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1. • j cardoso
   • 1 março 2011 ^editado

    # 1

   Porque nunca serei liberal
   
   Chamemos-lhe C, 52 anos castigados pelo tempo e vida. Ainda adolescente, 3ª classe na bagagem, largou a Serra de Montemuro na mira de escapar à vida que o esperava agarrado à enxada nas courelas espalhadas pela serra. Como tantos outros arranjou trabalho na construção civil que não mais deixou, até que a crise – que não faz ideia do que seja ou quem a causou – o atirou para o desemprego com largos meses da salário em atraso. Diz o povo que um mal nunca vem só e foi então que ficou a saber que havia muito tempo que o patrão não entregava os descontos que fazia à segurança social. Soube-o da pior maneira e na pior altura: a mulher adoeceu gravemente, ficando desde então incapacitada para trabalhar. O tempo foi passando, quem cai ao mar agarra-se ao que calha e o que lhe calhou foi o serviço de guarda de uma obra. Todas as noites eram agora passadas numa obra das 7 da tarde às 7 da manhã, sábados, domingos e feriados, a troco de 600 € por mês sem descontos nem direitos. Até um dia, que foi hoje. Estava eu a sair da obra quando o vi sentado no passeio, cabeça entre as mãos e a soluçar. Intrigado, aproximei-me e perguntei o que se passava ou se precisava de ajuda. Falou a contragosto enquanto limpava as lágrimas, contando que fora mandado embora e acabando com as perguntas a que não sabia responder: e agora, como vou dizer à minha mulher? Como vou pagar a renda? E os medicamentos?
   Sabendo que a obra vai durar ainda cerca de um ano, estranhei o facto e perguntei ao empreiteiro o que se passava: teria o homem falhado nas suas obrigações? Que não, respondeu-me o empreiteiro, nunca falhou. Só que tinha arranjado alguém que fazia o mesmo serviço por 450 € e “é para o que está”, conforme deixou vincado. Disse mais - com receio de “represálias” e embora tivesse tomado a decisão já há algum tempo, só hoje deu a conhecer ao homem que não precisava mais dele. Pagou hoje o último mês e despediu-o na mesma hora.
   Não sou dos que pensa que um homem não chora, mas é uma visão que mexe comigo. Mexe ainda mais a forma empedernida e desprendida com que o empreiteiro discorreu sobre o assunto, longe que estava de se preocupar com as consequências do que tinha feito ou da falta de respeito que demonstrava para com quem o serviu. É por esta razão - e outras como esta – que não sou capaz de ser “liberal”.
   
   PS: resta-me uma (pequena) consolação – mais um ano a fiscalizar a obra dá-me tempo a ensinar ao empreiteiro com quantos paus se faz uma canoa. Não sou do género de desejar mal a alguém, mas desta vez vou fazer-lhe a vida negra de tal forma que vai arrepender-se amargamente de ter entrado naquela obra. Para f.... da p..., f.... da p.... e meio, fálo-ei com prazer e um grande sorriso nos lábios.
   
   Cumps
   José Cardoso

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2. • Rui A. B.
   • 1 março 2011

    # 2

   É uma triste história de vida, um terramoto de emoções negativas que se abatem sobre essa pessoa.
   
   Quanto ao seu PS, dou-lhe toda a força!
   
   Quem souber ou puder ajudar o homem também o deve fazer!
3. •  
     gonzales
   • 1 março 2011

    # 3

   Triste... muito mesmo.
   O valor humano, e a luta constante por lucros. Uma luta com um resultado 99% das vezes a favor dos €€€! :(
4. • zedasilva
   • 1 março 2011

    # 4

   Na proxima visita à obra enquanto fiscal não se esqueça de confirmar a existência em obra da ficha de aptidão médica do novo guarda bem como o comprovativo da inscrição na segurança social.
   Se o mesmo se encontrar em regime de profissional liberal para além da Fichda de aptidão médica deverá ainda verificar a existência de um seguro.

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5. • luisvv
   • 1 março 2011

    # 5

   E se não é indiscrição, o que tem isso a ver com ser "liberal"?
6. • j cardoso
   • 1 março 2011

    # 6

   E se não é indiscrição, o que tem isso a ver com ser "liberal"?

   
   Deixo a resposta à sua consideração mas dou-lhe uma dica: terá a ver com o objectivo que cada um atribui ao facto de viermos em sociedade: para mim o objectivo é colectivo (não confundir com colectivista) e consiste em criar as condições para que todos possam viver do fruto do seu trabalho, sem explorações desenfreadas e com respeito pelo outro.Utopia? É, mas é a tentar a utopia que podemos fazer deste um mundo melhor, e um mundo melhor passa pelo bem estar de todos.
   
   cumps
   José Cardoso

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7. •  
     moraisdd
   • 1 março 2011

    # 7

   Não creio que haja muito a dizer...
   
   Raios!...
8. • luisvv
   • 1 março 2011

    # 8

   Deixo a resposta à sua consideração mas dou-lhe uma dica: terá a ver com o objectivo que cada um atribui ao facto de viermos em sociedade: para mim o objectivo é colectivo (não confundir com colectivista) e consiste em criar as condições para que todos possam viver do fruto do seu trabalho, sem explorações desenfreadas e com respeito pelo outro.

   
   E em que é que ser liberal interfere com isso?
   
   

   Utopia? É, mas é a tentar a utopia que podemos fazer deste um mundo melhor, e um mundo melhor passa pelo bem estarde todos.

   
   
   Tenho grandes dúvidas que qualquer utopia tenha contribuído para um mundo melhor.
9. • eu
   • 1 março 2011 ^editado

    # 9

   Infelizmente a liberalização tem estes inconvenientes. E ainda bem que existe um salário mínimo, pois caso contrário... nem quero imaginar.
   
   Mas as alternativas socialistas já demonstraram que são bem piores.
10. • Princesa_
    • 1 março 2011

     # 10

    J Cardoso,
    
    Aconselhe o senhor a pedir um advogado à segurança social... Lixa o anterior patrão e lixa o que o despediu sem dó nem piedade agora para poupar 200 euros.
    
    Bem sei que isso não trará comida para a mesa já hoje, mas sabe o que isto me faz recordar?
    
    O último julgamento penal que fiz, fui literalmente aconselhada a desistir, ao inicio, por recado do Juíz... Disse que não, que se todos o fizessem por estar perante um caso "dificil e quase perdido" que os criminosos continuariam a sê-lo e que se criaria um sentimento de impunidade por culpa de todos. Ainda insistiram comigo, avisaram-me que se trata de um processo "caro" (quem perde, paga no final). Eu não sei ouvidos.
    
    Aleguei no final, cerca de 10 minutos sem parar, expliquei o porquê de estar ali, expliquei que o facto de uma pessoa ser considerada de imputabilidade atenuada não revelava só por si o desconhecimento da ilicitude dos actos. Agarrei-me à portura dos arguidos, à forma como despudoradamente mentiram e choraram em Tribunal, aos depoimentos das testemunhas, e ganhei.
    
    À saída, a funcionária judicial que me tinha "convidado" a desistir, meteu os olhos no chão quando passei... E eu, saí dali tão mais leve... 4 anos depois do processo começar...
    
    Por isso, na minha opinião, somos todos responsáveis, cada um deverá fazer a sua "pequena parte", o seu "pequeno sacrifício", meter as coisas no "sitio certo" depende de todos e de cada um... Não se pode é continuar a ver isto e deixar os patrões contentes porque pouparam uns trocos, atirando um miserável para a rua.
    
    P.S. Faça-lhe mesmo a vida negra. IGT tbm era uma boa...
    
    Nota: Não tenho nada contra os "patrões". Mas não suporto desumanidade.

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11. • Carlos M Silva
    • 1 março 2011

     # 11

    Colocado por: zedasilvaNa proxima visita à obra enquanto fiscal não se esqueça de confirmar a existência em obra da ficha de aptidão médica do novo guarda bem como o comprovativo da inscrição na segurança social.
    Se o mesmo se encontrar em regime de profissional liberal para além da Fichda de aptidão médica deverá ainda verificar a existência de um seguro.

    
    zedasilva, esse novo trabalhador pode não ter nada a ver com a atitude deste empreiteiro.
12. •  
      Hélio Pinto
    • 1 março 2011

     # 12

    “As pessoas que são loucas ao ponto de achar que podem mudar o mundo, são as que o fazem”.
    Apple inc.
13. •  
      MRui
    • 1 março 2011

     # 13

    Colocado por: euInfelizmente a liberalização tem estes inconvenientes.

    
    É. Mas não passa disso mesmo, são só uns inconvenientes. Não nos devemos afligir muito com isso.
    
    

    Colocado por: euMas as alternativas socialistas já demonstraram que são bem piores.

    
    Piores para quem? Sei que a palavra socialismo tem servido para muita coisa, até para algumas aberrações, mas no essencial não me parece que seja pior para quem vive honestamente do seu trabalho sem precisar de explorar o próximo.
    
    A estória contada pelo j cardoso ilustra bem a quem não interessa o socialismo.
14. •  
      Paramonte
    • 1 março 2011 ^editado

     # 14

    j cardoso: caia em cima desse **** que despede sem ética, atire-lhe com o que tiver à mão...
15. • rui1magano
    • 1 março 2011

     # 15

    J Cardoso, toda a força nisso!
    
    Muitos dizem que temos legislação inflexivel mas na verdade ninguem a cumpre!
    Indeminizações??? Direitos???
    Nada!
    Só estagios não remunerados, recibos verdes e um pau no fundo das costas...
    
    E quando chegamos a velhos...
    
    Que país mais ****!
    
    Tivemos meio mundo, fomos colonizadores e chupadores das riquezas alheias do novo mundo, roubamos e matamos e por fim, ficamos com o que merecemos... Só ****.
    
    Mais, a UE devia passar a este país e seus governantes um atestado de incapacidade e tirar daqui todo o poder! Só assim ficavamos mais bem geridos.
    
    Desculpem o desabafo de apenas mais um que perdeu a fé neste pardieiro de ****
16. • zedasilva
    • 1 março 2011

     # 16

    Colocado por: Carlos M Silva
    zedasilva, esse novo trabalhador pode não ter nada a ver com a atitude deste empreiteiro
    
    Claro que não. Mas será muito mais fácil a esse novo trabalhador ficar sem emprego passado 1 dia do que ficar daqui a 1 ano quando o patrão arranjar quem faça o serviço por 200€
17. •  
      Paramonte
    • 1 março 2011

     # 17

    com um bocado de sorte daqui a um ano consegue alguem q faça o trabalho pelas refeições e um barraco para morar.
18. • Rui A. B.
    • 1 março 2011

     # 18

    Colocado por: rui1maganoJ Cardoso, toda a força nisso!
    
    Muitos dizem que temos legislação inflexivel mas na verdade ninguem a cumpre!
    Indeminizações??? Direitos???
    Nada!
    Só estagios não remunerados, recibos verdes e um pau no fundo das costas...
    
    E quando chegamos a velhos...
    
    Que país mais ****!
    
    Tivemos meio mundo, fomos colonizadores e chupadores das riquezas alheias do novo mundo, roubamos e matamos e por fim, ficamos com o que merecemos... Só ****.
    
    Mais, a UE devia passar a este país e seus governantes um atestado de incapacidade e tirar daqui todo o poder! Só assim ficavamos mais bem geridos.
    
    Desculpem o desabafo de apenas mais um que perdeu a fé neste pardieiro de ****

    
    
    Desculpe a informação mas este facto nada tem que ver com os governantes, tem a ver com iligalidades cometidas sobre um trabalhador. E a legislação, no meu ponto de vista, é mesmo inflexível em alguns aspetos, levando a que situações destas sejam mais comuns. Diz que a a UE devia tirar daqui o poder, quem acha que negoceia as medidas com o governo português??
19. • tob
    • 1 março 2011

     # 19

    E quando tal esses 150€ que esse patrão poupou com a troca de funcionário, servem para nesse mesmo dia pagar uma jantarada com os amigos num qualquer restaurante...e a familia do desempregado a passar fome...eu perdia a cabeça...
20. • j cardoso
    • 1 março 2011 ^editado

     # 20

    E em que é que ser liberal interfere com isso?

    
    Só falta dizer que é esse o objectivo dos liberais.
    Para quem – como se vê noutra discussão – se socorre da legislação para justificar o facto de grandes grupos económicos, como a banca, pagar impostos ridículos ao mesmo tempo que cala e esconde a promiscuidade entre esses grupos e os legisladores que elaboram as leis por encomenda enquanto preparam o caminho para um cargo dourado naqueles mesmos grupos, diria que está hoje muito inocente. Ou não, se calhar está a tentar fazer de mim inocente.
    Para quem defende que o estado apenas se deve ocupar praticamente da justiça e da defesa como se o cidadão tivesse a obrigação de colaborar na defesa de um país que não lhe proporciona a oportunidade de umma vida minimamente digna e onde a igualdade de direitos é uma miragem, é uma pergunta hipócrita.
    Para quem acha que os assuntos laborais devem ser tratados apenas entre patrão e empregado, esquecendo a posição de força do empregador, acho uma pergunta parva.
    
    

    Tenho grandes dúvidas que qualquer utopia tenha contribuído para um mundo melhor.

    
    Todos temos direito à dúvida, mas umas leituras sobre as transformações que o mundo sofreu desde o século das luzes talvez fossem esclarecedoras. Apesar de tudo, tenho grandes dúvidas acerca do seu interesse num “mundo melhor”. Ou vai dizer-me que é esse o objectivo dos liberais?
    
    

    Mas as alternativas socialistas já demonstraram que são bem piores.

    
    Isso não sei, soube de regimes que se intitulavam socialistas mas tenho séria dúvidas que o fossem. Ou será que por se intitular assim a República Popular e Democrática da Coreia (do norte) é realmente popular e democrática? Estou à vontade, a minha utopia não é o socialismo.
    
    
    José Cardoso