De acordo com Susana Alves, da ERA Sintra, é fácil vender T2 novos, acabadinhos de construir, por 250 ou 300 mil euros. "Estamos a falar, por exemplo, de apartamentos em condomínio fechado, na zona da Beloura", refere esta responsável, adiantando que, provavelmente, por esse preço é possível encontrar em Lisboa casas com maiores dimensões, "mas não com a mesma qualidade".

    É tudo, afinal, uma questão de opção. Na hora de comprar é preciso ponderar diferentes variáveis. As acessibilidades são apenas uma delas...

    http://dn.sapo.pt/2006/11/28/cidades/transito_afecta_ramo_imobiliario.html
 
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