Colocado por: sarandreiaConclusão: Fui penalizada por ter decidido pela maternidade, se tivesse trabalhado o ano todo e não tivesse sido mão ja tinha direito ao apoio.Sarandreia, foi penalizada porque, provavelmente, "o legislador", i.e. os que tomam estas decisões são maioritariamente homens e as mulheres são das que não gostam de mães solteiras.
Colocado por: FDPelo que apreendi na altura do lançamento do Porta 65 Jovem, estavam previstos três incentivos:
-> Porta 65 Jovem, que é o que já conhece
-> Porta 65 Senior, para reformados
-> Porta 65 para famílias carenciadas
O Porta 65 Jovem pretende ajudar os jovens a iniciar uma vida independente. No entanto, apenas incentiva aqueles jovens que tenham um rácio de sustentabilidade favorável. Daí que não ajudem no contexto que especifica. Apesar de lhe parecer estranho, faz sentido - um jovem só deve sair de casa dos pais quando tiver sustentabilidade, o estado apenas dá um empurrão, nada mais.
Quanto a este assunto, a "obrigação" do estado ajudar, há uns dias gostei muito de ler este texto:POBREZA DESDOBRADA por Fernanda Câncio
Jornalista - [email protected] 13 Março 2009
Desta vez foi na Quinta do Cabrinha, o bairro construído na Avenida de Ceuta, em Lisboa, para receber os habitantes do demolido Casal Ventoso. Uma série de pessoas ocupou casas que estavam vazias e foi despejada pela polícia. Directos no local dão a voz aos despejados: uma jovem mulher com um bebé ao colo explica que vivia na casa dos pais onde dormia no chão com os filhos, um dos quais "tem problemas" e que pediu à Câmara o "desdobramento" (jargão que refere a atribuição de uma outra casa a uma parte de uma família que vive num fogo de habitação social) mas "eles não deram". Perante a recusa, ela e o marido (que ficou detido) ocuparam uma casa "e agora não têm para onde ir". A repórter pergunta: "E a senhora estava disposta a pagar uma renda?" A resposta é não só afirmativa mas entusiástica: "Claro!". No fim, a repórter conclui: "Esta é só uma das versões".
É, de facto, uma das versões. Mas antes mesmo de ir às outras, ficou por saber o essencial desta: por que acha a senhora em causa que tem um direito inalienável a uma casa "da Câmara". Sem esta pergunta e respectiva resposta, todas as reportagens e notícias sobre este assunto não são mais que entretenimento - de um certo tipo, mas entretenimento. O entretenimento de uma viagem ao mundo dos pobres que não só se reclamam pobres sem esperança de sair da pobreza, como levam a mal se alguém põe a sua pobreza em causa.
Não fazer a pergunta é admitir, paradoxalmente, que as políticas contra a exclusão, de que a habitação social é um símbolo, não servem para nada. Que é normal a filha de um casal realojado ser realojada - que é normal que a atribuição de uma casa de custo controlado aos pais, para acudir a uma situação de emergência social , não tenha qualquer efeito na geração seguinte. Ou seja, que a pobreza é endémica e sem remédio - que se desdobra.
Este raciocínio, em última análise, leva ao fim das políticas de combate à exclusão e favorece o discurso dos que propõem largar cada um à sua sorte. É, no entanto, o raciocínio que mais comummente articula quem se reclama como grande defensor dessas políticas e, pasme-se, dos direitos dos mais desfavorecidos. É o raciocínio que levou a que durante 35 anos de democracia tão poucas vezes se tenham feito as perguntas certas - quantos bairros sociais há, quanto custaram, em que estado estão, quem lá vive e há quanto tempo, qual o seu rendimento médio, que idade tem, qual o motivo da atribuição da casa , qual o valor das rendas, qual o modo como são calculadas e qual a respectiva taxa de cumprimento - e nunca se tenham ouvido as respostas. Suspeita-se até de que ninguém as conheça. Sucede que sem regras claras e justas as políticas sociais correm o risco de não servir para aquilo a que se propõem - ajudar os que de facto precisam - e de funcionar como uma espécie de multiplicador da exclusão. É tempo de que quem as defende - a esquerda, portanto - pare de se desdobrar em desculpas e assuma as suas responsabilidades.
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1174056&seccao=Fernanda%20C%E2ncio&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco