Iniciar sessão ou registar-se
    • CMartin
    • 19 fevereiro 2010 editado

     # 141

    PATRIMÓNIO CASCALENSE: O FIM DO PRINCÍPIO
    João Aníbal Henriques
    Fevereiro de 2000

    (...)O Chalé da Condessa d’Edla, na Parede, recentemente desaparecido do panorama patrimonial cascalense, é apenas um das várias dezenas de exemplos que, pelo seu estado actual, prognosticam a perda irrecuperável de uma parte significativa da memória e das raízes de Cascais.
    Para mencionar somente imóveis com expressão concreta na memória popular, por serem tradutores de realidades que marcaram a essência da existência consciente do Concelho de Cascais, urge observar, analisar, estudar, verificar, catalogar, proteger e divulgar os casos da Casa da Torre, no Estoril; da Casa das Janelas, no Estoril; da Casa de Sant’Anna, no Estoril; da Casa de Luís Beltrão, no Estoril; do Casal de Nossa Senhora da Conceição, no Estoril; da Vivenda Marysol, no Estoril; da Vivenda Monte Branco, no Estoril; da Villa Pomares, no Monte Estoril; do Hotel Miramar, no Monte Estoril; do Chalé Brito, em São João do Estoril; da Casa de Tertuliano Lacerda Marques, em São João do Estoril; da Casa de São João Baptista, em São João do Estoril; dos Casais Velhos, na Areia, ou da Casa Pinto Basto, em Cascais.
    A substituição dos antigos edifícios da orla costeira, onde a História convive amiúde com o presente, e dos velhos casais agrícolas do interior, para além de resultar numa solução estética que afasta definitivamente todas as pretensões à assumpção por Cascais de um lugar de destaque no turismo de qualidade a nível europeu, contribui decisivamente para a diminuição da qualidade de vida daqueles que aqui habitam.
    A cidadania e a consciência cívica, mais do que na escola, aprende-se no espaço concreto e na realidade. As casas, as coisas e as gentes, conjugando-se de forma natural numa existência comum, formam a base da vida das comunidades. A descaracterização de Cascais, sinónimo de insegurança, de perda de valores e de criminalidade, resulta também da incapacidade de conhecer e reconhecer e gerir o nosso valor patrimonial.

    Continua neste post (muito mais abaixo):https://forumdacasa.com/discussion/9115/3/ha-coisas-que-valem-a-pena-recuperar-casas-de-centros-historicos/#Comment_109291


    Imagem: O Chalé da Condessa d’Edla
      chaletdacondessa.jpg
    • CMartin
    • 19 fevereiro 2010 editado

     # 142

    Elise Hensler, a Condessa d’Edla
    O Chalet da Condessa Iluminada

    No meio do Parque da Pena, a Condessa Elise d’Edla idealizou e fez construir, no século passado, um Chalet. Antecipou assim uma moda que conhecerá grande sucesso, alguns anos depois na Costa do Estoril e de Cascais.
    Se foi grande o amor de D. Fernando II de Saxe-Coburgo Gotha pela sua primeira esposa, a rainha D. Maria II, extremado o terá sido por Elise Friederick Hensler, com quem casou após ter enviuvado em 1853.
    (...)«A Condessa d’Edla estava de certo modo fadada para ser a esposa de um homem como D. Fernando, tão protector das artes e dos artistas e ao mesmo tempo tão ilustrado!
    «Possuindo uma educação esmeradíssima, conhecendo a fundo e falando perfeitamente sete dos principais idiomas da Europa cultivando as artes com ardor, apaixonada pelo belo, amando o retiro e vivendo sem a menor ostentação, a Condessa d’Edla é uma senhora de muita consideração pública, porque alia ao seu género artístico um coração benfazejo.»
    Para além de cantora e actriz, a Condessa d’Edla era ainda música, escultora, ceramista, pintora, arquitecta, floricultora e, muito provavelmente, ocultista, tal como o seu real esposo.
    Depressa D. Elise interessou-se pelos trabalhos do Palácio da Penha, em Sintra, começados por impulso de D. Fernando em 1839 e que terminariam apenas com a sua morte, em 1885. As plantações do Parque, já muito importantes entre 1840 e 1850, intensificaram-se a partir de 1869, como por exemplo as das “Feteiras da Condessa”. É a ela que se deve, nessa altura, a introdução de certas espécies arbóreas da América do Norte, onde passara quase toda a sua juventude.
    No meio deste Parque tão amado a Condessa morganática concretizou em 1869, com o mestre de obras Gregório, a construção de um Chalet (possivelmente iniciado em 1865), antecipando assim uma moda que conhecerá grande sucesso, alguns anos depois, na costa do Estoril e de Cascais, tendo aqui nesta última, em 1873, sobre o antigo Forte da Conceição, Thomas Henry Wyatt construído o primeiro chalé da costa para os Palmela.
    Sendo a Condessa a própria arquitecta, desenhou um edifício de planta rectangular no rés do chão, cruciforme no primeiro andar, rodeado de uma varanda, e cuja alvenaria exterior imitava tábuas de madeira encavalitadas umas nas outras, ao estilo das casas rurais norte-americanas. Era abundante a utilização de cortiça, por possível inspiração no Convento dos Capuchos da Serra. Trabalhada com arte, tornava-se inclinada na decoração das ombreiras dos vãos em arco quebrado, arredondando-se à volta dos óculos, multiplicava-se no friso de pequenos arcos que sublinhavam as coberturas e chegando mesmo a metamorfosear-se numa espécie de hera centenária decorando a fachada, melhor integrando o edifício no seu enquadramento silvestre.
    No interior, o acolhimento a par do recolhimento era nota toante. O que mais me tocava, e agora me revolta ante os escombros sobrados do fogo que lhe atearam (havendo ainda falta da Cruz Alta que um raio destruiu), dizia, o que mais me tocava eram o salão grande (onde quatro troncos de hera em estuque finamente modelados, enriquecidos por nervuras em cobre, escalonavam os cantos das paredes e entrelaçavam nas cornijas as suas ramagens cobertas de folhas) e um quarto no primeiro andar, o do Rei, ambos com encastoamento arabizante feito de cortiça pintada multicores, conferindo-lhe o espírito mourisco da Serra.
    Merece também referência o quarto da Condessa, no primeiro andar, defronte para o do Rei, separando-os o vão de escadaria, onde na parede fronteira da primeira volta estavam pintadas as Armas de Saxe e de Portugal, e no fim da escadaria de madeira, de corrimão com torneados arábicos finamente trabalhados, defronte uma pintura arcádica dum pastor tocando flauta. Esse quarto da Condessa estava pintado primorosamente de rendas brancas contra um fundo azul anil, possivelmente obra do mestre Domingues Freire, pai de Luciano Freire, afamado pintor de arte que terá realizado muitos trabalhos no tempo da Condessa d’Edla, como conta o neto desta, Mário de Azevedo Gomes, na sua Monografia do Parque da Pena (Lisboa, 1960).
    Adianto que todas as obras interiores de estuque e de pintura estavam a cargo do mestre Sebastião Ribeiro Alves, chefiando uma equipa de decoradores rigorosamente seleccionada.

    Fonte: Jornal Regional de Sintra," A Pena".
    • CMartin
    • 19 fevereiro 2010 editado

     # 143

    Ódios entravam

    Mas uma fonte ligada ao Ministério da Cultura dá-nos conta dos entraves, do ruído surdo da inveja e da intriga, más vontades persistentes que bloqueiam a informação entre instituições, umas vezes em nome de inimizades de estimação, outras de ódios fiéis: “Ao mais alto nível, há pessoas que se detestam a um ponto tal que preferem travar as acções umas ás outras a fazer qualquer coisa pelo bem comum.” Segredo de polichinelo, o nome dos implicados.
    Mas para além do modelo estalinista da administração pública portuguesa, há com certeza responsabilidades a assacar. O caso do “chalet” da condessa d’Edla é, de resto, paradigmático. Recentemente, Mário Soares tomou chá no palacete, e falou-se muito da sua reconstrução. Mas o Parque da Pena dispõe apenas de cinco funcionários e o orçamento actual do Parque Nacional de Sintra/Cascais é de cinquenta mil contos anuais, verba que neste momento mal chega para limpar caminhos, recuperar muros e portões e realizar algumas intervenções nos jardins e na mata.

    Imagem:O Chalé da Condessa d’Edla.
      chaletedla12.jpg
    • CMartin
    • 19 fevereiro 2010 editado

     # 144

    (...)Deviam ser umas quatro horas da tarde. Parámos na entrada principal do “chalet”. O chão estava salpicado de sangue. Quando nos afastámos, ouviu-se um ruído do interior. Parecia alguém a arrastar alguma coisa pesada – Ricardo Pereira, 21 anos, estudante de História, estava no parque com um amigo, Ricardo Almeida, também estudante. Não quiseram ver mais nada. Depois souberam que aquela foi a véspera do incêndio.
    (...)
    Monte de cinzas
    Estamos a falar de um ex-líbris de Sintra, um dos vários que fizeram Sintra ser classificada pela UNESCO como Paisagem Cultural e Património Mundial. Foi no passado dia 14 que o piloto de uma aeronave que sobrevoava a área detectou as chamas, na zona entre a Penha Longa e a Cruz Alta. O tempo enevoado não permitiu de imediato a localização correcta do incêndio, chegando a pensar-se que o fogo era na Abegoaria. Mas os bombeiros não podiam fazer muito numa área em que só a prevenção pode actuar de forma eficaz. Agora, as varandas, os frisos, as ombreiras dos vãos em arco quebrado, os frescos e os estuques, o rendilhado branco do quarto da condessa... são um monte de cinzas eriçadas de pregos, paredes em ruínas (...).
    Fonte: Jornal Regional de Sintra," A Pena".

    Imagem:Esse quarto da Condessa estava pintado primorosamente de rendas brancas contra um fundo azul anil, possivelmente obra do mestre Domingues Freire, pai de Luciano Freire, afamado pintor de arte que terá realizado muitos trabalhos no tempo da Condessa d’Edla
      quarto.jpg
    • CMartin
    • 19 fevereiro 2010 editado

     # 145

    PATRIMÓNIO CASCALENSE: O FIM DO PRINCÍPIO
    João Aníbal Henriques
    Fevereiro de 2000

    O processo de gestão do nosso património, com a conivência da Lei e das instituições responsáveis, passa pela entrega dos imóveis às inclemências do tempo, que se encarrega de grande parte do trabalho. Uma janela estrategicamente aberta, para além de facilitar os elementos naturais, deixando a chuva e o vento libertos para intervir no interior da casa, ajuda também à entrada do “cigarro libertador” que, lançado “casualmente” para o seu interior, vai atear o incêndio que “comprova” o estado de “ruína” em que a casa “se encontrava”.

    * Continuação deste Post, muito mais acima, https://forumdacasa.com/discussion/9115/3/ha-coisas-que-valem-a-pena-recuperar-casas-de-centros-historicos/#Comment_109264
    • CMartin
    • 19 fevereiro 2010 editado

     # 146

    lobito
    Sem desmerecer das coisas lindíssimas que aqui se puseram (e peço desculpa à CMartin se estou a desvirtuar a sua discussão), eu queria voltar ao factor económico


    Não desmerece nada. O factor económico, embora não dos meus temas preferidos quando se fala em recuperações, é de uma importância crucial. Aliás, tudo gira à volta dele - dinheiro e interesses. Por falta de interesse existe o desleixo e o deixar ao abandono casas antigas. Esta falta de interesse deve-se também, parece-me, ao facto destas casas não apresentarem, geralmente, grande valor económico por si só, mas obrigam, ainda por cima, a investimentos constantes.
    A grande mais valia destas casas será a sua originalidade e a sua história.
    O que me leva a fazer uma pergunta: Quando se recupera uma casa antiga não se deveria, a todo o custo, o mais possível, manter a origem dos materias versus substituir essses materias por novos? E do próprio traço da casa?
    • CMartin
    • 19 fevereiro 2010 editado

     # 147

    Colocado por: j cardosoBoas
    Recuperação de fachada em granito no Porto


    JCardoso,
    Bonito de se ver.
    Ao início da minha rua estão a recuperar uma casa em pedra, de estilo muito singelo. Deve ser velhíssima, pelo aspecto, se calhar terá mais anos que a minha, e está, como estava a minha antes de 1991, em ruínas. Estou desejosa por ver o que vai saír dalí..espero que não aconteça como outra, também na minha rua, em que parecia que iam restaurar e afinal substituiram por uma construção nova. Não ficou nem uma pedra velha para contar a história.
  1.  # 148

    CONCLUSÃO
    Chalet da Condessa D’Edla

    (do Instituto dos Museus e da Conservação, IMC)
    No âmbito da colaboração com a Parques de Sintra - Monte da Lua, E.P., de que o IMC é um dos accionistas, o Departamento de Conservação tem vindo a dar apoio, desde Agosto de 2007, na reconstrução do Chalet da Condessa d’Edla, situado no Parque da Pena.
    Esta construção romântica foi mandada construir por D. Fernando II, entre 1864-69, para a Condessa d’Edla, sua segunda mulher.
    Em 1999 foi parcialmente destruído por um incêndio; contudo, a solidez das paredes-mestras e as características do incêndio evitaram a sua destruição total, bem como das pinturas que as decoram.
    O trabalho começou pelo levantamento selectivo dos destroços, realizado entre Agosto e Dezembro de 2007.
    Em 2008, procedeu-se à limpeza, acondicionamento e catalogação dos fragmentos recolhidos, de modo a ter material disponível para estudos laboratoriais e para a reconstituição pictórica.
    Os fragmentos de maior dimensão estão a ser recuperados, de modo a que a pintura decorativa possa ser recolocada nos locais de origem.
    (...)
    Fonte: http://www.imc-ip.pt/pt-PT/conservacao_restauro/areas_intervencao/pintura_mural/ContentDetail.aspx?id=175
    •  
      FD
    • 22 fevereiro 2010 editado

     # 149

    Não sei se foi aqui que eu encontrei ou não mas, gostei deste blog, a propósito de património: http://retalhosdebemfica.blogspot.com/ .

    Já agora, para pesquisar fotos antigas de Lisboa: http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/sala/online/ui/SearchBasic.aspx?filter=AF .
  2.  # 150

    E há o blog do bic laranja, que tem fotografias muito interessantes também (penso que muitas ou todas to arquivo municipal).



    Voltando à vaca fria da legislação, estive hoje a folhear uns livros publicados por uma associação de instituições de crédito belgas (penso que são do género oferta para clientes especiais) em que um deles, extremamente interessante, falava de toda a espécie de materiais de construção naturais. Mas não pensem lá que eram discussões teóricas sobre desempenhos assim e assado, eram mesmo fotografias de edifícios reais feitos nos mais variados materiais, na Bélgica, Holanda, França, Dinamarca, etc (um deles num sítio onde eu vou às vezes comprar frangos, com as paredes de terra e palha). E eu sei de pelo menos um caso em Portugal em que o (então) vereador do urbanismo de uma Câmara se deslocou inclusivamente ao LNEC para arranjar argumentos para defender um munícipe que queria fazer uma casa de madeira e o técnico da Câmara recusava-se terminantemente a aceitar o projecto, com base na legislação existente... feita para betão armado, está bom de ver.

    Eu sei que aqui estamos a discutir recuperações e não técnicas de construção exóticas, mas o problema põe-se na mesma com certeza.
    • CMartin
    • 22 fevereiro 2010 editado

     # 151

    Colocado por: lobito
    Voltando à vaca fria da legislação(...), Eu sei que aqui estamos a discutir recuperações e não técnicas de construção exóticas, mas o problema põe-se na mesma com certeza.


    Para ser franca, na prática, nem sei bem qual o problema que se põe na recuperação de casas antigas de particulares. Na sua generalidade, com excepção de Patrimónios e Imóveis de Interesse Público e mesmo assim, ponho algumas duvidas quem os protege e se preocupa (?), acho que se vê de tudo um pouco. E se permite de tudo.

    No meu caso não me têm surgido dificuldades, talvez porque tenho mantido basicamente os mesmos materiais e os que não são, estão bastante discretos e parecidos. Mas também não me parece que seja por isso, porque na zona onde estou (núcleo histórico) vejo casas antigas a serem deitadas abaixo e outras, ao lado, serem condecoradas com prémios de recuperação exemplar da arquitectura vernácula.
    No fundo, todos por aqui fazemos o que queremos. A minha casa mantém o chão original em madeira, porque eu assim preferi. O meu vizinho trocou o dele por flutuante. Todos temos janelas em pvc e alumínio. Uns mantiveram as cores originais das casas, e outro houve que pintou a dele de rosa morango.
    E pronto, depois há os tais que simplesmente as deitaram abaixo.
    Numa outra zona, (deve haver bastantes onde se passe o mesmo), para dar outro exemplo concreto, na Areia em Cascais, há também casinhas recuperadas a preceito, umas que levaram grandes fachadas em vidro e ganharam aquele contraste antigo com contemporâneo que me parece muito em voga, e outras ainda que parecem a casa da branca de neve e sete anões. Em Cascais centro (outro exemplo concreto) há inclusivamente uma que tem o nome „A Casa dos Sete Anões e é, eu diria, igualzinha!
    Há quem tenha feito a casa dos 3 ursinhos. Umas parecem casinhas de encantar, cheias de sininhos. Tudo muito fofinho.
    Eu própria já me passam pela cabeça visões de portadas com coraçõezinhos..(teria, além do mais, que convencer o meu marido!)
    Eu acho que o limite será a imaginação e o gosto do proprietário, mais do que o limite imposto por algum tipo de legislação. Estão, estas casas, nas mãos do gosto e bom senso dos seus proprietários: Têm sorte ou têm azar.
  3.  # 152

    Eu por acaso estava a pensar na magna questão das "placas", provavelmente porque apareceu aí hoje uma discussão sobre o assunto. A impressão que tenho (pode ser que me engane) é que se eu tivesse de mudar o meu pavimento de madeira, por exemplo, a solução óbvia para toda a gente seria uma "placa" e não refazer uma estrutura de madeira. Pelas razões atrás apontadas, aliás, porque toda a gente sabe calcular betão, etc, etc. Se passasse por um licenciamento, gostava de ver a reacção da Câmara.
  4.  # 153

    Boas

    Se passasse por um licenciamento, gostava de ver a reacção da Câmara.

    Não percebi a sua dúvida: reacção da câmara a qual opção, placa ou madeira?

    cumps
    José Cardoso
  5.  # 154

    Madeira. Quer dizer, eu tenho primeiro andar com um soalho de madeira em cima de uma estrutura de madeira (loja por baixo). Supondo que estava tudo carcomido e que eu tinha de substituir, penso que teria toda a espécie de resistências se embirrasse em pôr tudo de madeira outra vez.
  6.  # 155

    Boas

    Acho que não. Pelo menos aqui pela zona já fiz alguns trabalhos - projecto e/ou obra - em pavimentos e coberturas de madeira. Penso que as câmaras não têm nada contra isso, os empreiteiros é que ... não gostam muito, alguns técnicos também ... não gostam muito e muitos clientes ... não gostam nada. Convenhamos que é muito mais fácil - falo agora como autor de projecto - trabalhar com uma estrutura em betão ou até metálica quer a nível de flexibilidade na concepção da estrutura quer a nível do cálculo. Estou convencido que uma das razões para a "preferência" dos técnicos por betão prende-se com o facto de qualquer técnico ter à disposição software com que faz o cálculo. Também há para estruturas de madeira, mas está muito menos vulgarizado e exige muito mais conhecimento sobre o que se está a fazer. Nunca ouviu dizer que a madeira é o melhor amigo do engenheiro, pois não?

    cumps
    José Cardoso
  7.  # 156

    Então ainda bem que estava enganada! ;-) E não tenho dúvida de que muitos clientes estejam mesmo convencidos de que a madeira... já foi!

    Penso que há países em que há suficiente massa crítica de gente a trabalhar com madeira, mas não deve realmente ser o caso em Portugal. Uma das fotografias que vi hoje era um estruturarelativamente grande como de um mercado, toda de madeira, que segundo a legenda tinha sido levantada por dois homens, sem grua nem nada (era uma técnica chamada de flamenga, penso eu, feita com peças relativamente curtas). Muito bonita, aliás.
  8.  # 157

    Boas

    Penso que há países em que há suficiente massa crítica de gente a trabalhar com madeira, mas não deve realmente ser o caso em Portugal.

    Também acho que não deve haver e não é só na madeira: muitos das artes tradicionais estão a desaparecer porque o que é bom é o moderno, fabricado em série em maquinaria reluzente. Aqui por onde ando há duas profissões que estão em vias de extinção:
    - os entalhadores que são verdadeiros escultores da madeira: já ninguém compra esse tipo de mobílias e o pouco trabalho que há é de artista mas mal pago
    - os ourives tradicionais, por motivos vários entre os quais a opção (quanto a mim errada) que tomaram há já alguns anos de abandonar os métodos artesanais que lhes dava um cunho próprio, em favor de maquinaria que produz em série um artigo que tanto pode ser feito aqui como no outro lado do mundo.
    Numa recuperação em que estou envolvido e onde são necessários vários elementos em granito decorado com figuras várias os fornecedores mostravam-me orgulhosamente a maquinaria de ponta de que dispunham e que "é só meter o desenho no computador que a máquina faz o resto com a máxima perfeição". Vi-me aflito para lhes fazer compreender que o que se pretendia era precisamente a "imperfeição" do acabamento manual, ligeiramente irregular. Sei de fonte segura que comentam nas minhas costas a teimosia palerma do eng.º que fez o cliente pagar mais caro um trabalho feito á mão e que até nem fica tão "perfeito". O que me vale é que o cliente sabe o que quer.

    cumps
    José Cardoso
    Concordam com este comentário: two-rok
  9.  # 158

    É triste, mas é verdade. Dá-se muito pouco valor a tudo o que não seja "moderno".

    Porque resolvi utilizar numa casa de banho que vou fazer de novo as louças antigas que para lá estão e que me parecem em bom estado (não sei porque é que hei-de dar uma pipa de massa por uma banheira a imitar uma banheira de ferro (coisa muito na moda) quando tenho o artigo genuíno), comecei a procurar sistemas de canalização antigos (já estou a imaginar a tourada com o canalizador...). Fui parar aos sites ingleses e há páginas e páginas na internet que vendem tudo quanto há para uma casa de banho antiga. Inclusivamente, claro, bombas e mais bombas para o chuveiro. Achei graça porque, obviamente, eles acham normal ter que resolver os problemas que uma instalação antiga coloca e, portanto, põem no mercado tudo o que é preciso para isso. Acho que isto não passa pela cabeça em Portugal.
    Concordam com este comentário: two-rok
  10.  # 159

    Sabem porque é que a malta dos pavimentos de madeira empurram sempre os termolaminados? porque estão fartinhos de aturar idiotas que reclamam porque as tábuas do pavimento de madeira natural são umas mais escuras que outras, vejam lá.

    Atão, nã se tá memo a ver que é para o empreiteiro poupar uma coroas e escolheu material de refugo? Onde é que já se vi? Na cantaria é o mesmo.

    É pá. se querem plástico comprem plástico, fica bem, está na moda e é tudo igual e igual em todo o lado
    Estas pessoas agradeceram este comentário: AnaT, 1348, aprendiz2, two-rok
    • CMartin
    • 23 fevereiro 2010 editado

     # 160

    Colocado por: lobito Madeira. Quer dizer, eu tenho primeiro andar com um soalho de madeira em cima de uma estrutura de madeira (loja por baixo). Supondo que estava tudo carcomido e que eu tinha de substituir, penso que teria toda a espécie de resistências se embirrasse em pôr tudo de madeira outra vez.

    Em termos de legislação não teria problema nenhum. O maior problema que encara é uma grande resistência do mercado. Ninguém, nem lojas, nem fornecedores, nem profissionais, estão para aí virados, nem para a madeira, nem para os artigos antigos para as suas casas de banho,etc. Há que comprar novo, e se quiser antigo, as novas linhas clássicas e/ou românticas são melhores. Os originais são para deitar fora. Claro que estou a ser irónica.

    Colocado por j cardoso Vi-me aflito para lhes fazer compreender que o que se pretendia era precisamente a "imperfeição" do acabamento manual, ligeiramente irregular. Sei de fonte segura que comentam nas minhas costas a teimosia palerma do eng.º que fez o cliente pagar mais caro um trabalho feito á mão e que até nem fica tão "perfeito". O que me vale é que o cliente sabe o que quer.

    Para a lobito poder ter o que quer, é precisamente por aqui, como diz o JCardoso, "o cliente tem que saber o que quer" e tem que saber digerir o resultado. Não podemos imaginar que o artesanal vá ter o aspecto reluzente do industrial. Não tem. E há que assumir a sua "imperfeição" e gostar dela, a sua "imperfeição" é a sua maior qualidade.
    Para além do mercado não estar para aqui virado, basicamente trabalha-se para vender novo, nós próprios não temos "mindset" para isto, tal como diz o Paulo.

    Colocado por PauloCorreia. Sabem porque é que a malta dos pavimentos de madeira empurram sempre os termolaminados? porque estão fartinhos de aturar idiotas que reclamam porque as tábuas do pavimento de madeira natural são umas mais escuras que outras, vejam lá.

    Os idiotas somos muitas vezes nós, queremos material genuíno e original, batalhamos para o ter (face às sugestões dos flutuantes e laminados) e depois não gostamos do resultado porque não sabíamos que ficaria assim, "imperfeito". Desconhecemos as características do original e nas nossas cabecinhas pirosas o original deve ficar perfeitinho, que é como fica tudo o que é novo.

    No fundo, tudo "empurra" para o novo, para o industrial - é a conjuntura.
 
0.0577 seg. NEW