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    •  
      FD
    • 17 outubro 2012

     # 1

    Quando uma pessoa pensa em construir uma casa comete alguns erros à partida.
    Estes erros são simples, perfeitamente compreensíveis mas, evitáveis.

    Vou tentar fazer uma lista para que saiba que erros deve evitar.

    1.º erro - tentar desenhar a sua casa
    Não, não e não. Uma casa é um investimento muito significativo, é muito dinheiro que se vai gastar. A arquitectura, ao contrário do que uma primeira impressão possa dar a entender, é algo que não é tão simples quanto parece. A forma como uma casa respira, como vive, como circula, como aproveita ou recusa as vantagens e desvantagens da sua envolvente é algo difícil de conseguir. Está a ver aqueles artistas de circo a tentar fazer equilibrismo com uma dúzia de pratos a girar? Não é a mesma coisa mas, é uma boa analogia. Por outro lado, um profissional competente sabe evitar o desperdício de áreas que custam dinheiro, enquanto que alguém que apenas transpõe para papel uma ideia é um executante, que faz aquilo, com erros ou sem erros, que lhe pedem. Ao contratar um arquitecto vai gastar dinheiro que pode recuperar num bom projecto, pensado e executado por alguém que está habituado e habilitado a fazer isso mesmo.

    2.º erro - não faça contas à justa
    Se pensa gastar 100, saiba que pode muito bem gastar 125 sem querer. Se só pode gastar 100, faça um projecto para gastar 80. Os desvios orçamentais existem, e muitas das vezes podem até nem ser por vontade própria, porque se mudou isto ou aquilo. Há imprevistos que surgem, assaltos, intempéries, materiais que não cumprem, profissionais que o deixam pendurado, materiais que deixam de ser comercializados, aumentos de impostos, de preços, etc. Inclua sempre uma boa margem. Da mesma forma, se está a pensar que um produto ou um serviço custa 10, saberá muitas vezes que esse produto ou serviço custa 15. Porquê quando tal serviço ou produto parece tão básico ou tão fácil de fazer? Muitas das vezes porque há custos ocultos que desconhece. Por exemplo, se vai a um restaurante e acha a comida cara, não pode só fazer as contas ao que custou o prato. E a mesa, a cadeira, os talheres, os pratos, o espaço, a luz, a água, a mão de obra, os transportes, os impostos e tudo o mais que foi preciso pagar para estar ali para poder saborear? Isso custa dinheiro e esse custo tem que estar incluído no preço do produto. Por isso, às vezes o que lhe parece caro pode até nem ser, não o poderá nunca afirmar sem poder ter uma base de comparação. Por falar nisso, a comparação de produtos ou serviços não se faz com base no preço, há muitas mais variáveis que deverá ponderar quando fizer comparações. Se um qualquer profissional lhe cobra 100 e outro cobra 200, convém tentar perceber o porquê dessa diferença. Todos queremos e temos que ganhar dinheiro, ninguém anda nesta ou em qualquer vida a trabalhar para perder dinheiro. Claro que existe quem ache que o seu trabalho vale mais que aquilo que vale mas, só na posse de todas as informações é que poderá fazer esse juízo, por isso, pergunte e tente conhecer as diferenças.

    3.º erro - áreas
    Quando escrevo este texto estão em voga as notícias sobre o aumento do IMI. No entanto, já por aqui aviso quanto a esse problema há muito tempo. O IMI é um imposto pago sobre a propriedade de bens imóveis. O seu principal factor é a área do imóvel - quanto maior mais paga. Ou seja, casas grandes pagam em grande, todos os anos. É perfeitamente normal que uma casa normal (200m2) pague todos os meses 100€ de IMI - é uma renda para toda a vida, é importante reter este pensamento. Assim, se está a pensar construir um casarão com 500m2 de área, pense nisso muito mas, muito bem. Mas, não pense só no IMI, pense nos custos para aquecer ou arrefecer essa área toda - outra renda - nos custos de manutenção, pintar por exemplo, no trabalho e custo para limpar ou para reparar. Depois, pense como é que vai vender uma casa com 500m2 e quem é que a vai comprar, pense como é que vai viver numa casa dessas quando a mesma estiver vazia de família, quando os filhos saírem de casa. Pense em quanto é que vai custar a construir, sabendo que em média o m2 custa 750€... Ainda quer construir uma casa tão grande?

    Actualizarei esta lista à medida que me for lembrando... :)
    Estas pessoas agradeceram este comentário: eu, technos, fiat_uno, Erga Omnes, PLMarques
  1.  # 2

    FD, bom tópico.

    Em relação ao 1º erro conheço muitos que se gabam de ter sido eles a desenhar a sua casa, como se eles é que soubessem e todos os que pagam a um arquitecto é que são uns burros.

    3º Conheço quem tenha aoenas um filho, mas fez casa com 5 quartos, agora choram as reavaliações e o IMI, o Estado é ladrão isto e aquilo.
    Concordam com este comentário: tiagot
  2.  # 3

    O estado é de facto ladrão porque cobra uma renda absurda oferecendo pouco ou nada em troca. Os cidadãos portugueses são vistos como vacas a mugir até à última gota pelo estado.

    No entanto, a generalidade das moradias em Portugal tem de facto áreas desmesuradas.
    As pessoas pensam em casas de sonho (o que é normal) mas esquecem-se que a arquitectura tem um impacto enorme nas suas vidas e uma ligação directa à vida real que deve ser o principal elemento definidor da configuração das mesmas.
    E assim num país de generalizadas poucas posses, abundam os as situações de casas em que os anexos são maiores que as próprias casas, porque é preciso guardar uma infinidade de coisas que nunca se usam na vida. No interior das habitações, não podem faltar os escritórios (será que há assim tantas bibliotecas e estudo...?) os três ou mais quartos (com casa de banho própria de preferência) sem se saber se irão ser necessários, nem tendo em conta que 1/6 dos casais tem problemas de fertilidade e que neste momento por cada 100 casamentos há mais de 70 divórcios (dados de 2011), as mesas de refeição duplicadas e respectivas áreas (a do padre que raramente se usa e a pequenina da cozinha), as casas no meio do terreno voltadas para a estrada (de onde só vem barulho) com jardim à volta sem qualquer utilidade neste clima fantástico, etc...

    Sonha-se com casas enormes com imensas exigências...mas será isso um sonho?
    Os palácios de sonho dependem de uma enorme máquina invisível aos convidados para funcionarem, porque obviamente não é suposto os proprietários tratarem da limpeza, do jardim, da manutenção geral, etc..
    Será realmente um sonho ter uma casa grande ? Depois de uma semana de trabalho, ter que passar todo o fim de semana a fazer o papel de criado invisível do palácio, eternamente!

    Se toda esta crise servir para alguma coisa, que traga pelo menos o bom senso de permitir a construção habitações realmente adequadas à vida real dos seus futuros ocupantes permitindo-lhes ter uma vida de sonho (dentro do possível) em vez de se transformar nos infernos que muitos proprietários irão ter que suportar ao longo da vida.

    Os erros mais graves acabam por ser cometidos logo nessa fase inicial de definição do programa que acaba por ser desajustado às necessidades reais e mais imediatas dos seus ocupantes, que raramente aproveitam o facto se serem os únicos proprietários do seu terreno, podendo a qualquer altura ampliar/reduzir, construir por fases a casa à justa medida das suas necessidades com total liberdade preferindo quase sempre a adopção de "modas" passageiras e extremamente penalizadoras a médio prazo.
    Concordam com este comentário: Isis, Meia Cuca, Nia_, PLMarques
  3.  # 4

    Colocado por: tiagot não podem faltar os escritórios (será que há assim tantas bibliotecas e estudo...?) os três ou mais quartos (com casa de banho própria de preferência) sem se saber se irão ser necessários,
    Passaram aqui pelo Forum vários exemplos de casas para um casal ainda sem filhos ou com apenas um filho, que têm CINCO sanitas (!). :-)


    (deduz-se que isto é um país de cagões)
    Concordam com este comentário: raulschone
  4.  # 5

    de cagões não sei mas que existe muita **** existe :)
    Concordam com este comentário: Nia_
  5.  # 6

    Colocado por: Luis K. W.Passaram aqui pelo Forum vários exemplos de casas para um casal ainda sem filhos ou com apenas um filho, que têm CINCO sanitas (!).


    Mas querem definir uma habitação com apenas o que for frugal? Então diga-se de passagem que deviam ter só e apenas uma casa de banho seca, é o que faz sentido do ponto de vista ecológico. O problema não é o número de sanitas ou divisões ou o raio que o parta, o problema é não se fazer contas ao que se consegue ter ou não. Pela mesma linha de pensamento acabava-se já com BMWs e tretas do género.

    No meu caso a minha mulher "precisa" do escritório porque precisa de estudar e ter montes de livros e tralha.

    Penso que será mais assim: às vezes comete-se o erro (mas cada um sabe de si) de se querer mais área com menos qualidade em vez de menos área com mais qualidade e conforto.
  6.  # 7

    Já agora, pelo que parece, se querem ver erros ou azares ou uma mistura dos dois, têm ai a saga do Layman.
    • J.C
    • 17 outubro 2012

     # 8

    Colocado por: danobregaJá agora, pelo que parece, se querem ver erros ou azares ou uma mistura dos dois,


    Ou desconhecimento!
    • dyas
    • 17 outubro 2012

     # 9

    Desculpem que vos diga mas vocês eram bons para viver numa favela, em boas condições claro mas com a mesma densidade habitacional.

    Sim eu identifico-me perfeitamente com todas as vossas criticas acima descritas. Necessito de espaços amplos e desmedidos para me sentir feliz especialmente exteriores e não vejo como escravatura a sua manutenção ao fim de uma semana de trabalho, mas sim uma oportunidade de escape. Apenas no que toca a pagar é que assusta.

    Tanta optimização de metro quadrado a mim atrofia-me é como se fosse viver como uma ovelha num rebanho numa quinta qualquer, quanto menos espaço ocupar melhor. Não é qualidade de vida para mim.
    Mas ainda bem que somos todos diferentes e com necessidades diferentes.

    Claro está que é inviolável o facto de que cada um só deve ter o que pode, mas sonhar todos podemos.

    Só mais uma ressalva quanto ao 1º ponto do FD, não concordo plenamente. É verdade que apenas um arquitecto pode apresentar propostas bem definidas, mas penso que a vontade do cliente deve ser dentro das suas limitações ser concedida, não vamos pagar um balúrdio por uma casa que é um rasgo de criatividade de um arquitecto mas que não se identifica connosco. E quem é que me garante no meio de tantos maus profissionais, como se atenta em diversos tópicos deste fórum, que terei a sorte de escolher um que faça um projecto com mais qualidade que se fosse um leigo a desenhar?????

    cumprimentos
  7.  # 10

    Colocado por: dyasquanto menos espaço ocupar melhor


    Corrija isso para quanto menos espaço desperdiçar. Esse é que deve ser o objectivo. Ter um quarto para visitas que é usado uma vez por ano, por exemplo, pode facilmente ser compreendido como desperdício. Ter um escritório e nunca o usar também, ter múltiplas salas e usar sempre a mesma, etc e tal.
    Concordam com este comentário: Luis K. W.
  8.  # 11

    dyas

    ponha lá isso em percentagens, talvez chegue a alguma conclusão.
  9.  # 12

    Colocado por: dyasE quem é que me garante no meio de tantos maus profissionais


    Essa garantia é o seu trabalho. Em vez de contratar um sem critério qualquer tem de ir ver o trabalho do profissional, falar com ele, etc. Este processo minimiza-lhe o risco de escolher um mau profissional, mas é claro que não o elimina pois isso é impossível. E até o melhor profissional pode ter um projecto menos bem conseguido de vez em quando.
  10.  # 13

    Viva dyas.

    Não é querer por as pessoas a viver em favelas, mas já vimos tanta coisa que por vezes se fica a pensar como é possível chegar a algumas das situações que vemos.
    Já conheci moradias com duas cozinhas e 3 salas, quando na verdade as pessoas comiam todos os dias numa mesa ridiculamente pequena e à volta de num canto escuro com uma lareira.
    Um dia gostava de ver um estudo sério sobre isto, a diferença entre a casa de sonho e a casa real, mas custa a aceitar ver tanto investimento em quantidade e tão pouco em qualidade. e isto mais tarde ou mais cedo será uma pesada factura.
    Será que estas construções, tantas vezes com cantarias falsas, beirados inúteis, quarto de arrumos, anexos e mais anexos, com os caixilhos mais baratos e frágeis que há, sem isolamento térmico real, e por aí fora...foram boas escolhas ?
    Se uma ou outra divisão são mesmo necessárias, muito bem, que se faça.
    Mas a experiência que temos enquanto arquitectos, é que muitos dos pedidos que nos são feitos têm uma carga enorme de preconceitos e ideias que parecem absolutamente inquestionáveis, quando na verdade, estão muitas vezes muito longe de serem a solução mais adequada para os donos de obra.
    Não deve pagar nenhum balúrdio por rasgos de criatividade de arquitecto nenhum. Há também muitos preconceitos contra o trabalho de arquitectos...e sendo certo que nem todos serão bons profissionais (como em qualquer outra actividade), quando me sinto doente vou ao médico e não falar com um leigo a ver se ele adivinha a receita para a minha cura.
    Um projecto tem muito mais trabalho que o simples desenho de uma planta. mas isso são outras questões...

    Cpts
    Concordam com este comentário: Rodrigo Cruz
  11.  # 14

    O FD foi lançar sal em algumas feridas com este tópico. :D
  12.  # 15

    Colocado por: dyasDesculpem que vos diga mas vocês eram bons para viver numa favela, em boas condições claro mas com a mesma densidade habitacional.

    Sim eu identifico-me perfeitamente com todas as vossas criticas acima descritas. Necessito de espaços amplos e desmedidos para me sentir feliz especialmente exteriores e não vejo como escravatura a sua manutenção ao fim de uma semana de trabalho, mas sim uma oportunidade de escape. Apenas no que toca a pagar é que assusta.


    Chama-se racionalização, o que não impede a existência de espaços amplos ou até infinitos.
    Agora "...desmedidos..." já é uma escolha irracional porque parte-se do princípio que não há justificação para tal "escolha" se a mesma não resultou de uma vontade mas sim da geração aleatória ou mesmo do inverso da racionalização.



    Colocado por: dyasTanta optimização de metro quadrado a mim atrofia-me é como se fosse viver como uma ovelha num rebanho numa quinta qualquer, quanto menos espaço ocupar melhor


    Optimizar não é reduzir espaços. "...quanto menos espaço ocupar melhor" é uma imposição que poderá ou não escolher.



    Colocado por: dyasmas penso que a vontade do cliente deve ser dentro das suas limitações ser concedida, não vamos pagar um balúrdio por uma casa que é um rasgo de criatividade de um arquitecto


    Um arquiteto não é um artista, tem base em ciências exatas. Poderá sim ter criatividade mas apenas na maneira como resolve os problemas. A sua ideia de arquiteto está bastante afastada da realidade e talvez até cheia de falácias.




    Colocado por: dyasque terei a sorte de escolher um que faça um projecto com mais qualidade que se fosse um leigo a desenhar?????


    Garanto-lhe eu que a probabilidade de tal escolha não difere na escolha de qualquer outro profissional em qualquer outra área.



    Em suma, uma casa precisa de um arquitecto. E qualquer comentário contra é um acto de ignorância voluntária ou involuntária. E se alguém ficar ofendido com tal, ainda bem, pode ser que tenha a humildade e habilidade de rever a sua maneira de pensar porque não me parece haver possibilidade de contradizer, mas posso talvez ser eu o ignorante é só me mostrarem o contrário.


    PS: quando comento abstraiu-em das irregularidades (exemplos: se alguém presta um serviço está implícito que todo o processo está conforme a legalidade; um arquitecto é alguém reconhecido pela ordem que regula a actividade e com um curso na área também ele reconhecido; um engenheiro é um engenheiro, um ladrão é um ladrão, quando a mesma pessoa acumula as duas "tarefas" a sua designação acumula os dois nomes também)
  13.  # 16

    Colocado por: kuGu_eLuUm arquiteto não é um artista, tem base em ciências exatas.


    Também é... ou também devia ser. Um engenheiro é que já é mais técnico que artista, se não completamente.
  14.  # 17

    Colocado por: danobregaTambém é... ou também devia ser. Um engenheiro é que já é mais técnico que artista, se não completamente.


    não concordo, a creatividade do mesmo resume-se na procura de soluções. Poderá o ser no sentido de criar com arte, mas não como uma necessidade.

    Diga-me o que é que um arquiteto cria que possa ser considerado a criaçã ode um artista e não fruto de uma racionalidade?


    com a premissa:

    "artista
    1. Pessoa que pratica uma das belas-artes, especialmente uma das artes plásticas ou dos seus prolongamentos actuais.
    2. Pessoa que interpreta uma obra musical, teatral, cinematográfica, coreográfica.
    3. Pessoa que, dedicando-se a uma arte, se liberta das pressões burguesas."
  15.  # 18

    Colocado por: kuGu_eLuDiga-me o que é que um arquiteto cria que possa ser considerado a criaçã ode um artista e não fruto de uma racionalidade?


    O facto de haver restrições à criatividade não implica que o processo de criação não seja artístico, aliás até diria que o potencia e valoriza.

    http://images.google.com/images?q=frank+gehry
    Concordam com este comentário: Rodrigo Cruz
  16.  # 19

    Para mim não é tanto fazer casas com áreas abismais, é áreas mal aproveitadas, grandes vãos, mezanines a torto e a direito, há casas enormas q até têm poucos quartos
    Concordam com este comentário: ze79
  17.  # 20

    Mais...desenhadas por arquitectos....
    Concordam com este comentário: treker666
 
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