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  1.  # 1

    O pós-modernismo morreu, viva a altermodernidade
    In Público.
    VANESSA RATO 30/03/2009 - 00:00 (actualizado às 00:00 de 01/04/2009)

    Na trienal da Tate, em Londres, um francês abriu nova etapa na discussão sobre a identidade da cultura e dos artistas de hoje. Modernos ou pós-modernos, quem somos? Nem uns nem outros, antes seres de uma nova era em que se age e cria a partir de uma visão positiva de caos e complexidade. A altermodernidade, segundo Nicolas Bourriaud

    Uma parte do debate tem raízes antigas e a sua arqueologia envolve gigantes - Heidegger, Wittgenstein, Benjamin, Baudelaire, Bataille, Lyotard, Foucault, Baudrillard, Derrida, Lipovetsky... -, a outra parte é praticamente de ontem e, para já, envolve um único homem: Nicolas Bourriaud, de 44 anos, fundador e ex-director do influente Palais de Tokyo, de Paris, hoje curador de arte contemporânea desse "bulldozer" museológico conhecido como Tate, em Londres.

    O que é a modernidade? Modernos ou pós-modernos, quem somos? Depois de várias vidas aos gritos uns com os outros por causa de questões assim, ei-lo, Bourriaud, a dizer-nos que podemos pegar nesses pontos de interrogação e fazer deles o que bem entendermos, já que, chegados a 2009, essa parte da História está arrumada, vencida por "knock-out" por um só evento: a actual crise económica internacional.

    Segundo ele, esse singular evento ligado ao colapso do sistema financeiro a partir da falência do banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, em Setembro do ano passado, mudou tudo, mudou, inclusivamente, o que somos. Nem modernos nem pós-modernos. Submersa em nova crise, no final da primeira década do século XXI a humanidade viu nascer uma outra modernidade: a altermodernidade, a primeira era cultural do mundo globalizado.

    Caos e complexidade

    Este é o pressuposto da quarta edição da trienal de arte contemporânea da Tate, de que Bourriaud é comissário e para a qual cunhou o conceito. Altermodernidade: nem uma visão linear da História, como a do modernismo, nem uma imagem desta a avançar em espirais de eternos retornos, como defendido pelo pós-modernismo; agora, uma visão da História como estando constituída por múltiplas temporalidades simultâneas em que a vida e a arte surgem como experiências positivas de desorientação, traçando linhas em todas as direcções de tempo e de espaço e, assim, explorando todas as dimensões do presente. Por outras palavras: uma era em que se age e cria a partir de uma visão positiva de caos e complexidade.

    Em termos absolutos, a ideia não é nova - é tão antiga quanto a filosofia holística dos Vedas, os primeiros quatro livros sagrados do hinduísmo em que tudo é considerado em conjunto, em contexto. Segundo o mais elevado e abstracto nível filosófico dos Vedas, cuja versão escrita data de cerca de 1500 a.C., a realidade é um absoluto impessoal - Brahma - que permeia tudo, um não-tempo contínuo de que faz parte cada elemento do universo, passado, presente ou futuro. Uma ideia de caos articulado que, virada do avesso, dá o branco mais puro, o nada mais absoluto. Qualquer coisa próxima, também, dessa espécie de superconsciência extática que é o vazio Turya budista. Mas, e ainda que Bourriaud seja um conhecedor de filosofia hindu, a sua nova modernidade surge mais como resposta cultural a um conceito político: o de alterglobalização, a corrente à esquerda da globalização liberal, respeitadora da lógica do planeta horizontal, mas defensora de que esse planeta não deve fazer implodir as diferenças e especificidades identitárias.

    "Ainda que, à época, países como o Brasil e a Índia se tenham juntado à discussão, a modernidade foi um conceito ocidental. Hoje vivemos num labirinto mais complexo e temos que extrair dele significados específicos para o século XXI. A modernidade de hoje não é nem pode ser totalizadora nem continental", diz-nos, a dada altura, Bourriaud em conversa telefónica. É também ele que numera os "depois" em que temos estado mergulhados nos últimos 35 anos: o pós-modernismo, o pós-feminismo, o pós-colonialismo, o pós-político... "Com todos os 'pós', acabamos com a sensação de estar em eterna nostalgia do passado, o que redunda numa preguiça de pensar. Pareceu-me produtivo tentar decretar o fim desse conforto, tentar periodizar de outra forma", explica. E porque é que isto importa? Ele escreve no catálogo da Tate: "O papel histórico do modernismo, enquanto fenómeno saído do domínio da arte, reside na sua capacidade de nos catapultar para fora da tradição; incorpora um êxodo cultural, uma fuga ao confinamento do nacionalismo e etiquetamento identitário, mas também [uma fuga] ao 'mainstream', cuja tendência é reificar pensamento e prática. Sob a ameaça do fundamentalismo e da uniformização orientada para o consumismo, ameaçada pela massificação e o abandono à força da identidade individual, a arte precisa hoje de se reinventar a si mesma, e, isto, à escala planetária."

    Depois do "flâneur", o nómada

    Pode-se argumentar que a necessidade de reinvenção perante o que supõem ser novas ou demasiado velhas circunstâncias é tão antiga como o homem e que cada época produziu a sua própria modernidade, ou seja, a sua própria contemporaneidade. Aí, nada de novo. Ao falar do herói da sua era - e estamos no século XIX - Baudelaire escrevia: "Todas as belezas contêm, como todos os fenómenos possíveis, qualquer coisa de eterno e qualquer coisa de transitório - de absoluto e de específico. A beleza eterna e absoluta não existe, ou, antes, não passa de uma abstracção desnatada à superfície geral das diversas belezas. O elemento próprio de cada beleza provém das paixões, e como temos as nossas paixão próprias, temos as nossas belezas." Isto, a cada nova época. E, para falar do homem a sentir-se elemento de um momento de não uma, mas mil possibilidade, de viagem por Itália, chegado a Palermo em busca da sua Urpflantze, a planta primordial em que acreditava poder vir a encontrar a chave de reprodução de toda a natureza viva, Goethe - e agora estamos ainda mais atrás, no século XVIII - lamentava em carta aos amigos, na Alemanha, a impossibilidade de concentração num único plano da realidade: "Por que razão seremos nós, os modernos, tão dispersivos, por que razão nos deixamos levar por pretensões que não podemos alcançar nem resolver?"

    Goethe, como a maioria dos românticos, olhava nostalgicamente para os antigos, o exemplo clássico - "eles representavam a existência, nós geralmente o efeito; eles descrevem o terrível, nós descrevemos de forma terrível; eles o agradável, nós de forma agradável, etc." O modelo modernista de Baudelaire era outro e, deste, a altermodernidade segundo Bourriaud guardou um aspecto essencial: a ideia do "flâneur".

    O "flâneur", aquele que percorre a cidade, deixando-se perder na sua observação. Isto era no século XIX, hoje as cidades não chegam - o "flâneur" de uma altermodernidade corresponderá a um nómada global, ou, em rigor, a um errante cultural, aquele que procura o inverso do enraizamento absoluto, ou seja, aquele que põe as suas raízes em movimento, encenando-as em contextos e formatos heterogéneos, negando-lhes qualquer valor como origem, traduzindo ideias, transcodificando imagens, transplantando comportamentos, trocando, mais do que impondo. Um nómada cultural que transforma a "flânerie" numa técnica de geração de criatividade e conhecimento.

    "E se a cultura do século XXI fosse inventada a partir daqueles trabalhos que se lançam a si mesmos o desafio de apagar as suas origens e falar de multiplicidades de enraizamentos sucessivos ou simultâneos? Este processo de rasura", diz Bourriaud, "é parte da condição do errante, uma figura central da nossa precária era e que aparece insistentemente no coração da criação artística contemporânea." Uma figura, diz ele ainda, acompanhada por um modo ético predominante: a tradução.

    "Networking"

    A viagem clássica, sim. Mas também esse outro tipo de viagem da era da hipermobilidade da Internet, em que já nascemos a conceber outras formas de entender o que é o espaço do humano, para lá das formas clássicas no Ocidente, e em que o hipertexto se generalizou como processo de estruturação de pensamento, uma janela a abrir-se directamente para outras infinitas e todas ligadas à distância de um clique.

    Já sabíamos isto, claro. Agora Bourriaud deu-lhe novo nome. "O pós-modernismo saiu da depressão da Guerra Fria rumo a uma preocupação neurótica com as origens típicas da era da globalização. É este modelo de pensamento que hoje está em crise, esta versão multicultural da diversidade cultural que tem que ser questionada, não a favor de um 'universalismo' de princípios nem de um novo esperanto modernista, mas no enquadramento de um novo movimento moderno baseado na heterocronia, uma interpretação comum, e na liberdade de explorar", diz Bourriaud.

    Dá o exemplo de um conceito que criámos a partir da natureza: "O arquipélago é o exemplo da relação entre o uno e o múltiplo. É uma entidade abstracta; a sua unidade deriva de uma decisão [humana] sem a qual nada seria lido a não ser um espraiar de ilhas unidas por nenhum nome comum. A nossa civilização, que leva as marcas da explosão multicultural e da proliferação de estratos culturais, parece-se com uma constelação sem estrutura, à espera da sua transformação em arquipélago."

    É significativo, aqui, que o aparecimento do termo pós-modernismo tenha coincidido com a crise petrolífera de 1973, o primeiro fim contemporâneo da ideia de superabundância, o encerrar de um ciclo de três décadas gloriosas após a anterior crise: a II Guerra Mundial. "A crise do petróleo de 1973 poderia bem representar o 'cenário primitivo' do pós-modernismo, da mesma forma que o petróleo a jorrar de um poço simboliza o modernismo do século XX", diz Bourriaud. E, assim, conclui: "O pós-modernismo é a filosofia do lamento, um longo episódio de melancolia na nossa vida cultural. Tendo a História perdido a sua direcção e capacidade de ser lida, nada restava a não ser ficar face a face com um espaço-tempo imóvel do qual, como reminiscências, se levantavam fragmentos mutilados do passado."

    Para Bourriaud, estamos numa nova era e ela tem um nome, altermodernidade - nas conferências da Tate, ligadas à trienal, alguns dos oradores mais críticos comentavam não à boca fechada, mas à boca cheia, que é preciso mais do que querer caucionar exposições e vender livros para pensar a realidade; que é preciso mais do que analisar e relacionar causas e efeitos para cunhar conceitos e estabelecer uma matriz filosófica.

    Fonte : https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-pos-modernismo-morreu-viva-a-altermodernidade-226994
    • m.arq
    • 18 abril 2016 editado

     # 2

    " altermodernidade "

    Cócómodernidade.

    Má "brand"

    Cmps!
    Concordam com este comentário: CMartin
  2.  # 3

    para mim os ismos acabaram, hoje em dia em virtude da sociedade tão multifacetada, existem é adjetivos para qualificar coisas boas. por exemplo, cool, supless, soft, etc sem que uma linha única de pensamento teórico as una. na arquitetura independentemente das formas, cores , dimensões etc, ou as coisas tem uma justificação/integração inteligente e funcionam ou não, e isso é que pode, a meu ver, determinar mais ou menos qualidade.
    outra coisa também para mim curiosa é que a palavra moderno alcançou uma dimensão que vai para alem de algo datado, por muito que se queira escrever história por fases. Talvez mesmo a história tenha acabado com o modernismo, que lançou as bases, abriu a porta para que tudo possa ser feito sem necessariamente se constituir como regra ou corrente. dai então que para mim mais uma vez, o pós-modernismo por muita teoria á volta dele, sofreu muito de artificialismo, tanto que em muitos casos teve que se socorrer de formas e figuras de estilo muito forçadas ( frontões, pináculos, etc...)
    por outro lado ainda a "palavra" arquitetura contemporânea não me agrada nada. enfim divagações, espero que não fiquem muito mal por aqui.
    Concordam com este comentário: CMartin
  3.  # 4

    Não sei o que pensar, ainda não vi o suficiente, no entanto, não me parece sedutor, "caos positivo" ( ? ) é aqui que vou encontrar o "quadradinho" que tanta falta nos faz ?
  4.  # 5

    Colocado por: marco1para mim os ismos acabaram, hoje em dia em virtude da sociedade tão multifacetada, existem é adjetivos para qualificar coisas boas. por exemplo, cool, supless, soft, etc sem que uma linha única de pensamento teórico as una. na arquitetura independentemente das formas, cores , dimensões etc, ou as coisas tem uma justificação/integração inteligente e funcionam ou não, e isso é que pode, a meu ver, determinar mais ou menos qualidade.
    outra coisa também para mim curiosa é que a palavra moderno alcançou uma dimensão que vai para alem de algo datado, por muito que se queira escrever história por fases. Talvez mesmo a história tenha acabado com o modernismo, que lançou as bases, abriu a porta para que tudo possa ser feito sem necessariamente se constituir como regra ou corrente. dai então que para mim mais uma vez, o pós-modernismo por muita teoria á volta dele, sofreu muito de artificialismo, tanto que em muitos casos teve que se socorrer de formas e figuras de estilo muito forçadas ( frontões, pináculos, etc...)
    por outro lado ainda a "palavra" arquitetura contemporânea não me agrada nada. enfim divagações, espero que não fiquem muito mal por aqui.
    Concordam com este comentário:CMartin


    Ficam muito bem aqui marco1, as divagações. Por falar nisso, estou sinceramente um pouco sem noção nenhuma..Vejo muitos negativos na globalização, talvez por essa razão, não consiga ser mais imparcial, sou a favor de algum proteccionismo, até da arquitectura.
    Gostava se calhar de pensar diferente, mas apenas vejo desvalorização do que supostamente tem valor. Ou pelo menos, cresci a aprender que tinham valor.
  5.  # 6

    Eu acho que parecemos todos chineses. Tudo barato, nada presta, tudo bling bling, nada é Italiano.
    Muito menos a casa portuguesa tem significado.
    O maciço ficou-se pelo caminho.
    Até a relva é sintética.
    As pedras são a fingir.
    Poupar nos acabamentos.
    Não entendo nada disto.
    Pessoalmente, preferia não fazer casa nenhuma do que fazê-la nestas condições.
  6.  # 7

    não diga isso, a par disso veem-se muitos bons exemplos e até já se vai entranhando de uma forma corrente uma certa apreciação do particular, do pitoresco, do que é único, do que existe, do que tem história, etc....muita gente a fazer boas recuperações por exemplo.
    Concordam com este comentário: CMartin
  7.  # 8

    Colocado por: CMartinNão sei o que pensar, ainda não vi o suficiente, no entanto, não me parece sedutor, "caos positivo" ( ? ) é aqui que vou encontrar o "quadradinho" que tanta falta nos faz ?


    Pois ! O quadradinho tanto pode ser a "Crise", ... " ". ... !
    Diga lá, "Bomba atómica parece fora de moda".

    Cmps!
  8.  # 9

    Colocado por: marco1não diga isso, a par disso veem-se muitos bons exemplos e até já se vai entranhando de uma forma corrente uma certa apreciação do particular, do pitoresco, do que é único, do que existe, do que tem história, etc....muita gente a fazer boas recuperações por exemplo.
    Concordam com este comentário:CMartin


    Isso é verdade. Ainda ontem estivemos em Colares velho. Que lindo! Recuperações muito interessantes! Na Malveira da Serra um condomínio de nova construção muito bem conseguido também. Vai havendo. Salta à vista.
  9.  # 10

    Colocado por: m.arq

    Pois !O quadradinhotanto pode ser a "Crise", ... " ". ... !
    Diga lá, "Bomba atómica parece fora de moda".

    Cmps!


    Se o quadradinho é a crise, là se foi a minha esperança!
  10.  # 11

    Colocado por: CMartin Na Malveira da Serra um condomínio de nova construção muito bem conseguido também. Vai havendo. Salta à vista.


    É este. Muito bonito.
    http://www.marinhaguincho.pt/marinha-guincho/o-aldeamento/
  11.  # 12

    Colocado por: CMartin

    Se o quadradinho é a crise, là se foi a minha esperança!


    Qual é a sua esperança?

    Cmps!
  12.  # 13

    Colocado por: m.arq

    Qual é a sua esperança?

    Cmps!


    Que se construa menos em Portugal,
    Que se faça mais recuperação / reabilitação
    Que não se tenha a ilusão de construir uma mansão por 150k, poupando nos acabamentos :o)
    Que se contracte serviços de arquitectura (de facto )
    Que os arquitectos sejam todos bons e de bom gosto e que não cedam aos donos de obra sem sensibilidade arquitectónica (devia de haver uma lei por região nacional, para construir com respeito ao envolvente)
    Que não houvesse pato bravismo nem que os interesses comerciais fossem de superior interesse (câmaras, construtores,..).

    Edit
    ie: que se construisse com amor e dignidade.
  13.  # 14

    Colocado por: CMartinPandR,

    O que acha desta arquitectura do Robert Venturi ?


    Não gosto da casa que foi apresentada. Vou retorquir com outra pergunta: porque me perguntou o que achava?
    • AXN
    • 19 abril 2016

     # 15

    Colocado por: CMartinQue se construa menos em Portugal,
    Que se faça mais recuperação / reabilitação
    Que não se tenha a ilusão de construir uma mansão por 150k, poupando nos acabamentos :o)
    Que se contracte serviços de arquitectura (de facto)
    Que os arquitectos sejam todos bons e de bom gosto e que não cedam aos donos de obra sem sensibilidade arquitectónica (devia de haver uma lei por região nacional, para construir com respeito ao envolvente)
    Que não houvesse pato bravismo nem que os interesses comerciais fossem de superior interesse (câmaras, construtores,..).

    Edit
    ie: que se construisse com amor e dignidade.


    Falta esta:

    Que se (re)construa como eu gosto. Porque afinal a casa é para os outros verem e apreciarem, e quem lá vive que se amanhe com o meu gosto.
    Concordam com este comentário: monicaa
  14.  # 16

    Colocado por: PandR

    Não gosto da casa que foi apresentada. Vou retorquir com outra pergunta: porque me perguntou o que achava?


    Olá PandR,
    Não me estava a referir apenas à casa colocada pelo m.arq, de Robert Venturi. Não fosse este tópico e eu nem nunca tinha ouvido falar. É bom, vou aprendendo :o)
    A pergunta dirigi especificamente a si porque queria saber a sua opinião desta arquitectura, deste arquitecto em especifico. Nada de muito elaborado, apenas, olhando para os exemplares e considerando por exemplo aquela abordagem do livro de Las Vegas, o que o faz pensar/achar/sentir ?
  15.  # 17

    Colocado por: AXNFalta esta:

    Que se (re)construa como eu gosto. Porque afinal a casa é para os outros verem e apreciarem, e quem lá vive que se amanhe com o meu gosto.


    Não concordo nada consigo AXN. Embora o AXN já o tenha dito muitas vezes.

    Não é de todo a intenção quando se discute gostos, "impor" o nosso gosto ao outro.
    É mesmo como diz a palavra "discutir", eu digo "olha eu gosto deste tipo de arquitectura porque isto e aquilo e tal.." e o AXN ou outro user, na mesma nota, responderão " eu penso sobre a mesma que..e tal..e tal..preferirei o estilo não sei quantos porque..x...".

    Claro que cada um vai achar que o que gosta o próprio é muito bonito. Não quer dizer que não vá gostar dos horizontes que o outro lhe propõe e não passem a ser também interessantes, numa outra perspectiva.
    Acho que o ganho está na discussão, no que se aprende quando discutimos gostos.

    O que acontece, pelo menos o que eu sinto,é que não se sabe discuti-los. Dizemos "gostos não se discutem" e arruma-se o assunto. E ainda ficamos ofendidos porque encaramos como uma afronta em vez de encararmos como uma oportunidade de reflexão. Especialmente quando se tem gostos opostos, acho que dá para uma conversa verdadeiramente interessante e estimulante. Mas as pessoas gostam de algo e não sabem porque gostam..ou não se sabe por em palavras de forma que dê numa reflexão.
    Eu acho que isto é um bocado falta de interesse em levar a discussão para um outro nível, em que dê para ter uma conversa interessante e que dela se tire proveito.
    E então é mais fácil achar que eu estou a impor os meus gostos. Como se eu conhecesse tudo, não conheço nada. Gostaria até que me "impusessem" os vossos gostos.
    É a minha opinião que formulei com base no que conheço mas que gosto de discutir convosco para aprender e saber mais.

    Nunca disse que havia gostos certos ou errados, digo é que podemos discuti-los. Mas dizer "eu gosto porque sim" na defesa a mim não me traz valor acrescentado à conversa, e resto eu para discutir os meus, se calhar por causa disso é que o AXN fica com essa impressão a meu respeito.
    No fundo estou a falar sobre os meus gostos, para ver se falam sobre os vossos. Se não se exprimem, então fico só eu a falar sobre os meus gostos.É simples se vir isto assim.

    E falar sobre é descontruir (disse-o o marco1 em primeira mão), é olhar o desenho, a arquitectura, a cor, é ter curiosidade em perceber-lhe a razão, a história, o conceito..não é "porque eu gosto é disto", é permitir uma troca de pensamentos a respeito.
  16.  # 18

    Gosto se discute?
    Segundo Immanuel Kant, a questão do gosto é uma discussão, um processo de "lapidação das opiniões", de modo que é possível discutir o que é belo e bom. Mas para fazer esse debate é necessário verificar se estamos utilizando as categorias corretas

    Parte I

    Para Immanuel Kant, sim. Tanto é que ele dedicou uma obra inteira para as questões do gosto, a Crítica da Faculdade de Julgar, publicada em 1790. Para o filósofo supracitado é possível discutir o gosto, porque uma discussão é diferente de uma disputa. Filosoficamente, uma disputa é uma batalha de argumentos que exigem demonstrações, a fim de que uma ideia prevaleça. Uma discussão é um processo de lapidação das opiniões, cuja finalidade é chegar a um acordo entre as partes. Assim, não se disputa sobre o belo, porém pode-se discuti-lo. Kant ainda afirma que a experiência estética é compartilhável e que a beleza é uma ideia universal da razão. Seu conteúdo e sua forma podem variar segundo circunstâncias históricas e segundo a subjetividade dos artistas, mas o sentimento de belo, fundamento do juízo de gosto, é universal.

    Partindo das proposições kantianas, ou seja, se o sentimento de beleza é universal e passível de partilha, por que, atualmente, vivemos uma carência de esteticidade? Hoje em dia, conforme ilustra Marilena Chauí (professora de Filosofia), se perguntássemos a uma pessoa comum o que é um artista, provavelmente ela elencaria nomes de actores de televisão ou cantores populares. Escritores, pintores e escultores com quase toda certeza não seriam citados. Para este indivíduo, diferentemente da concepção romântica, o artista não é o génio criador, inspirado divinamente; é alguém que realiza performances. Por que esta percepção?

    Na contemporaneidade, a sociedade do espectáculo está intrinsecamente ligada à Indústria Cultural. Com a necessidade de fazer girar o capital, a indústria da cultura, de maneiras diversas, distorce o conceito de beleza porque sua finalidade é atingir um número grande de pessoas. “Onde as massas têm o poder de decidir, a autenticidade se torna supérflua, nociva e prejudicial”, sentenciou Nietzsche. Sobre este ponto, a literatura é ilustrativa: por que livros, digamos, “palatáveis” (autoajuda, por exemplo) vendem muito mais do que livros complexos e bem escritos? Uma das respostas possíveis: a literatura genuína faz o leitor tropeçar. E não é todo mundo que está preparado para cair. Os “best sellers” são “best sellers” porque dizem o que o leitor espera. O menos preparado chama isso de “identificação” com a obra. “Puxa vida, este autor diz exatamente o que eu penso”. Não consegue perceber que o prazer da leitura está justamente em “fechar o círculo”. Este tipo de leitor jamais compreenderia Jean Paul Sartre, quando este afirmou que escrever é distanciar-se da linguagem instrumento e entrar na atitude poética, tratando as palavras como entes reais e não como símbolos estabelecidos. Seguindo o raciocínio sartriano, é lícito distinguir a linguagem: a cotidiana como “instituída” e a do escritor como “instituinte” (criadora, inventora de significações).

    Não é exagero afirmar que o homem médio contemporâneo perdeu a capacidade contemplativa; mais que isso, perdeu a capacidade de distinção estética, ao ponto de colocar no mesmo balaio Ivete Sangalo e Chico Buarque. As músicas (e as artes em geral) produzidas para as massas são estruturalmente muito parecidas. Isso é facilmente explicável: a Indústria Cultural desenvolve recursos técnicos para multiplicar aquilo que é considerado o traço mais marcante da obra de arte: ser única. (é o que Walter Benjamim define como “aura”). Diz ele em seu clássico livro A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica: “Fazerem as coisas ‘ficarem mais próximas’ é uma preocupação tão apaixonada das massas modernas como superar o caráter único de todos os fatos através de sua reprodutibilidade”. O anseio da modernidade em quebrar a transcendência dos objetos artísticos que provinha de sua unicidade fez esmaecer a aura.

    Novamente trago Nietzsche: “Quanto mais superior é uma coisa em seu gênero, tanto mais raramente ela é bem sucedida”. Sob este viés, cai por terra qualquer discurso de “democratização da arte”. Mas, em contrapartida, tomando as palavras de Kant que atribuiu o status de partilhável à beleza, não seria válido dizer que a arte pode ser para todos, ainda mais se levarmos em conta o poder de disseminação da internet? Não é bem assim. Para penetrar nesse reino, o homem precisa de cultivo. Aquela pessoa cujo espírito é educado pelas artes é capaz de formular o juízo de gosto adequado; é capaz de compreender que a arte está muito além da utilidade e do prazer. Sim, é preciso que o indivíduo tenha instrumentos de julgamento; é preciso dar a ele possibilidade de escolha. Em termos simples: para que alguém afirme categoricamente que “pagode” seja o seu o gênero musical preferido, faz-se necessário o conhecimento de outros tipos de música, como a erudita. Afinal, a comparação é o princípio mais elementar de conhecimento, como nos mostra Platão em sua célebre alegoria da caverna: se se conhece somente as sombras, acredita-se que elas sejam toda a realidade existente.
  17.  # 19

    Gosto se discute?
    Segundo Immanuel Kant, a questão do gosto é uma discussão, um processo de "lapidação das opiniões", de modo que é possível discutir o que é belo e bom. Mas para fazer esse debate é necessário verificar se estamos utilizando as categorias corretas (continuação).

    Parte II

    Arte e entretenimento

    Talvez nosso erro esteja em querer julgar com as categorias da arte algo que, de antemão, não se propõe a ser arte, somente entretenimento. Michel Teló não quer produzir um sentimento de arrebatamento em nosso ser (a mais alta função da arte, segundo Kant). Com a Indústria da Cultura, o entretenimento invadiu o terreno da arte e a distanciou muito do cidadão comum. Isso fez com que o “relativismo estético” tomasse proporções assustadoras em nossa cultura. Todavia, trilhar o caminho oposto, ou seja, estancar os limites da arte pode ser extremamente perigoso. As consequências podem variar desde o engessamento da expressão (uma espécie de totalitarismo estético) até os mais brutais massacres como o protagonizado por Adolf Hitler. Afirmava ele: “Muito tempo atrás o homem era lindo, mas a miscigenação e a degeneração poluíram a Terra.” Com a fixação de “embelezar o mundo”, Hitler arquitectou seu plano de “higienização da humanidade”, que culminou no holocausto.

    “Onde as massas têm o poder de decidir, a autenticidade se torna supérflua, nociva e prejudicial”, sentenciou Nietzsche
    Atenuados os dois extremos (dogmatismo e relativismo), em quais veredas, então, podemos vislumbrar a arte? Obviamente, as respostas são inúmeras. Talvez a definição de artista de Merleau-Ponty nos ajude. Dizia ele que o artista é aquele que fixa e torna acessível aos demais humanos o espetáculo de que participam sem perceber. Ou a de Fernando Pessoa, que se faz ouvir pela boca de Alberto Caeiro: “o artista procura o pasmo essencial, que tem uma criança se, ao nascer, reparasse que nascera deveras”. A arte pode e deve ser a manifestação da essência da realidade que está amortecida em nossa existência diária. Contudo, isso não significa atribuir a ela um papel moralizante. A arte não deve melhorar ninguém, não deve sequer ser agradável. Theodor Adorno toca nesse ponto ao escrever em sua “Teoria Estética”: “À aceitação conformista da concepção corrente da obra de arte como bem cultural agradável, corresponde um hedonismo estético que expulsa da arte toda a negatividade para os conflitos pulsionais da sua génese...” A arte deve, sim, mostrar a condição humana perante a vida; mostrar o humano em todas as suas possibilidades, inclusive na esfera mais trágica e horrorosa. Parafraseio novamente Nietzsche: “Só a arte pode transformar a ideia de repugnância sobre os aspectos horríveis e absurdos da existência em representações com as quais se torna possível viver.” Para Nietzsche, a arte é um “estado de vigor animal”, a mais visceral afirmação da vida. Sim, amigos! O que ele nos propõe é uma mudança de perspectiva sobre a própria vida: uma ontologia estética. A vida como arte, movimento e pulsão; o homem, concomitantemente, como artista e obra de arte. E assim toma corpo o seu brado: “a vida só se justifica como fenómeno estético”

    Fonte do texto em cima e esta, sua continuação:
    http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/38/artigo273804-2.asp
  18.  # 20

    Acho que me estou a sentir um pouco incompreendida, e injustiçada, AXN.
 
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