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  1.  # 161

    Colocado por: cyphronE a familia 2 ? Parece mais modesta nao parece ? Ou mais inteligente ? Vivem melhor que os primeiros, mas aparentam menos.
    Tem margem para alguma poupança. Optaram por um padrão de vida mais realista.


    2400 euros líquidos com essas mordomias todas ?

    Tanto uma como outra vivem à grande e à francesa, mas a familia A essa está completamente sobreendividada e quase na falência

    o meu agregado é de 4 pessoas com 3000 euros líquidos por mês, e tenho :

    - mudei agora de apartamento, por acaso 195.000 com 25% de entrada....curiosamente é quase igual à família B
    - um carro de 11 anos

    Compro roupa na feira de "marca", tento usar produtos brancos nos supermercados...não tenho luxos, passo férias na casa dos meus sogros e pais ( não gasto nada ). Mas curiosamente este ano vou a Israel, é a primeira vez que faço isso

    Não tenho mais nenhum empréstimo e nem penso ter, cartões de crédito raramente uso, e contas ordenado não uso créditos, e todos os meses tento colocar algo numa poupança

    Tenho 40 anos e a minha mulher 39, o empréstimo da casa nova é de 130.000 ( a casa custa 195.000 ), vou pagar 500 euros o que parece pouco mas porque é que já perdi noites de sono a fazer contas e mais contas com um juro da euribor a 6% ( imagine-se !! ) e ficar completamente assustado por ter tamanha dívida a um banco ? nunca devi tanto dinheiro na vida

    E mesmo agora ao escrever estas linhas sinto medo, sou paranóico ?

    Porque é que vejo agregados familiares a ganharem 1400 euros líquidos a comprarem casas T3 com box de 150.000 euros ? conheço um caso de uma mulher que deseja comprar uma casa igual à minha de 195.000 e já obteve várias recusas de vários bancos....e não desiste...

    Pessoas a endividarem-se acima dos 30% do seu rendimento líquido...

    Porque é que alguns agregados se o carro avariar e precisarem de 1000 euros para o arranjar não têm absolutamente nada para dar ? ou qualquer outro imprevisto ? não têm....é chapa ganha ... chapa gasta....

    Já li algumas histórias de pessoas que ganham o salário mínimo e Meu Deus, pasmo-me que algumas dessas pessoas poupam nem que seja 5 euros por mês... que heróis, pessoas formidáveis. Um jornalista do Expresso aceitou esse desafio...e contou histórias de outras pessoas e a sua própria experiência, vale a pena ler

    São vários artigos, leiam :

    http://aeiou.expresso.pt/um-mes-com-o-salario-minimo=s25031
  2.  # 162

    Quero-vos dizer mais isto – como alguns sabem nasci noutro país e cresci ainda noutro. Não sei se por causa do país onde nasci, do país onde cresci e/ou da educação que recebi, de uma mistura das 3, resultei numa pessoa muito positiva.
    No pais onde cresci sei que o estado de espírito era sempre muito positivo, e, mesmo em período de consternação política e social muito grande, todos nós vivíamos felizes da vida, porque fomos muito protegidos dessa realidade que não podíamos mudar, mas apenas viver da melhor maneira.
    De educação aprendi a confiar sempre no futuro e em mudar o que estava na minha mão mudar e não me matar de preocupação no que não estava na minha mão mudar, nem me enervar com antecedência ou por expectativa antes de ser preciso actuar. Não sei se vos parece certa ou errada esta filosofia e maneira de estar na vida, para mim digo-vos que funciona muito bem.
    Quando vos parecer que sou de outro mundo, sim, se calhar sou, mas serão estas as razões.
    Apenas, se calhar, falta-me o que vocês por vezes parecem ter a mais: fado.
    (PS. Mas não sinta que me faça muita falta, esse fado)
  3.  # 163

    Johny2: Também sou agarrada aos meus pais. Ainda por cima sou filha única e nunca me separei deles até aos 28 anos. Mas não fui para o outro lado do planeta.
    Eu vim para aqui para ter melhor qualidade de vida, com menos dinheiro.
    Para eu pagar uma renda de um apto em Lisboa, igual ao que eu tenho aqui, chegaria ao dobro do que pago aqui.
    Ora, em Lisboa podia ter oportunidade de trabalho que aqui não tenho. Podia ganhar mais (obviamente que sim), mas depois os gastos nas cidades, são muito superiores. Não vi como alternativa, continuar em Lisboa e continuar a ter uma casa boa num sítio bom (como tinha com os meus pais). Além do crime e da poluição que existe. O medo que eu tinha em andar na rua sozinha.
    Aqui ando na rua à noite e não tenho medo de nada, não desconfio de ninguém.

    O único problema para si, é não morar ao pé dos pais e não contactar fisicamente com os amigos.
    Não vejo isso como grande problema. E digo já, que não abdicava nunca da qualidade de vida que tenho aqui e que dou ao meu filho, por causa dos meus amigos de Lisboa. Em primeiro lugar está o bem-estar da família que construí. Em segundo lugar estão os meus pais e em terceiro estão os meus amigos.

    "Pobre" mas com qualidade de vida.

    E, futuramente quando os meus pais se reformarem, ou mesmo antes disso, vêm morar para aqui também :) Deixando o Restelo onde sempre viveram. É que o meu pai já diz mal de tudo, já está fartinho de morar onde mora. Está sempre a dizer que eu é que tenho sorte por morar aqui em Monção, sítio onde todos os anos vinhamos de férias :)


    hfviegas : Sempre tenho a Galiza a 200m, onde poderei procurar algo melhor, assim que a crise passar. Não estou propriamente longe de tudo ;)
  4.  # 164

    PS2 . Estão sempre à espera que vos caia qualquer coisa na cabeça.E fazem questão de apontarem aos outros coisas que possam caír na cabeça deles também.
  5.  # 165

    Boas

    E fazem questão de apontarem aos outros coisas que possam caír na cabeça deles também.

    Infelizmente cada vez mais fico com a ideia que há pessoas que, não podendo melhorar as suas condições, só ficam satisfeitos quando a "desgraça" bate também à porta dos outros. Chamem-lhe o que quiserem para mim não passa de inveja e má formação. Digo isto sem complexos, não sou rico, nunca hei-de ser mas não é para mim motivo de preocupação. Ou melhor, se calhar até sou: pago as minhas contas, tenho um filho a quem consegui preparar para a vida, gozo ainda da companhia dos meus pais e tenho amigos.

    Claro que ser livre ajuda

    Como será o amanhã?

    cumps
    José Cardoso
  6.  # 166

    Desculpem lá mas o tema deste tópico, só por si, já carrega algum negativismo. A classe média portuguesa não está bem. Como queriam comentários positivos?
    O que se passou foi que a discussão foi desvirtuando atingindo casos pessoais e pensamentos muito próprios. A realidade, no seu todo, é bem diferente.
    Quem nos dera a nós que estivesse tudo bem. Ou acham que está bem assim?

    Não se critica? Não se faz nada? Ficamos todos a assistir, baseados em lirismos próprios de um presid da república que nos apareceu com exemplos do pianista, em vez de actuar?

    Eu trabalho muito, ainda com motivação, e custa-me pagar tantos impostos sem ver resultados... Revolta-me esta inércia dum povo que parece não querer evoluir e resolver os problemas.

    Isto são apenas desabafos... mas a continuar assim ainda me torno "mercenário" e não quero saber dos outros para nada...

    Parece que anda tudo meio anestesiado...


    "A classe média é uma classe social presente no capitalismo moderno que se convencionou tratar como possuidora de um poder aquisitivo e de um padrão de vida e de consumo razoáveis, de forma a não apenas suprir suas necessidades de sobrevivência como também a permitir-se formas variadas de lazer e cultura, embora sem chegar aos padrões de consumo eventualmente considerados exagerados das classes superiores. A classe média surgiu como uma consequência da consolidação do capitalismo e não antes dele devido aos fatores de segmentação social em camadas, resultantes do desenvolvimento econômico; é um fenômeno típico da industrialização."
  7.  # 167

    "...também a permitir-se formas variadas de lazer e cultura"

    Nisso, somos exemplares (sempre com TI pq não está "correcto" cozinhar durante as férias)
    :)
  8.  # 168

    Espero não estarem com ideias que eu vá deixar morrer este tópico assim, tão desmaiadinho e sem ter-se aprendido nada de muito profundo.
    Estão?
  9.  # 169

    Temos que definir os critérios para ser de classe média. Depois se a pessoa se endivida para fazer parte dessa classe penso que será outra análise a fazer.

    Bom para mim ser de classe média implica.

    Famila de 3 agregados.

    Casa - Com empréstimo de pelo menos 75% do valor na altura da compra
    Carro - Um ou dois conforme as necessidade se forem carros ultimos modelos são comprados com empréstimo
    Restaurante - 2 a 3 vezes por mês
    Roupa - Comprada quase sempre em saldos, muito raramente lá se perde a cabeça e compra-se uma peça ou outra fora dos saldos
    Hiper mercado - um misto de marca brancas com alguns produtos de melhor qualidade
    Férias - Em apartamentos ou aparthotels
    Educação - Estatal

    Podem continuar...
  10.  # 170

    Colocado por: hfviegasTemos que definir os critérios para ser de classe média. Depois se a pessoa se endivida para fazer parte dessa classe penso que será outra análise a fazer.
    Podem continuar...


    hfviegas, a análise para mim, lá estás são opiniões, não se regerá "apenas" em pressupostos económicos. Há muito mais a dizer. Não lhe parece?
  11.  # 171

    Muito mais a dizer..
    Para quem ainda tem muito interesse no assunto (!)

    “parece pouco mas porque é que já perdi noites de sono a fazer contas e mais contas com um juro da euribor a 6% ( imagine-se !! ) e ficar completamente assustado por ter tamanha dívida a um banco ? nunca devi tanto dinheiro na vida
    E mesmo agora ao escrever estas linhas sinto medo, sou paranóico ?
    Porque é que vejo agregados familiares a ganharem 1400 euros líquidos a comprarem casas T3 com box de 150.000 euros ?” (Altar)
    “Pessoas que vivem com o salário mínimo ou pouco mais que isso são verdadeiros heróis
    Eu não sou rico mas se fosse procuraria em ajudá-los” (Altar)

    - Não será uma questão de paranóia, é o peso da responsabilidade. Todos a temos. Pela lógica, quanto maior a responsabilidade que assumimos, maior a preocupação, tem a ver também com o nosso sentido de responsabilidade, logo, esta frase sendo verdade para si, não será para outros e vice-versa. Todos temos a nossa própria psicologia.
    - Se calhar porque podem. Como podemos achar que conhecemos tão bem a vida dos outros, de todos os outros, para podermos medir as suas possibilidades. Saberemos se deram entrada/ qual o valor da entrada/ se familiares comparticiparam na compra, se os pais ajudaram? Para quando restringirmos as preocupações financeiras à gestão da nossa casa e pensarmos menos nas finanças dos outros?
    Ou isso, ou as pessoas de quem dizemos isto, são irreponsáveis aos nossos olhos, mas aos delas se calhar não. Depende onde acaba a linha de conforto de cada um.
    - Se fossemos ricos, ajudaríamos mais, ou estou a ser irónica ou, então, não sendo ricos, ajudaremos na nossa quota parte, certamente. (Acredito em parte nisto porque a Ajuda Alimentar este fim de semana diz-se, teve bons resultados).

    “Portanto acha que aquela história da oferta e da procura é artificial? Algo não inato?” (luisvv).
    - Não discordo, a lei da oferta e da procura é inata, mas é também influenciada artificialmente. Podendo ser viciada por rumores de mercado, é prova que podemos mexer na lei da oferta e da procura. (E foi feito há pouco tempo, com a vacina da gripe A. Diz-se que os franceses ficaram escandalizados com a manipulação (económica?)).

    “Mas Martad, sem crer criticar a sua opção, mas analisando a sua opção, onde é que se vê daqui a 10 - 20 anos no mesmo sitio? quais as suas perspectivas de vir a melhorar os vossos rendimentos?” (HFViegas para MartaD)
    - Se calhar a Marta não tem essa preocupação, que é a sua. Se calhar a Marta prefere determinados factores em detrimento de outros, na construção da sua vida. Cada um escolhe o seu caminho, e certamente, todos ponderamos muito bem as nossas escolhas de vida, as nossas não são as vossas, e as vossas não são as nossas.
    A classe média pode parecer mas não se define apenas pelo rendimento que tem, é também classificada pelo estilo de vida que leva/usufrui.

    “Estou de acordo com o Paulo Correia. O Crédito fácil veio fomentar em demasia o consumo ... As pessoas deixaram-se levar ... Agora é tarde.“
    „O país sofre de um problema estrutural base de maus hábitos, más praticas e más pessoas. A fuga ao fisco é generalizada e aceite. Perde-se muito.
    O resultado... Estamos agora a começar a pagar ... E sinceramente acho que vamos ter de mudar alguns hábitos ... Para vivermos felizes neste país.“ (Cyphron)
    - É tarde para quê? Vivermos, sobrevivermos, sermos felizes? Portugal é,por exemplo, o País onde só em último caso as pessoas deixam de pagar os seus compromissos financeiros relativos ao crédito à habitação. Existem casos de contas mal feitas e não se conseguir cumprir as responsabilidades. Parece-me que estes casos se deverão a situações inesperadas (desemprego/divórcio/doença) do que propriamente a pessoas terem contraído mais do que podiam pagar (existindo, serão em minoria), e, isso, meus caros, pode acontecer a qualquer um que se desempregue/divorcie/vá à falência/adoeça. Portanto, não vamos encher muito a boca. .(Sim, e é disso que temos medo…da tal coisa que nos caia na cabeça).
    Há a ideia de prevenir. A par do cuidado que temos com os nossos hábitos de consumo, há a necessidade dos hábitos de consumo; certamente todos sabemos fazer contas, mas nem todos contamos com o inesperado porque não sabemos o que ele será. Por isso se chama o inesperado. Nem todos os portugueses classe média são gentes remediadas irascivéis que não sabem, ou não fazem, contas à vida. Muito pelo contrário, a nossa preocupação é precisamente essa, daí fazerem-se tantas contas à vida. Livrem-se do peso do advir. Temos duas coisas garantidas: dois bracinhos bons para trabalhar que nos garantirão mais do que qualquer flutuação de taxa de juro, o poder de produzir.

    “Já estive mais longe de emigrar, de facto.” (luisvv)
    A troco de? É um desabafo, luisvv, cada país tem os seus quês, como sabe, se não sabe, imaginará. Não me parece que tenhamos chegado ao ponto de debandar. Prova disso é que, quem vai, ainda volta. Portugal não é o único País onde se colocam estas mesmas questões sobre o poder de compra da classe média.

    “Ou desisto e faço como os outros
    Ou emigro
    Ou alinho na evasão fiscal.” (PauloCorreia)
    -(Apenas opinião – a minha : Apenas não sofremos mais dessa tentação porque trabalhamos para terceiros.)
    Erradamente, é a mensagem que nos é transmitida pelos exemplos superiores do País, está na altura de se civilizarem e de nós darem lições melhores do que essas. A responsabilidade que eles têm e que parecem não saber é também na educação da população (quase como os pais para as crianças: "não faças o que eu faço", esquecendo que o que as crianças aprendem são o que vêm ser feito na prática por esses mesmos pais. Aprendemos com eles.
    ( não me consigo livrar da mensagem mental de J.Soares de helicopetro caído no meio de Angola, rodedado de marfim, e agora ainda lhe pedem opiniões no telejornal, mas porque razão queremos saber a opinião de alguem que não seja fidedigno?)

    “Isto são apenas desabafos... mas a continuar assim ainda me torno "mercenário" e não quero saber dos outros para nada...” (johny2)
    - Francamente, nunca percebi o que o rabo tem a ver com as calças, neste caso, porque o cuidarmos de nós há-de querer dizer descuidarmos os outros.

    "Infelizmente cada vez mais fico com a ideia que há pessoas que, não podendo melhorar as suas condições, só ficam satisfeitos quando a "desgraça" bate também à porta dos outros. Chamem-lhe o que quiserem para mim não passa de inveja e má formação." (JCardoso)
    "Não posso porém deixar de reconhecer que, mesmo sem concordar a 100% coma a Marta, a sua atitude constitui uma lufada de ar fresco neste ambiente bafiento que é o Portugal do século XXI. (JCardoso para MartaD)"
    - É Portugal no seu melhor medo de existir*.
    Por isso, a MartaD é uma lufada de ar fresco, não tem "medo de existir" (e esperemos, nunca o aprenda!)
    (livro * "Portugal, Hoje - O Medo de Existir ": José Gil começa por apontar o dedo à televisão que cria um clima de entorpecimento e de não-real, de não-acontecimento. A mediatização é apontada como sendo uma das responsáveis pelo nevoeiro que envolve a sociedade portuguesa não permitindo que se discirnam com clareza os factos.
    A não-inscrição é outro traço dominante na psicologia nacional. As coisas passam mas não mexem verdadeiramente com as pessoas, não se inscrevem, resultando daí uma inacção, uma falta de afirmação e também de responsabilização.
    A não-inscrição explicará também a falta de debate no espaço público ou até de verdadeiras críticas de arte, a livros, a espectáculos. As discussões são muito pobres, nunca se vai ao âmago das coisas e dos problemas, fica-se sempre pela superfície. “Os portugueses não sabem falar uns com os outros, nem dialogar, nem debater, nem conversar. Duas razões concorrem para que tal aconteça: o movimento saltitante com que passam de um assunto a outro e a incapacidade de ouvir”.
    Também o medo, fruto dos anos de ditadura, impede que se assuma a liberdade plena, que se diga o que se pensa. Um certo culto do “sôtor” e a reverencia a quem tem poder são ainda peias que tolhem o pensamento e a acção livres. Por outro lado, pensamos que nunca estamos à altura, que não somos suficientemente bons, anulando-se assim todas as potencialidades criativas. É a famosa falta de auto-estima a que a tão badalada teoria da inveja promove. Ou seja, numa sociedade em que o imobilismo grassa quem quer fazer é, inevitavelmente, mal-visto, alvo de intriga e de maledicência. Quem se destaca será, portanto, excluído do grupo.
    Gil continua a dissecar os males pátrios desenvolvendo a sua teoria da não-inscrição. Daí derivará também o “pensar pequeno” português, de que os abundantes “inhos” e “itos” e diminuitivos da linguagem são ilustrativos. “O ‘pequeno’ representa o tamanho perfeito, adequado ao seu investimento afectivo (...). O português revê-se no pequeno, vive no pequeno, abriga-se e reconforta-se no pequeno: pequenos prazeres, pequenos amores, pequenas viagens, pequenas ideias...”.
    Para ler o texto todo sobre o livro: http://www.citador.pt/biblio.php?op=21&book_id=1191)

    “Desculpem lá mas o tema deste tópico, só por si, já carrega algum negativismo. A classe média portuguesa não está bem. Como queriam comentários positivos?” (johny2). Se eu soubesse que este tópico carrega negativismo, juro não o teria aberto.
    Mas, talvez para si, um tópico destes, pode parecer negativo, dependendo da interpretação – eu queria falar sobre a qualidade de vida que sacrificamos em troco de um rendimento maior (menos tempo mais consumo), da classe média como força motora de um País, de uma Sociedade... repito o que disse num comentário inicial, tem a ver com a nossa perspectiva das coisas, para mim este tópico seria diferente do que para si. Logo, não é implicita e necessariamente negativo como lhe pode parecer à primeira vista.
  12.  # 172

    Colocado por: CMartin
    Colocado por: hfviegasTemos que definir os critérios para ser de classe média. Depois se a pessoa se endivida para fazer parte dessa classe penso que será outra análise a fazer.
    Podem continuar...
    Temos que definir os critérios para ser de classe média. Depois se a pessoa se endivida para fazer parte dessa classe penso que será outra análise a fazer.
    Podem continuar...

    hfviegas, a análise para mim, lá estás são opiniões, não se regerá "apenas" em pressupostos económicos. Há muito mais a dizer. Não lhe parece?


    Acho que a classe deve ser analisada à luz dos pressupostos económicos, porque se vamos analisar por outros pressupostos deixa de ser classe, mas outro nome por exemplo qualidade de vida.

    Se fossem outros pressupostos muito provavlemente a martad vivendo em monção poderia estar classificada na classe média alta enquanto eu que tenho de fazer todos os dias margem sul - lisboa poderia estar na classe média baixa ou pobre :-)
  13.  # 173

    hfviegas..é precisamente isso que eu estou a dizer desde sempre, desde que abri o tópico.

    Fico contente (que tenha percebido/que percebam) e quero vê-lo a essa luz, porque repare para mim, a classe média classifica-se por rendimento vs. qualidade de vida.
  14.  # 174

    Colocado por: CMartinhfviegas..é precisamente isso que eu estou a dizer desde sempre, desde que abir o tópico.

    Fico contente (que tenha percebido/que percebam) e quero vê-lo a essa luz, porque repare para mim, a classe média classifica-se por rendimento vs. qualidade de vida.


    Mas assim ainda fica mais dificil de classificar a classe média, repare pegando novamente na martad, se ela foi para monção por falta de opção então isso pode classifica-la automaticamente numa classe ainda mais baixa, ao passo que eu não trocava a margem sul por lisboa nem que tivesse milhões. O exemplo de me considerar pobre por morar do lá de lado foi mesmo só isso um exemplo, adoro morar na margem sul.

    Como a martad disse ela não tem amigos em monção como é que isso é quantificável/classificável??
  15.  # 175

    Colocado por: CMartin “Portanto acha que aquela história da oferta e da procura é artificial? Algo não inato?” (luisvv). - Não discordo, a lei da oferta e da procura é inata, mas é também influenciada artificialmente. Podendo ser viciada por rumores de mercado, é prova que podemos mexer na lei da oferta e da procura. (E foi feito há pouco tempo, com a vacina da gripe A. Diz-se que os franceses ficaram escandalizados com a manipulação (económica?)).

    Cara cmartin: sem querer discutir o alarme à volta da gripe A, isso em nada altera a validade da oferta/procura. Da mesma forma que é possível esgotar o stock de leite numa mercearia se espalhar o rumor de que no dia seguinte aumenta 50%.

    “Já estive mais longe de emigrar, de facto.” (luisvv) A troco de? É um desabafo, luisvv, cada país tem os seus quês, como sabe, se não sabe, imaginará. Não me parece que tenhamos chegado ao ponto de debandar. Prova disso é que, quem vai, ainda volta. Portugal não é o único País onde se colocam estas mesmas questões sobre o poder de compra da classe média.

    Não é um desabafo, é uma constatação. Hipóteses e propostas surgem com alguma regularidade, e às vezes sabe bem respirar ar fresco.

    E não se trata especificamente de questões de poder de compra, mas do ar que se respira .
  16.  # 176

    Boas

    Fico contente (que tenha percebido/que percebam) e quero vê-lo a essa luz, porque repare para mim, a classe média classifica-se por rendimento vs. qualidade de vida.


    E aqui é que a porca torce o rabo. O que entende a CMartin por qualidade de vida? O que entendemos nós todos por qualidade de vida? Provavelmente será "cada cabeça sua sentença".
    Pessoalmente não tenho dúvidas que a qualidade de vida passa pelo factor económico: não há qualidade de vida sem a satisfação das necessidades básicas de índole material - casa, alimentação, educação, etc.. Satisfeitas estas condições podemos então falar em qualidade de vida que, como é evidente, dependem de cada um. Para alguns a qualidade de vida passa por ter possibilidades de gozar férias nalgum destino de "sonho" (e que a mim me parecem mais de pesadelo), por trocar de carro de 2 em 2 anos, comprar roupa de estilista, frequentar bons restaurantes ou a discoteca da moda, etc. Ou seja, para estes a qualidade de vida depende apenas de factores económicos. Indo para outro extremo - do qual me sinto mais perto - a qualidade de vida vem com pequenas coisas:
    - demoro 5 minutos entre a casa e o escritório (a mesma coisa com a minha mulher).
    - estar em casa às 18.30 h, ou seja, tempo para pôr a leitura em dia, ouvir música, aqueles "pequenos" prazeres da vida.
    - a possibilidade de cumprir um "ritual": jantar em família e pôr a conversa em dia.
    - viver num ambiente quase rural mas com a cidade à porta e o Porto - ou melhor, cinemas, teatro, boas livrarias - a 10 minutos.
    - ter um hobby e a possibilidade de o satisfazer.
    - ter bons amigos com quem se partilham gostos e actividades comuns
    - ter a possibilidade de, sempre que se queira, comprar o livro ou o CD de que se gosta
    - e outras pequenas coisas, tão pequenas que podiam até tornar ridícula a sua referência.

    A vida é feita de nadas
    De grandes serras paradas
    À espera de movimento;
    De searas onduladas pelo vento;

    De casas de moradia
    Caídas e com sinais
    De ninhos que outrora havia
    Nos beirais;

    De poeira;
    De sombra de uma figueira;
    De ver esta maravilha:
    Meu pai a erguer uma videira
    Como uma mãe que faz a trança à filha.


    Miguel Torga

    cumps
    José Cardoso
  17.  # 177

    Colocado por: CMartin
    Colocado por: Mk Pt
    Eu, por exemplo, aumentei a minha qualidade de vida quando regressei de lisboa para a terrinha quando acabei a licenciatura.
    (...)
    - Provavelmente ganhava mais estando a trabalhar em Lx, ou pelo menos o mercado de trabalho seria maior.. Mas parte deste 'problema' é reduzido pelo facto de a vida por cá ser mais barata. E atendendo ao pontos acima é o preço a pagar...


    E, por causa do que eu disse no meu comentário anterior, também o que diz Mk Pt acerta em cheio no que penso por vezes da classe média, do preço a pagar, e da qualidade de vida.


    Colocado por: PauloCorreia
    Colocado por: CMartinE, por causa do que eu disse no meu comentário anterior, também o que diz Mk Pt acerta em cheio no que penso por vezes da classe média, do preço a pagar, e da qualidade de vida.

    pressupõe-se obviamente que existe mercado de trabalho


    Por enquanto vai havendo. Mas não é muito e nesta área também é cada vez mais difícil..
    E isto porque é na zona litoral e apesar de ter vindo para a 'terrinha' tenho que fazer 60km/dia [ir e vir] para trabalhar, na 'cidade' onde se arranja trabalho. É 35/45 min de carro por dia, mas é nas calmas e sem filas.

    Mas ainda no outro dia soube de uma colega minha, que também veio para a 'terrinha' e trabalhava na mesma cidade que eu, que chegou a acordo com o patrão para sair porque o trabalho é pouco e ela tinha sido a ultima a entrar na empresa. E não estava à muito tempo a trabalhar..
    E de outra, que após longo tempo a recibos numa CM daqui e cansada de 'promessas' saiu da referida CM e durante [pelo menos] vários meses não arranjou trabalho. Actualmente não sei se já arranjou...
    Não está assim tão fácil...

    Mas, do pouco que conheço, no interior do país está bem pior. Tirando um caso ou outro que se dão bem na vida com uma empresa disto ou daquilo, o pessoal ou trabalha para a Câmara Municipal/tribunal/escola/finanças ou ganha o ordenado mínimo ou pouco mais ou é desemprego/dependente de subsídios...
  18.  # 178

    Ainda não li os vossos comentários mais recentes, mas, antes disso, vou colocar aqui a definição que encontrei e que, finalmente, me satisfaz para classificar a classe média.
    Como gosto mais das ciências, especialmente as humanas, do que as matemáticas a definição vem precisamente dessa área:
    E não encontro nenhuma definição em português tão boa como esta em Inglês.
    The middle class is, essentially, a macro-social group embracing individuals, or rather categories of individuals, marked by a unique general attitude towards life. Those are people who owe everything to their own efforts, resources, qualification, education, etc. Self-made as they are, middle-class people are furthermore self-employed and relatively free and autonomous in their work. Their knowledge and qualification, property and managerial skills are intentionally acquired and so is their social status. Hence the specific medial stratification status of the group, in terms of the existent social, economic, political, cultural, etc. inequalities. Indeed, it is status hierarchy - in terms of occupation, education, income, property and social prestige - that reveals the unique medial position of the middle class people. And the status of the middle class within that hierarchy is clearly a unique one – in-between the “upper-class” elite and the “lower-class” workers, in-between the upper crust and the wage earners, in-between the envy of the world and the pitied ones.
    No doubt, people who are middle class are relatively well off, the absolute amount of property owned and income received being conditioned on the well being of the specific society as a whole. Good or even high prestige is another important component, accordingly, characteristic, of the middle class status. Next comes the specific value system and culture, embracing a pro-active attitude towards life and a tendency for rational and modern consumption. Hence the individualistic middle class life style, innovative behaviour, realism, devotion to work, etc. No wonder, success and prosperity are the rule, rather than an exception among middle class people. Indeed, middle class actors are enterprising. This makes them active, flexible and adaptable in situations of uncertainty and quickly changing conditions. Hence the broader stabilizing effect the middle class brings into society as a whole. In a word, if society is to be genuinely coherent and integrated, a prosperous middle class is indispensable. Moreover, being a crucial factor for both stability and development, the middle class is to continue to play a vital positive role in society.
    Fonte: THE MIDDLE CLASS: THE NEW CONVERGENCE PARADIGM
    Institute of Sociology, Bulgarian Academy of Sciences
    http://www.omda.bg/institut/niki/middle_class.htm

    Traduzindo os traços grosseiros gerais para Português:

    A classe média é essencialmente uma macro de grupo social, ou antes, categoria de indivíduos, marcados por uma determinada atitude perante a vida. São pessoas que devem tudo o que têm ao esforço próprio; os seus recursos, qualificações, educação, etc. “Produtos” do seu próprio esforço são muitas vezes trabalhadores independentes (ou empresários) e relativamente livres e com autonomia no seu trabalho. Os seus conhecimentos e qualificações, propriedade intelectual e aptidões (de gestão) são intencionalmente adquiridos em nome próprio pelo próprio, tal como o seu status social. Assim, a estratificação especifica do grupo - em termos de desigualdades sociais, económicas, politicas, culturais etc. De facto, é a sua hierarquia de “status” – em termos de ocupação, rendimento, propriedade e prestígio social - que define a posição especifica das pessoas de classe média na hierarquia social. E o status da classe média dentro dessa mesma hierarquia é única - entre a “elite superior” e os “trabalhadores de classe inferior”, entre a inveja do mundo e a pena do mundo.

    Sem duvida que a classe média está relativamente bem de vida, o valor da sua propriedade e do seu rendimento estando condicionados ao bem estar de uma sociedade especifica no seu todo. Prestígio é outra característica da classe média. A seguir vem um sistema de valores e cultura que lhe são específicos, incluindo uma atitude pró-activa perante a vida e uma tendência para um consumo racional e moderado. Assim o estilo de vida individualista da classe média, do seu comportamento inovador, o facto de serem realistas, devotos ao seu trabalho, etc. Não é de espantar que o sucesso e prosperidade sejam regra, em vez de excepção, nas pessoas de classe média. Realmente, as pessoas de classe média são empreendedoras. Isto faz com que sejam activas, flexíveis e se adaptem bem a situações em rápida mutação. A classe média oferece um efeito estabilizador abrangente à sociedade no seu todo; é o seu equilibrio. Resumindo - se a sociedade se quer coerente e integrada, uma classe média próspera é indispensável. Além do mais, sendo um factor crucial tanto para o desenvolvimento como para a sustentabilidade, a classe média continuará a ter um papel positivo vital em sociedade.
  19.  # 179

    E não se trata especificamente de questões de poder de compra, mas do ar que se respira . (luisvv)

    Aqui dou-lhe toda a razão.
    Eu interpreto a sua frase da seguinte maneira, para mim é:
    É o Poder de compra vs. o Ar que se respira.
    Ou vice versa.
  20.  # 180

    jcardoso,
    Precisamente,
    Já referi aqui; as pessoas ficam ou sentem-se mais satisfeitas quando "compram" uma experiência (férias, por ex.) do que um bem (roupa, por ex.), porque, diz-se ficamos com memórias é recordações alegres desses momentos. A nossa vida é mais feliz quando feita de momentos felizes.
    Dinheiro não é um momento feliz, mas permite comprar um momento feliz.
    Sendo básica.
    Não preciso de muito dinheiro para ter um momento feliz.
    Sendo mais básica ainda
    Leu a história que eu coloquei aqui do neuro cirurgião que virou budista e agora é o homem mais feliz do mundo, cientificamente, comprovadamente, mais feliz?
    Voltamos ao rendimento, classe média e qualidade de vida.

    O que é qualidade de vida para mim, não será para si, mas, acho, que há uma grandeza pela qual ela se pode qualificar, e que se o jcardoso e eu formos ambos classe média, será parecida para nós os dois (porque temos as necessidades básicas preenchidas, sim).
 
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