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  1.  # 1

    1) A bolha imobiliária..

    http://mises.org.br/Article.aspx?id=614

    2) Os bancos públicos, a definição de interesse público, etc.

    http://mises.org.br/Article.aspx?id=242

    Não é raro ouvirmos agentes do estado e intelectuais sugerirem, principalmente em tempos de crise, a estatização do sistema bancário e do crédito. Essa estatização, segundo eles, seria feita de modo a preservar a superioridade do sistema de "lucro", ao invés de simplesmente implantar-se um gerenciamento "burocrático". De fato, alguns creem que isso seja possível. (..)O público acolhe positivamente todas as propostas destinadas a limitar a esfera da propriedade privada e do empreendedorismo porque ele prontamente aceita a crítica à ordem da propriedade privada(..) Temos, sim, de levar em conta o fato de que o público sabe que sempre que empresas são nacionalizadas e/ou municipalizadas, ou o governo interfere na vida econômica, o resultado inevitável - ao invés daquele esperado pelos planejadores - é a insolvência financeira, bem como sérios distúrbios na produção e no transporte de bens.
    Sob essas condições, uma análise do raciocínio estatizante parece pertinente e necessária.
    1. Interesse público e interesse privado
    De acordo com esses proponentes, os bancos presentemente servem a interesses privados. Eles servem os interesses públicos somente na medida em que estes não estejam em conflito com aqueles. Os bancos não financiam aqueles empreendimentos que são os mais essenciais do ponto de vista nacional, mas somente aqueles que prometem obter a mais alta taxa de retorno. Por exemplo, de acordo com o Dr. Robert Deumer, diretor do Banco Central alemão em Berlim e autor de um livro seminal sobre o assunto (sobre o qual basearemos este artigo), "os bancos financiam uma destilaria de uísque ou qualquer outro empreendimento que é supérfluo para a economia. Do ponto de vista nacional, suas atividades não apenas são inúteis, como também são perigosas."
    "Os bancos permitem que cresçam aquelas empresas cujos produtos não são demandados; eles estimulam um consumo desnecessário, o que por sua vez reduz o poder de compra das pessoas, que assim deixam de comprar aqueles bens que são mais importantes cultural e racionalmente. Ademais, seus empréstimos desperdiçam capital socialmente necessário, o que faz com que a produção de bens essenciais decline, ou ao menos fazem com que os custos do crédito - e por conseguinte os custos de produção - aumentem."

    A produção de bens "desnecessários" não paga nem mais nem menos do que a produção de "bens essenciais". Em última análise, são os consumidores no mercado que determinam como será o emprego do capital e da mão-de-obra nas várias indústrias. Quando a demanda por um item aumentar, seu preço também irá aumentar, o que consequentemente elevará os lucros desse setor. Tal sinal de mercado, coordenado pelos preços (que possibilitam o cálculo econômico), fará com que novas empresas entrem no mercado, bem como estimulará a expansão das atuais. São os consumidores quem decidirão se é essa ou aquela indústria que irá receber mais capital. Se eles demandam mais cerveja, mais cerveja será fermentada. Se eles querem mais teatro clássico, os teatros irão acrescentar mais clássicos aos seus repertórios e oferecer menos farsas, pastelões e operetas. É o gosto do público, e não o do produtor, que irá decidir que A Viúva Alegre (Die Lustige Witwe) e O Jardim do Éden (Dem Garten Eden) sejam apresentados mais vezes do que Tasso, de Goethe.

    Mas, aparentemente, o gosto de Deumer difere daquele do público. Ele está convencido de que as pessoas devem gastar seu dinheiro diferentemente. Muitos concordariam com ele. Mas dessa diferença de gostos, Deumer conclui que um sistema de controle socialista deveria ser estabelecido por meio da nacionalização do crédito, de forma que o consumo do público possa ser redirecionado. Nisso, temos de discordar de Deumer.

    Guiada por uma autoridade central e seguindo um planejamento centralizado, uma economia socialista pode ser democrática ou ditatorial. Uma democracia na qual a autoridade central depende do apoio público através de eleições e cédulas de votação não pode proceder diferentemente de uma economia capitalista. Ela irá produzir e distribuir aquilo de que o público gosta, isto é, álcool, tabaco, literatura barata, peças de teatro ruins, cinema vulgar e frivolidades da moda. Entretanto, uma economia puramente capitalista também atende os gostos de uns poucos e distintos consumidores. Bens que são demandados por alguns consumidores - e não por todos - também são produzidos. Já a economia democraticamente comandada, dependendo apenas da maioria popular, não precisa levar em consideração os desejos especiais da minoria. Ela irá fornecer exclusivamente para as massas.
    Mas mesmo que a economia seja gerida por um ditador que, sem consideração pelos desejos do povo, faça o que ele achar melhor - um ditador que dê roupas, alimentos e casas para as pessoas da maneira que mais lhe aprouver -, não há qualquer garantia de que ele fará aquilo que seja mais adequado para "nós". Os críticos da ordem capitalista sempre parecem crer que o sistema socialista de seus sonhos irá fazer precisamente aquilo que eles consideram correto. Embora eles não necessariamente queiram eles próprios se tornar ditadores, eles têm a esperança de que o ditador não irá agir sem antes pedir seus conselhos. E assim eles chegam ao contraste popular entre produtividade e lucratividade. Eles chamam de "produtivas" aquelas ações econômicas que consideram corretas. E como as coisas às vezes podem tomar caminhos diferentes do planejado, eles rejeitam a ordem capitalista, que é guiada pela lucratividade e pelos desejos dos consumidores, os verdadeiros senhores do mercado e da produção. Eles esquecem que um ditador também pode agir diferentemente de seus desejos, e que não há garantia alguma de que ele de fato dará o "melhor" de si. E mesmo que ele assim proceda, não há garantia de que ele encontrará o caminho para o "melhor".
    É uma questão ainda mais séria especular sobre se uma ditadura comandada pelos "melhores" ou por um comitê dos "mais brilhantes" pode prevalecer sobre a vontade da maioria. Será que as pessoas, no longo prazo, tolerariam uma ditadura econômica que se recusasse a dar a elas aquilo que elas querem consumir e, ao contrário, dê-lhes apenas aquilo que os líderes considerarem útil? Não iriam, no final, as massas ter êxito em forçar os líderes a prestar atenção aos desejos e gostos populares, obrigando-os a fazer justamente aquilo que os reformistas tentaram a todo custo impedir?
    Podemos concordar com o julgamento subjetivo de Deumer de que o consumo de nossos conterrâneos é frequentemente indesejável. Se acreditamos nisso, podemos tentar convencê-los de seus erros. Podemos informar-lhes dos malefícios do uso excessivo do álcool e do tabaco, da falta de valores de certos filmes e muitas outras coisas. Aquele que quiser promover a boa leitura pode imitar o exemplo da Sociedade Bíblica, que faz sacrifícios financeiros com o intuito de vender Bíblias a preços reduzidos e disponibilizá-las em hotéis e outros locais públicos. Se ainda assim isso for insuficiente, não pode haver qualquer dúvida de que a vontade de nossos conterrâneos não pode ser vencida. Uma produção econômica de acordo com a lucratividade significa uma produção de acordo com os desejos dos consumidores, cuja demanda determina os preços dos bens e assim faz com que o capital gere seu retorno e traga lucros ao empreendimento. Sempre que a produção econômica - ou a "produtividade nacional" - não se der de acordo com a lucratividade, estará havendo uma produção que desconsidera os desejos dos consumidores e que agrada apenas aos caprichos do ditador ou do comitê de ditadores.
    Certamente, em uma ordem capitalista, uma fração da renda nacional é gasta pelos ricos com bens de luxo. Mas independentemente do fato de essa fração ser muito pequena e não afetar substancialmente a produção, o luxo dos abastados tem efeitos dinâmicos que o tornam uma das forças mais importantes do progresso econômico. Toda inovação surge primeiro como sendo um mero "consumo de luxo". Depois que a indústria fica ciente disso, ela "massifica" esse bem, até que ele se torna uma "necessidade" para todos. Vejamos, por exemplo, nosso vestuário, a eletricidade e as instalações sanitárias, o automóvel e as facilidades de viagem. A história econômica mostra como os luxos de ontem se tornaram a necessidade de hoje. Muitas coisas que as pessoas nos países menos capitalistas consideram luxo já são bens triviais nos países capitalistas mais desenvolvidos. Em Viena, ter um carro é um luxo (não apenas na visão do coletor de impostos); nos Estados Unidos, um em cada quatro indivíduos possui um.
    Qualquer crítico da ordem capitalista que queira melhorar as condições das massas não deveria censurar esse consumo de luxo sem antes refutar a afirmação dos teóricos - e a comprovação da realidade - de que apenas a produção capitalista assegura a maior produção possível. Se um sistema planejado produz menos do que um sistema de propriedade privada, então obviamente não será possível suprir as massas com mais do que elas têm hoje.
    Geralmente culpa-se a administração burocrática pela débil performance das empresas do estado. Para que empresas estatais, municipais e outras operações públicas sejam tão eficazes quanto empresas privadas, elas teriam de ser organizadas e dirigidas seguindo-se critérios comerciais. É por isso que, por décadas, tentou-se de tudo para fazer com que tais operações fossem mais produtivas através da "comercialização". À medida que as operações municipais, estaduais e nacionais foram se expandindo, o problema se tornou ainda mais importante. Mas em momento algum alguém chegou perto de apresentar alguma solução.

    2. Gerenciamento burocrático ou gerenciamento de lucro para o sistema bancário?
    Deumer também considera necessário "gerenciar o monopólio do sistema bancário nacional de acordo com critérios comerciais", e faz várias recomendações sobre como chegar atingir isso.[2] Elas não diferem muito das outras propostas apresentadas em anos recentes. Fala-se sobre escolas e avaliações, sobre a promoção do "capaz", sobre pagamento justo para empregados e sobre a divisão dos lucros. Mas a essência do problema não é atacada. Aliás, esse é o procedimento padrão daqueles que se arvoram em tornar o inevitavelmente improdutivo sistema de operações públicas mais produtivo.
    Os intervencionistas e estatistas creem erroneamente que o "arranjo comercial" é uma forma de organização que pode facilmente ser transplantada para empresas governamentais de modo a desburocratizá-las. Aquilo que normalmente é classificado de "comercial" é a essência da iniciativa privada: focar-se em nada mais do que a maior lucratividade possível. E aquilo que é classificado de "burocrático" é a essência das operações governamentais: focar-se nos objetivos "nacionais" (isto é, aquelas que o governo julga importantes). Uma empresa governamental jamais pode ter um "arranjo comercial", não importa quantas características externas de empresa privada lhe sejam sobrepostas.

    O empreendedor opera de acordo com sua própria responsabilidade. Se ele não produzir aos menores custos de capital e trabalho aquilo que os consumidores demandam com mais urgência, ele sofrerá prejuízos. Mas os prejuízos irão levar a uma transferência de sua riqueza - e consequentemente de seu poder de controle sobre os meios de produção - para mãos mais capazes. Em uma economia capitalista, os meios de produção estão sempre sendo direcionados para os administradores mais capazes, isto é, para aqueles que sabem melhor como utilizar mais economicamente esses meios para satisfazer as necessidades dos consumidores. Uma empresa governamental, por outro lado, é gerida por homens que não são responsáveis pelas conseqüências de seu sucesso ou fracasso.

    O mesmo às vezes é dito sobre os principais executivos de grandes empresas privadas que porventura administrem essas empresas tão "burocraticamente" quanto operações estatais. Mas tais argumentos ignoram a diferença básica entre empresas públicas e privadas.
    Em uma empresa privada, que esteja em busca de lucro, cada departamento e divisão é controlado por escriturações contábeis que têm como objetivo comum o lucro. Os departamentos e divisões que não são lucrativos são reorganizados ou fechados. Trabalhadores e executivos que fracassam em suas tarefas são removidos. A contabilidade na unidade monetária vigente controla cada parte do negócio. O cálculo monetário mostra o caminho para a maior lucratividade. Os proprietários - isto é, os acionistas de uma empresa - emitem somente uma ordem para o gerente, que a transmite para os empregados: obtenham lucros.
    A situação é bem diferente nas repartições e cortes que administram os assuntos do estado. Suas tarefas não podem ser medidas e calculadas da mesma maneira que os preços de mercado são calculados, e as ordens dadas aos subordinados não podem ser tão facilmente definidas como o são aquelas dadas por um empreendedor aos seus empregados. Se a administração for uniforme e não houver um poder executivo delegado exclusivamente a administradores reais, todas as ações terão de ser reguladas em todos os detalhes para cada situação imaginável. Assim, torna-se o dever de todos os funcionário seguir essas instruções. O sucesso e o fracasso são menos importantes do que a observância formal das regulamentações. Isso é especialmente visível na contratação, no tratamento e na promoção dos funcionários, e isso se chama "burocratismo". Não se trata de algo ruim que surge de algum fracasso ou deficiência da organização ou da incompetência de funcionários; trata-se da natureza de toda empresa que não é voltada para o lucro.

    Quando a presença estatal vai além da esfera dos tribunais e da polícia, o burocratismo se torna um problema básico de organização social. Mesmo uma empresa estatal em busca de lucro não tem como não ser burocrática. Já se tentou eliminar a burocracia permitindo que os administradores dessas empresas tivessem participação nos lucros. Mas como - por tratar-se de empresas estatais - eles estão isentos de responsabilidade por eventuais prejuízos, eles são constantemente tentados a perseguir um comportamento imprudente. E para coibir tal comportamento, os funcionários de cargo mais alto têm de criar regulamentos que limitem a autoridade dos administradores. E esses regulamentos serão impostos pela criação de conselhos e comitês, que por sua vez seguirão a orientação de "especialistas". Novamente, mais regulamentações e burocracias são criadas.
    Mas normalmente o público espera que empresas estatais se esforcem para conseguir algo que não a lucratividade. É por isso que elas são geridas pelo governo. Intervencionistas como Deumer querem que o sistema bancário seja nacionalizado para que ele possa então ser guiado por interesses nacionais ao invés de privados - isto é, que os bancos invistam seus fundos não onde o retorno seja o maior, mas onde eles sirvam ao interesse nacional.
    Não precisamos analisar outras conseqüências dessas políticas de crédito, tais como a preservação de empresas insolventes. Mas olhemos para seus efeitos sobre o gerenciamento de empresas governamentais. Quando o banco nacional de crédito, ou um de seus departamentos, apresentar resultados deficitários, ele poderá alegar que "Sem dúvida, do ponto de vista dos interesses privados e da lucratividade, não tivemos muito êxito. Mas deve-se levar em conta que o prejuízo mostrado pela contabilidade comercial é contrabalançado pelos serviços públicos prestados e que não são visíveis nos registros contábeis. Por exemplo, dólares e centavos não podem expressar nossas conquistas na preservação de pequenas e médias empresas, bem como a melhoria das condições materiais das classes 'determinantes' da população".
    Sob tais condições, a lucratividade de uma empresa perde significância. Se o gerenciamento estatal tiver de ser examinado, ele deve ser julgado pelo mesmo parâmetro do burocratismo. Todo o gerenciamento tem de ser estritamente controlado, e todos os cargos têm de ser preenchidos por indivíduos dispostos a obedecer regulamentações.
    Não importa o quanto procuremos, é impossível encontrar uma forma de organização que possa evitar os estrangulamentos que o burocratismo provoca nas empresas estatais. Não vale dizer que muitas grandes corporações também se tornaram "burocráticas" em décadas recentes. É um erro acreditar que isso é em decorrência do tamanho. Mesmo a maior das empresas permanecerá imune aos perigos do burocratismo enquanto estiver voltada exclusivamente para o lucro. É verdade que, se outras considerações forem impostas, ela perderá a característica essencial de uma empresa capitalista. Foram as predominantes políticas estatistas e intervencionistas que obrigaram grandes empresas a se tornarem mais e mais burocráticas. Elas foram forçadas, por exemplo, a apontar executivos com boas conexões políticas, ao invés de profissionais capazes; ou a executar operações não-lucrativas a fim de agradar políticos influentes, determinados partidos ou o próprio governo. Elas foram também obrigadas o manter operações que gostariam de cancelar, bem como se fundir a outras empresas e fábricas que não desejavam.
    Essa mescla entre política e negócios não apenas é danosa para a política, como é frequentemente observado, mas é ainda pior para os negócios. Muitas grandes empresas precisam fazer milhares de concessões e considerações em relação a questões políticas, o que planta as sementes da burocracia. Mas tudo isso não justifica as propostas de se burocratizar completa e formalmente toda a produção por meio da estatização do crédito. Onde estaria a economia alemã hoje caso o crédito tivesse sido nacionalizado em 1890 ou até mesmo em 1860? Quem pode imaginar os desenvolvimentos que serão impedidos se o crédito for nacionalizado hoje?
    3. O perigo da expansão excessiva e da imobilização
    O que foi dito aqui se aplica a todas as tentativas de se transferir empresas privadas, principalmente o sistema bancário, para as mãos do estado. Porém a estatização do sistema bancário em particular é algo que, com foi dito, geraria na prática a nacionalização de toda a economia. Mas, além disso, tal medida iria criar problemas de crédito que não podem ser ignorados.
    Deumer procura mostrar que, por motivos fiscais, o monopólio do crédito não poderia sofrer abusos. Mas os perigos da nacionalização do crédito não estão aí; eles jazem é no poder de compra do dinheiro.
    Como é bem sabido, depósitos a vista que podem ser sacados por meio de cheques têm o mesmo efeito que as cédulas de dinheiro têm sobre o poder de compra de uma unidade monetária. E Deumer chega ao ponto de propor uma emissão de "certificados de garantia" ou "certificados de compensação" que jamais devem ser redimidos.[3] Ou seja, o banco nacional na prática estaria livre para inflacionar.
    A opinião pública sempre quer "dinheiro fácil", isto é, taxas de juros baixas. Mas é exatamente a função do banco emissor de cédulas resistir a tais demandas, protegendo sua própria solvência e mantendo a paridade de suas cédulas em relação às cédulas estrangeiras e ao ouro. Se o banco for isentado da sua obrigação de redimir seus certificados, ele estará livre para expandir seu crédito de acordo com os desejos dos políticos. Ele não conseguiria resistir também aos clamores dos requerentes de crédito. Mas, de acordo com Deumer, o sistema bancário deve ser nacionalizado "para dar atenção às queixas das pequenas indústrias e das várias firmas comerciais de que elas apenas estão conseguindo os empréstimos necessários com grandes dificuldades e com muitos sacrifícios"
    Há poucos anos teria sido necessário elaborar mais detalhadamente as conseqüências da expansão do crédito. Não há mais necessidade para tal esforço atualmente. A relação entre expansão creditícia, aumento nos preços dos bens e aumento na taxa de câmbio já é bem conhecida hoje. Essa relação foi ilustrada não apenas pela pesquisa de alguns economistas, mas também pelas experiências e teorias americanas e britânicas com as quais os alemães já se familiarizaram. Seria supérfluo explicar isso em mais detalhes.
    (..)
    Estas pessoas agradeceram este comentário: danobrega, Cesca
  2.  # 2

    O funcionamento dos bancos centrais (para o danobrega):

    http://mises.org.br/Article.aspx?id=1204


    Como funciona o Banco Central Europeu
    por Philipp Bagus, quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
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    O artigo a seguir foi extraído dos capítulos 6 e 7 do livro A Tragédia do Euro, a ser publicado em breve pelo IMB.


    cr_mega_76_ECB TR249SU_Comp.jpgReflitamos por um momento a respeito do poder absoluto que o BCE exerce sobre a vida das pessoas na União Monetária Europeia (UME). Trata-se de um poder que nenhuma instituição acumularia em uma sociedade livre. Embora a imensa concentração de poder da era soviética seja algo do passado, o BCE ainda exerce total controle sobre a esfera monetária; ele tem o poder de criar dinheiro e, com isso, ajudar a moldar a destino da sociedade.

    Imagine que você tivesse o poder que o BCE possui. Você seria a única pessoa com o direito de produzir dinheiro. Digamos que você pudesse criar dinheiro simplesmente utilizando seu computador; ou, ainda mais simples, que você pudesse acessar sua conta bancária pela internet e acrescentar a ela qualquer valor que você desejasse. Imagine também que todas as pessoas fossem obrigadas a aceitar o dinheiro que você produz. Você teria assim um poder comparável ao do anel de Tolkien. Você utilizaria esse poder? A tentação é praticamente irresistível.

    Você de fato pode tentar utilizá-lo para fazer o bem. Porém, o resultado deste arranjo seria um permanente influxo de bens e serviços para você, sua família e seus amigos em troca deste dinheiro recém-produzido. Isso levaria a uma tendência de aumento nos preços. Se você quisesse comprar uma BMW, você simplesmente criaria mais dinheiro e ofereceria um lance maior do que o daquela pessoa que teria comprado o veículo caso você não tivesse produzido esse dinheiro adicional. Consequentemente, os preços sobem. Você obtém a BMW e aquela outra pessoa fica a ver navios. O vendedor poderá agora utilizar esse dinheiro adicional e comprar uma casaca para sua mulher, elevando desta forma os preços das casacas. A renda do produtor de casacas irá aumentar e ele começará a gastar. Gradualmente, este novo dinheiro irá se difundir por toda a economia, aumentando os preços e alterando o fluxo de bens e serviços, fazendo com que estes sejam majoritariamente consumidos por aqueles que primeiro recebem este dinheiro recém-criado.

    Embora o uso do poder de imprimir dinheiro seja praticamente irresistível, você tem de ter o cuidado de não utilizá-lo exageradamente — e por vários motivos.

    As pessoas podem ficar irritadas, oferecer resistência ao seu esquema e tentar destruir seu poder. Quando elas perceberem que você pode simplesmente imprimir dinheiro para conseguir o que quer, e que, como consequência disto, você fica mais rico e elas ficam mais pobres, elas podem se revoltar. Antes de a situação chegar a este ponto, seria sábio você querer restringir sua produção de dinheiro. Porém, há outras maneiras de diluir essa fonte de inquietação e resistência. Você pode desenvolver uma estratégia que dissimule a criação de dinheiro e crie distrações. Você pode fazer com que o dinheiro recém-criado adentre a economia passando por uma série de etapas dentro de um intrincado sistema cujos mecanismos sejam complexos e difíceis de entender. (Veremos mais à frente como o BCE faz isso). Você pode também tentar convencer as pessoas de que o esquema na realidade é bom para elas. Você pode alegar que o que você está fazendo irá estabilizar o nível de preços ou que você está altruisticamente tentando estimular o emprego. (Estes são, aliás, os dois objetivos oficiais do BCE).

    As pessoas podem realmente começar a gostar de você e alegar que, não fosse você, o sistema financeiro entraria em colapso. Concentre-se em argumentar em prol de uma importante consequência do seu ato de criar dinheiro em vez de se concentrar na própria criação de dinheiro em si: diga que você controla as taxas de juros visando o melhor para a sociedade. Em outras palavras, concentre-se nos efeitos de suas políticas (mudanças nas taxas de juros, por exemplo) e não naquilo que você está fazendo para manipular os juros (criando dinheiro). Alegue que você está reduzindo os juros com o intuito de possibilitar mais investimentos e aumentar o emprego. Utilize metáforas: sua criação de dinheiro é o óleo lubrificante necessário para o funcionamento suave da economia. Desenvolva teorias que sustentem seu esquema. Contrate economistas que apóiem sua empreitada e que criem teorias monetárias que defendam suas atitudes. Tais economistas, obviamente, irão exigir alguns agrados em troca; normalmente, irão se contentar com algumas pequenas extravagâncias (passagens aéreas, carros, festas) que irão lhe custar algum dinheiro a mais (facilmente imprimível).[1] Uma de suas argumentações pode ser a de que você está fazendo todo o necessário para evitar o "desastre" de uma eventual queda nos preços. Outra possível argumentação é que o sistema bancário precisa de contínuas criações de dinheiro, caso contrário irá quebrar — com consequências apocalípticas. Você terá atingido seu objetivo quando vítimas e perdedores realmente começarem a crer que você está lhes fazendo um bem ao criar dinheiro.

    Por outro lado, você tem de ser cuidadoso para não desarranjar sobremaneira a economia com sua criação de dinheiro. Você certamente não vai querer muito caos. Afinal, você ainda vai querer continuar podendo comprar uma BMW e usufruir o progresso tecnológico. Se as pessoas pararem de poupar e de investir em decorrência da sua inflação, a produção de automóveis será interrompida. Se a incerteza aumentar muito, você terá de abrir mão de vários privilégios. Se o dinheiro recém-criado gerar muitos distúrbios e distorções na forma de ciclos econômicos, a produtividade será obstruída, e isso pode não ser algo de seu interesse. Certamente você não irá querer nem hiperinflação nem um colapso do sistema monetário. Ninguém iria querer utilizar seu papel pintado. Seu poder seria dizimado.

    Como mencionado anteriormente, é também do seu interesse cobrir suas pegadas. Isso pode ser feito erigindo um sistema financeiro que seja complicado e difícil de entender. Você pode conceder privilégios para alguns em troca da eterna amizade e fidelidade deles. O privilégio consiste em deixar que eles participem do seu monopólio, dando a eles algum tipo de sucursal para auxiliar na sua criação de dinheiro. Estes indivíduos, e vamos aqui chamá-los de banqueiros que praticam reservas fracionárias, não podem eles próprios imprimir dinheiro; porém, se eles mantiverem dinheiro depositado no seu banco na forma de reservas, eles poderão produzir múltiplos substitutos monetários — depósitos em conta-corrente, por exemplo — utilizando como base estas reservas.

    Vejamos um exemplo simples de como este sistema de sucursal funciona. Suponhamos que você (o banco central) imprima €100.000 para comprar uma BMW. Após a sua compra, a concessionária deposita o dinheiro no Banco F. O balancete do banco F será o seguinte.



    Ativo


    Passivo

    Dinheiro €100.000


    Depósito da concessionária BMW €100.000



    O banco mantém 100% de reservas para o depósito da concessionária BMW, a qual depositou o dinheiro com o intuito de tê-lo plenamente disponível sempre que quiser. De acordo com os princípios jurídicos legais, o banco tem a obrigação de manter o dinheiro custodiado, disponibilizando-o para o depositante sempre que demandado. A oferta monetária neste nosso exemplo é composta pelo dinheiro criado pelo banco central, o qual está depositado na conta bancária da concessionária, criando assim um substituto monetário: € 100.000.

    Agora imagine que concedamos ao nosso amigo, o Banco F, o privilégio de manter como reservas apenas 10% deste dinheiro que lhe foi depositado, em vez de manter a custódia total. Isso significa que o banco pode agora comprar ativos (comprar imóveis ou fazer empréstimos, por exemplo) e pagar por eles utilizando o dinheiro que lhe foi depositado pela concessionária BMW. Em outras palavras, o banco pode agora fazer empréstimos para uma pessoa e colocar dinheiro novo na conta bancária desta pessoa.



    Ativo


    Passivo

    Dinheiro €100.000

    Empréstimo para pessoa Y €900.000


    Depósito da concessionária BMW €100.000

    Depósito da pessoa Y €100.000



    Miraculosamente, o banco também criou dinheiro novo na forma de conta bancária. Agora, a oferta monetária subiu para €1.000.000. A concessionária BMW possui €100.000 em sua conta bancária, e a pessoa Y, €900.000. O banco possui reservas em dinheiro totalizando €100.000. O altamente lucrativo esquema de criar dinheiro só se tornou possível por causa do privilégio concedido pelo governo, o qual, em nosso experimento, é você. De certa forma, neste exemplo, o governo é o chefe do sistema bancário e a pessoa Y pode ser o próprio governo. Você deu aos bancos o privilégio de criar dinheiro e, em troca, os bancos lhe financiam concedendo-lhe empréstimos ou comprando os títulos emitidos por você. Com efeito, quando deixamos de lado todas as complexidades e distrações do sistema, torna-se mais fácil pensar no dono da impressora de dinheiro, em você (o governo) e no sistema bancário como sendo todos uma só instituição. O sistema bancário de reservas fracionárias — nada mais do que um sistema de sucursais do banco central — intensifica o poder de criação de dinheiro do banco central. Dos €100.000 impressos pelo banco central, o sistema criou €1.000.000. Ao comprarem os títulos que você emitiu, os preços destes títulos sobem e, consequentemente, os juros que você tem de pagar sobre eles caem. Você pode agora usufruir taxas de juros mais baixas.

    As ligações entre bancos centrais, bancos e o governo não são superficiais. Eles formam um grupo de elite que trabalha em estrita cooperação. Banqueiros e políticos raramente se criticam mutuamente. Eles frequentemente conversam e saem para jantar juntos.

    Olhando o cenário geral, temos que o governo estabelece a sua própria impressora de dinheiro (banco central). O banco central compra majoritariamente títulos do governo, financiando o governo. O governo paga juros sobre estes títulos em posse do banco central, aumentando desta forma os lucros do banco central. Estes lucros são então remetidos ao governo. Quando os títulos maturam, o governo não tem de pagar o principal, pois o banco central compra um novo título para substituir o título vincendo; a dívida é rolada.

    Olhando agora em um nível mais detalhado, o sistema de sucursais bancárias entra em cena. Os bancos têm o privilégio de poder criar dinheiro (moeda eletrônica). Os bancos também compram títulos do governo, ou os utilizam como colateral para obter empréstimos do banco central. Bancos não financiam apenas o governo por meio dessa criação de dinheiro; uma importante parte da sua atividade é conceder também empréstimos a consumidores e empreendedores. Todavia, o sistema bancário jamais abandona o governo; ele sempre financia suas dívidas. E ele é recompensado pelo banco central, o qual compra estes títulos do governo que estão em posse do sistema bancário, ou os aceita como colateral para conceder novos empréstimos ao sistema bancário.

    No final, o sistema é simples. Uma impressora gera enormes tentações: ser capaz de comprar votos ou realizar sonhos políticos, por exemplo. Ao utilizar a impressora, a redistribuição favorece o governo e aqueles que primeiro recebem esse dinheiro recém-criado — em detrimento de todo o resto da população. Este esquema é providencialmente camuflado pelo governo, o qual institucionalmente separa a maneira como o dinheiro adentra a economia. O banco central é chamado de "independente", mas continua comprando títulos do governo, coletando juros sobre estes títulos e remetendo seus lucros de volta para o governo. Os bancos, operando em um sistema de sucursais do banco central, participam das vantagens criadas pela produção de dinheiro e, por sua vez, ajudam a financiar o governo. Embora as conexões sejam complicadas, ao final tudo se resume a nada mais do que um indivíduo tendo uma impressora e a utilizando em seu próprio benefício e em detrimento de todo o resto da sociedade.
    Diferenças entre o Fed e o BCE na criação de dinheiro

    Tanto o Fed quanto o BCE praticam a lucrativa atividade da produção monopolista de papel-moeda fiduciário de curso forçado. Eles controlam as impressoras que produzem, respectivamente, dólares e euros. Porém, em termos de sua missão, o Fed é inerentemente mais inflacionário devido ao seu mandato dualista: garantir igualmente a estabilidade de preços e o crescimento econômico. O BCE, em contraste, possui objetivos mais hierárquicos: garantir primeiro a estabilidade de preços; depois, dar sustento às políticas econômicas da zona do euro.

    No que diz respeito às políticas operacionais, existem apenas pequenas diferenças entre os dois bancos centrais. O Federal Reserve (Fed) tradicionalmente compra e vende títulos governamentais com o intuito de influenciar a oferta monetária e a taxa básica de juros. Veja um balancete simplificado do Federal Reserve.

    Ativo


    Passivo

    Títulos do governo $50

    Ouro $30

    Reservas internacionais $20


    Cédulas $20

    Reservas bancárias $80



    Neste exemplo, o Federal Reserve criou uma base monetária de cem dólares, constituída de vinte dólares em cédulas e oitenta dólares na forma de depósitos que os bancos mantêm junto ao Fed (o compulsório). Contrabalançando esse passivo, o Fed mantém ativos na forma de cinquenta dólares em títulos do governo, trinta dólares em ouro, e vinte dólares em reservas internacionais. Baseando-se nestas cédulas e reservas bancárias, o sistema bancário de reservas fracionárias pode expandir a oferta monetária da economia, seja concedendo mais empréstimos ou comprando mais títulos do governo.

    Se o Fed quiser acrescentar reservas bancárias ao sistema, ele normalmente compra títulos do governo em posse dos bancos. Imaginemos que o Fed compre cinquenta dólares em títulos do governo que está em posse do sistema bancário. Isso implica um aumento nos títulos do governo para $100 no lado dos ativos e aumento para $130 nas reservas bancárias no lado dos passivos.

    Ativo


    Passivo

    Títulos do governo $100

    Ouro $30

    Reservas internacionais $20


    Cédulas $20

    Reservas bancárias $130



    A compra de títulos governamentais é chamada de operação de mercado aberto (operação no open market). O Fed normalmente recorre a operações de mercado aberto uma vez por semana com o intuito de manipular a taxa básica de juros da economia americana, isto é, a taxa de juros que os bancos cobram entre si no mercado interbancário para emprestar suas reservas bancárias para outros bancos ao final do dia. Quando as reservas bancárias aumentam, a taxa básica de juros tende a cair, e vice versa. O enfoque dado à taxa básica de juros desvia a atenção do esquema principal, a saber, o aumento da oferta monetária em prol do governo e seus amigos. A iniciativa de alterar a base monetária é toda do Fed.

    Outra maneira de aumentar as reservas bancárias é por meio de empréstimos aos bancos. Isso, no caso do Fed, pode ser feito na forma de operações compromissadas, em que a iniciativa parte dos bancos (no lado dos ativos, as operações compromissadas aumentam; no lado dos passivos, as reservas bancárias também aumentam). Em uma operação compromissada (também chamada no Brasil de 'acordo de recompra'), o tomador de empréstimo concorda em vender um título para o emprestador e em comprá-lo de volta no futuro a um preço fixo. A diferença de preços representa a taxa de juros paga. As operações compromissadas do Fed são também uma forma de operação de mercado aberto. Elas ocorrem diariamente e, via de regra, possuem um prazo de maturação muito pequeno (um dia).

    Para poderem tomar emprestado, via operações compromissadas, junto ao Fed, os bancos precisam oferecer um ativo como garantia, também chamado de colateral. O colateral irá servir de garantia para o Fed. Se o banco não puder quitar o empréstimo, o Fed poderá utilizar esse colateral para tentar recuperar seus fundos. O Fed tradicionalmente aceita títulos do Tesouro americano como colateral em suas operações compromissadas. O Fed faz com que haja uma constante demanda por títulos do governo; os bancos sabem que eles são aceitos como colateral para empréstimos. O esquema funciona assim: munidos do privilégio de poderem praticar reservas fracionárias, os bancos podem criar dinheiro do nada. Com uma parte deste dinheiro recém-criado do nada, eles compram títulos governamentais — pois o Fed pode ou aceitar esses títulos como colateral em troca de empréstimos ou comprá-los diretamente via open market. Como consequência desta compra de títulos governamentais pelo sistema bancário, os juros destes títulos caem. O governo, como resultado, pode agora pagar juros mais baixos sobre suas dívidas.

    Outra forma de empréstimo é aquela feita pela chamada "janela de redesconto". Aqui, a iniciativa parte dos bancos. Eles podem pegar dinheiro emprestado junto ao Fed por meio da janela de redesconto a uma taxa de juros maior do que a taxa básica de juros. A janela de redesconto é um instrumento utilizado por bancos que estão necessitados de fundos e estão dispostos a pagar juros mais altos em troca destes fundos. Em épocas normais, a janela de redesconto não é utilizada pelos bancos justamente por causa dos juros punitivos. E o banco que recorre à janela de redesconto tem seu nome divulgado ao público, o torna esta alternativa bastante desinteressante.

    Durante a crise de 2008, o Fed criou novos programas de empréstimos, com prazos de maturação mais longos, direcionados a uma maior variedade de entidades (não somente bancos comerciais); e passou a aceitar uma variedade maior de colaterais. O Fed também começou a comprar quantias consideráveis da dívida e dos títulos lastreados em hipotecas emitidos pelas agências hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac.

    O BCE opera de maneira similar ao Fed, embora apresente algumas peculiaridades. O BCE utiliza três principais instrumentos para sua política monetária (eufemismo para criação de dinheiro): mudanças no compulsório, operações de mercado aberto e linhas de crédito permanentes. Em relação ao compulsório, não há nada de novo. Os bancos devem manter reservas em suas contas no BCE baseadas em seus depósitos em conta-corrente. Para cada €100 depositados por um correntista no banco, o banco deve manter €2 em sua conta no BCE. Isso significa que o banco pode emprestar os €98 restantes. Ao reduzir (ou aumentar) as reservas compulsórias que os bancos devem manter depositadas junto ao BCE, os bancos podem expandir o crédito (ou são forçados a contrair o crédito). No entanto, tal instrumento normalmente não é utilizado, de modo que a taxa do compulsório para depósitos em conta-corrente mantém-se constante em 2%.

    Mais relevantes são as operações de mercado aberto e as linhas de crédito permanentes (a linha de crédito marginal e a linha de crédito de depósito). A diferença entre as duas é que a iniciativa das operações de mercado aberto parte do BCE, ao passo que a iniciativa das linhas de crédito parte dos bancos. Por meio da linha de crédito de depósito, os bancos podem depositar dinheiro junto ao BCE pelo período de um dia e receber juros sobre este depósito. Esta taxa de juros será o limite inferior da taxa de juros praticada pelo mercado interbancário. Nenhum banco aceitaria cobrar uma taxa menor pelos seus fundos no mercado interbancário pelo óbvio motivo de que ele sempre poderia recorrer à linha de crédito de depósito do BCE para obter juros melhores.

    Já por meio da linha de crédito marginal (similar à janela de redesconto do Fed), os bancos podem pegar dinheiro emprestado do BCE a taxas punitivas. Através da linha de crédito marginal, o BCE cria base monetária; mas isso só ocorre quando os bancos recorrem a este mecanismo. A taxa de juros da linha de crédito marginal será o limite superior da taxa de juros praticada pelo mercado interbancário, o que significa que, em todo o sistema, nenhum banco pagará uma taxa maior do que aquela que ele pagaria na linha de crédito marginal.

    A linha de crédito marginal vem com duas exigências adicionais para os bancos. Primeiro, os bancos somente poderão obter dinheiro às taxas punitivas da linha de crédito de marginal se oferecerem colateral suficiente. O colateral tem de ter uma dada qualidade. A qualidade é certificada por três agências licenciadas, isto é, privilegiadas: Moody's, Fitch, e Standard and Poor's. Se um título for classificado como sendo de risco e de baixa qualidade, o BCE não irá aceitá-lo como colateral para seus empréstimos.

    Segundo, aplica-se um haircut (dedução do valor dos títulos; diferença entre o real valor de mercado de um título e o valor cobrado pela parte emprestadora de uma transação) a este título (colateral), dependendo do prazo de maturidade e do seu risco. Se um banco oferece como colateral um título que valha €1.000, ele não conseguirá obter um empréstimo de €1.000, mas sim um valor menor. O haircut funciona como proteção contra potenciais perdas. Imagine que o banco não consiga quitar seu empréstimo junto ao BCE, de modo que este tenha de vender o título para conseguir recuperar seus fundos. Nesse meio tempo, imagine que o valor do título tenha caído para €900. Se o haircut não houvesse sido aplicado, o BCE sofreria um prejuízo de €100. Em princípio, prejuízos não são um problema para o BCE, pois ele não depende de ter lucros ou prejuízos para sobreviver.

    O BCE poderia continuar operando normalmente, dado que ele sempre poderá imprimir dinheiro para pagar suas contas e para emprestar ao sistema bancário. No entanto, bancos centrais sempre tentar evitar prejuízos por uma questão contábil: prejuízos reduzem seu patrimônio líquido. Consequentemente, prejuízos podem requerer estranhas medidas contábeis por parte do banco central, o que reduziria a confiança em uma moeda. Se o haircut for de 10%, o banco poderá obter um empréstimo de €900 dando ao BCE um título de €1.000. Não surpreendentemente, haircuts para títulos do governo são menores do que para outros tipos de títulos. Esta é só mais uma maneira de favorecer discretamente as finanças governamentais por meio da criação de dinheiro.

    Ao contrário da linha de crédito marginal, a iniciativa das operações de mercado aberto é toda do BCE. Há basicamente duas maneiras de o BCE produzir dinheiro por meio das operações de mercado aberto. Na primeira, o BCE compra ou vende títulos diretamente. No entanto, este processo de compra ou venda de títulos não é o procedimento normal de manipulação da oferta monetária.

    Normalmente, o BCE utiliza os segundo método e empresta dinheiro recém-criado para os bancos via linhas de crédito, as quais diferem entre si tanto em propósitos quanto em duração. Há a linha de crédito de refinanciamento estrutural, a linha de crédito de ajuste fino (este termo não remete a engenharia social?), a linha de crédito de refinanciamento de longo prazo e a linha de crédito principal de refinanciamento. Em todas estas linhas de crédito, títulos não são comprados, mas sim utilizados em transações reversas: operações compromissadas ou empréstimos colateralizados. Um empréstimo colateralizado é similar a uma operação compromissada.

    Em uma operação compromissada, o BCE compra um título com dinheiro recém-criado e o revende mais tarde a um preço maior, sendo esta diferença de preços a taxa de juros. Ele pode comprar um título a €1.000 e revendê-lo a €1.010 após um ano, o que dá uma taxa de juros de 1%.

    Em um empréstimo colateralizado, o banco recebe um empréstimo de €1.000, dando um título como garantia, e paga €10 de juros. A diferença entra a operação compromissada e o empréstimo colateralizado é basicamente de natureza jurídica. Na operação compromissada, a propriedade do colateral é transferida para o BCE, ao passo que, no empréstimo colateralizado, a propriedade do título permanece o tempo todo sendo do banco que pegou empréstimo junto ao BCE e apenas utilizou o título como garantia.

    Semanalmente, o BCE decide a quantidade de base monetária que ele quer injetar na União Monetária Europeia. Os prazos de maturação normalmente são de duas semanas. O BCE basicamente faz um leilão do dinheiro recém-criado. Os bancos fazem propostas com taxas de juros fixas e com taxas de juros variáveis. Nas propostas de taxa de juros fixa, a taxa de juros é estipulada pelo BCE e os bancos recebem o dinheiro recém-criado proporcionalmente aos seus pedidos. Já nas propostas de taxa de juros variável, uma determinada quantia de dinheiro é ofertada pelo BCE e os bancos propõem as taxas de juros que estão dispostos a pagar por aquela quantia. Ato contínuo, o dinheiro é distribuído proporcionalmente às taxas de juros oferecidas por cada banco.

    Diferenças

    Uma das principais diferenças entre o BCE e o Fed é que o BCE sempre aceitou uma variedade maior de colateral, o que torna suas políticas mais "flexíveis". O Fed aceita (ou compra) em suas operações de mercado aberto somente títulos classificados como AAA, a saber: títulos do Tesouro americano, dívidas das agências federais americanas, ou dívidas hipotecárias garantidas por agências federais. Na janela de redesconto, aceita-se títulos com grau de investimento (cuja classificação é BBB- ou maior).

    O BCE tradicionalmente aceita uma variedade maior de colateral em suas operações de mercado aberto. Além de títulos governamentais, o BCE também aceita títulos lastreados em hipotecas, empréstimos bancários cobertos, e outros tipos de dívida que sejam classificados no mínimo como A-. Esta classificação mínima foi reduzida como medida emergencial durante a crise para BBB-, sendo que o plano era que tal medida expiraria após um ano. Antes que tal exceção expirasse, no entanto, a medida foi prorrogada, pois a classificação da Grécia estava prestes a ser reduzida para baixo disso. No final, fez-se a exceção para os títulos gregos, os quais seriam aceitos independentemente de sua classificação.

    Ambos os bancos centrais dão apoio à dívida de seus governos, mas de maneiras distintas. Ao passo que o Fed utiliza somente títulos governamentais ou dívidas de agências federais ou dívidas garantidas por estas agências, estimulando assim a demanda por tais papeis, o BCE cria um viés em prol das dívidas governamentais ao aplicar um haircut mais baixo para elas.

    Outra pequena diferença entre o Fed e o BCE está na maneira como a oferta monetária é alterada, isto é, na maneira como cada um cria dinheiro. Em suas operações de mercado aberto, o Fed prefere compras diretas de títulos, ao passo que o BCE prefere transações reversas.

    Imagine que o Fed queira aumentar as reservas bancárias em $1.000. Para isso, ele irá comprar $1.000 em títulos do governo. As reservas bancárias estarão $1.000 maiores enquanto o Fed não vender estes títulos de volta para o sistema bancário. Enquanto estiver em posse destes títulos, o Fed irá coletar os juros que o governo paga sobre eles. No final, deduzidas suas despesas, uma parte do lucro será remetida de volta para o governo americano.

    Se o BCE, por sua vez, tiver o objetivo de aumentar a oferta monetária em €1.000, ele irá leiloar €1.000 por meio de transações reversas, aceitando títulos do governo como colateral e aplicando haircuts. O BCE também coleta juros sobre estes empréstimos e remete parte do seu lucro para os bancos centrais de todos os países da zona do euro, os quais os repassam para seus respectivos governos. Quando estes empréstimos maturam, o BCE pode rolá-los. Neste caso, o aumento de €1.000 nas reservas bancárias será mantido. Na prática, os títulos do governo são utilizados para criar mais dinheiro, em ambos os casos. A operação é desfeita quando o Fed vendo os títulos do governo de volta para o setor bancário ou quando o BCE decide não rolar os empréstimos que fez ao sistema bancário.

    Como o BCE financia os governos da zona do euro

    Quando os governos gastam mais do que coletam em impostos, eles emitem títulos. Em contraposição ao Fed, o BCE não compra estes títulos diretamente (embora isso tenha mudado com a recente crise da dívida soberana). [2] Imagine que um título que valha €1.000 e que tenha um prazo de maturação de 10 anos seja vendido por um governo da zona do euro. Os bancos comprarão este título — possivelmente criando dinheiro via reservas fracionárias —, pois sabem que o BCE aceitará este título como colateral.

    O BCE aceitará este título em uma transação reversa — como um empréstimo colateralizado — com um prazo de maturação de uma semana (ou de um mês), criando dinheiro e o emprestando aos bancos. Ao término desta semana, o BCE irá simplesmente renovar o empréstimo e continuar em posse deste título caso ele queira manter a atual oferta monetária. O BCE pode continuar agindo assim pelos próximos dez anos. Após dez anos, o governo terá de quitar o principal deste título, e provavelmente irá fazê-lo emitindo um outro título. E assim será ad eternum. O governo nunca precisa quitar sua dívida; ele pode simplesmente emitir uma dívida nova para pagar a antiga. Mas ainda assim fica a pergunta: o governo ao menos paga os juros deste título? Sim, mas os juros são pagos para o BCE. Como mencionado anteriormente, uma parte do pagamento dos juros é enviada de volta para o governo, uma vez que os lucros do BCE são remetidos para cada banco central nacional de acordo com o capital de cada um junto ao BCE. Dali, os lucros são enviados para seus respectivos governos.

    Mas e quanto aos pagamentos de juros que não estão voltando, isto é, que não são remetidos de volta para o governo na forma de lucros? Os governos não têm de pagá-los? Novamente, o governo pode apenas emitir um título novo, arrecadar dinheiro e utilizá-lo para pagar esta despesa. Os bancos compram o título e o BCE o aceita como colateral. É desta forma que o BCE financia os déficits das nações que fazem parte do euro.

    Como é possível, então, que a Grécia tenha tido problemas de refinanciamento? A Grécia na realidade teve problemas para rolar a sua dívida. Temia-se que o BCE não mais fosse aceitar títulos gregos, e que a classificação destes caíssem para um nível menor do que o mínimo aceito. Ademais, vários investidores começaram a especular que os problemas políticos gerados pelos crescentes déficits e pela crescente dívida da Grécia pudessem pôr um fim à monetização da dívida grega. Em algum momento, o governo alemão e outros governos europeus iriam intervir e exigir que o BCE parasse de financiar os crescentes déficits e endividamento da Grécia. Também temia-se que outros países não socorressem a Grécia por meio de empréstimos governamentais diretos. Este tipo de apoio direto vai contra os termos do Tratado de Maastrich, sem falar nas enormes dificuldades políticas de tentar persuadir a população do país cujo governo iria utilizar seu dinheiro para ajudar a Grécia.

    No final, o resgate da Grécia pode simplesmente não ter sido uma opção economicamente viável. O risco de um calote aumentou e as taxas de juros para os títulos gregos dispararam, levando a uma crise da dívida soberana.
  3.  # 3

    Juros: porquê?
    http://mises.org.br/Article.aspx?id=552
    O que você prefere: ter uma televisão LCD agora ou só daqui a cinco anos? Um laptop hoje ou só daqui a sete anos? Uma barra de ouro agora ou daqui a uma década? Caso você saiba dirigir e goste da liberdade de viajar segundo seu próprio horário, você preferiria ter um carro hoje ou só daqui a dez anos, e ficar andando de ônibus até lá?

    Embora as respostas para as perguntas acima pareçam muito óbvias, sua implicação para toda a teoria econômica é incomparável. Trata-se da manifestação de um princípio básico da ação humana: o homem prefere o usufruto de um bem no presente ao usufruto desse mesmo bem no futuro. Esse é conceito da preferência temporal.

    É esse fenômeno natural que explica por que os bens presentes possuem um valor maior, um prêmio, em relação aos bens futuros - e é esse fenômeno que fornece a origem e a justificativa para o pagamento de juros.

    O fenômeno da preferência temporal, que é observável em inúmeros aspectos da vida humana, é na verdade uma simples questão de bom senso: o homem prefere uma dada quantia de um bem no presente à mesma quantia desse bem no futuro. Mais ainda: somente uma maior quantia desse bem no futuro pode persuadir o homem a abrir mão desse bem no presente.

    Afinal, as pessoas não tratam uma dada quantia de um bem no presente e a mesma quantia desse mesmo bem daqui a alguns anos como sendo o mesmo bem. Por exemplo, mesmo que não houvesse inflação, as pessoas não consideram 100 reais hoje e 100 reais daqui a dez anos como sendo o mesmo bem. Do ponto de vista econômico, são dois bens diferentes.

    Qualquer um que se recuse a reconhecer o fenômeno da preferência temporal está absolutamente incapacitado para entender fenômenos econômicos básicos. Por exemplo, uma indústria pode aumentar sua produtividade e a qualidade de seus produtos caso ela adote um processo de produção mais longo, mais metódico e, consequentemente, mais demorado. Se a preferência temporal não existisse, todas as indústrias poderiam optar por esse procedimento, preferindo o processo de produção que gerasse a maior quantidade de produtos sem se preocupar com quanto tempo isso iria levar. O fato de as indústrias nem sempre procederem assim é um exemplo da preferência temporal em ação. Como explicou Mises, é a preferência temporal que

    "explica por que métodos de produção menos demorados são escolhidos, não obstante o fato de que métodos mais demorados gerariam um maior produto por unidade de insumo".

    Outro exemplo prático da preferência temporal em ação, e do qual poucas pessoas se dão conta, é o preço de um pedaço de terra. Se a preferência temporal não existisse, o preço de qualquer pedaço de terra produtivo seria infinito. Por quê? Porque se não levássemos em conta a existência da preferência temporal, esse pedaço de terra teria de ter hoje o mesmo valor que teria no futuro, após ter produzido várias colheitas. Assim, o preço da terra hoje teria de ser igual à soma de toda a sua produção durante todo o período futuro até o fim dos tempos. Assim, se fosse estimado que um determinado pedaço de terra pode gerar uma produção de 100.000 reais por ano, alguém que fosse comprar essa terra teria de pagar um valor equivalente a 100.000 multiplicado pelo tanto de anos que ele estimasse que faltaria para o mundo acabar a partir do momento da sua compra. O fato de ninguém precificar as coisas dessa forma indica a existência de preferência temporal.

    Aplicações

    Tendo entendido a inevitabilidade da preferência temporal, o fenômeno dos juros fica mais claro. Como um bem futuro tem menos valor pra você do que esse mesmo bem no presente, você só irá aceitar abrir mão desse bem no presente caso lhe seja prometida uma quantia maior desse mesmo bem no futuro.

    Por exemplo, suponha que você é o único habitante de uma pequena cidade a ter um laptop, o qual você usa diariamente. Eis que surge um empreendedor local e lhe pede emprestado esse laptop por, digamos, três anos, para que ele possa utilizá-lo como capital para fazer algum investimento. Você só vai aceitar abrir mão do seu laptop por três anos caso esse empreendedor lhe prometa pagar, após esse período de três anos, um valor que seja maior do que o valor presente do seu laptop. O mais natural é que você exija, além da devolução do laptop, o pagamento de um valor adicional (se ele vai pagar em dinheiro ou qualquer outro bem que você queira é o de menos). O fato é que você quer ser recompensado por ter de abrir mão do seu laptop no presente.

    Agora, suponha que você tenha dois laptops e esse empreendedor lhe peça emprestado apenas um. Nesse cenário, é provável que a recompensa que você cobre por esse empréstimo seja menor que no primeiro caso - afinal, você tem um laptop sobressalente, e não vai ficar de todo desprovido de seu capital. Ou seja, como havia uma maior abundância de capital (laptop) a ser emprestado, o preço cobrado pelo empréstimo de uma unidade foi menor. O custo de se abrir mão dessa segunda unidade é menor do que no primeiro caso. Consequentemente, quanto maior for seu capital disponível para ser emprestado, menor o valor que você exigirá por abrir mão de cada unidade.

    Expandindo esse exemplo para a economia de toda a cidade, fica mais fácil perceber como a preferência temporal coordena os juros e como isso se reflete no processo de crescimento econômico. Por exemplo, imagine que os habitantes da cidade são indivíduos poupadores - isto é, são indivíduos que consomem muito pouco. O fato de eles consumirem pouco significa que eles estão mais voltados para o futuro. Logo, a preferência temporal deles é menor. Eles não são tão ávidos para desfrutar bens no presente. Estão dispostos a algum sacrifício (poupança sempre é sacrifício) para adiar o usufruto desses bens.

    Justamente por consumirem pouco, por terem uma preferência temporal baixa, eles permitem que haja mais bens disponíveis para ser emprestados e aplicados em processos de investimento. Uma preferência temporal baixa gera uma maior abundância de bens livres para ser emprestados.

    Assim, suponhamos que uma grande empresa dessa cidade queira iniciar um grande empreendimento - por exemplo, a construção de um shopping. Para fazer esse investimento, a empresa vai precisar de uma grande disponibilidade de capital: desde cimento, argamassa e tijolo até tratores, escavadeiras, caminhões, maquinário pesado etc. Quanto maior for a poupança das pessoas desta cidade, isto é, quanto menos elas tiverem consumido, maior será a disponibilidade desses elementos (afinal, aquilo que não é consumido é poupado). E quanto maior essa disponibilidade, menor o preço cobrado pelo uso de cada unidade deles. Logo, a baixa preferência temporal das pessoas dessa cidade gerou uma maior poupança - isto é, mais capital disponível para empréstimo -, o que fez com que fossem menores os juros exigidos por cada unidade de capital.

    Nesse cenário - observe que ainda não estamos lidando com dinheiro - a poupança disponível é genuína. A empresa que vai fazer o empreendimento sabe com antecedência qual a real quantidade de capital disponível para ela utilizar em sua obra, bem como quanto terá de pagar pelo uso desse capital. O cenário observado é o cenário real; não houve manipulações. A quantidade de capital disponível (poupado) é aquela realmente observada. Assim, a empresa estará apta a calcular corretamente quanto capital está disponível para ser usado e quanto irá gastar para adquiri-lo. Caso esteja dentro do orçamento, a obra será empreendida sem sustos e, ao ser finalizada, haverá consumidores aptos para consumir os bens gerados por ela, pois pouparam para isso.

    Agora imagine que essa cidade, contrariamente ao exemplo anterior, seja povoada por pessoas com alta preferência temporal - ou seja, voltadas para o presente. São pessoas consumistas, avessas à poupança. Querem o máximo possível para hoje. Nesse caso, o capital disponível foi quase todo exaurido (quase todos os tijolos e cimentos já foram usados, os tratores e as escavadeiras estão gastos, os caminhões estão dilapidados, há poucos laptops disponíveis para rodar os programas de cálculo estrutural etc.). É óbvio que, nesse cenário, não há capital disponível para sustentar um investimento vultoso como a construção de um shopping. A empresa que fosse fazer tal empreendimento rapidamente seria demovida da ideia ao ver a escassez de capital disponível. Essa escassez de capital - consequência natural da alta preferência temporal das pessoas - se traduziria em um alto preço (juros) cobrado pelo uso do pouco capital que ainda resta, pois a empresa estaria disputando o uso desse escasso capital com os moradores consumistas, que cobram um preço muito alto para deixar de usá-los.

    Em ambos os casos, a introdução do dinheiro em nada muda o raciocínio. O fato de as pessoas terem baixa preferência temporal, como no primeiro caso, se traduz em mais dinheiro disponível para empréstimo. O fato de haver mais dinheiro disponível para empréstimo é consequência de ter havido pouco consumo. Logo, há uma relação direta entre a quantidade de dinheiro poupada (disponível para empréstimos) e quantidade de bens disponíveis no mercado. Portanto, nesse caso, a empresa que quer construir o shopping não precisa ir a campo para pesquisar qual a real disponibilidade de bens capital (ferramentas) para sua obra - tudo o que ela precisa fazer é ver qual a taxa de juros monetários cobrada para empréstimos. Essa taxa de juros será um retrato fiel da real disponibilidade de poupança (bens de capital).

    O mesmo é válido para o segundo caso. A alta preferência temporal das pessoas resulta em mais consumo e menos dinheiro disponível na poupança, o que consequentemente significa menos bens de capital disponíveis para serem utilizados em investimentos. Por haver menos dinheiro na poupança, os juros cobrados para empréstimos serão altos, sinalizando a inviabilidade do investimento.

    Ambos os cenários relatados acima mostram como os juros funcionariam num ambiente de genuíno livre mercado, onde não há manipulações monetárias, não há criação de dinheiro e não há manipulação de juros por parte de alguma autoridade governamental. Os juros monetários vigentes na economia representariam fielmente a real disponibilidade de bens de capital que podem ser utilizados em investimentos. Da mesma forma, os juros também sinalizariam o poder de consumo da população: uma baixa taxa de juros estaria indicando que as pessoas têm dinheiro poupado e, consequentemente, poderão consumir mais no futuro (o que tornam viáveis investimentos de longo prazo). Uma alta taxa de juros estaria indicando que as pessoas não têm dinheiro poupado e, consequentemente, não poderão consumir muito no futuro (o que inviabilizaria os investimentos de longo prazo. Afinal, quem iria consumi-los?).

    Assim, em um livre mercado, a taxa de juros - que é formada pela preferência temporal das pessoas - coordena automaticamente a alocação de recursos na economia. Não haveria como haver investimentos errôneos simplesmente porque estes seriam caros demais para ser iniciados. Um investimento de longo prazo só seria empreendido se os juros vigentes indicassem haver uma possibilidade de lucros futuros.

    Como explicou Rothbard,

    "Em um mercado livre e desimpedido, a taxa de juros é determinada puramente pelas preferências temporais de todos os indivíduos que compõem a economia de mercado. A essência de um contrato de empréstimo é que um "bem presente" (dinheiro que pode ser usado no momento) está sendo trocado por um "bem futuro" (um título de dívida que só poderá ser utilizado em um dado momento futuro). Como as pessoas sempre preferem ter o dinheiro agora ao invés da perspectiva de receber a mesma quantia em algum momento futuro, o bem presente sempre exige um prêmio no mercado em relação ao bem futuro. Este prêmio é a taxa de juros, e seu valor irá variar de acordo com o grau em que as pessoas preferem o presente em relação ao futuro, ou seja, o grau de suas preferências temporais."

    Como atrapalhar tudo

    Insatisfeitos com a baixa taxa de poupança da população do segundo exemplo, os políticos locais criam uma entidade poderosa o suficiente para fazer parecer com que haja mais capital disponível para o empreendimento do que realmente há.

    Essa entidade, que vamos chamar aqui de banco central, é dotada do monopólio da criação de moeda, sendo que ela pode alterar toda quantidade de dinheiro da economia a bel-prazer.

    Assim, para evitar que a empresa que quer construir o shopping desista da ideia por causa da escassez de poupança (e dos juros altos, que é a consequência natural), o banco central imprime dinheiro e o injeta no sistema bancário. Essa maior oferta de dinheiro irá fazer com que o preço dele (os juros) caia.

    Consequentemente, animada com essa queda nos juros, a empresa agora passa a achar que vale a pena fazer a construção do shopping - afinal, o investimento ficou barato e certamente trará lucros futuros. As obras começam.

    Mas há aí um severo desequilíbrio econômico: a preferência temporal dos habitantes continua alta e eles continuam consumindo muito no presente - logo, há menos bens de capital do que os juros fazem supor e, de quebra, a empresa terá de disputar com a população consumista esses bens de capital.

    No início do processo, a sensação é de prosperidade. A empresa está contratando, empregando gente, pagando salários e consumido bens de capital. Os fornecedores ficam animados, pois veem um aumento das encomendas e de sua renda. O crescimento econômico parece sustentável.

    Com o passar do tempo, os desequilíbrios vão ficando evidentes. A escassez de bens de capital começa a ficar aparente. Os preços deles sobem. Essa subida de preços faz com que a empresa tenha de obter mais empréstimos para continuar adquirindo esses bens de capital. Com isso, os juros sobre os empréstimos sobem. O empreendimento vai ficando cada vez mais inesperadamente caro. Os bens de capital estão cada vez mais escassos. A espiral escassez de bens/aumento dos juros vai se tornando mais intensa. Até que a empresa desiste e interrompe o investimento. Os trabalhadores são demitidos e os fornecedores são dispensados. A aparente prosperidade econômica revelou-se insustentável. Capital e mão-de-obra foram desviados para um investimento que não deveria estar ocorrendo. O aumento do desemprego é inevitável. Instala-se a recessão, que é o período de se corrigir esse desequilíbrio.

    A fonte do problema é que a empresa iniciou um investimento voltado para o longo prazo na crença de que havia capital suficiente para finalizá-lo. Os juros artificialmente baixos levaram-na a crer que havia poupança disponível tanto para financiar as obras quanto para permitir que os consumidores futuramente pudessem consumir o produto final. Mas não havia nem uma coisa nem outra.

    Tudo que havia era mais papel-moeda na economia. Mas aumentar o dinheiro na economia não faz com que surjam mais bens de capital para se fazer os investimentos. O aumento do volume de dinheiro apenas faz com que os juros monetários caiam sem que tenha havido um simultâneo aumento na poupança. O desequilíbrio econômico passa a ser inevitável.

    Não tivesse havido essa manipulação monetária, não teria por que se iniciar tal investimento.

    Finalizando

    Como vimos, os juros são fenômenos naturalmente oriundos da preferência temporal dos indivíduos. Em um genuíno livre mercado, os juros sinalizam a quantidade de poupança genuinamente disponível. Por 'poupança' entenda a quantidade de bens que não foram consumidos e que, portanto, estão disponíveis para serem utilizados em investimentos. Mesmo em uma economia monetária os juros continuam sendo oriundos da preferência temporal das pessoas. Quanto maior a poupança, maior a disponibilidade de bens e menor os juros monetários. A quantidade de dinheiro poupada passa a ser um reflexo da abundância de bens. A existência do dinheiro facilita em muito a questão da contabilidade - ao invés de ir a campo pesquisar quantos bens existem no mercado, basta olhar a taxa de juros vigente.

    Quando uma entidade como o banco central é criada, os juros passam a ser manipulados. Não há mais um livre mercado na oferta de poupança e os juros monetários não mais são determinados pela preferência temporal das pessoas. A manipulação dos juros por um banco central nada mais é do que um controle de preços, gerando escassez de capital da mesma forma que o controle do preço do arroz faz com que esse produto suma das prateleiras. Os ciclos econômicos tornam-se recorrentes.

    Por fim, apenas uma consideração técnica adicional: no nosso atual arranjo econômico, no qual transacionamos com dinheiro e há incertezas futuras, embora a preferência temporal sozinha não determine os juros de mercado (juros de mercado são os juros bancários e não a taxa SELIC), ela é um ponto de partida. Segundo Hayek, a preferência temporal determina o quanto as pessoas irão poupar, mas não determina a taxa de juros de mercado. Além da preferência temporal, coisas como produtividade marginal, risco, oferta monetária, demanda por dinheiro, demanda por empréstimos etc., todas elas têm um papel determinante na formação dos juros de mercado.

    Mas se a taxa básica da economia, que é a taxa SELIC, é manipulada pelo banco central, as chances de as taxas de juros de mercado refletirem adequadamente a disponibilidade de capital é praticamente nula. Daí a recorrência dos ciclos econômicos.
  4.  # 4

    Salários baixos...

    http://mises.org.br/Article.aspx?id=204

    Os baixos salários nos países em desenvolvimento estão entre os muito pecados alegadamente cometidos pelo capitalismo global, mas poucas das pessoas que fazem tal acusação de fato chegam a parar para pensar por que os salários são tão baixos em alguns desses países.

    Em seu livro de 2007, The Myth of the Rational Voter, o economista Bryan Caplan propõe um interessante exercício mental que sugere que as pessoas implicitamente aceitam os resultados dos mercados competitivos. Caplan pergunta se aqueles que criticam as empresas que pagam baixos salários nesses países acham que poderiam enriquecer rapidamente caso investissem todos os seus recursos na abertura de empresas nesses países - mais especificamente, abrindo empresas nos países mais pobres. Afinal, é uma questão de lógica: se os trabalhadores de países em desenvolvimento são mal pagos e explorados, qualquer homem de negócios em busca de lucro poderia colher belos e imediatos lucros caso contratasse esses trabalhadores atualmente mal pagos e os reempregasse em outros lugares.

    Se essas pessoas declinam da oportunidade, argumenta Caplan, então elas implicitamente aceitam o fato trágico, porém verdadeiro, de que os trabalhadores dos países muito pobres simplesmente não são muito produtivos. Os salários baixos, portanto, não são uma criação das corporações multinacionais exploradores; são, sim, os frutos de uma produtividade extremamente baixa. A questão relevante para aqueles que se preocupam com os muito pobres não é "como convencer (ou obrigar) as corporações multinacionais a pagarem mais", mas sim "como aprimorar a produtividade dos trabalhadores mais pobres do mundo".

    É aí que há espaço para melhorias, e essas melhorias deveriam advir do aperfeiçoamento das instituições empregadoras dos países pobres. Não tenho o conhecimento local ou cultural específico para saber exatamente como essas instituições irão progredir, mas investidores e ativistas socialmente conscientes deveriam tentar encorajar o desenvolvimento de instituições que restrinjam a coerção e limitem as fraudes.

    É suficiente dizer que a estratégia de se bloquear investimentos estrangeiros é, na melhor das hipóteses, ineficaz; na pior, extremamente prejudicial. Estou disposto a conceder a possibilidade de que os mercados globais de trabalho são monopsônicos[1] ao invés de concorrenciais, mas o fluxo internacional de capital sugere que esse não é o caso.

    Em um estudo sobre salários e condições de trabalho em países em desenvolvimento, os economistas Benjamin Powell e David Skarbek descobriram que os sweatshops[2] onde se manufaturam produtos têxteis oferecem salários mais altos e melhores condições de trabalho do que as alternativas disponíveis nos países muito pobres. Ou seja, ao contrário do que os ocidentais ricos pensam, as pessoas nos países em desenvolvimento precisam de ainda mais sweatshops.

    Nos países desenvolvidos é comum as pessoas dizerem que são favoráveis ao "livre comércio", porém desde que os padrões ambientais sejam aprimorados de forma a garantir que os trabalhadores dos países pobres não sejam explorados e seu meio ambiente, saqueado. Mas isso eliminaria justamente a vantagem competitiva desses trabalhadores pobres, reduziria os possíveis ganhos do comércio e os relegaria ao mercado de trabalho informal da prostituição ou à mera coleta de resíduos de lixo para o auto-sustento.

    Regulamentações também não irão alterar a produtividade dos trabalhadores muito pobres. Irão apenas alterar os incentivos, e isso provavelmente irá produzir conseqüências indesejáveis. Regulamentações ambientais e leis trabalhistas onerosas irão distorcer os incentivos de tal forma que aumentará a lucratividade relativa de se burlar as leis, o que irá desequilibrar a concorrência em favor do mais inescrupuloso.

    "Isso pode até ser verdade", as pessoas responderiam, "mas será mesmo que as multinacionais multibilionárias não podem pagar salários melhores? Você não acha injusto que os presidentes dessas empresas levem pra casa milhões enquanto os trabalhadores nos países subdesenvolvidos ganham poucos centavos por hora?"

    Isso é triste? Sim. É injusto? Não. Será que as empresas "podem pagar melhores salários"? Novamente, a resposta é não. Empresas até podem pagar salários que estejam acima do nível de mercado no curto prazo, mas além de operarem em mercados de trabalho internacionalmente competitivos, elas também operam em mercados de capitais internacionalmente competitivos e em mercados de bens internacionalmente competitivos. E isso significa que as empresas que sacrificarem os lucros para poder pagar salários mais altos irão reduzir seu poder de obter lucros futuros, de atrair capital e de se expandir. Ou seja: no curto prazo, de fato pode-se melhorar o padrão de vida de algumas pessoas; mas no longo prazo essa prosperidade se revelará insustentável e, caso seja mantida a todo custo, se dará ao custo de um aumento na pobreza futura.

    A atual crise por que passa as montadoras americanas é um ótimo - e trágico - exemplo prático dessa situação. Por anos, as três grandes fabricantes (GM, Ford, Chrysler) pagaram aos seus trabalhadores sindicalizados uma escala salarial generosa acoplada a vários benefícios exigidos pelos sindicatos. Após algum tempo, entretanto, elas foram solapadas por concorrentes que, por não terem tais custosas restrições, podiam vender produtos melhores e bem mais baratos. Sem sobras de caixa, as três grandes se viram completamente impedidas de se expandir. Agora, aparentemente já depenadas, parece não ter restado muita coisa que ainda possa ser pilhada pelos sindicatos.

    Finalmente, quando se trata de decisões de produção de uma empresa, salários não são tudo o que importa. As empresas irão investir em insumos - digamos, "mão-de-obra não qualificada" e "mão-de-obra qualificada" - até que a razão entre o produto marginal dos fatores e o preço desses fatores seja igual para todos os insumos. Assim, se um trabalhador americano ganha $30 por hora enquanto um trabalhador chinês ganha $1 por hora, isso por si só não é suficiente para mostrar que investir na China é a solução mais economicamente sensata para empresa. Se o trabalhador americano puder produzir 120 unidades por hora e o trabalhador chinês apenas duas, então produzir nos EUA é na verdade mais barato. Em um hora, o americano produz 4 unidades por dólar pago, ao passo que o chinês produz 2 unidades por dólar pago. Ou seja: cada unidade produzida nos EUA custa $0,25, enquanto cada unidade produzida na China custa $0,50.

    A idéia de que expandir e integrar o mercado global explora os pobres é um mito que provoca uma evitável miséria. Protestar e tentar diminuir o avanço do capitalismo internacional não é a solução. Estimular o desenvolvimento de instituições que ajudem os pobres do mundo a aumentar sua produtividade, é.
  5.  # 5

    Salários e desemprego (e inflação, vá...)

    http://mises.org.br/Article.aspx?id=1050


    A economia de mercado — também chamada de capitalismo —, quando operando sem intervenções do governo em seu mecanismo de preços e sem obstáculos à livre entrada e livre atuação da concorrência, é um sistema em que a supremacia é do consumidor. O consumidor é soberano. Como diz um popular slogan, ele "tem sempre razão".

    Neste arranjo, empreendedores estão sob a constante necessidade de ofertar aquilo que os consumidores querem, e devem fazer isso a preços que os consumidores podem e estão preparados para pagar. Um empreendimento retumbará em um estrondoso fracasso caso as receitas de vendas não restituam o empreendedor por tudo aquilo que ele gastou produzindo seus bens e serviços. E é assim que os consumidores, ao consumirem bens e serviços a um dado preço, determinam também o nível dos salários que serão pagos àqueles envolvidos nestes empreendimentos.

    Os salários são, em última instância, pagos pelos consumidores

    Deste raciocínio, segue-se que um empregador não pode pagar ao seu empregado um valor maior do que aquele que o empregado, por meio do seu trabalho, acrescenta à mercadoria. E quem, em última instância, irá valorizar adequadamente a mercadoria é o público consumidor. (É por isso que as estrelas de cinema ganham muito mais do que a faxineira da sala de cinema).

    Se o empregador fosse pagar um salário maior, ele não iria conseguir recuperar suas despesas por meio das receitas obtidas das compras do público consumidor; ele teria seguidos prejuízos e finalmente iria à falência. Ao pagar salários, o empregador age como um representante dos consumidores, por assim dizer. É sobre os consumidores que recai a incidência dos salários que um empregador paga a seus empregados. Dado que a esmagadora maioria dos bens produzidos é comprada e consumida por pessoas que são elas próprias assalariadas, torna-se óbvio que, ao gastar seus ordenados, os assalariados e empregados são eles próprios os principais determinadores do nível de compensação que eles e outros assalariados como eles irão receber.

    O que faz os salários subirem

    Os consumidores não pagam pelo trabalho árduo e pelas dificuldades que o trabalhador enfrentou em sua jornada, tampouco pelo tempo que ele gastou trabalhando. Eles pagam pelos produtos. Quanto melhores forem as máquinas, as ferramentas e os equipamentos — isto é, o capital — que os trabalhadores utilizam em seu trabalho, mais bens e serviços eles podem produzir em uma hora e, consequentemente, maior será a sua remuneração.

    O que faz os salários subirem e o que torna as condições materiais dos assalariados mais satisfatórias é o aprimoramento dos equipamentos e materiais que eles utilizam. Os salários serão mais altos naqueles países em que o capital investido por trabalhador seja maior, o que fará com que empresas e indústrias possam utilizar as mais eficientes máquinas e ferramentas. E para que este capital seja alto, o governo deve retirar todos os obstáculos que impedem a poupança e a acumulação de capital, como impostos sobre a renda, tarifas de importação, regulamentações e burocracia.

    Os países mais economicamente atrasados serão justamente aqueles cujas políticas de seus respectivos governos impeçam tanto a acumulação de capital doméstico quanto o investimento de capital estrangeiro. Sem este capital, as empresas não conseguirão empregar quantidades suficientes de equipamentos modernos. Consequentemente, irão produzir muito menos por hora trabalhada e só poderão pagar salários que, em comparação aos dos países mais ricos, parecerão escandalosamente baixos.

    Há apenas uma maneira de aprimorar o padrão de vida dos assalariados: aumentar a quantidade de capital investida. Todos os outros métodos, por mais populares que possam ser, não apenas são fúteis, como na realidade são perniciosos para o bem-estar justamente daqueles que supostamente devem ser os beneficiados.

    O que causa do desemprego

    A questão fundamental é: seria possível aumentar os salários, para todas aquelas pessoas ansiosas para trabalhar, acima daquele valor que seria o obtido em um mercado de trabalho livre e desimpedido?

    A opinião pública acredita que a melhoria nas condições de vida dos assalariados é uma conquista dos sindicatos e das várias medidas legislativas. Ela concede ao sindicalismo e ao legislativo o crédito pelo aumento dos salários, pela diminuição das horas de trabalho, pelo desaparecimento do trabalho infantil e por várias outras mudanças. O predomínio dessa crença tornou o sindicalismo algo popular e foi responsável pela solidificação de várias legislações trabalhistas. Como as pessoas creem que devem aos sindicatos seu alto padrão de vida, elas toleram toda a intimidação, coerção e violência praticadas pelos movimentos sindicais, e se tornam indiferentes às restrições às liberdades pessoais geradas por aquelas cláusulas que estabelecem que determinadas empresas só podem admitir empregados sindicalizados e que todos os operários devem obrigatoriamente se filiar a um sindicato. Enquanto essas falácias predominarem na mente dos eleitores, será em vão esperar um abandono resoluto daquelas políticas que são erroneamente chamadas de progressistas.

    E o fato é que essa doutrina popular falsifica cada aspecto da realidade econômica. O nível dos salários em que todos aqueles que estão ansiosos por trabalho poderão ser empregados depende da produtividade marginal do trabalho. Quanto mais capital for investido — tudo o mais constante —, mais os salários subirão em um mercado de trabalho livre, isto é, em um mercado de trabalho que não seja manipulado pelo governo e nem por sindicatos. Sob o predomínio destes salários de mercado, todos aqueles ansiosos para empregar trabalhadores podem contratar quantos quiserem. Sob o predomínio destes salários de mercado, todos aqueles que querem estar empregados podem conseguir um emprego.

    Em um mercado de trabalho livre e desimpedido, sempre prevalecerá uma tendência de pleno emprego. Com efeito, a política de permitir que o livre mercado determine o nível dos salários é a única política de pleno emprego sensata e bem sucedida. Se os salários — seja por pressão ou coerção sindicalista, seja por decreto governamental — forem elevados acima deste nível de livre mercado, uma fatia da força de trabalho, aquela fatia não sindicalizada e com poucas habilidades, e justamente por isso a mais necessitada de qualquer tipo de emprego, será relegada a um permanente desemprego.

    A expansão do crédito não substitui o capital

    As opiniões acima são veementemente rejeitadas pelos líderes sindicais e por seus sectários, dentre estes políticos e pretensos intelectuais. A panacéia por eles recomendada para combater o desemprego é a inflação monetária e a consequente expansão do crédito, eufemisticamente chamada de "política monetária expansionista".

    Como explicado acima, um acréscimo ao estoque do capital existente e que foi previamente acumulado possibilita que haja um aprimoramento adicional dos equipamentos das indústrias, elevando assim a produtividade marginal do trabalho e, consequentemente, também os salários.

    Porém, a expansão do crédito, seja por meio da simples criação de mais cédulas ou moedas metálicas, seja por meio da expansão contas-correntes, não acrescenta nada à riqueza de uma economia. A expansão do crédito não gera novos bens de capital; ela meramente cria a ilusão de um aumento na quantidade de fundos disponíveis para uma expansão da produção. Como agora podem obter crédito mais barato, as pessoas erroneamente passam a crer que a riqueza do país foi aumentada e que, por isso, determinados projetos e investimentos que antes não poderiam ser executados agora se tornam viáveis. O empreendimento desses projetos aumenta a demanda por mão-de-obra e por matéria-prima, e eleva os salários e os preços das mercadorias. Uma expansão econômica artificial é iniciada.

    Sob esse cenário de expansão econômica artificial, os salários nominais — que antes da expansão do crédito eram altos demais para as condições de mercado que predominavam naquele momento e que, por isso, haviam criado desemprego para uma fatia da mão-de-obra — deixam de ser considerados muito elevados, e os desempregados voltam a conseguir empregos. Entretanto, isso ocorre somente porque, sob as atuais condições de inflação monetária e crédito fácil, os preços estão subindo; ou, falando o mesmo em outras palavras, o poder de compra da moeda está caindo.

    Desta forma, o mesmo valor de salário nominal, isto é, o salário expresso em termos de dinheiro, passa a valer menos em termos reais, ou seja, em termos das mercadorias que podem ser compradas pela unidade monetária. A inflação pode curar o desemprego apenas reduzindo os salários reais dos trabalhadores. Mas então os sindicatos entram em cena e exigem novos aumentos salariais a fim de repor as perdas e acompanhar o ritmo do aumento do custo de vida. Isso faz com que tudo volte à situação anterior, isto é, a uma situação em que o aumento do desemprego só poderá ser evitado caso haja novas expansões creditícias.

    Tal política ocorre rotineiramente em vários países ao redor do mundo. Os sindicatos, apoiados pelos governos, obrigam as empresas a pagar salários que estão muito além dos salários que prevaleceriam em um mercado livre — isto é, aqueles valores que o público estaria disposto a restituir os empregadores ao comprar seus produtos. Já o governo, por sua vez, estabelece inúmeras regulamentações trabalhistas e sociais, onerando a folha de pagamento da empresa, fazendo com que o valor total pago pela mão de obra esteja muito acima daquele valor que prevaleceria em um livre mercado. Isso tudo inevitavelmente geraria um desemprego crescente. Porém, o governo impede que isso ocorra ao colocar em prática a política de expansão do crédito, isto é, inflação. O resultado é o aumento dos preços, novas demandas por maiores salários e reiteradas expansões creditícias — em suma, inflação prolongada.

    A inflação não pode continuar eternamente

    Entretanto, chega um momento em que as autoridades se tornam receosas. Elas sabem que a inflação não pode prosseguir continuamente. Se não for interrompida a tempo, essa perniciosa política de expansão da quantidade de dinheiro e dos meios fiduciários fará com que, no extremo, o sistema monetário do país entre em total colapso. O poder de compra da unidade monetária cai para um valor que, para todos os propósitos práticos, não está acima de zero. Isso aconteceu recorrentemente na história mundial, sendo os casos mais famosos o da moeda Continental, nos EUA, em 1781, o assignat, na França, em 1796, o marco alemão, em 1923, e o pengõ húngaro, em 1946.

    Nunca é cedo demais para uma nação finalmente perceber que a inflação não pode ser considerada um meio de vida, e que é imperativo o retorno a políticas monetárias mais sólidas e sensatas.

    Não é o escopo deste pequeno artigo abordar todas as consequências que serão geradas pelo fim das políticas inflacionárias. É necessário apenas enfatizar que o fim da expansão do crédito — e o consequente retorno à estabilidade monetária — não gera uma crise, ao contrário do que diz o senso comum. O fim desse período de expansão creditícia, que gerou uma expansão econômica artificial, irá apenas revelar todos os investimentos insustentáveis e todos os vários outros erros que foram cometidos sob a alucinação da prosperidade ilusória criada pelo crédito fácil. As pessoas finalmente se tornam cientes dos erros cometidos e, não mais enganadas pelo espectro do crédito fácil, começam a reajustar suas atividades, adequando-as ao real estado do mercado, à real estrutura de produção da economia, à real oferta de fatores de produção, de bens de capital e de mão-de-obra.

    É esse — certamente doloroso, porém inevitável — ajuste que constitui a recessão.
  6.  # 6

    ...e sindicatos

    http://mises.org.br/Article.aspx?id=773


    Muitas pessoas — a saber, social-democratas, moderados, socialistas, comunistas, sindicalistas e outros — creem que empreendedores e capitalistas são os inimigos, e que os sindicatos e as legislações trabalhistas, os amigos dos assalariados. Trata-se de um erro enorme, com consequências devastadoras. Um estudo integrado da Escola Austríaca com a Escola Clássica prova o exato oposto dessa crença. Ele prova que empreendedores e capitalistas são os amigos, e os sindicatos e as legislações trabalhistas, os inimigos dos assalariados.

    Eis a seguir, em sua essência mais resumida, a explicação.

    Quanto maior o respeito pelos direitos de propriedade e pela liberdade econômica dos empreendedores e capitalistas, maior o grau de poupança no sistema econômico, e, consequentemente, maior a demanda por mão-de-obra em relação à demanda por bens de consumo, e, consequentemente, maiores serão os salários em relação aos lucros. Ao mesmo tempo, quanto maior a demanda por bens de capital em relação à demanda por bens de consumo, maiores serão os incentivos para se desenvolver e introduzir produtos e métodos de produção mais aprimorados.

    O resultado dessa combinação é uma contínua acumulação de capital e uma crescente produtividade da mão-de-obra. O efeito do aumento progressivo da produtividade da mão-de-obra, no capitalismo, é um aumento progressivo da oferta de bens de consumo em relação à oferta de mão-de-obra, e, por conseguinte, uma redução progressiva nos preços dos bens de consumo em relação aos salários. (No cenário atual, em que há um constante aumento na quantidade de dinheiro, há também um crescente aumento na demanda monetária tanto por mão-de-obra quanto por bens de consumo. No cômputo final, os salários aumentam mais rapidamente que os preços. De um jeito ou de outro, o resultado é um aumento nos salários reais.)

    O aumento nos salários reais, resultado da poupança e da inovação de empreendedores e capitalistas, significa uma crescente capacidade dos assalariados em trabalhar menos horas por mês e de prescindir do trabalho de suas crianças. Mais ainda: tal postura dos empreendedores e capitalistas significa uma melhora crescente nas condições de trabalho, melhora essa que não é coberta pelo aumento da eficiência produtiva, significando um gasto a mais para os patrões. Nesse sentido, a poupança e a inovação dos empreendedores e capitalistas são de fato as responsáveis por todas as melhoras nas condições dos assalariados — algo que é tipicamente, e de modo completamente errôneo, atribuído aos sindicatos e às legislações trabalhistas.

    Os sindicatos nem mesmo sabem como elevar os salários reais. Tudo que lhes interessa é elevar os salários nominais e proteger os empregos dos membros específicos de seu sindicato. Dado que os sindicatos não controlam a quantidade de dinheiro ou o volume de gastos no sistema econômico, a única maneira como eles podem elevar os salários nominais de seus membros é reduzindo artificialmente a oferta de mão-de-obra em sua área de trabalho. Porém, o efeito dessa medida é o de aumentar correspondentemente a oferta de mão-de-obra e reduzir os salários em outras áreas da economia. Em outras palavras, o sucesso de um sindicato em específico é obtido à custa das perdas dos assalariados do resto do sistema econômico. E as perdas necessariamente superam os ganhos, pois um aspecto essencial desse processo é que os trabalhadores serão forçados a aceitar empregos que requerem menos habilidades do que os empregos aos quais lhes foram negado acesso pelos sindicatos.

    Se os sindicatos, ou a união entre sindicatos e leis de salário mínimo, obtiverem êxito em elevar os salários em todo o sistema econômico, o efeito será um correspondente aumento do desemprego no sistema econômico, bem como preços maiores em decorrência dos maiores custos da mão-de-obra e da reduzida produção. Se os sindicatos obtiverem êxito em fazer com que o governo e seu banco central aumentem a quantidade de dinheiro no ritmo de suas demandas salariais, o desemprego pode ser evitado, mas o efeito ainda assim será o aumento nos preços em conjunto com os aumentos salariais, sem que haja aumento nos salários reais. Ademais, como uma política inflacionária provoca uma redução no acúmulo de capital, ela faz com que haja uma redução — e, caso seja alta o bastante, uma reversão — do aumento da produtividade da mão-de-obra e dos salários reais.

    Os esforços dos sindicatos para proteger os empregos de seus membros é uma política de combater ativamente o aumento nos salários reais dos trabalhadores de todo o resto do sistema econômico. Como já deveria estar claro em decorrência de tudo que foi dito, a maneira como os salários reais aumentam não é fazendo com que o trabalhador comum ganhe mais dinheiro. Ganhar mais dinheiro é meramente o resultado do aumento da quantidade de dinheiro, ou da redução da oferta de mão-de-obra disponível no mercado ao se forçar parte dos trabalhadores a ficar desempregada.

    Os salários reais aumentam como resultado do acúmulo de capital e do aumento na produtividade da mão-de-obra, o que faz com que os preços caiam (ou cresçam menos) em relação aos salários. Ao combater o aumento da produtividade da mão-de-obra, os sindicatos combatem ativamente o aumento nos salários reais. Assim, por exemplo, quando os sindicatos dos tipógrafos se opõem à tipografia automatizada, e, como consequência, aos menores custos e menores preços resultantes do material impresso, eles estão na realidade combatendo o aumento nos salários reais dos trabalhadores de todo o sistema econômico, os quais poderiam agora obter material impresso por menos dinheiro e teriam correspondentemente mais dinheiro para gastar em outras coisas — coisas essas que os trabalhadores dispensados da tipografia mecânica poderiam ajudar a produzir.

    De maneira idêntica, o mesmo é válido sempre que qualquer sindicato se opõe a aperfeiçoamentos que poupam mão-de-obra: tanto o poder de compra dos assalariados de todo o sistema econômico quanto a oferta de bens disponíveis para eles comprarem são restringidos.

    Sim, um sindicato pode agir assim por achar que seus trabalhadores terão dificuldades em encontrar novos empregos. Porém, essas dificuldades seriam muito menores caso os salários nominais no sistema econômico fossem menores e, consequentemente, a quantidade de mão-de-obra demandada fosse maior. E o que tornaria isso possível é a ausência de escalas salariais coercivamente impostas pelos sindicatos e a ausência de leis do salário mínimo.

    Sim, há momentos em que os patrões de fato tratam seus empregados desrespeitosamente, chegando até a tratá-los como se fossem essencialmente algo sem valor. Porém, o que provoca tais condições é um excesso de oferta de mão-de-obra disponível em relação à quantidade de mão-de-obra demandada. Em tais condições, um empregador não precisa temer a perda de um empregado, pois este pode imediatamente ser substituído por outros desempregados. Sendo assim, o empregado estará sempre disposto a tolerar abusos, simplesmente por medo de ser demitido e não ser capaz de encontrar outro emprego.

    Porém, o que provoca essa situação é justamente o fato de os salários serem mantidos muito acima da relativa demanda por mão-de-obra. Isso surge naturalmente em um ambiente em que há um sistema bancário de reservas fracionárias, cuja expansão do crédito é sempre seguida de uma contração financeira e os salários quase nunca caem até o nível requerido por essa contração econômica. Se os salários pudessem cair livremente, a quantidade de mão-de-obra demandada aumentaria, igualando-se à oferta disponível. Nesse ponto, a escassez de mão-de-obra seria sentida e o empregado deixaria de ser algo instantaneamente substituível por outros desempregados. Ademais, ele estará em condições de encontrar outros empregos, e dessa forma não aceitará sofrer abusos.

    A solução, novamente, é o livre mercado. E, ironicamente, na medida em que os sindicatos e as leis do salário mínimo impedem o ajuste dos salários à demanda por mão-de-obra — e, por conseguinte, impedem o avanço natural do mercado a uma situação de pleno emprego —, ambos são responsáveis pelos maus tratos dos trabalhadores, algo de que seus defensores sempre reclamam. (Situação idêntica acontece com usuários de serviços públicos monopolizados pelo governo, que sempre são tratados como objetos sem valor. Como a demanda é sempre maior que a oferta, e qualquer "cliente" pode ser instantaneamente substituído por outro, os usuários têm de resignadamente tolerar abusos, pois não têm para onde mais ir.)

    A redução nos salários necessária para eliminar o desemprego serve para aumentar a produção ao mesmo tempo em que reduz os custos de produção. Serve, portanto, para reduzir os preços. Também elimina o fardo de os trabalhadores terem de sustentar os desempregados. Como resultado, é praticamente certo que tal medida resultará em um aumento do salário líquido real. (Para entender melhor esse processo, clique aqui).

    Há pessoas que são tão improdutivas, que produzem tão pouco por hora, que precisam trabalhar muitas horas para obter o mínimo necessário para suas necessidades, e às vezes precisam até mesmo utilizar a mão-de-obra de seus filhos como fonte de receita adicional. Obrigar essas pessoas a trabalharem menos e a dispensar o trabalho de seus filhos quanto seria tão benéfico quanto obrigar Robinson Crusoé a trabalhar menos ou a Família Robinson a trabalhar menos e dispensar o auxílio de seus filhos. Crusoé e a família Robinson trabalhavam porque era disso que necessitavam para sobreviver. Obrigar os pobres a trabalhar menos é obrigá-los a serem mais pobres do que podem para sobreviver. Não é de nenhum consolo o fato de que aqueles que provocam um maior empobrecimento dos pobres são os mesmo que dizem possuir boas intenções e estarem apenas querendo ajudar. Eles causam apenas sofrimento e precisam aprender a parar.

    Como demonstrado, o que realmente reduziu os dias de trabalho e aboliu o trabalho infantil não foi a interferência destrutiva do estado, mas o dramático e progressivo aumento na produtividade da mão-de-obra criado por empreendedores e capitalistas. Isso aumentou os salários reais e tornou possível que cada vez mais trabalhadores pudessem se dar ao luxo de aceitar os comparativamente menores salários de empregos que exigiam menos horas de trabalho, além de eliminar a necessidade de colocar suas crianças para trabalhar.

    À medida que uma crescente proporção de assalariados passou a preferir menos horas de trabalho, o efeito foi o mesmo do de uma crescente proporção de trabalhadores passar a preferir um determinado arranjo de ocupações em relação a um outro arranjo qualquer, isto é, preferir uma redução nos salários em suas ocupações preferidas em relação aos salários maiores das ocupações não preferidas. Assim, os salários de empregos com menos horas de trabalho sofrem um desconto em relação aos empregos que exigem mais horas de trabalho, os quais oferecem um ágio nos salários. Isso faz com que seja lucrativo para os empregadores diminuir as horas de trabalho. É assim que o livre mercado encurta as horas de trabalho.

    Meu desafio para a esquerda: leiam e estudem essas ideias detalhadamente e em profundidade. Corram o risco de abandonar as falácias que vocês atualmente consideram conhecimento e, em troca, ganhem a satisfação de ter um conhecimento real. Parem de apoiar os inimigos do progresso econômico e os malefícios que eles trazem para os assalariados e deem seu apoio aos verdadeiros amigos do progresso econômico e dos assalariados. A transformação de intelectuais esquerdistas em defensores do capitalismo iria, com efeito, ajudar enormemente a mudar a direção do mundo. E, se eliminar a pobreza é o que vocês de fato querem, ajudem a mover o mundo em direção ao caminho para o qual vocês alegam querer que ele vá.
  7.  # 7

    É pááááá!

    Eu já não lia textos tão extensos sobre esta temática desde para aí os 16 anos, quando li "Dass... o Kapital", do Carlos Marques.
  8.  # 8

    Colocado por: Luis K. W.É pááááá!

    Eu já não lia textos tão extensos sobre esta temática desde para aí os 16 anos, quando li "Dass... o Kapital", do Carlos Marques.

    É sempre bom voltar a sentir-se jovem, ahn?
  9.  # 9

    Xiiiii! Prometo que leio tudo. Agradecido. :D
    • eu
    • 1 fevereiro 2012

     # 10

    Também vou ler tudo. Mas para já o que salta à vista é a palavra "perspectiva" no título do tópico.
  10.  # 11

    Colocado por: luisvv É sempre bom voltar a sentir-se jovem, ahn?
    :-))
    Eu sinto-me jovem !!!

    Mas, atenção...!
    O facto de eu ter lido coisas do "Carlos Marques", ou do Vladimir Ilyich, (nota: ANTES do "25 do 4") não fazem de mim um «marquesista» nem um «vladimirista». :-)
  11.  # 12

    Eu sinto-me jovem !!!
    Mas, atenção...!
    O facto de eu ter lido coisas do "Carlos Marques", ou do Vladimir Ilyich, (nota: ANTES do "25 do 4") não fazem de mim um «marquesista» nem um «vladimirista». :-)


    Evidentemente. Das Kapital é uma obra de ficção interessante. E não se pode criticar o que não se conhece.
    • eu
    • 1 fevereiro 2012

     # 13

    Colocado por: luisvvDas Kapital é uma obra de ficção interessante

    E uma grande seca, diga-se...
  12.  # 14

    E uma provocaçãozita adicional (só para quem queira ler até ao fim..) :

    10 razões contra a abolição da escravatura.


    A escravatura existiu durante milhares de anos, em todos os tipos de sociedade e em todas as partes do globo. É necessário um extraordinário esforço para imaginar a vida em sociedade sem escravos. Mesmo assim, de quando em vez, fazem-se ouvir vozes excêntricas que se opõem a tal prática, a maior parte argumentando que a escravatura é imoral e, portanto, deve deixar de ser praticada. Tais argumentos são acolhidos com reacções que variam entre a condescendência e o veemente desprezo, chegando mesmo a provocar manifestações violentas.

    Quando se dão ao trabalho de argumentar contra a proposta de abolição da escravatura, são avançadas as mais variadas ideias. Aqui ficam as dez mais frequentes:

    1. A escravatura é natural. Não somos todos iguais, e por isso devemos esperar que aqueles que são mais capazes em algumas áreas – por exemplo, inteligência, moral, conhecimento, destreza tecnológica, ou até mesmo a sua habilidade para combater – se tornarão mestres daqueles que são inferiores nestes aspectos. Abraham Lincoln exprimiu esta ideia num dos seus famosos debates com o Senador Stephen Douglas, em 1858:

    Existe uma diferença a nível físico entre a raça branca e a raça negra que me levam a acreditar na impossibilidade da existência de igualdade política e social entre ambas. E na medida em que tal não pode acontecer, a coexistência entre ambos só pode acontecer com uma posição de superior e inferior, e eu, tanto como outro homem, sou a favor de que a posição de superior esteja a cargo da raça branca.

    2. A escravatura sempre existiu. Este pensamento exemplifica a falácia lógica “argumentum ad antiquitatem” (o argumento à antiguidade ou tradição). No entanto, é comum ser um forte persuasor, especialmente entre pessoas de índole conservadora. Mesmo os não conservadores tendem a considerar este argumento, numa perspectiva quasi-Hayekiana de que mesmo que não percebamos o porquê da persistência de uma instituição social, essa mesma persistência pode estar baseada numa lógica que ainda não percebemos.

    3. Todas as sociedades têm escravatura. O corolário subjacente é que todas as sociedade têm que ter escravatura. A existencia generalizada de uma instituição constitui, aos olhos de muitas pessoas, a prova da sua necessidade. Talvez, como é argumentado por uma variação desta linha de pensamento, todas as sociedades são esclavagistas porque certos trabalhos são tão difíceis e degradantes que nenhuma pessoa livre os fará, daí que, caso não existam escravos, esses trabalhos não irão ser realizados. Afinal de contas, o trabalho é sujo e alguém tem que o fazer, mas nunca de livre vontade.

    4. Os escravos não são capazes de tomar conta de si mesmos. Esta ideia foi popular nos Estados Unidos, no final do século 18 e inícios do século 19, entre pessoas como George Washington e Thomas Jefferson que, apesar de considerarem a escravatura moralmente repreensível, continuavam a possuir escravos e a obter serviços pessoais destes, bem como reter a produção que este “serviçais” (como eram tidos) eram compelidos a realizar. Afinal de contas, seria cruel libertar pessoas que, vendo-se livres, se iriam lançar num caminho de destruição e sofrimento.

    5. Sem dono, os escravos irão morrer. Esta ideia leva ao extremo a linha de pensamento anterior. Mesmo após a escravatura ser abolida nos Estado Unidos em 1865, muitas pessoas continuaram a dar voz a tal ideia. Jornalistas do Norte dos EUA que viajavam na parte Sul do território logo após o fim da guerra civil reportavam que a população negra estava em vias de se extinguir por causa das altas taxas de mortalidade, baixas taxas de natalidade e condições económicas miseráveis. Infelizmente, tal como alguns observadores notaram, as pessoas recém libertadas eram demasiado incompetentes, preguiçosas ou imorais para se comportarem de modos que permitissem com a sua sobrevivência. (Ver o livro de 1977 Competition and Coercion: Blacks in the American Economy, 1865–1914.)

    6. Após a libertação, as pessoas viviam pior do que quando eram escravas. Este argumento tornou-se popular no Sul nas décadas que precederam as guerras entre os estados dos Estados Unidos da América. O representante máximo deste argumento foi o escrito pró-escravatura George Fitzhugh, autor de livros cujos títulos não precisam de explicação: “Sociology for the South, or, the Failure of Free Society” (1854) ou “Cannibals All!, or, Slaves Without Masters” (1857). Fitzhugh foi buscar a inspiração a um escocês reaccionário e racista, o escritor Thomar Carlyle. A expressão “escravo do salário” ainda transpira esta perspectiva de antes da guerra. Fiel às suas teorias sociológicas, Fitzhugh defendia a extensão da escravatura para a classe operária americana de raça branca, para o seu próprio bem!

    7. Acabar com a escravatura iria causar enormes derrames de sangue e outros males. Muitas pessoas nos Estados Unidos tinham para si que os donos de escravos nunca iriam permitir o fim do esclavagismo sem um confronto armado. Claro que quando a Confederação e a União iniciaram a guerra civil – esquecendo por momentos que o principal objectivo não foi o fim da escravatura mas a secessão de onze territórios no Sul – os prejuízos previstos aconteceram. E estes eventos levaram as pessoas a considerar certo o argumento que tinham dado antes da guerra (claro que ignoraram o facto de, à excepção do Haiti, a escravatura tinha sido abolida em todo o Ocidente sem qualquer tipo de violência em larga escala).

    8. Sem a escravatura, os antigos escravos iriam ser possuídos por uma fúria destrutiva, roubando, matando, raptando e, de modo geral, provocando distúrbios por onde quer que passassem. A preservação da ordem social excluiria, portanto, o abolicionismo. Os habitantes dos estados do Sul viviam aterrorizados com a revolta dos escravos. Os habitantes dos estados do Norte já consideravam a sua situação intolerável, com o influxo, em meados do século 19, de irlandeses bêbados e barulhentos. Se a isto fosse adicionado uma nova massa de negros livres – de quem os irlandeses não gostavam – o resultado seria, quase certamente, o caos social.

    9. As tentativas abolicionistas são práticas utópicas e sem utilidade; só uma pessoa desequilibrada é que iria defender tal futilidade. As pessoas sérias não podem perder tempo a considerar ideias tão rebuscadas.

    10. Esqueçam a abolição. Uma ideia muito mais aceitável é manter os escravos bem alimentados, vestidos, abrigados e ocasionalmente entretidos, e, ao mesmo tempo, fazê-los esquecer a exploração a que são subjugados através da perseguição de uma vida melhor no Além. Afinal de contas, ninguém pode esperar justiça e igualdade na vida terrena, mas todos podemos, incluindo os escravos, aspirar a uma vida de felicidade no Paraíso.


    Convencido ??? Então, por favor, leia o que se segue...



    ...

    ...

    ...


    Em algum ponto deste texto, inúmeras pessoas sentiram-se compelidas a aceitar pelo menos uma das razões para opor o fim da escravatura. Mas, em retrospectiva, todas elas parecem gastas – assemelham-se mais a racionalizações do que propriamente a uma argumentação racional.
    Hoje em dia, todas estas ideias (ou similares) são avançadas por pessoas que se opõem a uma forma diferente de abolicionismo: o fim do Estado como o conhecemos hoje – monopolístico, com regras decididas unilateralmente por um grupo de pessoas armadas que exigem obediência e pagamento de impostos.
    É então deixado à consideração do leitor se as razões anteriormente consideradas ganham mais força na defesa do Estado do que tinham para defender a escravatura.

    via : http://mises.org.pt/posts/artigos/dez-argumentos-pela-escravatura/
  13.  # 15

  14.  # 16

    Colocado por: luisvvHoje em dia, todas estas ideias (ou similares) são avançadas por pessoas que se opõem a uma forma diferente de abolicionismo: o fim do Estado como o conhecemos hoje – monopolístico, com regras decididas unilateralmente por um grupo de pessoas armadas que exigem obediência e pagamento de impostos.

    Não sei se a ideia da abolição do Estado, mesmo um «mau» estado, não será pior.

    Veja o que se passa na Bahia, só por causa de uma grevezita das tais «pessoas armadas» a quem o Estado paga para fazer cumprir «a Lei».
    • eu
    • 7 fevereiro 2012 editado

     # 17

    Colocado por: Luis K. W.
    Não sei se a ideia da abolição do Estado, mesmo um «mau» estado, não será pior.

    Veja o que se passa na Bahia, só por causa de uma grevezita das tais «pessoas armadas» a quem o Estado paga para fazer cumprir «a Lei».

    Obviamente. Essa ideia de abolição do estado partilha com o comunismo uma incrível ingenuidade sobre o que é o ser humano.

    E ao contrário do que foi argumentado, existem zonas do globo sem estado que podem servir de referência. E que belas referências são...
  15.  # 18

    Olhando a coisa do ponto de vista do urbanismo, não sei até que ponto a exclusividade do Estado nesta matéria será a melhor forma de gestão. Como se pode ver, até por outras discussões neste Forum, as autarquias têm aproveitado a sua exclusividade para fazerem o que querem, como querem, cobrando o que querem. Neste momento, uma vistoria dos SMAS de Sintra num estabelecimento comercial já custa mais de 700€. E as pessoas têm de pagar, porque não têm alternativa.
    •  
      FD
    • 7 fevereiro 2012

     # 19

    Colocado por: AugstHillOlhando a coisa do ponto de vista do urbanismo, não sei até que ponto a exclusividade do Estado nesta matéria será a melhor forma de gestão.

    O quê?! Mas, São Marcos do Cacém é um excelente exemplo de urbanismo...
    Concordam com este comentário: eu
  16.  # 20

    Colocado por: FD
    O quê?! Mas, São Marcos do Cacém é um excelente exemplo de urbanismo...
    Concordam com este comentário:eu

    Ah, prefiro o Casal do Cotão ;)
 
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