Iniciar sessão ou registar-se
    • altar
    • 3 novembro 2010 editado

     # 1

    O dia de 31 de Outubro foi o dia da poupança - foi motivo para reflectir, e quando ele é seguido pelo dia 1 de Novembro - o dia dos finados - o dia de todos os santos; então a reflexão ainda foi mais profunda e comovente. Portanto este é um mês de reflexão por excelência.

    Quis a providência divina que o dia dos finados estivesse junto com o dia da poupança. Finados para a grande maioria que mal ou nada conseguem poupar, definhados que estão pelos baixos salários e consumidos em contar os tostões; e santos para aqueles que ainda conseguem poupar.

    Não é necessário fazer-se peregrinações ao cemitério para levar uma flor à sepultura do ente finado. Os finados cruzam-se todos os dias connosco na rua, é aquela pessoa que se senta ao nosso lado no metro, no autocarro, é aquele que fica a olhar para o preçário à entrada dos restaurantes, ou a olhar para os preços nas montras. Podemos a essas oferecer-lhes uma flor, não precisamos de ir ao cemitério.

    Assim, com este gesto simples mas profundo e repleto de significado, todos os dias são dias de saudade e de recordação das gerações que nos precederam - a geração cavaquista, a geração rasca, a geração dos 500. Não que não nos traga tristeza. Mas há, na recordação dos finados, um luminoso raio de alegria porquanto - no prefácio do Orçamento de 2011 - o parlamento lembra esta confortadora esperança: "Aos que a certeza da falência entristece, a promessa da estabilidade e consolidação das finanças públicas consola."

    Para os que crêem e ainda estão vivos, os ordenados e os meios de subsistência não são tirados, mas sim transformados. Desfeita a nossa habitação e todos os outros bens terrestres, é-nos dado um país transformado numa eterna mansão de santos que conseguem poupar.

    Para os que já passaram para o outro lado, uns passam uns tempos no purgatório e passado algum período de sofrimento conseguem sair de lá, mas infelizmente a grande maioria cai no Inferno. Estes pobres finados são eternamente perseguidos pelos demónios cobradores que lhes lembram a toda a hora, em todo o santo dia, que pecaram e agora têm de pagar caro. Pecaram em comprar uma casa, pecaram porque compraram saúde, pecaram em comprar um carro, pecaram em comprar uma TV-LCD, pecaram por comprarem férias...um mar de pecados. Mais de metade dos finados portugueses estão no inferno, somos os mais pecadores do mundo.

    Pobres pecadores que foram seduzidos pela grande prostituta - a banca e instituições de crédito. Seduziu-os com as suas belas **** e corpo cheio de curvas. Acreditem que nem no purgatório ou inferno eles estão a salvo, porque esta rameira mesmo a estes tenta seduzir prometendo-lhes a salvação porque a carne já não a têm. Ela seduz dizendo com os seus belos lábios :

    - "soubemos que está insolvente, nós temos a solução para si"

    Mas mesmo no Inferno existem leis, o finado pode contratar um advogado do diabo. No inferno o advogado do diabo é o melhor amigo em quem confiar. Ao abrigo da lei um declarado insolvente é livre de pecados ao fim de 5 anos, por muito pecado que tenha cometido. Ao fim desses 5 anos, a sofrer, será libertado do inferno e então poderá ser um santo poupador.

    A morte não é o fim, a vida vence, rezemos pois por aqueles que já passaram e aspiremos todos a sermos santos - afastem-se das prostitutas o mais possível
 
0.0079 seg. NEW