Iniciar sessão ou registar-se
  1. Patrick regressa da guerra a valorizar o número de vezes que uma criança sorri
    Por Fernando André Silva



    Patrick Dias, de 24 anos, completou mais de 70 horas de confronto armado com um grupo armado na República Centro-Africana (RCA), durante uma missão especial de seis meses naquele país que está em guerra civil.

    Natural do Canadá, mas a residir desde os quatro anos em Campo Abades – uma pequena aldeia em Terras de Bouro com pouco mais de 100 habitantes -, o 1.º cabo do segundo batalhão de paraquedistas sediado em São Jacinto, Aveiro, trouxe da missão na RCA – onde foi condutor, apontador e comandante de equipa -, várias lições “para a vida”, como é o caso de valorizar um duche, um copo de água ou uma noite de sono.

    E confirmou com as crianças daquele país que a felicidade não está nos bens materiais, mas sim na quantidade de vezes em que sorrimos.

    O MINHO foi a Campo Abades falar com o militar que termina o contrato com aquele regimento no final do próximo mês de setembro, depois de seis anos a servir a pátria, que culminou com a missão em Bambari, a segunda cidade mais populosa da RCA. Mas já lá vamos.

    Habituado à paz da freguesia minhota e do próprio concelho de Terras de Bouro, onde estudou até aos 18 anos, resolveu alistar-se no exército português como voluntário após várias “histórias” ouvidas na primeira pessoa, contadas por pai, avós e tios, que também foram militares.

    Patrick conta que a ideia já estava vincada desde criança: “Inscrevi-me como voluntário para o corpo de tropas paraquedistas e fui chamado para Tancos, onde fiz a formação [recruta+curso], durante 7 meses”.

    Foram meses “intensos e exigentes”, numa “tropa especial”, onde os “dias complicados a pensar desistir” estiveram presentes, mas nunca levaram de vencida a determinação do “guerreiro” com coração do Minho. “Muitas vezes questionei o que estaria ali a fazer mas graças à ajuda dos meus pais e da minha irmã, consegui aguentar”, recorda.

    Seguiu-se a transferência para o segundo batalhão de paraquedistas em São Jacinto, Aveiro, depois de ter sido um dos quinze melhores da formação [eram 70 no total]. Lá, aprendeu a valorizar a camaradagem, a lealdade e o espírito de equipa, algo que transpôs não só para o cenário real de conflito como também para a vida.

    Patrick sabia que a qualquer momento poderia ser chamado para uma missão em cenário de guerra e a formação que foi tendo ao longo dos últimos anos incidiu nisso mesmo, com treino para saber reagir em emboscadas ou para entrar em compartimentos preenchidos com grupos armados. E foi mesmo isso que encontrou depois de 6 de setembro de 2018, quando o avião em que seguia com os restantes 180 “camaradas” aterrou em Bangui, na RCA.

    Confronto direto com grupos armados

    “Caiu na unidade de Aveiro uma missão na RCA, que passava por proteger civis e restabelecer a paz no país. Foi-me perguntado se eu queria ir, e não hesitei. Queria mesmo ir. Já tinha avisado os meus pais e a minha irmã que ia, mesmo sabendo que era uma missão de risco que envolvia confronto direto com elementos armados”.

    Para essa missão, houve “um ano em aprontamento”, devido à complexidade do cenário que acabaram por encontrar. Mas o impacto inicial ao sair do avião foi indiscritível. “Era um aeroporto pequeno e a primeira coisa que notámos foi o clima extremamente quente. As temperaturas chegavam a atingir os 45 graus”, recorda.

    Devido ao clima, o grupo em missão teve direito a um mês de adaptação, onde não intervieram em nenhum conflito. Mas, ao segundo mês na RCA, foram deslocados para Bambari, onde um grupo armado [UPC] estava a aterrorizar aquela cidade.

    “O objetivo passava por tentar repelir o grupo daquela zona porque o que faziam era ameaçar as pessoas, extorquir, violar. Fechavam ruas para cobrar dinheiro para passar, faziam massacres”, aponta. E o início da experiência in situ não poderia começar de forma mais aterrorizadora. “No primeiro encontro com o grupo armado tivemos logo um ferido. Um camarada levou um tiro no braço direito, mas acabou por recuperar”, conta.

    Patrick não esquece o primeiro impacto frente a frente a guerrilheiros armados com AK’s [metralhadoras] e RPG’s [lança-misseis de ombro]. “Aquilo era um contexto urbano, eles refugiavam-se dentro de edifícios e iam disparando. Lembro-me de olhar para o ar e ver ‘chumbada’ por todos os lados. Lembro-me também das explosões que nos passavam ao lado. Deu para sentir tudo a tremer”, recorda.

    “Foi um momento complicado de gerir, a primeira vez que entro em contacto com o grupo armado, vejo logo um camarada atingido, que me deixou a pensar: o que é isto? Lembro-me de meter mais munições na mochila e preparar-me para o pior. Mas depois passou e atingimos sucesso nessa operação, sem mais nenhum ferido”.


    Depois, conta Patrick, ficou mais calmo até ao fim do mês de outubro. A viver em tendas, naquela cidade, sem grandes condições, regressaram á capital do país para “regeneração”, regressando ao coração do conflito no mês de janeiro.

    “Fomos novamente chamados para expulsar mais um grupo armado. Efetuámos várias operações em vários dias seguidos de combate”. Patrick e os companheiros atingiram um total de 70 horas de conflito direto durante aquele mês, desde confrontos na rua como entrada em compartimentos onde se alojavam os grupos. Uma vez lá dentro, apreendiam-lhes o armamento e eram depois expulsos para a zona reservada àquele tipo de grupos, longa da cidade.



    “Existem 15 grupos armados na RCA e o que estávamos a combater era UPC, sigla que é um apelo à paz, mas é cómico porque eles queriam tudo menos a paz”, sublinha.

    Sítio mais perigoso em guerra atualmente

    A RCA é um dos países onde, atualmente, o conflito armado é mais intenso. Os próprios “grandes nomes do exército português” salientam esse facto, destacando o “risco” da missão por ser feito à base de confronto direto.

    “Atingimos um nível muito bom porque as operações em janeiro foram consecutivas e pensávamos que poderia dar para o torto mas voltámos todos direitos. Não voltou ninguém torto”, brinca. Dos 180 “convocados”, apenas 90 é que eram da componente operacional. O restante número era composto por mecânicos, cozinheiros ou elementos que faziam parte dos serviços. “Sem eles não fazíamos nada”, aduz Patrick.

    Do Minho, não era só o residente em Campo Abades. “Havia um camarada de Terras de Bouro, um da Póvoa de Lanhoso, um de Melgaço e alguns de Braga”, recorda.

    População local gritava por Portugal

    Patrick explica que o grupo especial do exército português contava com o apoio da população local. [u]“Os grupos massacravam as pessoas e elas acabavam por não os apoiar, porque não era aquilo que queriam. Em cada operação que efetuávamos, as pessoas vinham apoiar-nos. Quando terminávamos, vinham ao pé do campo bater palmas e gritar por Portugal. Fomos sempre bem recebidos pela população local”, vinca.[/u]

    “Estar em contacto com aquelas pessoas, sobretudo as crianças, foi muito enriquecedor. “Infelizmente é um país que não tem quase nada e onde sobrevivem dia a dia com fruta da época e farinha mandioca. Custa perceber que há países que ainda estão nesse estado, de muita pobreza, e muitas vezes dávamos da nossa própria comida e era impressionante a alegria deles.

    Como é que eles conseguem ser felizes?

    “A alegria deles é contagiante. Não têm rigorosamente nada, mas mostram felicidade, sobretudo as crianças, que estavam sempre a rir. Acho que só demonstra que bens materiais não trazem felicidade. Lá, deram-me uma resposta para a vida: o que conta é a quantidade de vezes que nós sorrimos”.



    Futuro

    Com o contrato a terminar no final de setembro de 2019, Patrick vai concorrer para a Polícia de Segurança Pública. “Gosto de comunicar, falar com as pessoas e vejo-me nessa área no futuro. GNR também pode ser, mas estou mais vocacionado para a PSP”, revela, enquanto vai passando alguns dias em Campo Abades, onde a principal companhia é Tommy, um dos cães de estimação.

    Mensagem para quem se quiser alistar no exército

    “Se não tiverem ideias para o futuro, o exército é uma boa solução e vai ensinar a ver a vida de uma forma diferente. Se quiserem ir para os paraquedistas, sem duvida que é uma tropa bonita, onde saltamos de aeronave que é um momento de adrenalina inesquecível.

    Na RCA não houve saltos, mas Patrick salienta que o voo do paraquedista é “um sentimento de liberdade” destacando que só os paraquedistas sabem “o porquê dos pássaros cantarem… porque a voar são felizes”.

    https://ominho.pt/do-minho-a-republica-centro-africana-patrick-regressa-da-guerra-com-licoes-para-a-vida/


    Então o nosso Cabo Dias tem de 24 anos, foi o 15.º melhor da formação em 70, tem experiência em combate e agora vai deixar o Exército. Com isto perde-se um elemento que reúne todas as condições para ser uma mais valia para as Forças Armadas, tudo porque nunca mais avança-se com um quadro permanente para Praças.
  2. Não era novidade para ele nem para ninguém que os contratos são no máximo por 6 anos.
  3. É engraçado que antes do 25A artigos destes apenas com a troca de RCA por Angola ou Moçambique eram considerados fascistas, colonialistas. Agora quem passa uma temporada em África muito bem pago já parecem uns heróis da Marvel.
    A grande diferença era que quem quisesse continuar na tropa era bem-vindo, agora não há tachos para todos.
    Concordam com este comentário: treker666
  4. Despacho n.º 8034/2019 - Diário da República n.º 174/2019, Série II de 2019-09-11 124602574
    Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Procedimento n.º 18/DRL/DA/2019, no âmbito da aquisição de um Coastal Patrol Vessel e três Coastal Patrol Boats, para guarnecer os meios navais da Unidade de Controlo Costeiro da Guarda Nacional Republicana

    https://dre.pt/web/guest/home/-/dre/124602574/details/2/maximized?serie=II&parte_filter=31&dreId=124602538
  5. https://www.facebook.com/ExercitoPortuguesPRT/videos/3135486483191237/



    O Exército Português acaba de divulgar a "nova família de armas ligeiras" que o irá equipar e que será formalmente apresentada no próximo dia 16SET2019 na Escola das Armas em Mafra, armamento esse cujas características básicas estão agora referidas no site do ramo terrestre:

    https://www.exercito.pt/pt/Paginas/0_Conteudo_Generico/Armamento_FN/Armamento_FN.aspx



    Fonte: Operacional
  6. Esta doeu....o rapaz era do curso a seguir ao meu....
    Concordam com este comentário: branco.valter
  7. Não conhecia o Gonçalves, julgo que era SOGA. Presente
    Concordam com este comentário: branco.valter
  8. É com pesar que o Exército informa que hoje, pelas 09h40, faleceu um Militar Paraquedista de 34 anos, que se encontrava a participar no exercício multinacional Real Thaw 2019, na Base Aérea N.º 11, em Beja.

    Durante a execução de um salto de queda livre operacional, o sistema de para-quedas não funcionou devidamente, tendo resultado na queda do nosso Militar dentro do perímetro da Base Aérea N.º 11.

    Foram acionados os procedimentos de emergência médica e o Exército encontra-se a realizar o processo de averiguações para apurar todas as circunstâncias em que ocorreu este acidente, tendo sido acionado o apoio psicológico.

    Num momento de profunda dor para o Exército com a perda de um dos nossos, enviamos as mais sentidas condolências à Família e Amigos.


    QNPVSC!!!

    Também eu vi a morte devido a um salto de um Oficial que era uma espécie de lenda no seio do CTAT, havia pessoal que andou abananado durante semanas. A morte de um camarada é sempre terrível, a morte de um marido e pai ainda pior.
  9. Colocado por: branco.valter

    QNPVSC!!!

    Também eu vi a morte devido a um salto de um Oficial que era uma espécie de lenda no seio do CTAT, havia pessoal que andou abananado durante semanas. A morte de um camarada é sempre terrível, a morte de um marido e pai ainda pior.


    1996?
  10. Colocado por: branco.valter

    QNPVSC!!!

    Também eu vi a morte devido a um salto de um Oficial que era uma espécie de lenda no seio do CTAT, havia pessoal que andou abananado durante semanas. A morte de um camarada é sempre terrível, a morte de um marido e pai ainda pior.


    Coronel Krug?
    Concordam com este comentário: branco.valter
  11. 2000, foi o Tenente-Coronel Krug.
  12. Colocado por: branco.valter2000, foi o Krug.

    O filho mais velho continua a saltar e é craque em precisão tal como o Pai.
    Concordam com este comentário: branco.valter
  13. 2000, exacto. Estava em Tancos por essa altura. Também faleceu o sargento Alapalhão no Tejo, por essa altura, talvez em 2001.
  14. Colocado por: branco.valter2000, foi o Tenente-Coronel Krug.


    Posso estar enganada, mas acho que foi promovido a título póstumo.
    Estas pessoas agradeceram este comentário: branco.valter
  15. Colocado por: rjmsilva2000, exacto. Estava em Tancos por essa altura. Também faleceu o sargento Alapalhão no Tejo, por essa altura, talvez em 2001.


    Outra morte que deixou o pessoal todo chocado e sim, foi depois.
  16. Penso que tinha sido promovido a primeiro sargento por esses dias, terá sido então em Outubro de 2001. Era um grande amigo.
  17. Colocado por: Tyrande

    Posso estar enganada, mas acho que foi promovido a título póstumo.
    Estas pessoas agradeceram este comentário:branco.valter

    Acho que não, tinha saltado com ele pouco tempo antes e até com o paraquedas com que ele morreu - Stilleto 120 - e acho que na altura já era Ten-Cor. Embora a maioria das fotos que tenho com ele ainda era Major.
  18. Colocado por: Carvai
    Acho que não, tinha saltado com ele pouco tempo antes e até com o paraquedas com que ele morreu - Stilleto 120 - e acho que na altura já era Ten-Cor. Embora a maioria das fotos que tenho com ele ainda era Major.


    Ele quando morreu era TCor, acho eu. Mas tenho quase a certeza que foi promovido a Coronel a título póstumo.
    Estas pessoas agradeceram este comentário: Carvai
 
0.7842 seg. NEW