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  1.  # 261

    Ok.
    Terá (ão) razão, luisvv.

    Que maçada, por acaso não me dá jeito nenhum esse reparo, mas, assim sendo, terei eu que optar pela versão erradamente traduzida para Português que é a única que transmite o que eu quero dizer (!).
    "não me importo de pertencer".
    Em vez de lhe dar a autoria de Groucho Marx, dar-lhe-ei a do Citador que a, feliz/infelizmente, erradamente traduziu
  2.  # 262

    Agradeço de novo aos dois, estou sempre a aprender!
  3.  # 263

    Boas

    Fidalgos, queques e betinhos

    Os Portugueses têm algo de figadal contra todos os que tenham algo de fidagal. Como as crianças, confundem muito a fidalguia, que é uma simples condição social, com a aristocracia, que é um sistema político em que o poder pertence aos nobres. E, no entanto, como diria Chesterton, não há mérito automático em ser fidalgo, nem vergonha em pertencer decididamente (como eu) à ralé.
    Em Portugal a nossa civilização deve muito a duas classes minoritárias. Ambas são gente simples, com posses reduzidas e educação informal. Refiro-me, obviamente, à plebe e à nobreza. O pretensiosismo dominante, seja proletário ou possidónio, seja triunfalista ou disfarçado, encontra-se nas classes restantes, que constituem a grande maioria da população. Mas um pastor ou um pescador é tão senhor como um fidalgo. Como ele, vê o mundo de uma maneira antiga, em que cada coisa tem o seu lugar, o seu sentido e o seu valor. O pior é o operariado, a pequena, média e alta burguesia: enfim, quase toda a gente. É esta gente que se preocupa com a classe a que pertence. Enquanto o pastor e o conde se ocupam, os outros preocupam-se. Os primeiros não querem ser o que são. Os outros adorariam. Os primeiros aceitam o que são, sem vaidade. Os outros têm sempre um bocadinho de vergonha epor isso disfarçam, parecendo vaidosos.
    Quem é fidalgo e quem é que quer ser?
    Em Portugal existem três classes distintas. Há a classe dos fidalgos – os meninos “bem”. E depois há duas classes falsamente afidalgadas. Há os meninos “queques”, filhos de pais “queques” mas com avós que não. E há os “betinhos”, filhos de pais que, simplesmente, não.
    O “menino bem” é aquele que não sabe muito bem em que século começou a fortuna da família. Geralmente é pobre, com a consolação irritante do passado rico. É muito bem educado e jamais se lembraria de lembrar aos outros que é “bem”. O “queque” sabe perfeitamente que foi o avô ou o bisavô que abriu a fábrica ou a loja que enriqueceu a família. Geralmente é bastante rico. Embora tenha frequentado os colégios correctos, tem sempre um enorme complexo de inferioridade em relação aos “meninos bem”, o que o leva a fazer-se mais do que é. De bom grado trocaria grande parte da sua fortuna pela antiguidade e pelo prestígio de um bom título.
    Finalmente, o “betinho” é aquele cujo pai nasceu pobre, indesmentivelmente operário. O betinho procura dar-se, em vão, com queques e meninos bem, mas a sua educação é formal e institucional, não familiar. É o mais rico de todos, mas é também o mais envergonhado. O betinho por excelência é aquele que não suporta a vergonha de um pai nascido entre o povaréu. Evita apresentá-lo aos amigos. Tudo faz para ocultar a sua proximidade genealógica ao vulgacho.
    Tanto o queque como o betinho são o resultado de self-made man, homens que se levantaram pelas próprias mãos, quantas vezes rudes e calejadas e tudo o mais. O menino bem, em contrapartida, nem sequer compreende o conceito de self-made man. Poque é que um homem se há-de “fazer a si próprio” quando houve sempre pessoal, criados e caseiros, para se ocupar dessas tarefas desagradáveis?
    Distinguem-se em tudo. A falar, por exemplo. O menino bem usa todas as formas de tratamento, desde “a menina” – A menina vai levar o Jorge ou vai sozinha no Volvo? – até ao “Psst, tu que fumas”.
    O queque, por ser menos seguro, trata toda a gente por “Você”, incluindo os criados e as crianças (o que não é correcto, mas parece). O betinho, a esse respeito, está em absoluta autogestão. Tenta tratar mal aqueles que considera inferiores (demasiado mal) e bem aqueles que considera superiores demasiado bem). No fundo é um labrego engraxado que julga sinal de aristocracia dizer os erres como se fossem guês.
    O que caracteriza o menino bem é o seu total à vontade no mundo. Nunca se enerva, nunca hesita, nunca está muito preocupado. Haja ou não dinheiro. O menino bem dá-se bem com a pobreza e encara o sobe e desce da sorte com a naturalidade com que aceita a circulação do sangue pelas veias. Por isso dá-se bem com toda a gente. Nada tem a perder ou a ganhar.
    Os queques não são assim. Pensam que nasceram para o brilho baço do privilégio. Vivem obcecados pelo dinheiro já que é o dinheiro que lhes permite comprar todos aqueles adereços (relógios Rolex, automóveis Porsche) que consideram indispensáveis ao seu estatuto social. Um menino bem, em contrapartida, nunca usa relógio – porque é que há-de querer saber as horas? O queque só se dá com pessoas “do seu meio”. Enquanto o menino bem tem aquele rapport feudal com caseiros, varinas e pedreiros, que constitui uma forma multissecular de intimidade, o queque aflige-se em “manter as distâncias” com esse gentião, precisamente por serem tão curtas.
    O betinho é uma pilha de nervos. Ninguém o respeita. Dá-se quase exclusivamente com outros betinhos, do mesmo ramo de importação de electrodomésticos ou da construção civil. Não gostam de sair da sua zona. Os de Lisboa, por exemplo, só quando há uma emergência é que saem do Restelo. Ao contrário dos queques, evitam falar em dinheiro porque se sentem comprometidos. Esforçam-se mais por serem meninos bem do que os queques, que julgam já serem meninos bem. Andam sempre vestidos pelas lojas mais tradicionais (camisa aos quadradinhos, casaquinho de malha, jeans novinhos e mocassins pretos com correiazinha de prata ou berloques de cabedal), ao passo que os queques compram roupa mais moderna na boutique da moda. Escusado será dizer que os autênticos meninos bem andam sempre mal vestidos, com a camisola velha do pai e as calças coçadas do irmão mais velho. A única diferença é que as camisolas e as calças que têm em casa duram cem anos. Os avós já compram camisas a pensar que hão-de servir aos netos. Aliás, os fidalgos são sempre mais forretas que a escória.
    No que toca aos hábitos alimentares, os meninos bem comem sempre em casa. Como as famílias são geralmente muito grandes (de resto, como sucede com o populacho), a comida é quase sempre do tipo rancho, ou sempre servida com muito puré de batata.
    Os queques estão sempre a almoçar e a jantar fora, em grupos grandes com muitos rapazes e raparigas a exclamar: “Ai, já não há pachorra para o quiche lorraine!” Aqui se denunciam as suas verdadeiras origens sociais. Para um menino bem, comer fora é uma espécie de solução de emergência, quando não dá jeito comer em casa. Para um queque é um prazer.
    Nas casas bem, a qualquer hora do dia, há sempre uma refeição a ser servida a um número altamente variável de crianças, primos, criadas, motoristas, tias, etc.
    Nas casas queques as refeições variam conforme os convidados. Nas bem são sempre rigorosamente iguais. Os queques têm a manis dos restaurantes – conhecem-nos tão bem como os meninos bm conhecem (e odeiam) as cozinheiras. E os betinhos? Os betinhos tentam evitar as refeições o mais possível. Comem sozinhos em casa (os betinhos tendem a ser filhos únicos) ou levam betinhas a jantar. Poquê? Porque têm a paranóia de serem “descobertos” através dos modos de estar à mesa. Mas, na verdade, só são descobertos pelo seu excesso de boas maneiras. Um betinho à mesa está sempre “rijo”, atento, receoso de tirar uma azeitona por causa do terror de não saber lidar com o caroço. Os queques comportam-se como animais, espetando garfos nas mãos estendidas dos outros, soprando pela palhinha para fazer bolinhas no Sprite e atirando os caroços para martirizar o cocker spaniel. Quanto aos meninos bem, encaram as refeições como uma simples necessidade fisiológica. Comem e calam-se. Falam só para dizer “passa a manteiga” ou “Parece que houve uma revolução popular em Lisboa, passa a manteiga”.
    Não são, portanto, os fidalgos que dão mau nome à fidalguia – são os queques e betinhos. Estes cultivam ridiculamente os “brasões” e as “quintas”, fingindo que não gostam de falar nisso. Em contrapartida, nas casas fidalgas, os filhos das criadas experimentam os lápis de cera nos retratos a óleo dos antepassados. E ninguém liga.


    In “ Os meus Problemas”
    Miguel Esteves Cardoso


    cumps
    José Cardoso
  4.  # 264

    "Os Portugueses têm algo de fidagal contra todos os que tenham algo de fidagal."

    Deveria ser

    "Os Portugueses têm algo de figadal contra todos os que tenham algo de fidagal."

    Não?
  5.  # 265

    Boas

    Claro que tem razão. Já corrigi, obrigada.
    (O MEC não fala nisso, mas a fidalguia é geralmente muito atenta :-) )

    cunps
    José Cardoso
    • LuB
    • 10 junho 2010

     # 266

    A ler o relambório exaustivo do MEC, sobre tudo o que fazem os fidalgos, queques e betinhos fico até com dores nos olhos. Está lá tudo e, mais qualquer coisa. Só tenho um reparo a fazer: Ele esqueceu-se de dizer a que horas a cambada vai fazer xixi... ;)
    Pois, são todos finórios, se calhar nem fazem. É sabido que "Gente coisa é outra fina"...

    L.B.
  6.  # 267

    Boas

    A ler o relambório exaustivo do MEC, sobre tudo o que fazem os fidalgos, queques e betinhos fico até com dores nos olhos. Está lá tudo e, mais qualquer coisa.


    Já imaginava que o MEC não seria propriamente um proletário, e devia saber do que falava. A LuB confirma, pelos vistos é mesmo assim que ela sabe. Fidalga, queque ou betinha?

    Estou a brincar, pode largar a pedra :-)

    cumps
    José Cardoso
  7.  # 268

    analizando a coisa á luz de factor economico/cultura/educação/civismo e ....diria que o que me choca é haver pelo menos dez classes em Portugal e é tão pequenino mas cabe lá tudo e aparentemente está tudo bem desde que haja esperança de subir um degrau na escala. Ora acontece que como não existe uma cartilha e certas coisas até já estão nos genes, cada degrau pode originar um tipo de classe em cada caso de ascensão e se calhar essas dez serão talvez o dobro.
  8.  # 269

    Boas

    diria que o que me choca é haver pelo menos dez classes em Portugal

    Aqui para nós que ninguém nos ouve, o que me espanta é a preocupação com estas coisas de classe social. Por outro lado tenho de confessar que também acho muito divertido, acho curiosas estas divisões e "arrumações", imaginar em que gavetas me arrumaram e em que gavetas arrumaria eu os outros - para alguns seria fácil: a gaveta das peúgas :-)

    A natureza humana é uma eterna fonte de diversão qualquer que seja a "classe" a que pertence (ou a falta dela)

    cumps
    José Cardoso
    • LuB
    • 10 junho 2010 editado

     # 270

    Estou a brincar, pode largar a pedra :-)

    Largar a pedra? Nunca! Sou mais do género que atira a pedrada!

    Quer então saber se sou betinha queque ou fidalga? E, já agora, não acha que poderia ser as três, como a Santíssima Trindade?

    Essa pergunta merece uma resposta. Então é assim:

    Como sou um bocado rude ninguém tem, sequer, a tentação de me enfiar nessas gavetas de gente fina. Pelo que aqui tenho visto quanto ao critério apertado usado pelos classificadores/as de serviço, estou é em risco de ir direitinha para a prateleira da despensa, onde mais facilmente me poderão borrifar com mata-melgas...
    Mas adiante...
    Que mais poderia esperar alguem como eu, que além de "parola", está sempre pronta para atazanar a fidalguia?
    Por outro lado desde criança que adoro circo. E, nem admira que assim seja: é sabido que todos os parolos adoram circo... e arregalam os olhos quando vêem os artistas a fazer malabarismos no trapézio...
    É, por isso, que não consigo sair das redondezas...

    L.B.
  9.  # 271

    Boas

    Quer então saber se sou betinha queque ou fidalga?

    Não propriamente, foi apenas uma provocaçãozinha.

    Como sou um bocado rude ninguém tem, sequer, a tentação de me enfiar nessas gavetas de gente fina. Pelo que aqui tenho visto quanto ao critério apertado usado pelos classificadores/as de serviço, estou é em risco de ir direitinha para a prateleira da despensa, onde mais facilmente me poderão borrifar com mata-melgas...
    Mas adiante...
    Que mais poderia esperar alguem como eu, que além de "parola", está sempre pronta para atazanar a fidalguia?
    Por outro lado desde criança que adoro circo. E, nem admira que assim seja: é sabido que todos os parolos adoram circo... e arregalam os olhos quando vêem os artistas a fazer malabarismos no trapézio...
    É, por isso, que não consigo sair das redondezas...


    Ufa! Vou apanhar os cacos.

    cumps
    José Cardoso
    • LuB
    • 11 junho 2010 editado

     # 272

    Ufa! Vou apanhar os cacos.

    Acho que faz muito bem... Eu, no seu lugar, também os apanhava.
    (Ainda para mais tratando-se de caco de tão fina loiça...)

    É que, andam por aqui uns otários/as que ainda os recolhem: e sabe-se lá que obras de arte poderão fazer com os tais cacos... ;)

    L. B.
  10.  # 273

  11.  # 274

    " O escritor romeno Eugene Ionesco disse uma vez que preferia os ricos e os trabalhadores aos burgueses só por causa das suas dúvidas metafísicas. Um rico pergunta: por quanto tempo continuarei rico? Um pobre pergunta: quando deixarei de ser pobre? Pelo contrário, burgueses e classe média não fazem este género de perguntas dramáticas. São menos interessantes. Para estes, a classe social tende a ser vista como um adquirido, tal como o formato da cara ou o apelido de família. Nasci na classe média e ao menos daqui ninguém me tira.
    Mas tira; e é o que está a acontecer com a crise. Talvez por isso, o aparecimento de um grupo de pessoas que, tendo pertencido com os pais à classe média, não conseguirão manter esse estatuto, promete ser uma mudança social inquietante. Veremos, já estamos a vê-las, muitas manifestações dessa descida. A ex-classe média irá votar Bloco de Esquerda até se desiludir com o Bloco, ou simplesmente não irá votar. A ex-classe média viverá em casa dos pais até tarde e, muito provavelmente, girará entre empregos, apartamentos arrendados ou relações amorosas sem se agarrar a nada e sem construir nada. Vai ser uma geração cínica e desenraizada, cutucando no Facebook para aplacar a solidão."
    •  
      MRui
    • 19 junho 2010

     # 275

    #275 post's depois...

    Quem é a classe média portuguesa?

    Para mim, seguidor confesso de monsieur de La Palisse, a classe média portuguesa (e a estrangeira também) é a classe que está abaixo da classe alta e acima da classe baixa.

    Simplificando... a média é uma classe de tesos e endividados.
  12.  # 276

    Colocado por: marco1 (…) á luz de factor economico/cultura/educação/civismo e ....diria que o que me choca é haver pelo menos dez classes em Portugal e é tão pequenino mas cabe lá tudo e aparentemente está tudo bem desde que haja esperança de subir um degrau na escala. Ora acontece que como não existe uma cartilha e certas coisas até já estão nos genes, cada degrau pode originar um tipo de classe em cada caso de ascensão e se calhar essas dez serão talvez o dobro.


    Precisamente, deve-se à mobilidade entre as classes alta-média e baixa.
    Como os “genes” não acompanham esta mobilidade, o mais certo é o perfil da pessoa não condizer em nada com a nova classe para a qual transitou.
    Em vez de três classes sociais teremos, por essa razão, Marco1 diz e eu concordo, uma série de variantes subgrupos de classes. Uma verdadeira panóplia de variantes.
  13.  # 277

    Ainda bem que ninguém comentou desde o meu último comentário, porque eu tinha muito mais para dizer no seu seguimento e não tive tempo para fazê-lo na altura por isso terminei dizendo que existe
    Uma verdadeira panóplia de variantes.

    E, então, no seguimento da panóplia de variantes:

    Colocado por: j cardoso
    Por outro lado tenho de confessar que também acho muito divertido, acho curiosas estas divisões e "arrumações", imaginar em que gavetas me arrumaram e em que gavetas arrumaria eu os outros

    Acho que o fazemos com tanta perícia que é inato: mal se conhece e o cérebro já está a processar a informação sobre em que gaveta caberá quem se apresenta à nossa frente. Tal como vimos ao longo deste tópico, (e com a preciosa ajuda do MEC) nas suas respectivas gavetas, temos, pelo menos, vejamos:
    -Labregos
    o parolo dos primórdios, o parolo Neanderthal; É fácil gostar de labregos e da companhia que os labregos podem fazer. Durante dez ou onze minutos, num contexto bucólico, chegam a reconciliar-nos com a terra. São honestos. São despretensiosos. Respeitam as outras pessoas. Acima de tudo, são verdadeiros. E têm todos camionetas.
    - Parolos
    “À medida que se ascende na escala social, o caso piora. Chega-se a contragosto ao Parolo. Isto é, ao labrego que desceu à cidade. Ao parolo propriamente dito. Como desceu à cidade? De motorizada, claro. Todos os parolos estão obrigados a ter motorizada.
    - Foleiros
    Ser foleiro é perguntar nos restaurantes se a mousse é caseira, é pedir “990$00 de super” com um ar generoso, é levar o jornal para casa mesmo depois de o ter lido, é tratar os empregados por “ó chefe”, é servir o Irish Coffee num copo que tem um trevozinho e diz “Irish Coffee” … Enfim, ser foleiro está ao alcance de qualquer um.
    - Azeiteiros
    O Foleiro do Porto é, apesar de tudo, melhor que o de Lisboa. É o Azeiteiro. O Azeiteiro não tem tantas pretensões e de bom grado dá barraca.
    - Panões
    Colocado por: Anonimo16062021 (…)no meio de tentos parolos,labregos,foleiros,azeiteiro,os burgessos,só falta mesmo os panões.

    …Ficámos sem perceber o que são exactamente os panões, apenas sabemos que existem.
    - Burgessos
    Os burgessos vêm de todas as classes sociais. A “pequena burguesia” constituída pelos burgessos mais pobres (o pessoal amante do fato de treino todo branco) é o menos irritante. A “Alta Burgessia”, dos blazers italianos de xadrês, tem o condão de misturar as marcas todas. Não tem um automóvel Porsche, mas tem um óculos escuros dessa marca. Não tem sapatos da Gucci, mas tem o after-shave do mesmo nome. (Será que é maioritariamente nesta gaveta que colocamos a classe média?)
    - Grunhos
    Colocado por: lobito (…) segundo uma amiga minha, acima dos burgessos ainda há os grunhos(….) ela, que é do Estoril, limita-se a dizer "Cascais é uma terra de grunhos". (Ai, que já lá vem aí a C.Martin qual Maria da Fonte...)
    (aqui especificamente a classe média de Cascais?)
    - Fidalguia, que por sua vez se subdivide em três
    O Menino Bem, é aquele que não sabe muito bem em que século começou a fortuna da família. Geralmente é pobre, com a consolação irritante do passado rico. É muito bem educado e jamais se lembraria de lembrar aos outros que é “bem”.
    O Queque sabe perfeitamente que foi o avô ou o bisavô que abriu a fábrica ou a loja que enriqueceu a família. Geralmente é bastante rico. Embora tenha frequentado os colégios correctos, tem sempre um enorme complexo de inferioridade em relação aos “meninos bem”, o que o leva a fazer-se mais do que é. De bom grado trocaria grande parte da sua fortuna pela antiguidade e pelo prestígio de um bom título.
    O “betinho” é aquele cujo pai nasceu pobre, indesmentivelmente operário. O betinho procura dar-se, em vão, com queques e meninos bem, mas a sua educação é formal e institucional, não familiar. É o mais rico de todos, mas é também o mais envergonhado. O betinho por excelência é aquele que não suporta a vergonha de um pai nascido entre o povaréu. Evita apresentá-lo aos amigos. Tudo faz para ocultar a sua proximidade genealógica ao vulgacho.
    Tanto o queque como o betinho são o resultado de self-made man, homens que se levantaram pelas próprias mãos, quantas vezes rudes e calejadas e tudo o mais.

    Portanto, aparentemente, estarão assim, rapidamente identificadas no nosso apanhado com contribuições de vários intervenientes, os 10 (a não ser que se lembrem de mais algum!)tipos sociais que povoam Portugal. São as 10 gavetas. E se assim identificámos, cada um de nós caberá numa destas gavetas (?).

    No meu caso concreto, baseado no que disse a lobito, parece que eu poderia ser colocada na gaveta dos “grunhos” pelos outros, embora pessoalmente, eu não me imaginaria ali. O que faz sentido: os olhos com que nos vemos não são os olhos com que os outros nos julgam.

    Se tem importância a gaveta em que cabemos e se nos preocupa? Não me parece uma problemática nacional, antes apenas uma real forma de estereotipar, com o único objectivo de situarmo-nos e aos outros dentro de determinado contexto para mais “adequadamente” lidarmos uns com os outros. Não seria preciso, ou talvez seja, pode ser que seja preconceito como forma de defesa pessoal/social, não interessa, mas que o fazemos em maior ou menor grau, fazemos.

    Agora o que eu acho surpreendente é que, parece que o nome “classe média” tenha também uma conotação pejorativa.
    Colocado por: gfrmartinsSó não percebo porque assim que se começa a falar de classe média, o que vem logo à baila são as pessoas com creditos, que vivem acima das suas possibilidades, etc, etc
    Isso para mim não é o que define classe média. mas invariavelmente é onde a conversa vai parar (não só neste topico)


    De facto, também não percebo a relação.

    E diz a crónica de Ricardo Araujo Pereira que "ela está em vias de extinção: A existir classe média ela está na falência como o país, com pouco dinheiro".

    E alguns parecem inclusivamente opinar no sentido em que a classe média deveria ser extinta , na linha do artigo do MEC:
    … "A tendência social, qual é? É para o desaparecimento dos labregos, para uma escassez cada vez maior de parolos e para uma crescente bipolarização entre foleiros e burgessos. A estratégia certa para resistir a este progressivo afoleiramento da nação é tentar salvar as espécies labregas em extinção porque, apesar de tudo, são as mais simples e menos irritantes, para resistir à burgessização do país. A luta de classes em Portugal tem de ser sempre contra a Burgessia. E a luta continua".

    Se por um lado a tendência é sempre caracterizar-mo-nos como classe média, (até porque há “pudor” em dizer que pertencemos a um dos extremos, ricos ou pobres) então parece-me estranho estar (ou nós próprios estarmos) a dizer que esta suposta maioria força motora, trabalhadora, maior pagadora de impostos
    Colocado por ES: (...)são os que pagam sempre a factura de tudo e todos neste país !!
    , maior potência consumidora
    Colocado por: Johny2: E claro, casas caras ou na moda... :)
    , que é a Classe Média esteja tão “mal vistinha”
    Colocado por PauloCorreia: Classe média remediada, um eufemismo idêntico aos dos acabamentos de gama média aqui no fórum.
    .
    •  
      FD
    • 23 junho 2010

     # 278

    Pelos vistos, até no futebol há classes...

    Gourcuff is seemingly from a different mould to the others. Intelligent, polite and well-spoken, the 23-year-old does not fit in with what many in France are calling the “spoilt brat” generation. He enjoyed a comfortable childhood in Brittany where his father, Christian, the respected coach of Lorient, ensured he received a rounded education. Clean-cut and good-looking, he is an excellent tennis player, and counts the former Olympic swimming star turned celebrity Laure Manaudou in his social circle.

    Most of France’s squad grew up in much tougher conditions in the poorest suburbs. Ribery was raised in a run-down council estate in Boulogne-sur-Mer, Eric Abidal lived in one of Lyon’s most deprived areas, while Thierry Henry, William Gallas and Anelka all spent their childhoods in so-called quartiers difficiles outside Paris.

    It is no coincidence these are the players who have frozen Gourcuff out in South Africa. They resent the way the French press builds Gourcuff up as Zinedine Zidane’s successor. They envy the positive attention he receives from the media. They regard him as arrogant and pretentious because he reads books and expresses himself eloquently when analysing a game.

    Raymond Domenech wanted to build his attack around the 2008/09 French Player of the Year, but several senior players objected, pressurising the coach to restore Henry or Florent Malouda to the line-up. In the opening game against Uruguay, Anelka and Ribery made their stance abundantly clear by refusing to pass to Gourcuff.

    http://www.irishtimes.com/newspaper/sport/2010/0623/1224273110084.html
  14.  # 279

    Boas

    Acho que o fazemos com tanta perícia que é inato: mal se conhece e o cérebro já está a processar a informação sobre em que gaveta caberá quem se apresenta à nossa frente.

    É provavelmente verdade que temos tendência a “classificar” e “armazenar” toda a informação que absorvemos, incluindo “o outro”. Parece-me é que estamos a esquecer um facto importante: o meu “armário” não terá exactamente as mesmas “gavetas” que outro qualquer. Para uns, as gavetas principais poderão, por exemplo, ser o aspecto físico, a forma de vestir, a capacidade financeira, a educação formal, etc.. Para outros essas gavetas são secundárias, e organizarão os seus armários de outra forma. Além disso, mesmo gavetas que possam ser comuns a todos os armários não são valorizadas da mesma forma por todos nós, o que para uns é fundamental será, para outros, acessório (acho este facto por demais evidente em várias discussões aqui do fórum). Acho pois difícil que se possa chegar acordo sobre a definição de classe média (ou outra).

    Cumps
    José Cardoso
  15.  # 280

    Tem razão, o que eu acho mais importante outros acharão menos importante, numa pessoa.

    Sobre a classe média parece no entanto existir um acordo/consenso aqui no tópico: é remediada, está endividada, vive acima das suas posses, e é a que, no País, "mais paga a factura". Se calhar até é verdade, quando as vozes são muitas... Eu não a via precisamente desta forma, acho que continuo a não ver. Vejo-a antes como força económica de pujança significativa, se calhar, mais do que qualquer outra.
 
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