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  1.  # 81

    Lobito, Acontece-me o mesmo. "E o que fazia eu com aquilo?" de tão bonito que é: Sentava-me no chão, respirava fundo e ficava deliciada a fazer festinhas ás paredes e a sorrir de satisfação plena. Ah, ..mas, afinal, isso é o que faço na minha casinha!

    Não ainda não vi o site do Paulo Correia, se calhar, muito sinceramente, tinha ficado com a tal ideia das "coisas que brilham" (sim, Karura!) e que não são a minha predilecção. Agora é diferente, agora vou ver.
  2.  # 82

    E voltando ao assunto, de porque se prefere o condomínio privado.
    O que é status?


    Eu própria respondo:
    Na Estrada do Guincho apareceu há relativamente pouco tempo uma casa. Grande. Tem dois pisos, mas de uma imponência. Uma imponência! Cor de laranja. Com janelas em arco. Talvez umas seis janelas da fachada para a estrada, todas em arco. Com colunas brancas, grossas, umas quatro, se não me engano. É impossível não darmos pela casa. A próxima vez que lá passarem saberão precisamente qual é. "Aquilo é status", diremos.*
    As casas geminadas, que brilham nas suas filinhas, querem ser como a casa cor de laranja da estrada do Guincho, quando forem grandes.

    Status para uns é a casa laranja na estrada do guincho, com as suas colunas imponentes que espetaremos como dedos rígidos e incómodos nos olhos do amigos e das visitas. Queremos que os outros suspirem por aquilo que temos, que fiquem ofuscados pelo nosso brilho. "Olhem como eu brilho!" E que nos sintamos satisfeitos por isso. Sentimo-nos satisfeitos com isso. (Estamos tão longe, tão longe, meus amigos, da aldeia!)

    * Por sinal, a casa laranja é das coisas mais feias que eu já vi!
    ** Claro que esta historinha é um exagero, acredito que há pessoas que simplesmente achem a casa laranja bonitinha e pronto.Os donos dela devem achar.
  3.  # 83

  4.  # 84

    As casas tinham portas e janelas.
    As casas tinham braços.
    As casas balançavam-se por cima das vidas
    e continuavam.
    As casas acendiam lareiras e fogões
    eram casas sempre acesas.
    Acordavam e adormeciam sem relógio de pulso
    As casas também envelheciam.
    As casas sobreviviam.

    Maria José de Castro
  5.  # 85

    “É no meio dos pequenos objectos que [o português] se sente à vontade, é neles que investe enchendo a casa de mil bibelôs, fotografias, cobrindo as paredes com coisas pequenas (...). O pequeno representa o tamanho perfeito, adequado ao seu investimento afectivo."

    “(...) Se nós somos os ‘chineses do Ocidente’, nem um pouco nos assemelhamos aos japoneses. É porque não conhecemos o vazio nem por ele nos sentimos atraídos”

    “Há talvez uma barreira que contribui para isso, a fascinação-repulsa que sentimos pela ausência. A ausência não é o vazio, contraria-o mesmo, em certo sentido. A ausência diz-se de uma presença, enquanto um vazio não se reporta a um cheio. O vazio é primeiro, está aquém da ausência de tudo. Quando toda a presença desaparece e deixa de haver lugar a preencher por uma coisa, então surge o vazio primordial de onde sairão as forças para, precisamente, criar, agir, pensar.”

    “(...) Os portugueses são particularmente sensíveis à ausência, o que os faz constantemente ansiar pelo pleno.”


    José Gil, Portugal, Hoje. O Medo de Existir.

    (continua.., em baixo)
  6.  # 86

    (..continuação)
    Vocação para a aparência
    Autor: Desconheço.
    Fonte: o meu arquivo de "coisas" que vou coleccionando.

    Isto vê-se quando se entra na casa portuguesa, em que a multidão de objectos destinados a preencher o vazio já mal deixa espaço para o pão e vinho sobre a mesa. A casa portuguesa não tem um intervalo em que o olhar não encontre algo que foi colocado com o único propósito de fazer companhia, de enganar a solidão a que o nosso défice de relações pessoais significativas (ou com o significado que aprendemos a esperar delas) remete o quotidiano da larga maioria das pessoas, mesmo, ou principalmente, das mais insuspeitas. Pode-se ir mais longe que dizer dos portugueses que o vazio não os atrai, o vazio repugana-os, talvez, como escreve José Gil, por a ele associarmos a tal ausência. A vida, os espaços vitais dos portugueses, estão cheios até à saturação de coisinhas, de simulacros de algo que não conseguimos nem sabemos como obter, e isso vê-se como em mais parte nenhuma na casa portuguesa. Esta atitude tem dois efeitos imediatos: a destruição da arquitectura e a destruição dos próprios objectos.

    Comecemos então pela destruição da arquitectura. Conceber uma casa para ser usufruída com prazer é, em Portugal uma perda de tempo. Imaginar a distribuição e divisão dos espaços de acordo com aquela que poderá ser a sua utilização harmoniosa e potencialmente indutora de um acréscimo na qualidade de vida de quem os venha a ocupar, ou seja, boa arquitectura, é deitar dinheiro pela janela fora. Meses de trabalho serão prontamente soterrados por bibelôs de todas as sortes e feitios pela mão decoradora dos habitantes. Aquela casa tão boa, tão espaçosa, tão luminosa e agradável, será irrevogavelmente habitada por objectos que concederão alguns estreitos corredores de vazio pelos quais as pessoas, suas convidadas, terão permissão para se movimentar: as casas em Portugal são sempre pequenas, independentemente das suas áreas.

    Há uns anos, fiquei fascinado com uma casa alugada por uns conhecidos, que tive a oportunidade de visitar ainda em cru. Não era, a bem dizer, nada de especial, apenas uma antiga casa urbana de província, com os defeitos vulgarmente adstritos ao género, relativamente grande mas feita de divisões pequenas. Um pormenor, no entanto, dava àquele primeiro andar um charme difícil de encontrar nos apartamentos modernos. Acabados de subir as escadas, que faziam um canto, tínhamos à nossa frente um corredor comprido, com entradas de um lado e outro para várias divisões, que terminava, imagine-se, numa janela. Aquele fim de corredor não tinha sido aproveitado para uma casa de banho minúscula, não tinha sido comido pela engorda de nenhuma divisão e, ainda por cima, tinha uma janela que, embora sem vista para mais que a parede exterior do prédio em frente, dava à casa um espaço, uma luz e uma vontade de brincar raros. Quando voltei à casa, passadas umas semanas, já ela se encontrava mobilada e, portanto, completamente destruída. Os apertos financeiros que aconselhariam a compra de bens estritamente essenciais não foram suficientes para impedir os locatários de matar o corredor, cuja janela estava já coberta por uma cortina e precedida pela eterna mesa de camilha gloriosamente encimada por uma taça cheia de resíduos vegetais secos e perfumados. De casa antiga e encantadora, passou imediatamente a casa velha e apertada sem qualquer vantagem sobre o vulgar T qualquer coisa.

    Depois, temos a destruição dos objectos. Imagine-se a família portuguesa a mudar-se para uma casa maior. Com ela, vem tudo, como é natural, desde mobília a electrodomésticos, passando pelos cacarecos. O plano de ocupação da nova casa está condicionado não à sua utilização, mas às possibilidades de arrumação da tralha, que será colocada de forma mais ou menos mimética em relação à habitação anterior. No entanto, há um problema, algo que constitui uma fonte de angustia desde o primeiro momento. A casa nova é maior e tem aquela grande parede branca, lisa, vazia. O que faremos “àquilo”? Não há, de entre a escolha preexistente, nada que chegue para encher aquele espaço, pelo que terá de se arranjar “alguma coisa” que, por obra e graça desta necessidade, se transforma automaticamente em “qualquer coisa”. A partir deste momento, já não é importante que “coisa” irá ser arranjada para pendurar naquela parede. Uma peça de artesanato comprada naquelas férias, a carta astrológica de 2005, a fotografia dos antepassados, um pirilampo mágico, uma máscara veneziana das Colecções Philae, um Picasso original, um calendário com a Pamela Anderson, um tapete de arraiolos, 300 moldurinhas com flores feitas de escamas de peixe pintadas, uma chusma de pratos de louça de Coimbra, um poster do filme da nossa vida ou o quadro do menino a chorar são todos a mesma coisa: tralha indiferenciada. O valor sentimental, artístico ou simplesmente monetário de qualquer objecto naquela parede, e naquela casa, está já colocado ao nível da parte de trás da sanita como mais uma coisa que dá trabalho a limpar. É mais uma coisa de que temos que nos desviar, é mais uma coisa que tem de se afastar para se ir para, uma coisa que tem de se mudar de sítio porque ali atrapalha quando, um buraco que tem de se tapar quando mudarmos novamente para o senhorio não protestar. Acabou-se.

    O pior, é que a nossa vocação para asfixiar a vida com tralha não se passa unicamente ao nível do nosso espaço doméstico. Não se passa, aliás, só ao nível do espaço físico. É uma vocação para transformar tudo em aparência, para a anulação da substância, que daria muitas e boas conversas em torno de muito e bons livros. E não só.
  7.  # 87

    ah ah ah, o gatinho de loiça em cima do naperon, tudo em cima da TV. É tão parolo, mas enternece-me tanto!
  8.  # 88

    Colocado por: CMartinIrei ver o site da sua empresa, mas fique a saber que acabou de se "redimir" de uma frase que disse há muito tempo e que me tinha deixado com uma ideia bastante diferente, daquela que agora se apresenta.

    E qual foi?

    Colocado por: lobitoAinda não tinha visto o site da empresa do Paulo???

    Você era das pessoas que já o conheciam, apesar de serem bastante mais do que eu pensava. O Srº Arquitecto Fernando Gabriel há-de levar nas orelhas em devido tempo (vai ter de pagar o almoço pelo trabalho que me vai obrigar a ter na actualização daquilo)

    Colocado por: CMartinNão ainda não vi o site do Paulo Correia, se calhar, muito sinceramente, tinha ficado com a tal ideia das "coisas que brilham" (sim, Karura!) e que não são a minha predilecção. Agora é diferente, agora vou ver.

    Não fazia a mínima que tinha ficado com essa ideia
  9.  # 89

    Colocado por: PauloCorreia
    Colocado por: CMartinIrei ver o site da sua empresa, mas fique a saber que acabou de se "redimir" de uma frase que disse há muito tempo e que me tinha deixado com uma ideia bastante diferente, daquela que agora se apresenta.

    E qual foi?

    Colocado por: lobitoAinda não tinha visto o site da empresa do Paulo???

    Você era das pessoas que já o conheciam, apesar de serem bastante mais do que eu pensava. O Srº Arquitecto Fernando Gabriel há-de levar nas orelhas em devido tempo (vai ter de pagar o almoço pelo trabalho que me vai obrigar a ter na actualização daquilo)

    Colocado por: CMartinNão ainda não vi o site do Paulo Correia, se calhar, muito sinceramente, tinha ficado com a tal ideia das "coisas que brilham" (sim, Karura!) e que não são a minha predilecção. Agora é diferente, agora vou ver.

    Não fazia a mínima que tinha ficado com essa ideia


    Ah, eu tinha a ideia de que há muito tempo, quando os animais falavam, o Paulo tinha posto aqui qualquer coisa, mas posso estar baralhada. De qualquer forma, é um prazer, aquele site.
  10.  # 90

    Boas

    O Srº Arquitecto Fernando Gabriel há-de levar nas orelhas em devido tempo (vai ter de pagar o almoço pelo trabalho que me vai obrigar a ter na actualização daquilo)


    Acho bem que pague, mas a culpa não é só dele. Por pura curiosidade ia actualizando as notícias do restauro nos Jerónimos e acidentalmente deparei-me com o V/ sítio. Parabéns pelo trabalho dos Jerónimos (e os outros, claro)

    cumps
    José Cardoso
  11.  # 91

    Colocado por: lobitoDe qualquer forma, é um prazer, aquele site.

    Sou o responsável por aquilo e para mim é uma desilusão. Se tivesse tempo o que não faria com aquilo. Tornava-o um site de referencia
  12.  # 92

    Colocado por: PauloCorreia
    Colocado por: lobitoDe qualquer forma, é um prazer, aquele site.

    Sou o responsável por aquilo e para mim é uma desilusão. Se tivesse tempo o que não faria com aquilo. Tornava-o um site de referencia


    Imagino. Mesmo assim...
  13.  # 93

    Bom dia.

    As minhas dificuldades de leitura prendem-se neste momento com uma única questão: o tempo para o fazer.
    Toda a minha vida me habituei a ter um belo desses companheiros dentro da minha mala e pegar-lhe sempre que era possível. Costumava forrá-los eu mesma com um papel de revista para que não se estragassem. Como diz o meu marido, neste momento tenho a casa cheia de livros por ler, amontoam-se na minha mesa de cabeceira como TPC`s em atraso. Neste momento, para conseguir gerir o meu pequeno negócio trabalho muito mais do que as oito horas diárias, inventando todo o tipo de alternativas para mover o comboio para a frente. Conseguimos por aqui vislumbrar um pouco das razões para a falta de cultura da maioria dos portugueses: estamos ocupados a tentar sobreviver.

    Neste momento na minha cabeceira: (revisão) - História de Portugal, não sei o autor
    (consulta) - História de Arte, Balzac
    (leitura) - Caim, Saramago
    (releitura)- O pequeno Principe
    (leitura)- O Prato de Lúcifer- Rosa Lobato Faria

    Comecei a ler dois deles, os restantes estão na cabeceira para mentalização do esforço futuro.
  14.  # 94

    Vamos lá voltar à recuperação de casas antigas
  15.  # 95

    Boas

    Vamos lá voltar à recuperação de casas antigas

    Tem razão, vamos a isso. Mais fotos?

    cumps
    José Cardoso
  16.  # 96

    Colocado por: PauloCorreiaVamos lá voltar à recuperação de casas antigas


    Vamos.

    Para mim há duas coisas sem as quais não se vai lá, para além das idiossicrasias psico-sociais da sociedade portuguesa: uma são os conhecimentos das técnicas adequadas (em falta), outra uma legislação estilo big brother (em excesso).

    Aquilo que me parece razoável exigir em construção nova é muitas vezes completamente absurdo (e proibitivo) em renovação. Um simples particular que queira recuperar uma casa antiga dos pais ou dos avós vê-se metido numa selva burocrática de que nunca mais sai (tanto quanto percebi, as câmaras e afins estão isentas de licenciamento, portanto sempre podem fazer algumas coisas se quiserem). E é escusado virem dizer que isso é necessário para salvar a nossa paisagem urbanística blablabla porque não é nada disso que se vê.
  17.  # 97

    Boas

    Para mim há duas coisas sem as quais não se vai lá, para além das idiossicrasias psico-sociais da sociedade portuguesa: uma são os conhecimentos das técnicas adequadas

    Falando por mim - e pelos da minha geração, acho - posso dizer que acabei o curso sem provavelmente ter sequer ouvido a palavra recuperação, quanto mais técnicas de recuperação. Mesmo em relação à madeira só a abordamos do ponto de vista estrutural, deixando de lado todas as outras formas de uso. O (pouco) que sei de recuperações aprendi-o em obra, geralmente com os executantes. Não me parece que o panorama tenha mudado muito.

    PS: porque acha que os engenheiros são, em geral, adeptos do betão armado? É praticamente o tema do curso.

    cumps
    José Cardoso
  18.  # 98

    Colocado por: j cardosoBoas

    Para mim há duas coisas sem as quais não se vai lá, para além das idiossicrasias psico-sociais da sociedade portuguesa: uma são os conhecimentos das técnicas adequadas

    Falando por mim - e pelos da minha geração, acho - posso dizer que acabei o curso sem provavelmente ter sequer ouvido a palavra recuperação, quanto mais técnicas de recuperação. Mesmo em relação à madeira só a abordamos do ponto de vista estrutural, deixando de lado todas as outras formas de uso. O (pouco) que sei de recuperações aprendi-o em obra, geralmente com os executantes. Não me parece que o panorama tenha mudado muito.

    PS: porque acha que os engenheiros são, em geral, adeptos do betão armado? É praticamente o tema do curso.

    cumps
    José Cardoso


    Já percebi. E, como se costuma dizer, para quem tem um martelo, todos os problemas têm a forma de um prego. Gostava de saber porque é que a reviravolta das técnicas de construção tradicionais para o betão armado foi tão drástica em Portugal (em comparação com outros países), mas isso é outra história.
  19.  # 99

    Colocado por: lobito. Gostava de saber porque é que a reviravolta das técnicas de construção tradicionais para o betão armado foi tão drástica em Portugal (em comparação com outros países), mas isso é outra história.

    Presumo, mas sou só eu a presumir, que se deve ter passado o mesmo que com a guerra óleo/azeite. Se temos uma cimenteira controlada pelas suspeitos do costume, o ideal é "obrigar" a consumir, isto é, os interesses comerciais falaram.

    Algo parecido com o consumo de petróleo, se fizer estradas em vez de transportes colectivos, o que vai acontecer?
  20.  # 100

    E a cimenteira era o quê, Mellos, Champallimaud? (A memória é curta)

    Muito provável.

    E, curiosamente, penso que os interesses do sector, colectivamente, apontam para a construção nova ou então para um nicho de mercado muito especializado e caro. O comum dos mortais, que quer recuperar o casinhoto dos pais ou dos avós, fica com a sensação que isso é coisa para gente rica: não só toda a gente lhe diz que é mais caro do que deitar abaixo e fazer de novo (o que é muito provavelmente verdade numa grande parte dos casos), como ninguém o ajuda a safar-se sem gastar uma fortuna, nem ninguém se insurje com o facto. Isso é evidente mesmo neste forum, em que não me lembro de ouvir alguém dizer: se você fizer isto e aquilo e aqueloutro, não precisa de licenciamento e portanto não é obrigado a fazer X, Y ou Z. Que me lembre, eu levantei uma vez a questão, o J. Cardoso simpaticamente foi repescar a legislação e depois... silêncio de tumba dos circunstantes. OK, pode não querer dizer nada, as pessoas têm mais que fazer à vida, mas o facto é que, como diz uma amiga minha que conhece bastante bem a legislação e como a tourear, dentro da mais perfeita legalidade, é profundamente injusto que seja preciso esse tipo de conhecimentos para se conseguir fazer uma recuperação particular.
 
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