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      FD
    • 23 novembro 2007

     # 1

    Já alguma vez pensaram em planos de contingência?

    Tenho visto uma serie na SIC chamada Jericó, que fala sobre uma cidade que ficou completamente isolada após um ataque nuclear.
    Ok, ataques nucleares à parte, com a incoerência meteorológica que temos tido (fogos, cheias, furacões, etc.) o que aconteceria se nos víssemos numa situação destas, isolados?

    Imaginemos que agora mesmo, imprevisivelmente, caía uma chuva diluviana e a nossa família, sendo um dia de semana, estivesse separada. Já alguma vez pensaram nisso?

    Lembrei-me disto depois de ler esta notícia:

    Cheias de 1967 voltariam a matar na Grande Lisboa

    Nuno Miguel Ropio

    Noite de 25 para 26 de Novembro de 1967. Em pouco mais de 12 horas a região de Lisboa era atingida por fortes chuvas, que viriam a originar uma das maiores calamidades que se abateram sobre esta área. A subida das águas foi de tal maneira forte e rápida, perante a praia-mar, que ribeiras e esgotos ficaram sem qualquer capacidade para as escoar. Casas, pontes e pessoas foram arrastados à passagem daquela onda destruidora. Às portas da Primavera Marcelista, os dados oficiais controlados pela censura apontaram para 250 vítimas mortais. Todavia, o balanço final terá ascendido a mais de 700 mortos e ficou bem vivo na memória das populações fustigadas.

    Agora, 40 anos que se assinalam sobre aquela catástrofe, quais seriam os efeitos de semelhantes cheias e nas mesmas áreas? "A diferença é que temos a Protecção Civil, algo que na altura não passava de uma mera intenção, mas isso não significa que possa morrer menos gente, principalmente quando esses locais foram simplesmente urbanizados e as pessoas consideram que vivem em segurança", garante José Luís Zêzere, professor universitário e investigador do Centro de Estudos Geográficos, da Universidade Clássica de Lisboa.

    Segundo aquele especialista "este tipo de cheias tem um período de retorno de 200 anos". Contudo, trata-se de uma estimativa que se baseia somente numa variável estabelecida pela análise de dados relativos a uma média de 60 anos. "O que quer dizer que amanhã se podem repetir, agravadas com as alterações climáticas", alega Catarina Ramos, outra docente universitária, que tal como José Luís Zêzere desenvolve estudos sobre a dinâmica das cheias na região de Lisboa.

    "A maioria das mortes registaram-se porque as pessoas viviam em bairros de lata, junto a ribeiras que transformavam em esgotos, à falta de uma casa de banho. É claro que hoje as condições de habitabilidade são outras, mas os perigos persistem porque aquelas gentes pobres foram substituídas por gentes endinheiradas", acrescenta o especialista,

    Locais fortemente atingidos como Patameiras ou Urmeira, junto à ribeira de Odivelas, viram aumentar a sua densidade urbanística de 13% para 65%, apesar de se encontrarem na área de influência da bacia do rio Trancão. Tal como as áreas baixas de Odivelas, Póvoa de Santo Adrião ou Quinta da Várzea. Em Loures, a Câmara Municipal mantém parte dos seus serviços de limpeza e fiscalização numa zona inundável, que já noutra cheia, em 1983, ficou debaixo de água. E para Bucelas, que apresenta graves problemas por se encontrar em leito de cheia, perspectiva-se uma nova urbanização para um dos locais mais atingidos pela tragédia de 1967.

    "Os senhores presidentes de Câmara gostam de se refugiar no "período de retorno", porque podem licenciar e defender-se, porque dentro de 200 anos já cá não estarão para lhes serem pedidas explicações", critica Catarina Ramos, salientando que "apesar de estarem a viver em leitos de cheia", as populações têm uma falsa sensação de segurança, "só porque têm as suas casas muito bem construídas".

    "Este panorama, não muito agradável, da ausência de Planos de Zonas Inundáveis, por parte de concelhos que são fustigados por estes fenómenos, e o que se passa em leitos de cheia , como os licenciamentos e a falta de limpeza de cursos de água, será alvo de uma maior atenção a partir de Janeiro de 2008", adianta Cláudia Brandão, do Instituto Nacional da Água (INAG). Ao JN, a técnica reconhece que com a criação, há três meses, da Administração da Região Hidrográfica, a fiscalização sobre aquelas áreas aumentará e contará com um reforço financeiro. "O INAG desenvolveu, em 1995, um alerta de recursos hídricos que nos permite evitar episódios como há 40 anos. Em 1967 ninguém avisou", admite.

    http://jn.sapo.pt/2007/11/23/pais/cheias_1967voltariam_a_matarna_grand.html
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      FD
    • 26 novembro 2007 editado

     # 2

    Região de Lisboa continua à mercê das inundações

    KÁTIA CATULO
    Construção nos leitos de cheias é o maior perigo em caso de muita chuva

    Se hoje chovesse tanto como na noite de 25 de Novembro de 1967, as cheias provocariam ainda mais estragos na região de Lisboa. Gonçalo Ribeiro Telles, o arquitecto paisagista que há 40 anos escapou à censura e foi à televisão explicar porque é que as inundações provocaram danos tão elevados, está convencido de que os poderes local e central têm "repetido e acumulado" os mesmos erros cometidos no passado. "A única diferença é que, entretanto, foram criados planos municipais para salvaguardar a circulação das águas das chuvas."

    Mas isso de pouco vale porque boa parte destes projectos ainda "não saiu da gaveta". "Loures, Sintra ou Seixal são alguns dos municípios que ainda não aplicaram os seus planos de arquitectura de paisagem", denuncia o arquitecto, esclarecendo que há outros concelhos como Oeiras que nem sequer criaram os projectos. A autarquia de Lisboa também não escapa às críticas de Ribeiro Telles, uma vez que existe, desde 2005, um projecto para a construção de bacias de retenção de águas ao longo do vale de Alcântara que não foi aplicado.

    Tudo isso tem consequências, avisa o especialista e, enquanto não se aplicarem estes planos, será possível continuar a construir nos leitos das cheias, reduzir a reserva agrícola - que graças aos seus solos orgânicos retêm mais água em caso de inundações - ou edificar junto ao litoral onde o terreno seria mais permeável às chuvas. Segundo o arquitecto, o problema não está nas chuvas fortes que serão cada vez mais frequentes e inevitáveis num clima mediterrânico: "A questão central passa por garantir a circulação das águas tanto nos meios rurais como urbanos."

    José Luís Zêzere, especialista em dinâmica de cheias do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, defende que a região da Grande Lisboa continua "perigosamente" vulnerável às inundações repentinas, porque as situações complicadas detectadas em 1967 não foram eliminadas: "Nestes últimos 40 anos continuou-se a construir demasiado e perigosamente nos leitos de cheias", avisa o geógrafo, esclarecendo que, entretanto, a densidade urbanística foi crescendo nos vales do Trancão, de Odivelas, do Jamor ou da Laje.

    Actualmente, explica José Luís Zêzere, os picos de cheia serão "muito piores" porque as bacias hidrográficas da região de Lisboa apresentam um nível de impermeabilização ainda mais elevado do que há 40 anos. Significa isto que a água não se infiltra nos solos, escorrendo rapidamente para as zonas baixas das cidades. Tal como aconteceu em Novembro de 1967. Ou, provavelmente, pior.

    http://dn.sapo.pt/2007/11/25/tema/regiao_lisboa_continua_a_merce_inund.html
 
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