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    • lobito
    • 14 julho 2010 editado

     # 1

    ... ou estudiosos de arquitectura tradicional portuguesa ;-)

    É o seguinte:

    Vou caiar a minha casa e preciso de escolher a cor da barra em baixo e no cunhal. Ao que parece, já foi cinzenta, amarela e cor de rosa. Cinzento não gosto, amarelo já não suporto e cor de rosa até gosto bastante (cor de rosa escuro, claro), até porque estava a pensar pintar as portas e provavelmente janelas de vermelho sangue de boi ou lá o que é. Mas dentro do pátio as portas de madeira são de um azul aberto que eu acho muito bonito e queria manter. A minha pergunta é: há barras azuis no Ribatejo, estilo triângulo entre Tomar, Torres Novas e Ourém? Não estou a ver muito bem qulquer espécie de vermelho/cor de rosa com aquele azul. Acrescento que sou da Beira Alta e não sei nada de barras nas casas.
  1.  # 2

    Há. Sobretudo nas zonas com mais gado. O azul era feito com sulfato de cobre, muito útil para afastar as moscas. O ocre e o vermelho (óxido de ferro) eram mais em zonas urbanas.
    Estas pessoas agradeceram este comentário: lobito
    • lobito
    • 14 julho 2010 editado

     # 3

    Ora eu gosto é de explicações destas!

    Já agora, essas cores corresponderiam a que tons no sistema RAL, se não é pedir demais?

    Editado:

    Ou, melhor ainda, continuam a existir tintas com sulfato de cobre (sim, porque as moscas continuam a existir)?
  2.  # 4

    Nunca pensei nisso. Penso que o melhor mesmo é pedir lá na drogaria.
  3.  # 5

    É que de certeza que a tinta que ainda lá está (e que parece ter uma durabilidade fantástica) era feita à base de sulfato de cobre. Aliás, foi aparentemente o que o meu marido pensou quando as viu. Aquilo protege muito bem a madeira, claro. Aliás, é por isso que as casinhas de madeira suecas são encarnadas, tratadas com escórias das minas de cobre (óxido, penso eu).
  4.  # 6

    Quanto ao azul anilado "tradicional", tenho utilizado com frequência e sucesso,a seguinte ref. do sistema de cores NCS: S 1040-R80B, acabamento mate.( tintas industriais - sistema colormix)
    O pigmento azul, é vendido em saquetas (para mistura na tinta de cal), não é feito com sulfato de cobre. Não utilize em tintas industriais. pois nunca irá ter a opacidade que pretende.
    TRadicionalmente cor era feita, misturando o pigmento com hidroxido de calcio. Essa mistura era então aplicada após a pintura com tinta de cal (branca)
  5.  # 7

    Colocado por: Pedro BarradasQuanto ao azul anilado "tradicional", tenho utilizado com frequência e sucesso,a seguinte ref. do sistema de cores NCS: S 1040-R80B, acabamento mate.( tintas industriais - sistema colormix)
    O pigmento azul, é vendido em saquetas (para mistura na tinta de cal), não é feito com sulfato de cobre. Não utilize em tintas industriais. pois nunca irá ter a opacidade que pretende.
    TRadicionalmente cor era feita, misturando o pigmento com hidroxido de calcio. Essa mistura era então aplicada após a pintura com tinta de cal (branca)


    Portanto, em resumo: ou uso uma tinta industrial com a referência que disse, ou cal branca com o tal pigmento? E nesse caso, cai-se primeiro tudo a eito e depois faz-se a barra?

    Já agora, qual é a vossa receita para caiar sem que uma pessoa fique toda branca quando se encosta à parede? Tenho duas versões: 1) misturar um bocado de tinta branca barata; 2) mistura cola e banha.
  6.  # 8

    Sim.
    Tem de usar um "fixador de superfície", pode experimentar "caiar" com o hidróxido de calcio (puro, sem corante)...
  7.  # 9

    Colocado por: Pedro BarradasSim.
    Tem de usar um "fixador de superfície", pode experimentar "caiar" com o hidróxido de calcio (puro, sem corante)...


    Eu agora estava a falar de caiar a branco, com cal pura (que será a maior parte das paredes, por dentro e por fora. É o que está lá agora mas quando se passam os dedos ficam brancos. Gostava que ficasse com o mesmo aspecto, mas sem esse pequeno pormenor...
  8.  # 10

    Cal pura, pura, não convém, depois de duas chuvadas vai tudo embora. Convém que tenham um certo grau de hidraulicidade
  9.  # 11

    Bom, eu pura queria dizer "pura, sem corante" cmo disse o Pedro Barradas...
  10.  # 12

    Comprei hoje sulfato de cobre para fazer experiências: eu juntei a cal, em varias concentrações, e pincelei um bocado para ver o que dava; o meu marido tentou dissolver em aguarras e não conseguiu, mas deu para ver que as portas que la estão foram mesmo pintadas com sulfato de cobre. Eu vou em varias gradações de azul bébe (bonito, mas não sei se muito adequado), ele esta intrigado como éque se usa aquilo numa tinta a oleo. Sera que ele tem de comprar um almofariz, ou aquilo dissolve-se em qualquer coisa que depois se junta a oleo de linhaça? (Não acredito muito, mas...). De qualquer modo, da uns azuis lindissimos.
  11.  # 13

    Fala-se muito aqui do que nao se sabe... casas com barras azuis no Ribatejo?? Isto é totalmente falso. É rarissimo alguma casa no Ribatejo ter barras azuis. Existem bastantes, na zona OESTE, não no Ribatejo.

    Portanto, o que foi dito atrás, não é verdadeiro!
  12.  # 14

    O que eu constato aqui é que TODAS as casas novas têm barra ocre, nas casas antigas vêem-se restos de tinta das mais variadas cores.
  13.  # 15

    Olá lobito.
    Como sou criatura de muito poucas certezas não me atrevi a desdizer a história do sulfato de cobre que por aqui lavra...
    Acerca dele: o sulfato de cobre é solúvel em água e, de facto, pode adicionar-se à cal... para sulfatar. Não é necessário triturar porque pode ser adquirido em pó. Apesar da sua bela cor, não tenho conhecimento de que seja/fosse usado em qualquer tipo de tinta.

    Agora acerca das faixas na arquitectura popular. Tanto quanto julgo saber, as faixas de cal de cor azul não são/não eram feitas com o sulfato de cobre mas com azul ultramarino, um pigmento em pó que pode ser facilmente adquirido em qualquer drogaria. Mistura-se na cal. Para fixar a cal faz-se uso de sebo que é/era adquirido para esse efeito também nas drogarias. Em alternativa pode misturar-se previamente uma emulsão como a “Tisa-Fix” (concebida para melhorar a adesão de argamassas mas também usada para a fixação da cal). Para prevenir a formação de liquens juntava-se sal.


    Para fazer tintas de óleo usa-se azul da Prússia. Quase negro, o pigmento mistura-se com muita parcimónia em alvaiade de zinco até obter o tom pretendido. Tem o óleo de linhaça como aglutinante mas tenha em consideração que em combinação com o alvaiade de zinco a secagem é extremamente lenta e, por isso, deve ser acelerada com um secante.
  14.  # 16

    Aliás, é por isso que as casinhas de madeira suecas são encarnadas, tratadas com escórias das minas de cobre (óxido, penso eu).


    o óxido de cobre é verde.
    o tom avemelhado a que se refere é o óxido de ferro.

    o meu marido tentou dissolver em aguarras e não conseguiu, mas deu para ver que as portas que la estão foram mesmo pintadas com sulfato de cobre.



    não foram, não.
    A cor assemelha-se em resultado do envelhecimento do óleo de linhaça.


    ele esta intrigado como éque se usa aquilo numa tinta a oleo.


    ehehehehe.... e tem toda a razão para estar intrigado. Então se ele já verificou que o sulfato não se dissolve no solvente do óleo como é que pode servir para pigmentar uma tinta de óleo???


    Lobito, consinta-me uma sugestão: não tente fazer a tinta artesanalmente porque é tecnicamente complexo, moroso e requer uma experiência que certamente não tem. Eram, de facto, extraordináriamente resistentes mas pode mimetizar a cor “amarelando” um azul da prússia (nos catálogos de tinta vai aparecer como “azul royal” ou outra porcaria qualquer) arranjado com tinta branca; com um pouco de sorte até encontra uma cor que imita a original.

    Quanto às paredes da casa parece-me que procede bem fazendo uso da cal. Em primeiro lugar porque a industria ainda não conseguiu inventar nada que se assemelhe ao efeito visual da cal. Em segundo, porque é o mais adequado ao restauro de uma parede em cal ainda em bom estado. Faça uso da emulsão que menciono (ou outra do mesmo tipo) para as paredes interiores e junte o sal para as paredes exteriores.
    • lobito
    • 29 julho 2010 editado

     # 17

    A minha intenção não é propriamente fazer a tinta. Ja o meu marido, acha sempre que se não vai inventar a roda vai pelo menos fazê-la com as suas proprias mãos... :-) Eu por mim, que não percebo nada nem de tintas nem de cores (ele por acaso perceba alguma coisa de cores e talvez até de tintas, porque a certa altura restuarou cavalos de carrocel, por exemplo) estou a tentar orientar-me para procurar o tom certo, porque não posso propriamente ir com uma porta atras. E a partir do pigmento das portas, tentar encontrar alguma cor possivel para a barra. Até consegui que me emprestassem uma coisa das cores RAL, mas não me serviu de nada.

    Esta a dizer que a cor que la esta agora foi feita com o azul da prusia e que o envelhecimento do oleo de linhaça faz com que parece o azul do sulfato de cobre??? Mas que coincidência! ;-) Por outro lado, reconheço que se não é soluvel em oleo... O facto é que estou bastante impressionada com a resistência daquela tinta, porque encelhece (bem) e continua agarrada à madeira de um maneira competamente diferente de outras intervenções posteriores, em que a tinta esta toda a descascar (alias, como é o caso dos mateirias de estrutura, em que o que envelheceu pior foi tudo o que foi feito posteriorment em betão).

    Pois, o pior é que a fachada ultimamente tinha sido pintada a tinta de agua e a cal não adeiru muito bem. Os vizinhos aplaudiram imenso o telhado, mas criticaram os "palhaços" da parede :-). Vamos ver o que se pode ainda fazer. Dentro do patio e nas paredes inteirores é mesmo cal, portanto não vai haver problema.Mais uma vez, não sou fundamentalista, mas estou impressionada com a resistência da casa a 30 de quase abandono e queria tentar não lhe mexer muito no equilibrio.

    Quanto às casinhas suecos, é mesmo escoria das minas de cobre, mas são de facto varios sais:

    http://en.wikipedia.org/wiki/Falu_red
  15.  # 18

    Quanto às casinhas suecos, é mesmo escoria das minas de cobre,


    Pois, pode realmente ter óxidos de cobre e zinco mas a cor que prevalece é a do óxido de ferro sem tirar nem pôr (o que não surpreende tratando-se de escórias das minas de cobre).

    E apesar das suas reservas sou da opinião que a cor das suas janelas foi preparada com azul da Prússia aberto com alvaiade de chumbo.

    Há uma poderosa razão para que as tintas mais antigas sejam mais resistentes ao envelhecimento do que as mais novas: na sua preparação era utilizado o alvaiade de chumbo - de secagem muito mais rápida, branco mais intenso, muito mais resistente - que entretanto foi proibido e substituído pelo alvaiade de zinco (facto que implicou uma pequena revolução e fez a desgraça de um famoso falsário...). Para além de ser utilizado para “abrir” as tintas preparadas com toda a espécie de pigmentos, era utilizado para fazer a chamada “massa de pintura” (uma mistura de alvaiade de chumbo, cré e óleo de linhaça; é o que se vê nas zonas em que o esmalte saltou), aquilo que modernamente se designa por “aparelho”.

    Se as paredes já levaram tinta já não é possível obter bons resultados com a cal. Podem usar-se tintas sobre superfícies caiadas, desde que previamente escovadas e lavadas com máquina. Mas usar cal sobre uma superfície já pintada dá mau resultado.
  16.  # 19

    Obrigada por essas informações todas. E ja agora, tem alguma ideia de onde poderei arranjar qualquer coisa que se assemelhe à tinta que la estava (uma vez que, pelo que percebo, ja não vou ter o mesmo efeito sem o alvaide de chumbo)?

    Quanto à cal, paciência. Quando passei por la hoje tinham picado a parte de baixo toda (que corresponde mis ou menos à barra, portanto isso, pelo menos, vai ficar bem. A parte de cima foi provavelmente apressada para aproveitar os andaimes para a reparação do telhado.

    Tirei ontem uma fotografias, quando puder ponho aqui e/ou na discussão sobre as obras daquela casa.
  17.  # 20

    Lobito,
    é quase certo que a cor das suas janelas (pelo menos aquela que é possível ver aqui https://forumdacasa.com/discussion/8171/2/recuperacao-opinem-e-podem-ate-descambar/#Item_37 )
    existe no catálogo de um qualquer fabricante de tintas. Se não conseguir uma exactamente igual, poderá afinar um azul claro com um pouco de amarelo cádmio (estou a falar numa adição de 2-3% ou coisa que o valha, e que se vai experimentando fora da lata até encontrar a proporção adequada).
    Tenho ideia que algumas lojas de tintas também dispõem de equipamento para fazer essas coisas mas nesse assunto parece-me que o Pedro Barradas lhe pode ser mais útil (e sim, pode perfeitamente desmontar uma portada de uma janela pequena e levá-la consigo para a loja. Ou um pedaço de uma guarnição que necessite de reparação, uma lasca de esmalte, ...)

    Ficamos todos a aguardar essas fotografias das obras :)
 
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