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  1.  # 1

    A discussão sobre os estendais fez-me pensar em marquises: eu cresci numa casa lisboeta dos anos 40, com uma marquise que dava para trás, para as traseiras dos prédios da rua de baixo. Lembro-me perfeitamente do som das roldanas dos estendais de ferro e do eco que a voz fazia quando alguém gritava "Está a chover!" para prevenir as vizinhas que era preciso apanhar a roupa.

    Na marquise faziam-se muitas coisas: arrumava-se tralha, estendia-se roupa quando chovia, limpavam-se nódoas (com coisas que eu já não sei usar nem sei bem o que é, como benzina), consertavam-se coisas partidas, fugia-se do sol que dava na frente à tarde, brincava-se, enfim, fazia-se num apartamento aquilo que numa moradia se faz num quintal.

    Para a marquise davam várias divisões e podia-se andar à volta, indo quer pelo corredor quer pela marquise, uma coisa que ainda agora adoro numa casa. Aliás, aluguei há uns tempos uma em Bruxelas, em grande parte porque tinha uma espécie de marquise para onde davam tanto a sala como a cozinha (acho que nunca vivi numa casa com uma distribuição do espaço tão harmoniosa).

    Não sei se as minhas saudades das marquises estão relacionadas com uma forma de viver que já não existe, em que as casas eram habitadas tanto de noite como de dia, e portanto, se hoje em dia as marquises fariam o mesmo sentido se as houvesse. Mas que é uma das minhas divisões preferidas numa casa, lá isso é.
  2.  # 2

    Nunca morei em nenhum sítio que tivesse uma marquise. Sou a favor das varandas. Todos os prédios deviam ter varandas e devia ser proibido fechá-las. Agora parece que é probido não?
  3.  # 3

    A «minha» marquise dava para a escada de serviço - por onde entrava o padeiro, o merceeiro, etc. - para a cozinha, para o quarto de engomar - que também foi o quarto da "Maria" - e para a respectiva casa de banho.

    Para jogar "à apanhada", era porreiro:
    entrávamos na marquise pela cozinha;
    saíamos da marquise pela casa de banho do quarto de engomar (esta casa de banho tinha 2 portas);
    da casa de banho passávamos para o quarto de engomar que tinha mais 2 portas, uma também para a marquise, outra para o corredor que ligava o hall aos quartos.
    As variantes de fuga que estas ligações permitiam baralhava qualquer perseguidor. :-)
  4.  # 4

    Exactamente, Luís! Na "minha" marquise, havia a porta para o tal quarto de engomar e casa de banho, a porta para um quarto que tinha outra para o corredor, e duas janelas, a do "quarto escuro" e a da casa de banho. Acho que é essa mesma janela da casa de banho que me faz agora olhar com estranheza para a preocupação com a IS a dar para a entrada ou não sei para onde. Pois não vai toda a gente à casa de banho mais tarde ou mais cedo, mais ou menos à vista de toda a gente que esteja por perto???

    Quanto a varandas (estas marquises não são varandas fechadas, que costumam dar para a sala, são uma dvisão "de serviço"), só acho úteis quando a vista é agradável. Já vivi em casas onde acho que nunca cheguei à varanda (isto foi antes da paranóia do tabaco).
  5.  # 5

    Já visitei uma casa onde dois quartos e o escritório davam para a marquise e dantes era uma varanda. Também se podia entrar por um quarto e sair pelo outro, ou sair pelo escritório. Continuo a dizer que gosto mais de varandas (e não fumo).
  6.  # 6

    Boas

    Nunca morei em nenhum sítio que tivesse uma marquise. Sou a favor das varandas


    Não sei se as minhas saudades das marquises estão relacionadas com uma forma de viver que já não existe, em que as casas eram habitadas tanto de noite como de dia, e portanto, se hoje em dia as marquises fariam o mesmo sentido se as houvesse. Mas que é uma das minhas divisões preferidas numa casa, lá isso é.


    A «minha» marquise dava para a escada de serviço - por onde entrava o padeiro, o merceeiro, etc. - para a cozinha, para o quarto de engomar - que também foi o quarto da "Maria" - e para a respectiva casa de banho.

    Para jogar "à apanhada", era porreiro

    Também sou a favor das varandas e não gosto muito de marquises, mas se calhar tudo isto tem a ver com o meio em que cada um cresceu. Em criança e jovem a minha marquise era uma eira em grandes pedras de granito com cerca de 1m x 2 m e 1m de espessura - foi desmantelada o ano passado. À volta dessa eira os campos, que nesse tempo tinham nome e ainda por cima femininos: a Manguela, a Tapada, a Curtinha e, excepção à regra, o Crasto, situado na base de um afloramento granítico que, na modéstia dos seus 179 m, nos parecia um Everest, que desconheciamos ainda. À volta dos campos, as matas onde numa tarde dávamos a volta ao mundo e ao tempo, da terra dos índios e cow-boys aos castelos a que falltavam as donzelas mas sobravam os mouros, que combatiamos galhardamente. Combatiamos é uma maneira de dizer, a mim sempre me tocou o papel de mouro vá-se lá saber a razão. No fim, e para merenda, era a fruta temporã que custava apenas os cuidados necessários a saltar o muro e a evitar os cães que em vão tentavam afirmar: o seu a seu dono. Não adiantava, o dono era eu e eram os outros.
    Foi no Crasto que o fim de tudo começou: em seu lugar ergue-se um bairro social mastodôntico e o mato que daí trepava até ao Monte Crasto só o vejo hoje na televisão, sob a forma de um edifício revestido a plaqueta cerâmica de 3ª e que faz a vez de tribunal. A Tapada foi rasgada com uma rua, na Curtinha tem prédios de rés-do-chão + 5 ou 6 com marquises e a Manguela, donde saíam os nabos e as couves do Natal, é hoje uma depressão coberta de mato rasteiro rodeada de alcatrão à espera do fim da recessão.
    É por isso que não gosto de marquises.

    cumps
    José Cardoso
  7.  # 7

    Brilhante!! Parabens!!
  8.  # 8

    Ah, eu bem dizia que as marquises (as verdadeiras, não as varandas fechadas) eram o quintal dos prédios de apartamentos.

    Os meus campos (os das férias) têm nomes com B, que eu nunca sei se são mesmo para dizer assim ou se devo pronunciá-los com V. Como o Alquebe... Alqueive? (As pessoas também, aliás: o Albenero afinal é Alvenero; mas chamo à Etelvina Bina ou Vina? Ou, como dizia um irmão meu "Oh mãe, eu sei que se diz vinha, mas ELE é o Zé da Binha!".)
  9.  # 9

    No 2º ano de faculdade morei num apartamento com uma marquise que ainda hoje, duas décadas depois, recordo com saudade. Tinha uma vista maravilhosa para a Avenida da República (era em Coimbra), muita luz, uns mosaicos hidraúlicos no chão com um padrão magnífico e o pôr-do-sol visto de lá era lindo de morrer... Dois pequenos quartos davam para lá, assim como a cozinha, uns arrumos e uma casa de banho. Muitas vezes me pus a pensar que, se tivesse ficado por Coimbra, era num apartamento assim que gostava de viver e punha-me a imaginar como poderia remodelá-lo, transformar as áreas e valorizar do melhor modo aquele espaço único.
    Fiquei lá só um ano porque as condições eram realmente más (quarto minúsculo, demasiada gente), mas sem dúvida que aquele apartamento merecia melhor sorte que ficar nas mãos de um avarento (o senhorio era podre de rico mas parecia um mendigo), retalhado para melhor explorar os estudantes...
  10.  # 10

    Este senhor tem exactamente a minha idade e descreve uma marquise que podia ser a "minha" (incluindo o sabão azul e branco cortado à faca para fazer a saponária, e a revolução do Tide e respectivo folhetim):

    http://comidascaseiras.blogspot.com/2009/08/capile-ou-morte-da-avenca.html

    De bónus aqui fica a verdadeira receita de capilé (que nada tem a ver com mazagrã, digam o que disserem certos internautas ignorantes):

    Ingredientes:

    3 Kg de Açúcar Amarelo
    Vidrado da casca de 3 Limões
    Sumo de 2 Limões (facultativo)
    50g de Avenca seca
    1,5 L de Água do Luso

    Preparação:

    Passe a avenca seca por água fria para eliminar algum resto de pó, esporos ou terra e ferva-a por alguns minutos em Água de Luso. Deixe a infundir até arrefecer.

    Toste o açúcar amarelo no forno (tem mesmo de ser “amarelo” pois o açúcar branco funde e queima sem tostar). Isto faz-se espalhando o açúcar no tabuleiro do forno e levando-o a tostar a superfície no grill ou na parte mais alta do forno.
    De minutos a minutos, quando a superfície fica tostada e escura, mexe-se com um garfo de madeira ou espátula e volta ao forno até que todo o açúcar esteja castanho escuro, não só à superfície mas a totalidade.

    Junte o açúcar tostado à infusão coada de avenca, mexendo sempre pois tende a fazer um bloco no fundo. Leve ao lume com o vidrado da casca de limão e, se gosta do travo ácido no refresco, com o sumo.
    Deixe ferver em lume baixo por cinco minutos, engarrafe de imediato, a ferver, e rolhe bem.
  11.  # 11

    Boas

    Obrigado pelo blogue: já cá canta.

    cumps
    José Cardoso
  12.  # 12

    Isto se calhar devia estar no sitio das conversas.

    FD, please!!!!!

    (O blog parece bem giro. Fui la parar porque fiquei a saber que há agora uns quiosques em Lx que servem estas bebidas de cota, o que eu acho uma excelente ideia porque não gosto de coisas feitas à base de dióxido de carbono e isoglucose como coca-cola e ice-tea...embora goste imenso de chá gelado e, sobretudo, do dito mazagrã)
    • AnaT
    • 14 março 2010

     # 13

    Aqui fica mais uma "cota" a sorrir das memórias das marquises.

    Hoje em dia chamam "marquise" às inumeras varandas fechadas nos anos 70 e 80.
    Mas essas não são as verdadeiras. Essas, também as prefiro abertas, como a MartaD.

    Mas quem não tinha um quintal como o do J Cardoso (que inveja!!!) podia ser que tivesse a sorte de ter uma marquise solarenga.
    Os meus jogos não eram como os do Luis mas como a "minha" fazia angulo recto com a do vizinho, juntava-se uma tertúlia à janela nas longas tardes de sol.
    E eram construídos uns "guindastes" ou "teleféricos" para transportar os tesouros* de umas marquises para as outras.
    Quem se lembra dos telefones de fios?
    E alguém acredita que os "andares" são impedimento a uma boa luta entre "indios" e "cobóis"?

    * Tesouros = livros de BD lidos, relidos e tre-relidos, jogos de tabuleiro e cromos para as cadernetas.

    Bela receita, lobito. Obrigada
    • lobito
    • 14 março 2010 editado

     # 14

    Ah, cromos! A minha ultima colecção (incabada, infelizmente) fi-la aos 20 e tal anos (era uma excitação a hora do almoço no laboratório!) e foi a melhor de todas: fac-similes de jornais de todo o mundo, com titulos que já não existem como o Século ou a Capital, e em que se podem ler noticias em turco sobre o Eusébio, por exemplo :-)
 
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