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      CMartin
    • 5 fevereiro 2016 editado

     # 1

    (vou tentar assim, de outra forma).

    Caros Foristas, e aos que optaram por não deitá-la abaixo,

    Criei este tópico com o intuito de partilhar experiências, vivências e saberes com os Donos de Casas Velhas ou Antigas, que como eu têm interesse na sua distinta arquitectura, história e necessidades.

    Estou a referir-me a nobres palacetes, casas senhoriais, quintas ((solares)) e casais saloios populares. Penso que não existem outros conceitos para além destes 4, mas pode ser por desconhecimento meu, embora por gosto é um assunto que tenho seguido de perto.

    Gostaria, também, de partilhas com quem tem casa em centros ou núcleos históricos. O que têm percepcionado, do vosso ponto de vista, da Salvaguarda e Valorização Patrimonial, por exemplo no vosso Concelho ou Junta de Freguesia?

    Benefícios Fiscais? Outros Apoios ou Valorizações, sem ser financeiros?

    Ainda, gostaria de saber, como têm feito para salvaguardar por um lado e valorizar por outro a vossa casa em termos de restauro, de reabilitação? A que profissionais têm recorrido para trabalhar a casa com as suas características únicas, se aos pequenos mas fulcrais saberes dos artesãos anciãos ou locais ou se têm procurado empresas especializadas em restauro por exemplo? Ou algo diferente.

    E que tal como têm corrido os pequenos remendos/arranjos (a telha que partiu ou apodreceu; a tábua que entortou, a pedra emparelhada do muro que se soltou..)?

    Como, ou se têm, feito para adaptar a casa às (vossas) exigências (actuais) de conforto?

    Que materiais têm utilizado : Os originais recuperados ou novos, e se novos, têm feito para manter o que estava ou fazer uma ruptura e colocar coisas diferentes ou modernas? Que escolha fizeram e porquê, o que os levou a fazê-las.

    Muito gostaria também de saber porque têm uma casa assim, diferente. Se foi por opção ou por imposição. Gostaria de uma conversa bastante objectiva, embora a meu ver, isto das casas antigas ou velhas é também muito subjectivo, um gosto que por vezes nem se saberá explicar. Podemos tentar desconstruir para melhor perceber até.

    (Para não elevar as minhas/nossas expectativas e sair defraudada, não conto com um excesso de participações neste tópico por ser um "nicho" feito dos poucos donos/interesses de/sobre casas assim ).

    Cumprimentos.

    Editado: Quase que me passava, tenho grande interesse pelas plantas deste tipo de casas. Ou as actuais plantas, ou do "antes e depois" se houve alterações por exemplo. Se se pudesse colocar era muito interessante também.
  1.  # 2

    Marcado para ir acompanhando
  2.  # 3

    C martin,

    Este tópico quase que daria uma pós graduação em reabilitação:)
  3.  # 4

    Questão prévia, o que se considera casas velhas/antigas?
    Uma com 70 anos e outra com 120 contam?
    •  
      CMartin
    • 5 fevereiro 2016 editado

     # 5

    riscos, talvez até dê, quem sabe? Penso que, e é como se ouve dizer, (embora eu não concorde muito com conversa que se tem por seguimento a uma determinada moda) mas a reabilitação e recuperação está na "moda". E ainda assim acho isto verdade apenas porque há uns anos não estava nada "na moda". Aos poucos talvez, mas cada vez mais, vai estando. Há que aproveitar o balanço e explorar o tema..
    Sempre gostei da arquitectura antiga, acho fascinante o "vivenciar" duma casa antiga, aprecio verdadiramente as características e materiais de construção que acho únicos e ainda por cima, pelo que vejo à minha volta, são raros, e estão em extinção. (E para mim, uma raridade é uma mais valia, não se constrói mais assim, e o que se deitou abaixo e era assim, já não pode ser de forma alguma substituído, morreu alì mesmo).

    Mas prefiro não colocar esta discussão ao nível de ou construir novo ou recuperar velho. O destaque e a atenção especial aqui no tópico é mesmo para o antigo e o velho.
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      CMartin
    • 5 fevereiro 2016 editado

     # 6

    Colocado por: CastelaQuestão prévia, o que se considera casas velhas/antigas?
    Uma com 70 anos e outra com 120 contam?


    É uma boa pergunta.
    Ou não :o)
    Nem pensei nisso nesses termos. Para mim claramente uma casa de 70 anos é velha e uma de 120 é antiga. Ou nada disto em que não se define se uma é velha e a outra antiga mas são certamente casas abrangidas pelo tema de reabilitação e valor patrimonial e / ou histórico.

    Sim, são ambas abrangidas pelo tema que proponho discutirmos.
    Posso é ir à procura do conceito de casa antiga e casa velha, apenas até por curiosidade especifica (cientifica? histórica ?). Mas só se faz questão de ter esse conceito Castela..
  4.  # 7

    Tenho uma casa de 1893 construída a partir de uma casa já existente que não sei a data original.
    Infelizmente foi recuperada pelos meus pais e sem muito cuidado.

    Tenho problemas gravíssimos na casa de humidades, salitre e a casa é uma camara frigorifica...
    No inverno vê-se vapor a sair das nossas bocas e nem no verão é quente e temos de andar de camisolita em casa.

    Paredes em pedra e adobo (não sei se é assim que se chama) com 1m de espessura, um soalho em madeira que não foi retirado e levou uma placa em cimento por cima... enfim!
  5.  # 8

    Creio que hoje a reabilitação não é tanto uma moda mas sim uma necessidade.
    PDM`s e outras regras urbanísticas são cada vez mais restritivos à construção nova, as dificuldades de crédito e a necessidade de morar nos grandes centros tb ajudam. Será sem dúvida alguma o grosso da construção durantes os próximos anos ou até décadas. Contudo nem tudo são rosas, se a legislação se vai já adaptando a esta nova realidade, a capacidade técnica e a sensibilidade do nosso corpo técnico ainda tem muito para andar.
    Começando nos nossos projetistas que para além dos conhecimentos técnicos da arte necessitam igualmente de serem sensíveis noutras áreas. Dominar conceitos de sociologia e de história dos lugares é certamente uma grande mais valia para se evitarem atentados ao património. Não basta idealizar um edifício bonito se este não conseguir comunicar e envolver-se com os seus utilizadores e aquilo que o rodeia.
    A memória e a história dos locais faz-se de pequenos pormenores, sendo que o edificado é um deles, destruir ou descaracterizar essa memória é algo que deve ser conscientemente ponderado.
    Dito isto, a culpa é sempre dos arquitetos.
    Concordam com este comentário: CMartin, luis_guilherme, Raquek, LuB
  6.  # 9

    Colocado por: LuisPereiraum soalho em madeira que não foi retirado e levou uma placa em cimento por cima


    Fiquei chocado com esta frase. Espero bem que não tenha sido o pavimento original com mais de um século.
    Concordam com este comentário: Joao Dias, Raquek
    •  
      CMartin
    • 5 fevereiro 2016 editado

     # 10

    Não sei datar a minha, já pesquisei bastante. Sei que é de origem saloia, vulgo (ou julgo) árabes que povoavam as zonas rurais interiores de Cascães e de Mane hic (tem a interpretação não se sabe se verdadeira de "fica aqui" em Latim).
    Tenho estado a ver se descubro qual o século em que os saloios de Cascais se começaram a fixar por aqui...
  7.  # 11

    Colocado por: zedasilvaPDM`s e outras regras urbanísticas são cada vez mais restritivos à construção nova, as dificuldades de crédito e a necessidade de morar nos grandes centros tb ajudam


    em relação ao crédito, muitas vezes fica mais caro comprar velho e restaurar, do que comprar logo novo, por isso acho que não se aplica a questão do crédito. Alias, foi por ser mais barato comprar novo do que restaurar que chegamos ao panorama imobiliário actual.

    o que se passa e que os prédios nos centros históricos, mesmo restaurados, muitas vezes não respondem as necessidades actuais das pessoas. Hoje em dia, a menos que não tenham dinheiro para isso, ninguém compra um apartamento sem uma garagem e sem elevador. Ora essa é exactamente a situação de muitos prédios nos centros urbanos.
  8.  # 12

    LuisPereira, mais uma razão tem para se interessar pelo assunto. Em parte como diz o zédasilva e também o marcoaraujo, a falta de saber, ou por na geração dos seus (meus?) pais, certamente não haveria a preocupação ou o "entender" da casa como hoje temos. enso que temos um encarar e um cuidar diferente.

    Terá a ver também com as técnicas de construção originais claro que sim. Reparemos que nem todas as casa antigas como a sua têm problemas de isolamento, há construções antigas em que estavam previstas e foram de facto utilizados métodos com alguma eficácia, embora rudimentares e datados dessa época e do conhecimento que havia nessa altura. Usava-se já nesses tempos isolamento por baixo das telhas por exemplo.
    •  
      CMartin
    • 5 fevereiro 2016 editado

     # 13

    Colocado por: pauloagsantos

    em relação ao crédito, muitas vezes fica mais caro comprar velho e restaurar, do que comprar logo novo, por isso acho que não se aplica a questão do crédito. Alias, foi por ser mais barato comprar novo do que restaurar que chegamos ao panorama imobiliário actual.

    o que se passa e que os prédios nos centros históricos, mesmo restaurados, muitas vezes não respondem as necessidades actuais das pessoas. Hoje em dia, a menos que não tenham dinheiro para isso, ninguém compra um apartamento sem uma garagem e sem elevador. Ora essa é exactamente a situação de muitos prédios nos centros urbanos.


    Não podia discordar mais.

    Quem compra uma casa assim é porque não quer elevador. Eu tive elevador e dispensei-o. Comprei esta por absoluto enamoramento subjectivo é verdade, mas penso que é desconhecimento de causa resumir o velho apenas a esse discurso tão redutor, que é precisamente o que queria evitar no tema!

    Principalmente porque:
    - Um casa antiga/velha nem sempre sai cara (ou mais cara)
    - Uma casa antiga/velha nem sempre não responde às necessidades actuais dos proprietários.

    Como disse, eu tive ambas as experiências e posso peremptoriamente afirmar que a minha casa de construção antiga ofereceu-me uma vivência mais salutar no meu dia-a-dia do que o meu apartamento descaracterizado mas com elevador e garagem, alguma vez me podia dar.

    Edit: Por outro lado, a casa não é prédio, não precisa de elevador, e o preço de compra foi equivalente ao de um apartamento num prédio novo na mesma zona. Foi por opção mesmo.
  9.  # 14

    Colocado por: CMartinos saloios de Cascais

    Então pá? Tasta esticar!
  10.  # 15

    Acho que era mais ao lado, Malveira!
    •  
      CMartin
    • 5 fevereiro 2016 editado

     # 16

    Sim C. Silva,
    Manique e mais concretamente Alcabideche, tal como Malveira da Serra, Alvide, São Domingos de Rana, são ou eram saloias.
    Basicamente Cascais, Mafra e Sintra são as típicas zonas saloias.

    Mas Lisboa claramente também as tem (Odivelas, Loures, ..) as aldeias de roupa branca Lisboetas onde se secava as roupas ao sol e daí a expressão.

    O restante de Portugal terá as suas, tenho-me concentrado de forma egoísta mais na minha zona.
    Concordam com este comentário: C.Silva
    •  
      CMartin
    • 5 fevereiro 2016 editado

     # 17

    Colocado por: zedasilvaCreio que hoje a reabilitação não é tanto uma moda mas sim uma necessidade.
    PDM`s e outras regras urbanísticas são cada vez mais restritivos à construção nova, as dificuldades de crédito e a necessidade de morar nos grandes centros tb ajudam. Será sem dúvida alguma o grosso da construção durantes os próximos anos ou até décadas. Contudo nem tudo são rosas, se a legislação se vai já adaptando a esta nova realidade, a capacidade técnica e a sensibilidade do nosso corpo técnico ainda tem muito para andar.
    Começando nos nossos projetistas que para além dos conhecimentos técnicos da arte necessitam igualmente de serem sensíveis noutras áreas. Dominar conceitos de sociologia e de história dos lugares é certamente uma grande mais valia para se evitarem atentados ao património. Não basta idealizar um edifício bonito se este não conseguir comunicar e envolver-se com os seus utilizadores e aquilo que o rodeia.
    A memória e a história dos locais faz-se de pequenos pormenores, sendo que o edificado é um deles, destruir ou descaracterizar essa memória é algo que deve ser conscientemente ponderado.
    Dito isto, a culpa é sempre dos arquitetos.


    Sim, é sempre dos arquitectos. Mas também colaboramos com as nossas pateguices (é assim que se diz, "de patego"?).
    Tenho para mim que os PDMs estão a valorizar o antigo ao não facilitar tanta construção nova, pelo menos nos centros históricos. Não sei se por alguma obrigação que eu não esteja a ver ou por tentativa de equilibrar um mercado habitacional com excesso de construção nova, que a meu ver, não trouxe nenhum benefício, nenhum, versus um estudo cuidado e planeamento realista para gerações para além da nossa! Olhem bem o que fizeram à zona rural de Sintra por exemplo! Fizeram uma linha de Sintra!

    Há que ter precisamente esse cuidado, daqui em diante pelo menos em que ainda subsistem alguns belos exemplos País fora.

    E sim, os técnicos especialistas, e os donos destas edificações são os últimos responsáveis por se educarem, por estudar e perceber as casas para que não se cometa nelas atrocidades que a descaracterizem. Se a apreciam, claro (que não sei se se é obrigado a isso se a casa não estiver documentada como património e se não estiver de alguma outra forma salvaguardada(...)).
  11.  # 18

    Colocado por: CMartinsão ou eram saloias.

    Ui, ofendem-se todos, hoje quem se cataloga ainda, são os da zona da Malveira da Serra
  12.  # 19

    E agora por simples curiosidade, já alguém ouviu falar da Carta de Atenas? (Deparei-me com ela no meio do meu interesse pelo património e achei muito interessante).
  13.  # 20

    Também me parece que a questão não se põe só no âmbito de um quadro de "casa velha com todas as virtudes de uma nova".
    É claro possível, normalmente sempre muito caro, mais caro até que fazer uma nova.
    Claro que há "comodidades" hoje em dia que são quase indispensáveis, não é o caso de uma aspiração central ou os altifalantes distribuídos por toda a casa, mas uma garagem ou mesmo um elevador, dou de barato que sim, que possam ser (e às vezes são) úteis. Ainda assim, claro que há alternativas, um carro num centro histórico pode não ser assim tão essencial, assim como um elevador, pensando numa situação mais "normalizada" que não implique situações de mobilizada reduzida por exemplo.
    Tem sobretudo a ver com uma questão "cultural", e não quero que a palavra soe mais do que é, isto é, sem qualquer juízo de valor, mas assim é, pois, salvo questões puramente económicas (por exemplo numa situação de que o velho é (aparentemente) mais barato), quem procura uma casa velha é porque gosta e é porque a valoriza por isso.
    Mas como já foi dito, também temos que ir além de nós, ou seja, ter também uma preocupação "colectiva", fazer a nossa parte no sentido de preservar o património histórico de dado local, encarando a paisagem (construída) como um repositório de vivências e existências ao longo de muitos anos. Há naturalmente transformação, mas mantém-se sempre uma relação estreita entre paisagem construída e identidade.
    Por outro lado há o factor afectivo, que engloba as nossas memórias, vivências, cultura, interesses, gostos, paixões, etc, factores esse, que para mim são decisivos na escolha de uma casa. Para outros não tanto, pois têm eventualmente uma perspectiva mais "utilitarista", igualmente válida.
    Neste deve e haver há sempre concessões, embora me custe que se veja uma casa como um mero "objecto" sem mais, e não se pensar mais um pouco no que é isso de uma casa, de um local, de como já falei de uma paisagem que é nossa e de todos, e somos todos que a fazemos.
    Dito isto, pessoalmente, gosto ou de casas velhas ou das ditas "modernas", assim tenham umas e outras, algo que me digam.
    Concordam com este comentário: CMartin, LuB, nunones
 
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