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    • PBarata
    • 17 fevereiro 2012 editado

     # 1

    Existe mais do que uma! Certamente!
    Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
    Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.

    A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

    Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

    Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

    Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

    Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
    Foi então que os pais ficaram à rasca.

    Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.

    Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

    São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

    São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

    A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

    Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

    Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

    Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

    Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

    Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.

    Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

    Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

    Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
    Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?

    Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!

    Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

    Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

    E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

    Novos e velhos, todos estamos à rasca.

    Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

    Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

    A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.

    Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
    Concordam com este comentário: gmacedo, luann, salgueiro2
    Estas pessoas agradeceram este comentário: eu, j cardoso, system32, rafaelisidoro, Ricardo.Figueiredo, luann, salgueiro2
  1.  # 2

    Boas,

    Colocado por: PBarataDeslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.


    E as outras gerações não "quiseram dar aos seus filhos o melhor"?

    Colocado por: PBarataAnsiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes


    Faz-te lembrar alguma coisa j cardoso?

    Colocado por: PBarataMesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.


    E as outras gerações deixavam os filhos morrer à fome (se o pudessem evitar)?

    Colocado por: PBarataDurante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.


    Mais uma vez: faz-te lembrar alguma coisa.

    Colocado por: PBarataOs pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.


    DEMAGOGIA e desconhecimento do que se passa pelo país.
    É fácil dizer as coisas assim.
    Este e outros exemplo aplicam-se a uma percentagem muito diminuta da sociedade.
    É de lamentar que pessoas "cultas" comam tão facilmente o que lhes é dado a comer.

    Colocado por: PBarataEis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.


    Sou só eu que noto uma grande contradição neste paragrafo?

    Divirtam-se,
    João Dias e seu gato psicanalista
    Concordam com este comentário: SAMBINO
  2.  # 3

    Faz-te lembrar alguma coisa j cardoso?


    Não estou a ver o quê..
  3.  # 4

    não sei porque mas não gosto deste texto.
    o mundo "evoluiu" como evoluiu e certos diagnosticos atirando culpa para isto e para aquilo não me parecem muito lucidas. Todos somos um produto das circunstancias, apenas acredito na falência ou ganancia do topo da piramide como o "culpado" pois serão os unicos com poder para executar uma agenda de forma massiva.
  4.  # 5

    Boas,

    Colocado por: j cardosoNão estou a ver o quê..

    Será que o que os pais "fazem" pelo filhos, é mesmo pelo filhos ou por si mesmos?
    Ok, como eu escrevi da outra vez: os filhos não servirão muitas vezes de desculpa para as ambições dos pais?

    Divirtam-se,
    João Dias e seu gato psicanalista
  5.  # 6

    Boas,

    Colocado por: marco1não sei porque mas não gosto deste texto.


    Concordo

    Colocado por: marco1o mundo "evoluiu" como evoluiu e certos diagnosticos atirando culpa para isto e para aquilo não me parecem muito lucidas. Todos somos um produto das circunstancias, apenas acredito na falência ou ganancia do topo da piramide como o "culpado" pois serão os unicos com poder para executar uma agenda de forma massiva.


    Discordo

    Divirtam-se,
    João Dias e seu gato psicanalista

    PS: FD, precisamos de um "botão" "concordo parcialmente" ;)
  6.  # 7

    Só posso falar do meu caso:

    - tenho um filho a quem desejo o melhor.
    - andou na escola pública e sempre acompanhei o seu percurso escolar com atenção e com a exigência que achei apropriada em cada momento.
    - Aos 10 anos começou a receber semanada o que aconteceu até começar a trabalhar; habituou-se a gerir o que tinha e qualquer "desvio" só com plena justificação.
    - 1º telemóvel aos 16, quando entrou para a FEUP.
    - Usou os transportes públicos SEMPRE
    - Fi-lo ver que o trabalho dele era estudar; se não se aplicasse devidamente ou se não mostrasse capacidade teria de mudar de vida; mesmo contra outras opiniões familiares disse-lhe sempre que só aceitaria inscrevê-lo numa universidade privada se o curso que pretendesse não existisse na pública (não era o caso, havia engenharia informática na FEUP).

    Não sei se fiz bem ou mal, tem 25 anos e há 3 que acabou o curso e trabalha; sei que não é nenhum mimado e, tirando o facto de viver comigo, é absolutamente independente.
    Poderá dizer que o fiz por mim, é verdade que estou satisfeito com o percurso dele. Acredite porém que o fiz por ele: sempre o deixei tomar as decisões que lhe competiam fazendo-lhe ver que a responsabilidade e as consequências eram dele.

    Fiz mal? Fiz bem? Não sei, fiz o melhor que pude.
    Concordam com este comentário: eu, becas, A. Madeira, Fiel Projectar, salgueiro2
    Estas pessoas agradeceram este comentário: salgueiro2
  7.  # 8

    Boas,

    Colocado por: j cardoso- 1º telemóvel aos 16, quando entrou para a FEUP.


    Aos 16?
    Coitado (1)

    Colocado por: j cardoso- 1º telemóvel aos 16, quando entrou para a FEUP.


    Os que dizem que o ISEP é o Instituto dos Secretários dos Engenheiros do Porto.

    Colocado por: j cardosoengenharia informática


    Coitado (2)


    Agora mais a sério:

    Colocado por: j cardosoFi-lo ver que o trabalho dele era estudar; se não se aplicasse devidamente ou se não mostrasse capacidade teria de mudar de vida;


    Se a rigidez for a que aparentas (o que não creio): discordo.

    Colocado por: j cardosoPoderá dizer que o fiz por mim, é verdade que estou satisfeito com o percurso dele. Acredite porém que o fiz por ele: sempre o deixei tomar as decisões que lhe competiam fazendo-lhe ver que a responsabilidade e as consequências eram dele.


    As coisas que eu me refiro são mais as coisas "pessoais" dos pais que as "orientações" que dão aos filhos.
    O ponto um da minha linha de raciocínio é a falta de acompanhamento dada aos filhos devido ao excesso de trabalho que na maior parte dos casos é devido a ambições pessoas (dos pais) e não ao querer dar condições aos filhos (que é a "desculpa" que todos dão). De referir, que o já tinha referido, que estou a falar de um "estrato" social particular e não daqueles que precisam de ter dois empregos para poderem ter algo para comer ao fim do mês.
    No meu caso pessoal, podem avaliar isto como uma desculpa e nem eu sei se é inteiramente falso, uma das razões (há mais) que me leva a não ter filhos é precisamente achar que não teria (ou não quereria/quero ter) condições para acompanhar a sua educação.

    Por outro lado, com o que o texto refere "Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações", leva os pais a incutir "desejos" artificiais nos filhos que não são mais do que "desejos" dos pais. Logicamente que os pais o fazem com a melhor das intenções, não coloco isso em causa, mas muitas vezes acabam por "moldar" as ambições dos filhos de uma forma errada e que pode ter no futuro desfechos infelizes.

    Colocado por: j cardosoFiz mal? Fiz bem? Não sei, fiz o melhor que pude.


    Nota que eu nunca julguei ninguém.
    Aquilo que eu digo é independente de eu achar que as pessoas fazem o correcto ou não, e mesmo que não ache o mais correcto não julgo.

    Divirtam-se,
    João Dias e seu gato psicanalista
    • becas
    • 17 fevereiro 2012

     # 9

    Primeiro e antes que tudo - o texto NÃO É do Mia Couto. O próprio escritor veio desmentir a autoria quando o texto surgiu no facebook. Por favor, alguém corrija isso rapidamente. Daqui a bocado venho dar os meus bitaites sobre o assunto...
  8.  # 10

    Boas,

    Colocado por: becasDaqui a bocado venho dar os meus bitaites sobre o assunto...


    Boa, fixe ... que hoje não me apetece trabalhar*.

    * antes que venham bocas foleiras: se não o fizer hoje tenho de o fazer amanhã, ou no domingo (enquanto outras andam a passear) ...

    Divirtam-se,
    João Dias e seu gato psicanalista
  9.  # 11

    Se a rigidez for a que aparentas (o que não creio): discordo.

    Rigidez? Não acho. As coisas são como são, preferia que ele fosse bom pedreiro que mau engenheiro. Acho que mais importante que um curso (que não haja confusões, acho que a formação e o conhecimento são o caminho certo) é incutir-lhe o sentido de responsabilidade: somos responsáveis pelos nossos actos e traçamos o nosso próprio caminho.

    Os que dizem que o ISEP é o Instituto dos Secretários dos Engenheiros do Porto.

    Nunca ouvi isso da boca dele; em primeiro lugar teria de se haver comigo e mesmo para quem já está habituado, como é o caso dele, é sempre de evitar, em segundo lugar ele aprendeu - espero eu - a não julgar pelas aparências.
  10.  # 12

    Colocado por: becastexto NÃO É do Mia Couto.


    Assim sendo peço ao FD uma ajudinha... a corrigir.
    Pode sempre colocar autor anónimo. :)
  11.  # 13

    Boas,

    Colocado por: j cardosoAs coisas são como são, preferia que ele fosse bom pedreiro que mau engenheiro.


    Eu preferia (que o meu "suposto" filho) fosse ... feliz, independentemente de ser bom ou não na sua "arte".
    (já sei que vai soar a frase fácil/feita, mas é mesmo assim que penso)

    Colocado por: j cardosoque não haja confusões, acho que a formação e o conhecimento são o caminho certo


    Pois, mas ai misturas dois conceitos que, pelo menos neste momento e pelo que eu conheço do ensino em Portugal, não estão interligados.
    Formação não implica aquisição conhecimento.
    Ainda ontem estive a discutir isto mesmo.
    Um "amigo" têm muita formação e muito "conhecimento" e tentou com um conceito da sua área colocar-nos num situação de dúvida e ao mesmo tempo chamar-nos de "trengos". Resultado: quando toda a gente ficou de boca aberta eu decidi-me a falar e de uma forma directa fiz-lhe algumas perguntas da sua área (que não é a minha). As suas respostas desmentiam tudo o que (de surpreendente) tinha acabado de dizer.
    Conclusão: ele realmente têm muito conhecimento e muita formação, mas foi tudo assimilado como verdade absoluta e sem qualquer sentido critico. No fundo ele nem sabe o que está a dizer e apenas se limita, tal como um papagaio, a imitar os seus "mestres".


    Colocado por: j cardososomos responsáveis pelos nossos actos e traçamos o nosso próprio caminho.


    Completamente de acordo.

    Divirtam-se,
    João Dias e seu gato psicanalista
  12.  # 14

    Este texto está em primeiro lugar muito bem escrito, o que numa primeira leitura faça, faz com que alguns se tornem imediatamente "prisioneiros" do mesmo, acenando e reconhecendo cada passagem(aconteceu comigo).
    Contudo numa segunda ou terceira passagem, o que verifiquei foi que na verdade, o texto tendo a sua justa quota de factual, terá também a percentagem proporcional de "hipérbole" dos factos, quiçá até certa medida descontextualizada. Este é um artefacto prosaico comum nos autores que conseguem tornar uma cena quotidiana num aventura a altura de "Sinbad", precisamente para captar atenção das audiências, aliás a receita garantida para o sucesso de qualquer espectáculo.
    Portanto, concordando com aos factos intermédios, discordo da mensagem final.
    • becas
    • 17 fevereiro 2012

     # 15

    Devido à profissão, lido com muitíssimos jovens na faixa etária dos 18-vinte e tal anos e, como seria de esperar, encontro de tudo. Vamos ver se consigo sistematizar...
    Primeiro, há que considerar que, aqui na cidade/concelho/distrito os pais de estratos sócio-económicos mais elevados incentivam os filhos a não estudarem na instituição da área onde residem...é um Politécnico e isso é para os mais pobres e/ou os mais burros, os filhos deles têm que ir para uma universidade, seja ela qual for, nem que seja na cidade aqui ao lado. Não enche a boca dizer aos amigos e conhecidos que o filho/a anda no Politécnico. Isto já diz qualquer coisa das ambições e expectativas que muitos pais depositam nos filhos...mais vale parecer que ser...
    Muitos dos jovens com quem lido não têm um suporte familiar muito folgado em termos económicos. Uns passam realmente muitas dificuldades e noto-os preocupados com acabar o curso e começar a trabalhar; outros, bastantes, chegam à escola de carro, frequentam intensivamente bares e restaurantes, têm telemóveis de última geração que trocam frequentemente, bons portáteis, roupas de marca, etc. Não é incomum virem pais à secretaria pedir informações dos filhos - estes enganaram-nos, disseram que andavam no último ano quando nem uma cadeira do 1º ano fizeram, por ex., ou desaparecem completamente das aulas, inventando desculpas para o insucesso. Há filhos que enganam indecentemente os pais. Há pais que vêm, a chorar, implorar para que deixem pagar as propinas em prestações mensais. Há de tudo e não é fácil generalizar.
    Transversal a todos é a falta de hábitos de trabalho e ausência de um sentido de sacrifício que a minha geração (e as anteriores mais ainda) tinha. Mesmo os estudantes "certinhos", que não faltam às aulas, não conseguem passar de um esforço mediano - cansam-se! Lamentam-se (imenso)! E nós lá vamos andando com eles ao colo...

    Agora como mãe. Fui mãe relativamente tarde e as minhas filhas são ainda crianças. O que eu espero para elas? Tudo. Os pais querem tudo para os filhos, sempre.
    A minha grande preocupação, em termos materiais, é ter dinheiro suficiente para lhes dar oportunidades de crescimento e formação. Não é o carro e o telemóvel topo de gama, mas são outras coisas que o dinheito compra: uma formação muito sólida em inglês, por ex., a possibilidade de viajar, talvez um estágio ou uma formação no estrangeiro, a continuidade das atividades extra-curriculares, muitos livros.
    Fico feliz por ver que, para já, são crianças muito pouco materialistas. Estão numa escola pública e assim irão continuar, mas aqui também não há boas escolas privadas (secundária não há nenhuma), nem chega a ser opção. Preocupa-me a adolescência, claro, mas cá estarei (espero) para as acompanhar.
    Concordam com este comentário: ze79
  13.  # 16

    Boas,

    Colocado por: becasNão enche a boca dizer aos amigos e conhecidos que o filho/a anda no Politécnico. Isto já diz qualquer coisa das ambições e expectativas que muitos pais depositam nos filhos...mais vale parecer que ser...


    Toda a nossa sociedade está baseada nesse conceito...

    Colocado por: becasTransversal a todos é a falta de hábitos de trabalho e ausência de um sentido de sacrifício que a minha geração (e as anteriores mais ainda) tinha.

    Colocado por: becasMesmo os estudantes "certinhos", que não faltam às aulas, não conseguem passar de um esforço mediano - cansam-se! Lamentam-se (imenso)! E nós lá vamos andando com eles ao colo...

    Colocado por: becasOs pais querem tudo para os filhos, sempre.
    A minha grande preocupação, em termos materiais, é ter dinheiro suficiente para lhes dar oportunidades de crescimento e formação.


    Vou ser mauzinho e tentar provocar um pouco:
    Então vais tentar levar as tuas filhas para o mesmo caminho dos jovens actuais que criticas acima?

    Divirtam-se,
    João Dias e seu gato psicanalista
  14.  # 17

    ... Não é o carro e o telemóvel topo de gama, mas são outras coisas que o dinheito compra: uma formação muito sólida em inglês, por ex., a possibilidade de viajar, talvez um estágio ou uma formação no estrangeiro, a continuidade das atividades extra-curriculares, muitos livros..

    Não podia estar mais de acordo.
    Concordam com este comentário: ze79
    • becas
    • 17 fevereiro 2012

     # 18

    Colocado por: oxelferEntão vais tentar levar as tuas filhas para o mesmo caminho dos jovens actuais que criticas acima?



    O j cardoso já respondeu, indiretamente. Eu espero ser capaz de lhes dar oportunidades. O trabalho será sempre delas.
    Um exemplo muito simples: quando eu fui para a faculdade, tinha feito o First Certificate numa escola patrocinada pela CM, quase gratuita, e ainda hoje é esse o inglês que sei, insuficiente para as minhas necessidades. Em Coimbra queria imenso ter entrado no British para fazer o Proficiency, mas como era muito caro e a minha mãe não podia pagar (o ordenado de prof. primária tinha que sustentar 2 filhos na universidade, em cidades diferentes) nem sequer lhe pedi.
    Em contrapartida, ao integrar o MCE (sucessor da JOC), tive uma escola magnífica de cidadania, que formou muito do que sou hoje. A primeira vez que fui para o estrangeiro foi para um encontro de verão de jovens europeus na Alemanha, nas vésperas da queda do muro de Berlim. Fomos de comboio, 26 horas até Paris.
    Com todas as facilidades que existem hoje, os meus alunos não são capazes de juntar algus euros (que esturram em noites de discoteca) para ir conhecer Paris ou Londres. É um imobilismo e uma preguiça que me revolta.
    Não são coisas, João. É eu querer para elas o mundo... (pronto, eu sei que isto é piegas, mas como explicar...a maternidade/paternidade está cheia de clichés absurdamente reais).
  15.  # 19

    Boas,

    Colocado por: becasPrimeiro, há que considerar que, aqui na cidade/concelho/distrito os pais de estratos sócio-económicos mais elevados incentivam os filhos a não estudarem na instituição da área onde residem...é um Politécnico e isso é para os mais pobres e/ou os mais burros, os filhos deles têm que ir para uma universidade, seja ela qual for, nem que seja na cidade aqui ao lado.


    Sobre isto tenho uma opinião engraçada, baseada na minha própria experiência:

    (com alguma análises muito "ligeiras")

    Antes de mais:
    Sempre fui um pouco rebelde. Muito sinceramente entrar na faculdade nunca foi um dos meus objectivos. (na altura, não quer dizer que agora seja muito diferente) Desprezava a maior parte daqueles que tinham um curso e se faziam/julgavam superiores a todos os outros. Olhando para trás penso que seria esta a razão para nunca ter posto a entrada na faculdade como um objectivo.
    Acabei por fazer ou querer fazer um curso mais pelo que sentia que significava para os meus pais. Para ser sincero até poderei dizer que seria também uma forma adiar o "vergar a mola".

    Enfim, acabei por "desejar" fazer um curso e na altura sabia bem o que queria (ou pensava que): Matemática aplicada em Coimbra.
    Nessa altura também achava que a fazer o que quer que fosse, que fosse numa Universidade e não num Politécnico qualquer (isso seria para os "menores").
    Como fiz a candidatura num dia a segui a uma noite de muitos copos: acabei por ir parar a engenharia informática no ISEP (enganei-me no código).

    Na altura ideia não me agradou lá muito, mas lá me convenci que tiraria os 3 anos de informática e depois iria para Matemática (o que nunca chegou a acontecer).

    Mas isto tudo para dizer quê?
    Acabei por tirar o meu curso no ISEP e acabei por conhecer muita gente de outros cursos de informática noutras faculdades ou politécnicos.
    A conclusão que eu tiro das diferenças entre o meu curso e um curso de informática numa faculdade (conheci "muito bem" o da UMinho) é que são coisas completamente distintas.
    A "formação" de um politécnico é muito mais prática, dando muito mais experiência aos seus alunos. A "formação" das faculdades é muito mais teórica, dando muito mais conhecimentos aos seus alunos.

    Falando de alunos "médios" de um lado e do outro, quando acabam o curso:
    Não tenho dúvidas que um aluno da UMinho sai do curso com muito mais conhecimento que um aluno do ISEP, no entanto o aluno do ISEP à frente de um computador faz mais e melhor que um aluno da UMinho.

    Eu normalmente dou este exemplo:
    Imaginem que queremos recrutar uma pessoa para programar, qual devemos recrutar?
    Um aluno do ISEP ou da UMinho?
    Depende do que precisarmos.
    - Se eu quero alguém que comece a "produzir" mal entre na empresa (imaginemos um projecto que deve estar pronto em 6 meses), contrato um aluno do ISEP.
    - Se eu quero alguém que têm de passar por um processo de aprendizagem, que precisa de ter uma base de conhecimentos muito sólida e que só é pretendido que comece a "produzir" daqui a um ano, contrato um aluno da UMinho.

    No fundo, na minha opinião, os alunos do ISEP saem de lá com muito mais traquejo à frente de um computador, mas os alunos da UMinho, apesar da sua falta de traquejo, têm uma margem de progressão muito maior que os alunos do ISEP.

    Divirtam-se,
    João Dias e seu gato psicanalista

    PS: podem bater à vontade ;)
  16.  # 20

    ... (pronto, eu sei que isto é piegas, mas como explicar...a maternidade/paternidade está cheia de clichés absurdamente reais).

    No meio disto tudo há coisas que não podem ser ignoradas: não é possível racionalizar por completo o sentido maternal/paternal. É visceral, qualquer pai o sabe sente. É algo (de bom, acho eu) que herdamos da nossa natureza animal.
    Concordam com este comentário: becas
 
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