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  1.  # 1

    Boas

    Sabem porque dou sempre o benefício da dúvida a quem pede?
    Porque tenho a felicidade de ter trabalho. Na verdade trabalho cerca de 10 a 12 horas por dia, com excepção do domingo (e nem sempre).
    Também já tive de trabalhar noutro país e é precisamente deste tempo a experiência que quero partilhar. Estávamos nos longínquos anos 80, meados da década, e as perspectivas eram sombrias até que agarrei a oportunidade que apareceu e que me levou a um PALOP, então em plena guerra civil. As condições eram tão más que mesmo na capital não havia sequer um restaurante em funcionamento, com excepção de um hotel que nos dias melhores podia servir um arremedo de refeição aos que chegassem cedo, após o que tudo acabava. Esta situação não durou muito já que uma boa parte do meu trabalho se iria desenrolar no interior desse extenso e belo país, a estender linhas de alta tensão em locais que durante a época das chuvas - a maior parte do ano - só eram acessíveis por helicóptero e ocasionalmente por terra e mesmo assim nem sempre, quer devido ao mau tempo quer devido à guerra chegando a colunas de abastecimento a serem atacadas e destruídas por ataques de uma das facções. Como é de imaginar, a população que íamos encontrando esporadicamente vivia - sobrevivia - miseravelmente, contando apenas com o pouco que conseguia produzir e que não lhes era subtraído pelos senhores da guerra. E foi assim que um dia nos vimos na situação preocupante de ver as nossas reservas alimentares extremamente reduzidas sendo obrigados a racionar o pouco alimento disponível até que chegasse novo abastecimento. A verdade é que depois de quase duas semanas a comer arroz com chouriço enlatado (que ainda hoje não suporto) até isto chegou ao fim, pelo que só nos restava procurar alimento junto de uma aldeia composta por duas dúzias de cubatas. Uma vez lá chegados cheguei à fala com o soba - autoridade tradicional - a quem expus a nossa situação e solicitei ajuda temporária prometendo compensar devidamente quando a ajuda chegasse. Confesso que não tinha grandes esperanças, sabendo as condições em que viviam ,mas fiquei optimista quando o soba - Dimuka de seu nome - depois de conversar outros membros da aldeia, se mostrou disposto a ajudar. Este optimismo foi sol de pouca dura, e caiu-me o coração aos pés quando me apercebi do pouco que dispunham: algum milho, pouca mandioca e ainda menos peixe seco que ainda por cima não queriam vender. Fiquei sem perceber em que consistiria a ajuda até que vi acender as fogueiras e as mulheres a prepararem a refeição de funge e peixe seco. Fomos convidados a partilhar e, para resumir uma história longa, durante 4 dias comemos o que nos deram. Tive tempo e oportunidade para me aperceber que aquela partilha de quase nada significava muito provavelmente que iriam passar fome até à altura de nova colheita, mas isso não os fez voltar atrás na decisão e sempre repartiram connosco a única refeição diária que faziam.
    Muito tempo passou e, atendendo à idade que então parecia ter, creio que aquele homem já não pertence a este mundo; mas sempre que alguém me estende a mão a pedir ajuda aquele homem e as suas gentes tomam conta da minha memória e não me deixam proceder de outra forma ainda que a minha ajuda possa até não ser merecida.

    Dutondele Dimuka, kamba diame du muxima.

    Desculpem esta espécie de testamento sentimental

    cumps
    José Cardoso
    Estas pessoas agradeceram este comentário: CMartin, Karura, lobito, LuB
  2.  # 2

    Colocado por: filipos
    Colocado por: MartaD
    Colocado por: pedrox2Quando penso naquela mulher a ser arrastada pela calçada, com os seios de fora, ferida na sua dignidade, como se não tivesse quaisquer direitos, não estou apenas a pensar nela, e vejo-me também a mim a ser arrastado...

    Podia eu.Poderia ser qualquer um de nós.

    Um dia o mesmo pode acontecer com qualquer um de nós...


    Podia ser qualquer um de nós? Eu não era de certeza :)


    Nunca diga nunca...
    Reze, ou faça fisgas, ou...sei lá! para que nunca vá parar a rua.


    E se eu fosse parar à rua? Tinha que andar a pedir esmola na RUA? Porque raio? Ia pedir ajuda a instituições.
    Os ciganos/romenos, pedem esmola na rua porque querem, não porque não têm mais nenhuma opção. Eles têm esse estilo de vida.É um povo nómada. Não é algo que não comandam. Eles querem, eles têm.
    O episódio da polícia acontecem porque como alguém disse: " Quem anda à chuva, molha-se". Além de eu ter uma educação completamente diferente, que nunca me permitiria fazer o que ela fez, ou ter a vida que ela tem. Mesmo necessitando de comida para dar ao meu filho.

    Querem ver que quem ficar necessitado terá o destino que foi apresentado aqui da Romena a gritar e a resistir à polícia?

    Pois desculpem-me discordar. Não existe só um caminho.
  3.  # 3

    José Cardoso.

    Digo-lhe sinceramente, esse "testamento sentimental" mexeu comigo...dá sem duvida para pensar na vida que passamos aqui, ao que recusamos, ao que temos em nosso poder que nem damos conta...

    Compreendo perfeitamente...

    linda a sua historia!
    •  
      MartaD
    • 31 março 2010 editado

     # 4

    Colocado por: CMartinAcho que o que as pessoas estão aqui a dizer não é propriamente que regozijam com o azar que acontece aos outros, LuisFigueiredo, que é o que esse "provérbio" traduzido (da pimenta no rabo dos outros..) , significa,


    Essa frase deve ser do tipo: " Com o mal dos outros, posso eu bem".

    Acho que ainda não perceberam o que eu quis dizer. Eu não estou a dizer que nunca vou ficar sem tecto para morar. Não estou a dizer que nunca passarei fome. Não estou a dizer que sou a maior e intocável (até porque a minha vida não corre nada bem) Mas depois de isso acontecer, o único caminho, não é o caminho que a Romena escolheu. Por isso disse que nunca podia estar no lugar dela, na sua escolha. Nem que seja pelos pontos que referi anteriormente.
  4.  # 5

    Colocado por: luisvvConsiderações avulsas

    Não concordo que seja uma visão insensata. Repare, neste caso em concreto a dita senhora perdeu a dignidade porque quis. O mais provável é que tenha resistido à autoridade ou feito ouvidos moucos à autoridade.


    Pela forma como escrevem, claramente nunca se viram perante o abuso da autoridade. Sorte a vossa. Um dia que vos calhe ir parar a uma esquadra, conversamos. Ou quando ouvirem um polícia, do alto da sua "autoridade", queixar-se de que os cidadãos têm muitos direitos. Ou lamentar-se das chatices, se "lhe partir um dedo ou uma perna".


    Ora aqui está o exemplo típico da generalização. Está em nós, nasce das nossas experiências. E os bonzinhos vão ser sempre os bonzinhos e maus da fita vão ser sempre maus da fita....
    Não, nunca me vi perante um abuso da autoridade. Mas já me vi perante uma escupidela de uma cigana a quem recusei a leitura da sina. Mas nem por isso olho para elas como um todo com os mesmos "comportamentos desviantes".

    Mas, num aparte, o que eu estou a achar piada nesta discussão toda é que começou como uma crítica ao estado do país e se reparem agora o que se discute são.... os outros. Os Imigrantes. Os marginalizados. Enfim, aqueles a quem é fácil imputar responsabilidades.
  5.  # 6

    Meus amigos

    Estrangeiros permanecerem no nosso país sem trabalho á mais de 6 meses era rua com eles, Romenos a lavar vidros dos carros, a entregar cartões em troca de moeda e a roubar, RUA.

    No canada nem querem saber se trabalham, não ha visto vão para a RUA, tens filhos que nasceram no canada, RUA, na mesma.

    Aqui não, damos rendimento minimo, complemento social, as associações e a igreja dão as compras do mês, fodem como coelhos e têm infantarios de borla e ainda metem os miudos a roubar.


    E os portugueses se calhar metade dos desempregados não tem mesmo trabalho, agora a outra metade, não tem vontade de trabalhar

    Preciso 100 Portugueses para trabalhar no alentejo pago 5€ h, dormida e alimentação, sabem quantos arrajei e já agora sabem quantos o centro de emprego arranjou......... é melhor não me alongar....


    Já agora, é justo o ****.
  6.  # 7

    Colocado por: Asilvamachado

    No canada nem querem saber se trabalham, não ha visto vão para a RUA, tens filhos que nasceram no canada, RUA, na mesma.



    Ainda bem que fala do Canadá. Numa primeira apreciação via internet, foi-me recusada a entrada no Canadá. Aquilo sim, é rigidez!
  7.  # 8

    Boas

    Preciso 100 Portugueses para trabalhar no alentejo pago 5€ h, dormida e alimentação


    Pondo de parte os maus modos, diga-me:

    - Nas condições previstas por lei: contrato, seguro, segurança social?
    - Por quanto tempo?

    José Cardoso
  8.  # 9

    Colocado por: MartaD
    Colocado por: Asilvamachado

    No canada nem querem saber se trabalham, não ha visto vão para a RUA, tens filhos que nasceram no canada, RUA, na mesma.



    Ainda bem que fala do Canadá. Numa primeira apreciação via internet, foi-me recusada a entrada no Canadá. Aquilo sim, é rigidez!


    Nem duvide, sabia que apesar de não ser exemplo em Africa do Sul, a saida de capital é limitada, não deixam sair como nós, o dinheiro, grande parte dos trabalhadores estrangeiros que a empresa tem contratados, tirando aqueles que têm cá a familia, todos os outros manda o €€€€€ todo para o País de origem, ficando cá só o necessário para passar o mês e alguns ainda pede um vale, mandam mesmo tudo.
  9.  # 10

    jcardoso,
    Adorei a sua intervenção.
    Que história linda, maravilhosa mesmo.
    Até toca um coração de pedra como o meu. ;-)
  10.  # 11

    Colocado por: j cardosoBoas

    Preciso 100 Portugueses para trabalhar no alentejo pago 5€ h, dormida e alimentação


    Pondo de parte os maus modos, diga-me:

    - Nas condições previstas por lei: contrato, seguro, segurança social?
    - Por quanto tempo?

    José Cardoso


    Os trabalhos já iniciaram um deles terá ainda uma duração para + 2 meses e o outra ainda 3 a 4 meses, total da empreitada cerca de 9 meses.

    Para alem das condições referidas, do contrato de segurança social, seguro, exame médicos, transporte em viatura da empresas e respectivo combustivel e portagem.Neste momento 30% são locais, arranjados por nós, os restantes são do Portoe arredores e Lisboa e arredores, é verdade do cntro de emprego, já lá não está nenhum.
    Só um comentário ao que narrou da sua experiencia, o que voce pediu foi comida certo, experimente oferecer comida a quem está a pedir nos semafores, aos arromadores.
  11.  # 12

    Colocado por: AsilvamachadoMeus amigos

    Estrangeiros permanecerem no nosso país sem trabalho á mais de 6 meses era rua com eles, Romenos a lavar vidros dos carros, a entregar cartões em troca de moeda e a roubar, RUA.

    O PNR está a precisar de quadros dês-lhe o seu contacto....
  12.  # 13

    Boas

    Só um comentário ao que narrou da sua experiencia, o que voce pediu foi comida certo, experimente oferecer comida a quem está a pedir nos semafores, aos arromadores


    Acho que não percebeu a questão. O que pedi foi alimento, o que recebi foi alimento embrulhado numa lição de humanidade. Receio, pelo tom da sua primeira intervenção, que não saiba o que isso é. Sem ofensa.

    José Cardoso
    Estas pessoas agradeceram este comentário: CMartin
  13.  # 14

    jcardoso,
    Eu sinto bastante pelas pessoas que têem digamos, menor qualidade de vida do que a minha, porém, toda a minha família trabalhou e trabalha para manter esse nível de vida. Os meus pais esforçaram-se muito, muito mesmo durante toda uma vida para que eu e o meu irmão pudéssemos estudar. Nós estudámos, pagámos propinas (no meu tempo não havia), queimámos pestanas, tanto um como o outro estudámos e trabalhámos ao mesmo tempo. As coisas custam a conseguir! A mim custa-me que os mesmos que me pedem uma esmola sejam os mesmos que secalhar vão um dia assaltar-me. Para quem quer solidário porque é que não faz algo realmente? Eu dei aulas de português para estrangeiros. E adorei! Aparereçam-me russos e eslovacos e mesmo romenos com verdadeiras capacidades sobrenaturais para o estudo e com uma capacidade de esforço que ninguèm imagina! E a esses, sim, vale a pena ajudar, não só porque sabem retribuir o esforço como se sente que aproveitam muito bem aquela oportunidade, como se diz normalmente, tudo o que se lhes dá nunca cai em saco roto! Agora, algarviadas dessas, por favor! E perdoem-me os algarvios.
    Em termos de pobreza extrema nunca vi aquilo que vi no Brasil: crianças de 2 anos completamente subnutridas e completamente sózinhas na rua. Isso sim, é de doer o coração. E não há nada a fazer, do outro lado da rua há um grupo de 20 ou 30 á tua espera para te cairem em cima quando o teu coração amolece.
  14.  # 15

    O mais engraçado que me apareceu foi um moço russo que queria entrar para Estudos Portugueses numa universidade que já não sei qual era, só vos digo que ele sabia os rios todos de Portugal, sabia os distritos todos e as capitais de distrito! Sabia a vida da Amália de trás para a frente e em História de Portugal dava uma coça a qualquer um de nós!
  15.  # 16

    Boas

    Karura

    Não pense que não compreendo a sua ou outras posições aqui expostas. E também eu, filho de operários, sempre trabalhei para minorar o esforço que os meus pais faziam com a educação dos filhos. E pode ter a certeza que sou capaz da maior dureza de trato quando assim o entendo, não sou nenhum coração mole, o que pode até ser comprovado por algumas intervenções que aqui faço e que sei que deixam alguns em polvorosa. Mas tenho aquilo que alguns acharão uma fraqueza: dou o benefício da dúvida em quase todas as situações, seja a quem for ao menos pela primeira vez. Quer saber uma das razões? É que acho que muitas das pessoas cujo comportamento vejo criticar não tiveram nunca a oportunidade para serem diferentes. Não sou ingénuo e sei que muitos desperdiçariam essa oportunidade, se a tivessem. Mas é uma questão de princípio: prefiro correr o risco de ajudar quem não merece a recusar ajuda a quem precisa.

    cumps
    José Cardoso
  16.  # 17

    A diferença, jcardoso entre a sua situação e a situação de que se está aqui a falar é que a sua situação em África foi pontual, o Jcardoso não tinha intenções de fazer desta situiação um modo de vida. Agora imagine que chegava áquela tribo e que sentava ali, á espera que o alimentassem, enquanto eles labutam pela vida, para dar comer aos filhos, enquanto voçê ali ficava sentado e que quando não lhe dessem de comer a roubasse a quem quer que passasse. Isto não é muito diferente daquilo que na realidade se passa com essas pessoas. Acha que isto é justo?
  17.  # 18

    Colocado por: j cardoso O que pedi foi alimento, o que recebi foi alimento embrulhado numa lição de humanidade.

    É isso que é tocante.
    Uma coisa é eu oferecer uma refeição a quem apenas me pedia uma moedinha (e, obviamente, levar tampa).
    Outra coisa completamente diferente é quem muito pouco tem, partilhá-lo com outros que ainda têm menos.

    Colocado por: Anonimo16062021 SR.Luís não devemos cuspir pro ar se não pode-nos cair na cabeça.
    Não vejo porquê.
    Tudo o que eu escrevi tem a lógica.

    Não se deve alimentar ratazanas (com ou sem asas), porque são uma praga e multiplicam-se a grande velocidade. É, quanto a mim, um crime grave contra a saúde pública e devia ser fortemente penalizado.

    Da mesma forma, não se deve dar moedinhas nem a pedintes, nem a "profissionais de arrumadoria". É, na maioria dos casos, o mesmo que estar a dar dinheiro para drogas ou alcool. Por isso, quem dá as moedinhas também devia ir dentro!

    Lembram-se do Casal Ventoso (o supermercado da droga em Lisboa)? Era normal, sempre que havia rusgas, a Polícia apreender sacos e sacos, quilos e quilos DESSAS MOEDINHAS. :-)
  18.  # 19

    j cardoso,
    Sim compreendo, eu também dou o beneficio da dúvida... (de vez em quando é com cada ripada!)
    Eu, por mim, prefiro "conhecer" a cara da pessoa, não quer dizer que não dê algo a um desconhecido,mas prefiro conhecer um pouco do que se passa com essa mesma pessoa. "just in case"
    Abraços, jcardoso
  19.  # 20

    Boas

    Acha que isto é justo?

    Claro que não é justo, mas também não acho justas certas avaliações generalistas que se fazem sobre emigrante, etnias ou outros conceitos do género e que não passam de preconceitos. Se não for abusar da sua paciência, vou falar-lhe de outra situação passada no mesmo país e na mesma altura.
    Uma das condições estipuladas num dos contratos entre a empresa para a qual eu trabalhava e o cliente - uma empresa estatal desse PALOP - estabelecia que essa empresa devia fornecer mão de obra para apoio dos trabalhos e, simultâneamente, formação profissional. Passava-se isto já numa cidade, capital de uma província desse país. Constatei - eu e os outros membros portugueses da empresa - que das duas dezenas de trabalhadores que deviam comparecer ao trabalho raramente apareciam mais de 3 ou 4. Claro que não demorou nada a grassar entre nós a ideia que eles não gostavam de trabalhar, o que queriam era boa vida e pouco mais. Até que me apercebi que o salário que lhes era pago pela respectiva empresa estatal era pouco mais que nada, quando muito suficiente para sustentar a família durante alguns dias. Aconselhado por alguém que conhecia bem aquela realidade, informei esses trabalhadores que a nossa empresa passaria a fornecer-lhes o almoço e no final do mês entregaria a cada um um "pacote" de alimentos básicos: sal, açúcar, óleo, arroz, etc.. Sabe o que aconteceu? aqueles homens, por muitos tidos como uma corja de malandros, não só não faltaram mais como me vi a braços com um problema: em vez do número inicialmente estipulado começaram a aparecer muitos mais. Nunca mais ouvi os meus homens dizerem que os africanos não querem trabalhar.

    cumps
    José Cardoso
 
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