A questão tem vindo a público várias vezes ao longo dos últimos tempos.
Eu, infelizmente, vivo a poucos metros de uma linha de muito alta tensão e, como tal, estou interessado nesta matéria. Tenho uma filha pequena a viver em casa e preocupa-me as alegações de que o risco de leucemia é mais elevado junto dos mais pequenos.
Devo acrescentar que cheguei primeiro aqui. Ou seja, comprei a casa com um descampado ao lado e 4 anos depois recebo estes vizinhos indesejados.
Em 2007 a Direcção Geral de Saúde divulgou um estudo intitulado: "Exposição da População aos Campos Electromagnéticos", finalizado em 2003. Quatro anos para divulgar um relatório? Porquê?
É aqui que entra a teoria da conspiração, uma vez que parte da REN, empresa que gere a rede eléctrica nacional, responsável por estes postes de alta tensão, foi privatizada em meados de 2007. Coincidência?
Estes campos electromagnéticos dizem respeito não só aos postes de electricidade de alta tensão mas também às torres de telecomunicações, as chamadas torres de telemóveis.
Muitas coisas emitem radiações electromagnéticas, de forma natural. Normalmente não existe qualquer problema com isto. A radiação electromagnética está em todo o lado e em quase tudo o que fazemos.
O problema põe-se quando estas radiações ultrapassam um determinado nível e começam a ser prejudiciais ao corpo humano, seja a curto ou a longo prazo. O campo electromagnético é caracterizado pelo alcance que essas radiações têm.
Esta preocupação, nomeadamente com as linhas de transporte de electricidade, surgiu a partir dos anos 70. Com a explosão das redes móveis de telefone verificou-se uma nova preocupação com o tema nos anos 90.
Em 1999 (há 8 anos) o Conselho da União Europeia emitiu uma recomendação (1999/519/CE) que diz:
É imperativo proteger a população na Comunidade contra os comprovados efeitos adversos para a saúde susceptíveis de resultar da exposição a campos electromagnéticos;
As medidas respeitantes aos campos electromagnéticos deverão proporcionar a todos os cidadãos da Comunidade um nível elevado de protecção. As disposições aprovadas pelos Estados-Membros neste domínio deverão ter por base um quadro acordado em comum, a fim de contribuírem para garantir uma protecção coerente em toda a Comunidade;
A presente recomendação tem por objectivo proteger a saúde pública, aplicando-se consequentemente aos locais em que as pessoas passam períodos de tempo significativos de exposição aos efeitos abrangidos pela presente recomendação;
(poderão esse locais serem as nossas casas?)
Nessa mesma recomendação foram estabelecidos diversos limites de exposição aos campos electromagnéticos que deverão ser cumpridos.
Seguindo a esta recomendação e na sequência do alarme provocado pelas mais diversas situações a UE pediu um parecer actualizado sobre esta questão, cuja conclusão foi:
O resultado, de 30 de Outubro de 2001, do Comité Científico de Toxicidade, Ecotoxicidade e Ambiente, sobre os “possíveis efeitos dos campos electromagnéticos, campos de radiofrequências e radiações microondas na saúde humana”, informou que os resultados entretanto obtidos sobre os possíveis efeitos carcinogéneos ou outros efeitos não
térmicos destas radiações eram insuficientes para a implementação de medidas que visassem a protecção de grupos populacionais específicos, não se registando também qualquer evidência científica, relativamente aos efeitos não térmicos e/ou térmicos que justificassem quaisquer alterações aos níveis de referência e restrições básicas propostos pela Recomendação do Conselho de 1999.
Ou seja, não há resultados que cheguem para dizer seja o que for ou, os resultados em si não chegam para concluir seja o que for. Na prática, fica tudo na mesma.
Sai posteriormente em Portugal uma lei, tentando cumprir a recomendação da UE, que diz praticamente o mesmo dessa mesma recomendação. Ou seja, há que proteger a população, dinamizar a informação e fomentar o estudo da influência dos campos electromagnéticos na saúde. Estabelecem-se os limites, semelhantes aos recomendados pela UE, de exposição aos campos electromagnéticos.
Em quase todo o mundo estes limites são semelhantes, nos EUA são superiores (os habitantes podem estar sujeitos a maiores níveis de radiação), na Suiça as zonas residenciais têm níveis inferiores, sendo que a Bélgica e a Itália estabelecem, no global, sem discriminar zonas, níveis também inferiores.
O sintoma mais comum da exposição à radiação electromagnética é o aumento da temperatura dos tecidos.
Quando este aumento chega a entre 1.º C a 2.º C, dão-se inúmeros efeitos que podem por exemplo incluir irritação nos olhos e, em casos extremos de exposição, cataratas.
Quanto a outros efeitos, os sintomas variam muito de indivíduo para indivíduo. Nas crianças, por terem uma cabeça mais pequena e uma caixa craniana mais fina a absorção da radiação é maior.
Torna-se difícil associar um determinado nível de radiação a um sintoma ou problema de saúde porque os efeitos do aumento da exposição são inconstantes, variam muito e não têm resultados exactos. Ao contrário do que acontece por exemplo com um medicamento, em que a dose tomada é proporcional ao efeito obtido, na exposição aos campos electromagnéticos tal não acontece.
Verificou-se, por exemplo, que há mais radiação emitida de um telefone móvel do que de uma estação de telecomunicação de rede móvel. Por outro lado, o telefone está em uso apenas alguns minutos enquanto que uma antena de telemóveis emite ondas electromagnéticas em contínuo.
Alguns dos sintomas referidos na exposição crónica a ondas de radiofrequência de baixa intensidade (telemóveis não se enquadram): existência de efeitos na memória, na aprendizagem, alterações da atenção, cefaleias, tonturas, ansiedade,
tendências depressivas ou suicidas, cansaço e perturbações do sono.
A exposição intensa aos campos electromagnéticos pode aumentar o risco de leucemia nas crianças e o risco de leucemia e tumores cerebrais nos adultos. No entanto, isto apenas aconteceu nos estudos em que houve subida da temperatura dos tecidos. Sempre que isto não aconteceu, isto é a temperatura dos tecidos não subiu, não houve aumento da formação de tumores.
Fala-se também em efeitos psicológicos e reacções alérgicas, mas não se comprova que estejam associados à exposição aos campos electromagnéticos.
Na prática o que tudo isto quer dizer é que os estudos não são conclusivos. Há pessoas que pelas suas características poderão ser mais ou menos pré-dispostas ao risco inerente da exposição, mas no global, e pelo que conhece até ao momento, o risco é baixo ou quase nulo.
É a velha história: se não conheces não podes dizer que não existe.
Mas uma coisa pode-se fazer: saber quais são os valores de radiação electromagnética num determinado espaço e compará-los com os valores estabelecidos pela comunidade científica e instituídos pela recomendação da UE. E isso, não está a ser feito em Portugal. Eu não sei se os valores de radiação electromagnética na minha casa são ou não inferiores aos máximos recomendados pela UE.
Diz o estudo da Direcção Geral de Saúde:
O indivíduo só poderá proteger-se se estiver informado. Reter a informação não é forma mais adequada de procedimento. Uma informação objectiva, séria e ponderada, multiplicando as fontes de informação e protegendo a sua independência, reduz as desconfianças por parte das populações e leva-as a adoptarem as medidas de protecção individual e colectiva propostas pelos avanços científicos e tecnológicos. Não seguirão assim as pessoas os arautos de desgraças que unicamente pretendem vender este ou aquele material de hipotética protecção individual, que muitas vezes mais não é do que uma panaceia sem qualquer fundamento científico, para lucros de uns quantos menos honestos.
Por fim, prevenir os riscos, suscitando acções impeditivas de possíveis acidentes.
A informação é a primeira etapa da prevenção, sabendo-se que esta começa no indivíduo, antes de se estender em seu redor. Basta um uso criterioso do telefone móvel para reduzir o impacte dos CEMs na saúde. É aconselhado um afastamento prudente de quaisquer fontes importantes de CEMs. Está-se aqui ao nível da responsabilidade de cada um na qualidade do seu microambiente.
A utilização duma nova tecnologia apresenta vantagens importantes. Mas não menos importante é a saúde das pessoas. E em matéria de saúde, a racionalidade deve ser acompanhada de prudência, mesmo pecando por excesso de precaução.
Encontram o estudo completo aqui: http://www.dgs.pt/upload/membro.id/fich … 009084.pdf
Através de uma pessoa conhecida da EDP passei alguns minutos a falar com um engenheiro da EDP
Colocado por: kamiAtravés de uma pessoa conhecida da EDP passei alguns minutos a falar com um engenheiro da EDP que me disse para não me preocupar...
Colocado por: euCuriosamente, a radiação electromagnética mais potente que recebemos é a radiação solar, que é milhares de vezes mais forte que a emitida pelas linhas de alta tensão. Além disso, o sol emite em frequências particularmente perigosas, como os ultravioletas.
Colocado por: Paramontepodem... ? Está mais que provado que a exposição à radiação ultravioleta provoca cancro. Além disso, este tipo de radiação destrói as células da pele (os célebres escaldões). A radiação solar é tão potente que nós sentimos essa radiação na pele, sob a forma de calor.
E tem razão, os ultravioletas podem fazer mal, mas isso não torna os 50 Hz inofensivos...
Colocado por: euColocado por: Paramontepodem... ? Está mais queprovadoque a exposição à radiação ultravioleta provoca cancro. Além disso, este tipo de radiação destrói as células da pele (os célebres escaldões). A radiação solar é tão potente que nós sentimos essa radiação na pele, sob a forma de calor.
E tem razão, os ultravioletas podem fazer mal, mas isso não torna os 50 Hz inofensivos...
Por isso é que digo: se se preocupam com a radiação electromagnética, comecem por evitar a fonte mais potente e mais perigosa: o sol.