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  1.  # 341

    O conceito de Lugar
    (Em Arquitectura)
    Luiz Augusto dos Reis-Alves

    Muito se escreve sobre os conceitos do espaço e do lugar. O que é o “espaço”? O que é o “lugar”? são perguntas freqüentes de pesquisadores das mais diversas áreas e abordagens teóricas em diferentes períodos históricos.

    Existe diferença entre o espaço e o lugar? Se não existe diferença, todo espaço pode ser considerado um lugar? Mas se ela existe entre os dois conceitos, o que os diferem? Neste contexto, há diferentes tipos de lugares? Estas inquietações nos servirão como diretrizes para o alcance dos nossos objetivos neste artigo, quais sejam: definição do conceito de lugar e a determinação da sua estrutura.

    Algumas reflexões sobre os conceitos do espaço e do lugar

    Arquitetos, ao se questionarem sobre o que é a Arquitetura, acabaram por refletir sobre a questão do espaço. Zevi afirma que as quatro fachadas de um edifício constituem apenas a caixa dentro da qual está encerrada a jóia arquitetônica, isto é, o espaço. O autor coloca como o protagonista da arquitetura o espaço, o vazio. O referido autor considera o espaço e o vazio como sinônimos. Para ele, a arquitetura não provém de um conjunto de larguras, comprimentos e alturas dos elementos construtivos que encerram o espaço, mas precisamente deste vazio, do espaço encerrado, do espaço interior em que os homens andam e vivem. A relação entre a Arquitetura e o espaço é retomada também em Coelho Netto , que afirma que a Arquitetura não é somente a organização do espaço, mas também é o ato de criá-lo. Oliveira em seu pensar, por uma via fenomenológica, sobre o que é a arquitetura, a encontra como a […] “instauração de uma espacialidade no mundo por um corpo polarizado por suas tarefas” . Segundo a autora, a arquitetura por ser atividade transformadora e ordenadora, podemos compará-la a um jogo dado por meio de atos primordiais de ordenar e construir, atos como: adicionar-subtrair, alternar, antepor-pospor, apoiar, etc.

    Mas, qual é a definição deste principal elemento com que a arquitetura trabalha e que tanto referencia?

    Para responder ao nosso primeiro questionamento, se existe diferença entre o espaço e o lugar, recorremos às etimologias dos cognatos. Segundo a filósofa Chauí , na escrita alfabética ou na fonética, não se representa apenas uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se transcreve. Em Cunha e Ferreira encontramos a mesma definição para o termo espaço (do latim spătĭum), ele é a “distância entre dois pontos, ou a área ou o volume entre limites determinados” . Comparando com a do lugar (do latim locālis, de locus), este é o “espaço ocupado, localidade, cargo, posição” . Em Ferreira, encontramos como acréscimo para a definição do lugar, “1. Espaço ocupado; sítio. 2. Espaço. 3. Sítio ou ponto referido a um fato. 4. Esfera, ambiente. 5. Povoação, localidade, região ou país”.

    Segundo as definições e as origens das duas palavras, entende-se como relação entre os dois conceitos que o lugar é o espaço ocupado, ou seja, habitado, uma vez que uma de suas definições sugere sentido de povoado, região e país. O termo habitado, de habitar, neste contexto, acrescenta à idéia de espaço um novo elemento, o homem. O espaço ganha significado e valor em razão da simples presença do homem, seja para acomodá-lo fisicamente, como o seu lar, seja para servir como palco para as suas atividades.

    A palavra habitar tem como definição na língua portuguesa: “1. Ocupar como residência; residir. 2. Tornar habitado. 3. Ter hábitat em. T.c. 4. Habitar (1). T.i. 5. Morar (com alguém)” . Residir apresenta como algumas de suas definições: “2. Acontecer; estar presente; […] 3. Achar-se; ser; estar” . Estar presente, achar-se, ser e estar, neste contexto, referem-se ao homem e na sua capacidade de habitar. Para nós, o homem constrói para habitar e não habita para construir.

    Tuan discursa que o significado de espaço freqüentemente se funde com o de lugar, uma vez que as duas categorias não podem ser compreendidas uma sem a outra. Segundo ele, o que começa como um espaço indiferenciado, transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor. “O espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado” . “Quando o espaço nos é inteiramente familiar, torna-se lugar” . Tuan define os lugares como “centros aos quais atribuímos valor e onde são satisfeitas as necessidades biológicas de comida, água, descanso e procriação”.

    Através da dimensão temporal é que poderemos então conhecer um espaço, definindo-o e dotando-o de valor. Já dizia Zevi que além das três dimensões da perspectiva, e conseqüentemente da arquitetura, existia uma quarta. “Existe […] outro elemento além das três dimensões tradicionais, e é precisamente o deslocamento sucessivo do ângulo visual. Assim designou-se o tempo, quarta dimensão” .

    Tuan relaciona o Tempo e o Lugar de três formas: adquirimos afeição a um lugar em função do tempo vivido nele; o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento, ou seja, o lugar seria a parada para o descanso, para a procriação e para a defesa; e por último, o lugar seria o tempo tornado visível, isto é, o lugar como lembrança de tempos passados, pertencente à memória. De modo semelhante, diz o antropólogo Augé: “Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar” . Augé defende a hipótese que a supermodernidade é produtora de não-lugares, e que eles “são diametralmente opostos ao lar, à residência, ao espaço personalizado. É representado pelos espaços públicos de rápida circulação, como aeroportos, rodoviárias, estações de metrô, e pelos meios de transporte – mas também pelas grandes cadeias de hotéis e supermercados” .

    Lugares que induzam a um rápido movimento associado a uma não personalização do espaço e do indivíduo seriam para o antropólogo um não-lugar. “O espaço do não-lugar não cria nem identidade singular nem relação, mas sim solidão e similitude” . O autor baseia-se em Michel de Certeau ao referir-se ao não-lugar, este seria uma espécie de qualidade negativa do lugar, de uma ausência do lugar em si mesmo.

    Na realidade, com a definição de Tuan acerca do Lugar, este pode existir em muitas escalas e modos de ser diferentes. No extremo de uma escala, uma sala de aula preferida é um lugar inserido num lugar maior que seria a sua escola, em outro, toda uma cidade.

    O geógrafo nos indica duas características válidas para o nosso estudo, as quais compõem o lugar, o valor a ele atribuído e o tempo, que seria o responsável pelas experiências vividas.

    O arquiteto Norberg-Schulz busca na filosofia grega uma reflexão sobre o conceito de lugar. Para os gregos cada lugar era regido por um deus, genius loci, ou o espírito do lugar. Os homens, a princípio, não conceberam os deuses como divindades zeladoras de toda a raça humana; pelo contrário, acreditavam que cada divindade pertencesse a um determinado povo e localidade. Nas religiões que vinculam o povo firmemente ao lugar, as divindades parecem ter em comum as características do lugar, conferindo a sua personalidade a este. Não têm poderes além dos arredores de seu domicílio particular; recompensam e protegem o seu próprio povo, mas fazem mal aos estrangeiros.

    Na realidade, este procedimento é uma tentativa de “antropomorfizar” o espaço, isto é, transformar o espaço “selvagem” em um lugar, fundando um microcosmos, um imago mundi. Eliade reflete que o sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no mundo. Para o homem religioso, o espaço não é homogêneo, ele apresenta roturas. Sendo assim, as sociedades antigas compreendiam o espaço qualificando-o nessas duas formas, o primeiro é o território habitado, é o mundo, o nosso mundo, é conhecido e sagrado (Cosmos), e o segundo, o espaço indeterminado que cerca o primeiro, é um outro mundo, é desconhecido e profano, é o Caos, habitado por figuras estranhas e monstros. Nenhum “Mundo” pode nascer no Caos da homogeneidade e da relatividade do espaço profano. Conferindo um caráter ao lugar, através do genius loci, o homem colocava-se em posição central no universo. Este exercício não era mais do que a repetição de um ato primordial: trabalhando a terra desconhecida, realiza novamente o ato dos deuses que organizaram o Caos, dando-lhe uma estrutura, formas e normas, interpretando-o para nele poder habitar.

    Norberg-Schulz afirma que o lugar é mais do que uma localização geográfica, ou seja, mais do que um simples espaço. “O lugar é a concreta manifestação do habitar humano”. O autor coloca que o mundo, como lugar, é constituído por elementos que transmitem significados. Em sua insatisfação por uma definição sobre o que é o lugar, ele a busca novamente na filosofia, mais precisamente no filósofo existencialista Heidegger. Este declara que o homem para ser capaz de habitar sobre a terra deve tomar consciência que habita entre dois mundos dicotômicos, o céu e a terra. “sobre a terra já significa sob o céu”, diz Heidegger. Por isso cabe ao homem não somente compreendê-los separadamente, mas, sobretudo, entender a relação existente entre eles.

    “Terra é o detentor servente, florido e frutífero, dispersando-se em rocha e água, erguendo-se em planta e animal […]. O céu é o caminho abobadado do Sol, o curso das mudanças lunares, o brilho das estrelas, as estações sazonais, a luz e o crepúsculo do dia, a escuridão e o brilho da noite, a bonança e a não-bonança do clima, as nuvens flutuantes e o azul profundo do éter”.

    O homem habita entre esses dois mundos completamente opostos, o primeiro tangível e acessível, o segundo não-tangível e inacessível. Mas para Norberg-Schulz, o habitar significa muito mais do que o abrigo, habitar é sinônimo do que ele chama de suporte existencial. O suporte existencial (que segundo ele seria o objetivo da arquitetura) é conferido ao homem através da relação entre este e o seu meio através da percepção e do simbolismo. O autor introduz o conceito de espaço existencial, que “não é um termo lógico-matemático, mas compreende as relações básicas entre o homem e o seu meio” , sendo dividido em Genius Loci em dois elementos complementares: o espaço (ou seja, a terra) e o caráter (ou seja, o céu), o que o autor entende, respectivamente, como a orientação e a identificação. Somente através destes dois elementos é que o homem terá o seu “suporte existencial”, ou seja, o seu Lugar sobre a terra é construído, o Caos é transformado em Cosmos. Na realidade, o arquiteto baseia-se na definição adotada por Heidegger; para este último, “O modo no qual você está e eu estou, o modo no qual nós humanos estamos sobre a terra, é habitar”.

    “Nós temos usado a palavra ‘habitar’ para indicar a relação total homem-meio. […] Quando o homem habita, ele está simultaneamente locado no espaço e exposto a um certo caráter ambiental. As duas funções psicológicas envolvidas, podem ser chamadas “orientação” e “identificação”. Para ganhar o suporte existencial o homem tem que ser capaz de orientar-se; ele tem que saber onde ele está. Mas também ele tem que identificar-se com o meio, isto é, ele tem que saber como ele está num certo lugar”.

    Norberg-Schulz conclui que a estrutura de um Lugar, seja ele natural ou construído, é composta por duas categorias: o espaço (terra) e o caráter (céu), que sendo analisadas pela percepção e pelo simbolismo permitirão o suporte existencial, ou seja, a capacidade de habitar, ao homem.

    O espaço (terra), nesta estruturação, é o elemento mais estável, embora algumas de suas propriedades sejam suscetíveis a mudanças no decorrer do ano. O caráter (céu), o mais instável, é uma função do tempo, mudando com as estações sazonais, com o curso temporal diário e do clima. Segundo o autor, há cinco modos básicos para compreender o aspecto do lugar, natural ou construído, sejam eles: Elementos e Ordem cósmica (dados pelo elemento espaço: terra), Caráter, Luz e Tempo (dados pelo elemento caráter: céu). Todos esses modos são analisados segundo a percepção e o simbolismo.

    Na análise do elemento espaço (terra), Norberg-Schulz o analisa através de suas características morfológicas, tais como: elementos constituintes (descrição e caracterização); relação interior x exterior (relação entre o lugar e o seu entorno); extensão (topografia); limites (fechamentos horizontais e os verticais, forma e volume do espaço); escala/proporção (macro, média, micro); direções (orientação solar, sentidos horizontal e vertical) e ritmo (tempo, caminhos, centro e domínio).

    O elemento caráter (céu) é analisado basicamente pelo autor por dois aspectos: (a) constituição qualitativa (qualidade da luz, da cor e classificação) e (b) constituição quantitativa (quantidade da luz).

    Porém, em seu discurso acerca do elemento caráter (céu), é possível identificar características deste pertencentes não somente ao céu, propriamente dito, mas também à caracterização climática do ambiente. Ao comparar a descrição de dois ambientes distintos com o propósito de apontar diferenças quanto ao genius loci de cada um, é possível destacar alguns fatores e elementos climáticos que compõem o lugar.

    “A floresta nórdica […] O chão é raramente contínuo […] tem uma variedade de relevos; pedras e depressões, arvoredos e clareiras, arbustos e tufos […].

    O céu é dificilmente experienciado como uma hemisfera global, pois ele é espremido por entre os contornos das árvores e pedras, e muitas vezes modificado pelas nuvens.

    O Sol é relativamente baixo e cria uma variedade de spots de luz e sombra, as nuvens e vegetação funcionam como “filtros”. A água está sempre presente como um elemento dinâmico […].

    A qualidade do ar está em constante movimento, da neblina úmida até o refrescante ozônio”.

    Comparando com a descrição da paisagem do deserto do Saara, temos:

    “A infinita extensão da monotonia do chão árido; a imensa abóbada que abraça o céu sem nuvens […] o Sol escaldante que quase dá uma luz sem sombra; a secura, o ar quente […] O pôr-do-Sol e o amanhecer conectam dia e noite sem os efeitos transacionais da luz, e criam um simples ritmo temporal”.

    Na descrição do ambiente da floresta nórdica, o relevo, o céu modificado por nuvens, o Sol baixo, a qualidade da luz e da sombra, a vegetação, a água, a qualidade do ar e a neblina são totalmente diferentes da paisagem desértica, com o seu solo árido, a abóbada celeste sem nuvens, o Sol tostante, a secura do ar quente e a ausência dos efeitos transacionais da luz. Estes elementos destacados são definidos pela localização geográfica desses pontos em relação ao planeta Terra, em termos da latitude, altitude, longitude, proximidade ou não do mar, a relação entre as massas de água e terra, enfim, são os elementos e fatores que configuram o clima de um local. Desta forma, implícito no trabalho do arquiteto Norberg-Schulz, podemos dizer que o suporte existencial não seria conferido ao homem somente pela percepção e simbolismo do lugar; inseridas na percepção estariam as características climáticas da região.

    Por uma nova construção do lugar

    Com base em nossas reflexões, entendemos o conceito de Lugar em concordância com o arquiteto Norberg-Schulz, ou seja, “O lugar é a concreta manifestação do habitar humano”. Como diferenciação entre o espaço e o lugar, recorremos às etimologias dos cognatos. Procuramos aqui adotar a postura dos pesquisadores franceses ao recorrer às etimologias dos termos empregados. Espaço (do latim spătĭum) é a “distância entre dois pontos, ou a área ou o volume entre limites determinados”, e o Lugar (do latim locālis, de locus) é o “espaço ocupado”. O espaço só se torna um lugar no momento em que ele é ocupado pelo homem, fisica ou simbolicamente.

    Dentro deste universo de lugares, existem tipos de lugares qualitativamente diferentes. Tomando como exemplo a casa, que para Bachelard “é o nosso canto do mundo. […] abriga o devaneio, […] protege o sonhador, […] permite sonhar em paz”, ela seria o lugar primeiro do homem, o seu lugar de referência. Mesmo nela, podemos encontrar um lugar preferido, onde gostamos de ficar, o nosso canto, como diz ainda Bachelard: “não encontramos nas próprias casas redutos e cantos onde gostamos de nos encolher”. Ocorre ainda, tipos de lugares que possuem uma qualidade negativa, valores negativos, que segundo Certeau seriam os não-lugares, uma vez que são lugares que não se definem nem como identitário, relacional e histórico.

    Quais elementos participam da construção de um Lugar?, seria o último de nossos questionamentos. Um espaço possui seus elementos físicos e estes têm uma relação entre si, mesmo que aleatória. Pensemos em uma paisagem. Eis o cenário: ela está lá, com todos os seus elementos, o céu, a terra, o mar, a vegetação, as montanhas, flores, etc., ou seja, todos os seus elementos físicos relacionados espacialmente. O clima também está presente, o Sol forte, as nuvens, as chuvas, etc., enfim, todos os elementos e fatores climáticos globais e locais. Contudo, este espaço não pode ser definido como um lugar, pois ele não está ocupado, não está habitado pelo homem. O clima e os elementos daquele espaço estão interagindo, porém ele não é um lugar, mas sim apenas um espaço. No momento em que o homem nele é inserido, esta paisagem é transformada em um Lugar. A simples presença do homem modifica e qualifica-a.

    Uma vez que o lugar é o espaço dotado de valor pelo homem, e este está contemplado naquele, em presença física e/ou simbólica, propomos como estrutura para o lugar a intersecção de três mundos, ou atributos: os espaciais, os ambientais e os humanos. Transitando nas esferas bioclimática e humana está o elemento tempo. Sejam alguns deles:

    Somente com a interrelação dessas três (3) esferas, um espaço torna-se um lugar. Sem os atributos humanos, o espaço não é um lugar, mas apenas um local onde todos os atributos espaciais e os ambientais agem, porém sem a interação humana, sem os valores humanos.

    Os atributos espaciais se referem às questões relativas ao espaço tridimensional, em termos de morfologia. A forma, as áreas, o volume, os planos constituintes e a proporção entre as suas dimensões, os elementos que dele fazem parte, as relações de configuração espacial que se fazem presentes e as características físicas dos planos e dos elementos do espaço quanto à cor e à textura.

    Os ambientais dizem respeito às características climáticas do espaço. A latitude, longitude e a altitude onde se localiza a região, a quantidade e a qualidade da luz natural, a caracterização do céu, a orientação solar, a incidência eólica, a temperatura do ar, a umidade do ar, as precipitações, os odores naturais, os sons naturais e etc.

    Por último, os atributos humanos são a interação do homem neste universo espacial, influenciando, modificando e concedendo valores aos atributos espaciais e os ambientais. Presente fisicamente ou simbolicamente, tem-se uma relação de escala entre o homem e o espaço que o circunda. À medida que se movimenta, seu corpo explora o ambiente espacial, o usufrui para as suas atividades e estabelece uma comunicação perceptiva. Concede valores e significados, apropria-se do espaço e o guarda em sua memória.

    O elemento tempo exerce influência sobre os atributos ambientais e os humanos. Por exemplo, ao longo do dia o ambiente visual de um espaço se modifica em razão da variação da luz; o movimento do corpo e a percepção cinestésica são regidos também em função do espaço disponível e percorrido (física, visual, acusticamente, e etc) e do tempo necessário para a execução destas tarefas; e etc.

    Quanto à essência (sentido originário) do lugar, Norberg-Schulz informa-nos que os gregos entendiam que cada lugar possuía a sua identidade, o seu stabilitas loci.

    Com a inauguração da fenomenologia por Husserl, este a chama de eidos, que é aquilo “que se encontra no ser autárquico de um indivíduo constituindo o que ele é”, ou seja, seria a idéia fundamental deste ser. Esta definição é reforçada pela etimologia do cognato, cuja origem provém do latim: “essentĭa, a natureza de qualquer coisa”. Ser a natureza de algo significa o que de mais puro possamos obter deste ser.

    “Imaginamos a essência como uma espécie de estrutura inata dos seres, elemento indecomponível e incorruptível, substância plena impermeável às vicissitudes da experiência. Para sabê-la, precisaríamos despi-la dos acidentes que a existência lhe conferiu: estes véus que a encobrem, os adereços, as relações supérfluas, todas essas coisas que lhe retiram a leveza de uma idéia sem mácula. Conseguimos isso procedendo a combinações, subtrações, acréscimos, fazendo variar tudo aquilo que aparentemente lhe pertence, para descobrirmos o que não é mais aparência, mas, essência: um invariante”.

    Falar da essência não significa devotar-se a uma “compreensão mística” que permitiria a somente alguns iniciados ver o que outros não vêem, mas, ao contrário, ressaltar que o sentido de um fenômeno lhe é imanente e, portanto, que existe sempre nele e lhe é inseparável.

    Cada objeto que percebemos tem uma essência: árvore, mesa, casa, etc., e também as qualidades que atribuímos a estes objetos: verde, rugoso, confortável, etc. Mas a essência não é a coisa ou a qualidade e, no caso da Arquitetura, a tipologia arquitetônica; ela é o ser da coisa ou da qualidade. Dartigues exemplifica-nos que se tomarmos a IX Sinfonia de Beethoven, a sua essência persistiria mesmo se todas as partituras, orquestras e ouvintes desaparecessem para sempre. Ela persistiria, não como uma realidade, como um fato, mas como pura possibilidade. É essa pura possibilidade que me permite nomeá-la e distingui-la de imediato de toda outra sinfonia.

    A intuição da essência se distingue da percepção do fato: ela é a visão do sentido ideal que atribuímos ao fato materialmente percebido e que nos permite identificá-lo. [...]

    Se a essência permite identificar um fenômeno, é porque ela é sempre idêntica a si própria, não importando as circunstâncias contingentes de sua realização. [...] Esta identidade da essência consigo própria, portanto esta impossibilidade de ser outra coisa que o que é, se traduz por seu caráter de necessidade que se opõe à ‘facticidade’, isto é, ao caráter de fato, aleatório, de sua manifestação”.

    Assim como ao riscar sem o auxílio do compasso um menino dirá que a forma ligeiramente oval em seu caderno é um círculo, por muitos que sejam os desenhos de triângulos sobre os quadros-negros de todas as escolas do mundo, é sempre do triângulo que se trata, podemos dizer que, por numerosos que sejam os tempos e os espaços em que se fala do lugar, é pela impossibilidade de ser outra coisa, que é deste lugar que se refere, e a sua essência nos permite identificá-lo, nomeá-lo e distingui-lo de imediato de todo e qualquer outro lugar.

    Fonte : http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/225
  2.  # 342

    Colocado por: CMartinO Segundo Desafio : A Casa do Penedo.

    O desafio a que nos propunhamos, e que o Castela não aprecia assim muito por - achar :o) - serem quase exercícios infantis, :o) levaram a que se se debruçasse sobre a casa do penedo.





    Pessoalmente também não acho a casa nada feia nem chocante, é bonita e aconchegante, apesar de, e pelos vistos, ser considerada a casa mais ou uma das mais bizarras casas em todo o mundo..já eu magicava que seria uma construção antiquíssima, aproveitando os pedregulhos propositadamente pois que seria certamente uma segurança acrescida contra ataques fortuitos de ferozes animais ou de gente selvagem..Sim, Flica, Fortaleza! Abrigo! E claro por ser prático também usar os pedregulhos, em vez de afinal mandar vir materiais de construção carregados por burros de carroça, ou vacas, ou algo assim.
    Afinal, trata-se como vimos nos posts acima, duma casa cuja construção tem início em 1974, nem sequer é velha, para habitação de férias.
    Cai o imaginário, o meu e o da Flica pelo menos, mas levanta-se uma questão tão mais interessante e gostaria de saber as vossas opiniões: Porque não se considera esta casa feia? Versus, imaginem qualquer casa de semelhante formato mas, - sei lá, para fazermos a comparação(não sei se possível mas penso que sim como aproximação..tentativa e erro) - em materiais de construção considerados mais "normais" actualmente?

    Porque não me choca nada esta casa? É por ser típica como diz o Castela ?
    O típico faz sempre algo bonito, ou pelo menos algo que não nos é considerado como sendo feio, na arquitectura ?

    E o que é o típico, na Arquitectura ? (e lembrando-me de novo dum arquitecto do fórum que há tempos dizia que não existe a casa portuguesa, por exemplo?)..A casa portuguesa é típica. E é o quê a Casa Portuguesa, e o típico?! Confusão!
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    Se calhar pensava que passava despercebido o PandR! Ora pois não queria mais nada !

    Colocado por: PandRCasa dos Calhaus!

    Post #103

    Olhando apenas para este fotografia e mais nenhuma desta casa, começo por opinar que houve muita poupança na mesma. Poupança na arquitetura, poupança na engenharia e poupança na construção. Quatro paredes (admitindo que estão mais 2 nos 2 lados opostos ás visiveis a concluir pelas 4 águas do telhado) assentes em 4 pilares (digo, calhaus) principais (admitindo que nos outros 2 extremos da casa estão outros 2 a segurar o telhado da mesma. 1 porta e 4 janelas, poupança de novo.

    Gosto!

    Era bom saber a data em que foi construida e os motivos que levaram à construção da mesma.

    Útil!

    Fogão a lenha no interior que deve de dar um confortto nos dias de frio (a zona é ventosa e fria).

    Jardim natural.

    Não é para deitar abaixo, não faz sentido construir alguma coisa para a substituir, está também original. E remodelar apenas o interior, por fora como já disse:

    Gosto!
  3.  # 343

    Olhando apenas para este fotografia e mais nenhuma desta casa, começo por opinar que houve muita poupança na mesma. Poupança na arquitetura, poupança na engenharia e poupança na construção. Quatro paredes (admitindo que estão mais 2 nos 2 lados opostos ás visiveis a concluir pelas 4 águas do telhado) assentes em 4 pilares (digo, calhaus) principais (admitindo que nos outros 2 extremos da casa estão outros 2 a segurar o telhado da mesma. 1 porta e 4 janelas, poupança de novo.


    O que me faz pensar, será que actualmente (e não é que a casa seja antiga - pois já vimos que a sua construção até é relativamente recente, dos anos 70); e dizia eu, o que me leva a pensar..se não nos dispersámos ou nos perdemos um pouco hoje em dia, do que é uma casa afinal ?

    O que é uma casa, é simplesmente isso: 4 paredes, telhado, pilares, portas, janelas.. um
    Fogão a lenha no interior que deve de dar um conforto nos dias de frio (a zona é ventosa e fria).
    Jardim natural.


    E mutíssimo - mutiíssimo importante acima de tudo:
    Não é para deitar abaixo, não faz sentido construir alguma coisa para a substituir, está também original.


    São estes os pressupostos - pergunto muito sinceramente - com base nos quais se constrói uma casa ?

    Quando começamos a desenhar no nosso pensamento a construção da nossa casa sabemos qual a primeira semente que brota no nosso íntimo e como se germina? O que leva duma ponta à outra: qual o caminho que se leva entre o princípio de tudo, o pensamento de construir a nossa casa, o caminho que se percorre no pensamento, e finalmente, a casa após efectivamente construída.

    Há responsabilidade nesse pensamento, ou é leviano e frívolo? É impulsividade ou ponderada reflexão.. Não sei. Não sei! Construímos para todo o sempre ? É eterna a nossa construção ou é impulsionada por uma excitação efémera e daí resultar também uma arquitectura efémera, como todo o restante numa sociedade de consumo como a nossa ?
  4.  # 344

    A MÁQUINA DE HABITAR

    Colocado por: marco1
    especificamente, a arquitetura teve imensas fases e é sintomático a sua relação com as fases da sociedade em várias épocas e a correlação da sua decadência com um excesso de decoração como resposta á estagnação de ideias. atenção que decadência pode não ser algo depreciativo visto que por exemplo se traduz por vezes em coisas fantásticas. a arquitetura moderna ( não me refiro á contemporânea) nos seus primórdios foi sobretudo uma atitude de rutura e a busca na racionalidade de novas respostas á realidade. algumas frases até ficaram " máquina de habitar".


    Colocado por CMartin: Achei muito interessante a "máquina de habitar", é máquina pela funcionalidade, penso ? Vou pesquisar não conhecia de todo o conceito.
  5.  # 345

    LE CORBUSIER E A MÁQUINA DE HABITAR
    No ano em que se assinala o cinquentenário da morte deste arquiteto suíço, que se naturalizou francês, importa lembrar o trabalho que desenvolveu na área da arquitetura, num tempo em que a vida moderna obrigava a uma mudança de comportamentos e de necessidades das pessoas, muitas delas, vindas do campo para as cidades, para trabalhar em fábricas.

    A resposta a este problema passou por um estudo sobre os comportamentos destas pessoas que chegavam, bem como estudos de ergonomia e de proporções com base nas medidas do corpo humano para aplicação nos espaços e equipamento, e o resultado encontra-se descrito no seu livro “O Modulor”. Desta forma, as habitações coletivas que vai desenhar, apresentam normas padronizadas de modo a abrigar um maior numero de pessoas no menor espaço possível, sem descuidar, no entanto, a higiene, a salubridade, a funcionalidade e o conforto.

    A Unidade de Habitação de Marselha (1947-1952) foi um exemplo de habitação social para alojar 1800 pessoas, em áreas mínimas habitáveis. O edifício de 23 andares dispõe de um restaurante, lojas e, na cobertura, um infantário, um ginásio e uma piscina.

    É nesta lógica que o arquiteto se refere às casas como “máquinas de habitar” embora os novos tempos, e com eles a civilização maquinista que o Futurismo defendeu e que tanto impressionaram Le Corbusier, contribuíssem para que tudo fosse visto como uma máquina. O escritor Paul Valéry referiu-se aos livros como sendo “máquinas de ler”, “um quadro é uma máquina para nos comover” disse o pintor Ozenfant, “a ideia é a máquina de fazer arte” concluiu Marcel Duchamp, entre tantas outras definições.

    Fazendo igualmente a apologia de novos materiais e da cidade nova, e com um espírito prático sem sentimentalismos fantasiosos, vai debruçar-se sobre um trabalho do qual o rigor e a clareza formal serão a sua marca.

    A encomenda de uma construção de habitações para operários e respetivas famílias, de um industrial francês, resultou num conjunto de casas despojadas de decoração, com telhados planos e compridas janelas. Corbusier parece ter comentado, com orgulho, a ausência de pormenores e de referências rurais. Porém, a reação dos habitantes não correspondeu ao que foi idealizado e após muitas horas de trabalho, fechados em fábricas, o que os operários pretendiam era tudo menos permanecerem em espaços cúbicos fechados, longe das suas antigas casas e, principalmente, do seu bocado de terra. Descontentes, e com o passar do tempo, iniciam alterações ao projeto do grande arquiteto: inclinam os telhados, de planos passam a inclinados, as janelas passam a ter persianas e intervêm também no exterior, num pequeno espaço ajardinado, em frente da casa, decorando-o com gnomos e fontes, diferenciando-se as casas de acordo com os gostos de quem a habita.

    Em 1926 escreve “Os Cinco Pontos da Nova Arquitetura” onde defende plantas de andar totalmente livres, de acordo com o sistema estrutural que desenvolveu “Dom-ino”, em 1914, onde reduz a expressão arquitetónica ao mínimo, partindo de um esqueleto em betão armado fabricado com elementos padrão combináveis entre si, o que permite uma grande diversidade no agrupamento das casas.

    Os outros pontos da Nova Arquitetura eram a utilização de tetos planos com terraços e jardins na cobertura; a construção apoiada em finos pilares, elevando-a do solo e conferindo-lhe elegância e, ainda, com a vantagem de evitar a humidade no edifício e de aproveitar esse espaço para estacionamento; fachadas com composição livre e janelas rasgadas em longos retângulos horizontais.

    Estes princípios foram aplicados na construção da Unidade de Habitação de Marselha bem como em várias mansões entre as quais a da família Savoye. Diferente do que era convencional até então, a casa Savoye, situada em França, emerge austera, numa clareira rodeada por um denso arvoredo, impondo a brancura da sua volumetria retangular.

    “A porta da frente, feita de aço, abre-se para um átrio tão limpo, claro e despojado como uma sala de operações. No chão há mosaicos, no teto lâmpadas nuas e no meio do átrio uma bacia que convida os convidados a lavarem-se das impurezas do mundo exterior.”

    A casa apresentava poucas peças de decoração, no entanto, o trabalho manual das paredes, feito por artesãos, com uma argamassa importada da Suíça, e por isso muito dispendiosa, assemelhava-se a delicadas rendas, proporcionando um sentimento artístico a quem as contemplava.

    O mobiliário era muito reduzido e nem quando a proprietária, a senhora Savoye, manifestou vontade de ter um cadeirão e dois sofás na sala Le Corbusier cedeu, antes, reagiu com alguma mágoa, afirmando que “a vida doméstica está hoje a ser paralisada pela ideia deplorável de que temos de ter mobília (…) Essa ideia deve ser extirpada e substituída pela de equipamento”.

    O telhado plano que insistiu em construir, apesar da pouca vontade do proprietário, o senhor Savoye, apresentou infiltrações a ponto do filho do casal contrair uma infeção respiratória e, depois, uma pneumonia, e quando, numa carta, a senhora Savoye se queixa da água que entra em casa, quando chove, e que a parede da garagem fica completamente ensopada, Le Corbusier promete resolver o problema rapidamente, não sem antes informar que o design do telhado plano tinha sido elogiado pelos críticos de arquitetura de todo o mundo.

    “Após inúmeras exigências da minha parte, concordou finalmente que esta casa que construiu em 1929 é inabitável” refere a senhora Savoye, em 1937. “Está em causa a sua responsabilidade e não tenho de ser eu a pagar a conta. Espero sinceramente não ter de recorrer aos tribunais” prossegue a queixosa.

    De facto, não houve queixa em tribunal porque a segunda guerra mundial obrigou a família a ausentar-se do país, terminando assim a resolução do problema.

    Outro projeto interessante mas que não passou do papel, foi a ideia de urbanismo de uma cidade radiosa “ville radieuse” em que o arquiteto delineou cidades revelando preocupação e cuidado quanto à diferenciação das zonas de trabalho das de lazer e de residência, e distingue três tipologias de edifício: arranha-céus, prédios de seis andares e imóveis-villa rodeados de jardins e terrenos arborizados.

    Apesar do projeto nunca ter sido concretizado, contribuiu para influenciar a arquitetura e o planeamento urbano do séc. XX em obras como o projeto da cidade de Chandigarh, na Índia ou o projeto de Lúcio Costa e Niemeyer para a cidade de Brasilia, entre outras.

    A igreja de Notre-Dame-du-Haut, em Romchamp, França, uma das últimas obras, assinala uma viragem no percurso do arquiteto. O jogo escultórico de volumes, pontuado por pequenas aberturas, quebra, de alguma maneira, o racionalismo das formas que sempre defendeu e é exemplo da sua capacidade de se renovar e inventar.

    Ana Guerreiro
    Fonte: https://bibliblogue.wordpress.com/2015/11/02/arte-e-sentidos-le-corbusier-a-casa-e-uma-maquina-de-habitar-por-ana-guerreiro/
  6.  # 346

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    Rare film of Le Corbusier in his Paris home and studio:
    https://youtu.be/2qtsL3o5W_U

    (PS. Como se coloca videos dos youtube com a imagem, alguém me diz ? Obrigada)
  7.  # 347

    parece tudo muito bom, mas isso não é em Portugal pois não ?
  8.  # 348

    Também gostei muito mas duvido que seja cá.
  9.  # 349

    E qual é a empresa já agora estou curioso
  10.  # 350

    Anonimo09092021
    Obrigada.
    Finalmente vejo no fórum uma casa que me faz sentir em paz. É bela. A beleza traz làgrimas aos olhos :o)
    Sem um único dedo a apontar, a qualquer uma delas.
    Estou muito feliz. Bom gosto.
    Parabéns.
    Tem que me mostrar a sua.
    Cumprimentos.
  11.  # 351

    Bibliografia de interesse:
    Heidegger, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70, 2008.
    Eco, Umberto. História do Feio. Algés: Difel, 2007.
    Deleuze, Gilles. Francis Bacon – Lógica da Sensação. Orfeu Negro, 2011.
    ... cito três.

    Boa noite, passeei por este tópico com alguma curiosidade. Reconheço o esforço, mas também uma inclinação tendenciosa a apresentar excertos que corroborem a sua noção de gosto e da sua experiência daquilo que denomina como o "je ne sais quoi", partindo do princípio de que a experiência estética pode ser limitada dentro de uma série de parâmetros absolutos, o que não é verdade. Não está subordinada nem mesmo ao "belo" ou ao "gosto".

    ... eu gosto de salgados outros de agridoce.
    O gosto é discutível e ... relativo. E é deste modo que quero chegar à arquitetura, como arquitetura das sensações. Aqui na perspectiva de um cliente que procura uma arquitetura aprazivel às suas sensações, ao seu imaginário.

    Concordo consigo e com tantos outros que consideraram o estudo prévio da moradia do PandR aberrante, mas só na medida em que as opções não estão devidamente justificadas. Não foi considerada a possibilidade conceptual da incoerência como tema arquitetónico, ainda que pudesse ser justamente a incoerência a expressão pretendida. Para os interiores procuraram-se algumas justificações e argumentos, como no caso do duplo pé direito, que foram apresentados e contra-argumentados, mas no final prevalece o gosto muito particular do cliente. Não há mal nenhum nisso, mesmo que seja considerado aqui pela maioria "mau gosto",. Já o mesmo não pode dizer-se de quem fez a composição, que tem a responsabilidade, e em princípio competência, para dar um bom corte à coisa.
    Hoje vemos por aí muito do que se considera arquitetura moderna, os clientes querem ter/construir uma coisa diferente e acabam todos por ter a mesma coisa, coisa aliás que o PandR percebeu, e daí ter sido seduzido pela ideia mais bizarra, o facto é que dentro do género... é diferente. Podia ter sido feito com arte? Podia, mas não foi. E por isso estamos a falar de uma construção e não de arquitetura. (Creio que para muitos arquitetos, ter um cliente com a audácia do PandR, seria uma privilégio e talvez a única oportunidade de criarem alguma coisa fora do convencional)

    Para finalizar e incapaz de me descolar do projeto do PanR, a quem desde já agradeço, o que realmente me incomoda no projeto é a relação do imóvel com o restante espaço. É o modo como um só edifício unifamiliar pode destruir a personalidade de uma rua inteira. É um edifício demasiado egocêntrico, sem ser icónico, desrespeita a envolvente e o espaço público - Não é a Rua da Casa dos Bicos, não é a Rua 31 de Janeiro é a Rua da casa esquisitamente moderna.

    Discutir o "belo", a "experiência estética"; Distinguir o "objeto de design" e a "obra de arte"; Talvez possamos também pensar no urbanismo na perspectiva do respeito.

    Agradeço ao autor deste tópico e a quem o inspirou :)
    Estas pessoas agradeceram este comentário: CMartin, PandR
  12.  # 352

    O esforço aplicado no tópico, muito sinceramente, baseia-se maioritariamente no meu esforço pessoal de aprendizagem e reflexão, por sentir uma frustração em, quando se discute gostos, seja em que circunstância for, é muito raro, já nem digo haver consenso, mas, pelo menos um entendimento do gosto do outro.

    Sofro deste mesmo mal.

    Tenho tendencia a menosprezar os gostos que não correspondem aos meus e gostaria de deixar de fazê-lo, gostaria de ser mais tolerante e ver nos gostos dos outros, valor. Ver mais além do que os meus próprios preconceitos de grandeza.

    Ainda, porque não sou conhecedora de tudo, do que é belo ou do que não é belo, gostaria de reflectir sobre o que me é desconhecido e me possa estar a passar despercebido, mas que me pode ser dado a conhecer por outra pessoa..de forma a que compreenda..

    Para tal, criei este tópico, inspirado, como o disse, precisamente, no caso do PandR. Mas não é o PandR que me causa esta perplexidade, este não entender dos outros gostos, apesar de reconhecer nele qualidades (de grande abertura, quase a chegar ao fora de vulgar...e esta "pré-disposição" para o extraordinário quase destemido do projecto do PAndR, reflexo do próprio individuo, que bem interpretado a meu ver tinha um potencial muito interessante!) - e lá estou eu a achar que eu é que estou certa, vê??!!

    E depois, lá porque não entendo e não concordo com o gosto de alguns, gostaria de criar em mim um conseguir apesar de tudo que me seja incompreensível, uma maior compreensão, uma maior sensibilidade, uma abertura.
    Para não negar à partida algo que desconheço. É um erro fazê-lo, nós sabemos.

    É natural que, assim, achando que os meus gostos é que "é", e embora queria mesmo evitar fazer isto no tópico porque se não, não é uma reflexão em pleno, é apenas um exercício egoísta e tendencial com base na imposição dos meus gostos nos restantes e no meu "costumário" deliciar-me a mim própria com os meus gostos (que acrescido interesse é que isso pode ter quando é coisa que faço todos os dias sozinha?!)..penso que será natural não conseguir evitar fazê-lo a 100% (mas tenho tentado!) porque as matérias que vou buscar para popular o tópico e sobre as quais eu gostaria que reflectíssemos são as que me são conhecidas, ou minimamente conhecidas..Tenho que contar com os outros users para me trazerem outra visão dos gostos para além da minha...

    Ainda assim, acho que tenho tido algum sucesso em, e aqui com esforço sim, contrariar-me a mim própria e aos meus gostos, fui buscar materiais de construção que é coisa que não me interessa para além da pedra, do betão à vista, madeira, vidro e pouco mais, quero lá eu saber do técnico (mas o belo e o técnico andam de mãos dadas na arquitectura e na arte e daí não o poder ignorar..tentei ser imparcial e de interesse para todos também) , e fui buscar Le Corbusier que me atrai mais pelas filosofias e estudos e técnicas (modulor e o homem medida acho interessantíssimo) mas cuja arquitectura construída (de edificações), ainda não tinha dito, mas, do que conheço, não me atrai.

    Claramente a arquitectura é feita de sensação.
    Não é novidade para mim.
    A beleza é sensação.
    O gosto é sensação.

    O tópico vai muito longe de acabado..tenho muita coisa em mente..mas quero que os outros também tenham. Mostrem-me coisas, quero aprender, e o aberrante pode não o ser.

    Por exemplo, gosto muito, também, e como exemplo apenas, duma decoração sumptuosa, pesada, rica de textura e cores, um barroco misturado com kitsch, que se calhar assustaria..seria uma aberração.

    Pior do que ter um mau gosto é não ter gosto nenhum. Já li isto em qualquer lado..

    Claro que sim, o urbanismo na perspectiva do respeito...

    Sabe, também acho que pode-se resumir : o belo é essencialmente o bom. O que nos faz sentir de bom.
    O respeito é bom. Faz-nos sentir bem.

    O que nos faz sentir mal, é feio.
    (sensação).

    Obrigada gostei muito do comentário!

    PS. As imagens do Anonimo09092021 acima são imagens de casas que basicamente ignoro na minha panóplia de gostos (gosto mais já disse, ..pedra, alvenaria, betão..), mas gosto muito da perfeita harmonia estética destas com o ambiente. Ganhei um novo olhar sobre este tipo de casas. Faz-me sentir bem e feliz olhá-las.
  13.  # 353

    Colocado por: monicaa: Podia ter sido feito com arte? Podia, mas não foi. E por isso estamos a falar de uma construção e não de arquitetura.


    Ou serà antes : não há arquitectura bela ou feia, mas antes arquitectura boa ou mà ?

    De qualquer forma, concordo consigo, e eu ainda não vi uma arquitectura neste fórum, apenas construção. Preocupante no sentido em que, o que significa isto ( para a nossa geração e o que diz de nós ) ?
    Concordam com este comentário: monicaa
    • AXN
    • 8 abril 2016

     # 354

    Colocado por: monicaao modo como um só edifício unifamiliar pode destruir a personalidade de uma rua inteira


    Muitas das vezes até será ao contrário....
  14.  # 355

    Colocado por: monicaa: Concordo consigo e com tantos outros que consideraram o estudo prévio da moradia do PandR aberrante, mas só na medida em que as opções não estão devidamente justificadas. Não foi considerada a possibilidade conceptual da incoerência como tema arquitetónico, ainda que pudesse ser justamente a incoerência a expressão pretendida. Para os interiores procuraram-se algumas justificações e argumentos, como no caso do duplo pé direito, que foram apresentados e contra-argumentados, mas no final prevalece o gosto muito particular do cliente. Não há mal nenhum nisso, mesmo que seja considerado aqui pela maioria "mau gosto",. Já o mesmo não pode dizer-se de quem fez a composição, que tem a responsabilidade, e em princípio competência, para dar um bom corte à coisa.
    Hoje vemos por aí muito do que se considera arquitetura moderna, os clientes querem ter/construir uma coisa diferente e acabam todos por ter a mesma coisa, coisa aliás que o PandR percebeu, e daí ter sido seduzido pela ideia mais bizarra, o facto é que dentro do género... é diferente. Podia ter sido feito com arte?


    Gostaria de achar que estamos apenas a tomar PandR como exemplo do que sucede, e não a criticar concretamente o seu projecto exclusivamente.

    Absolutamente de acordo mais uma vez, em que a incoerência pudesse efectivamente ter sido tomada como tema conceptual do projecto, mas que não foi.
    E como não foi, de facto não chega a ser icónica, a arquitectura, é aqui precisamente que a coisa se perde totalmente.

    A arquitectura não soube ser agarrada dessa forma que, a meu ver, poderia ter sido, fazendo toda a diferença, e ficou-se pela interpretação que o PandR deu do seu imaginário mas que, não tendo a sensibilidade, não a conseguiu transmitir. E quem ouviu não a interpretou mais além, ou não arriscou, e ficou-se assim.
  15.  # 356

    Colocado por: AXN

    Muitas das vezes até será ao contrário....


    Olá AXN, Gostaria que me explicasse este seu comentário.
  16.  # 357

    Colocado por CMartin: Por exemplo, gosto muito, também, e como exemplo apenas, duma decoração sumptuosa, pesada, rica de textura e cores, um barroco misturado com kitsch, que se calhar assustaria..seria uma aberração.

    Coloco á interpretação ("julgamento de gostos"(?)).
    null
  17.  # 358

    Colocado por: CMartinColoco a "julgamento".

    Karedo!
    Abrenuncio!
  18.  # 359

    Colocado por: zedasilva
    Karedo!
    Abrenuncio!

    Tento na língua !
    Está no fantástico também..
  19.  # 360

    Colocado por: CMartin
    Está no fantástico também..

    Eu sempre que vou ao espelho tb acho que sou um gajo giro ...
 
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